Os percalços do caminho
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.:. OS PERCALÇOS DO CAMINHO .:.
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Ele estava nervoso. Justificava o seu nervosismo dizendo que ele não gostava de lugares como aquele: escuros, apertados e úmidos. Mas a verdade é que estava assim porque começava a achar que o goblin não cumpriria com o prometido. Contorcia uma mão na outra tentando manter o pensamento positivo, mas parte de si teimava em pensar que não daria certo.
De repente se aproximou o vagão e ele a viu desembarcando e indo em direção à ele. Foi neste instante que se deu conta de que estava tão concentrado em desejar que ela viesse que nem ao menos conseguia lembrar da desculpa que havia formulado.
"Então? Qual o problema?", ela falou sem o encarar, preferindo analisar os objetos a sua volta.
"Eu... Rose, eu...", ele começou a falar, tentando lembrar da desculpa que havia usado para chamá-la ali, "Tentei abrir essa urna, mas a tampa não cedeu...", disse ele indicando o objeto. Ela acenou e passou a circular ao redor da urna, examinando-a, "Era do meu avô... Provavelmente colocou alguma proteção".
"Pode deixar que vou examinar com cuidado", disse Rose. Ela respirou fundo e finalmente olhou nos olhos dele, "Tu podias ter chamado qualquer um. Por que eu, Scorpius?"
Ele se aproximou dela e, antes de falar, pegou sua mão, "Eu gostaria muito de dizer que é apenas por causa de seu grande conhecimento em arte céltica", disse rindo, depois respirou fundo e continuou, "Mas a verdade é que eu precisava te ver..."
"Não devias ter feito isso...", disse Rose soltando suas mãos das de Scorpius e se virou passando os dedos pelo cabelo.
"E por que não, Rose?", disse ele virando-a de frente para si e depois ergueu o rosto dela para olhar em seus olhos. Então com um sorriso disse, "Olhe pra mim e me dê um bom motivo pra gente continuar não se vendo".
"Ahr!", disse ela desviando o olhar e sacudindo a cabeça, "Isso não é pergunta que se faça".
"Só porque tu não tens uma resposta...", ela riu então ele continuou, "Vamos, sei que tens um horário de folga agora. Vamos tomar um sorvete como nos velhos tempos, que tal? Eu pago."
Ela olhou novamente para Scorpius depois fechou os olhos, ainda sorrindo, e disse, "Oferecer sorvete é baixaria...", ela olhou para ele novamente e viu o sorriso que adorava estampado no rosto dele, depois ergueu as mãos derrotada e completou, "Vou acabar me arrependendo, mas sim, eu adoraria", depois assumiu uma expressão séria e disse, "Mas só por que tu estás pagando".
Scorpius sorriu e seguiu com Rose de volta ao vagão. Voltaram em silêncio, lutando para que o conteúdo de seus estômagos ali permanecesse, ao contrário do que, aparentemente, seria o objetivo daquela corrida. Chegando de volta aos belos corredores de mármore, Rose pediu licença e entrou em uma sala. Mal havia entrado, Scorpius começou a ficar novamente nervoso, imaginando se ela desistiria de ir com ele. Ao notar isso, Scorpius cruzou os braços no peito e riu. Ao mesmo tempo, Rose respirava fundo e tentava acalmar o seu coração, sempre tão descompassado quando chegava perto dele. Saiu da sala para ver Scorpius rindo ainda parado no corredor.
"Qual a graça?", ele ouviu a voz de Rose e ergueu os olhos para encontrá-la sorrindo, já pronta em sua frente.
"O fato de que eu ainda me sinto com 15 anos quando se trata de Rose Weasley", riu ao notar que o rubor subia às faces dela, "Vamos?"
Chegando à porta, Scorpius lançou um feitiço de impermeabilização nos dois e então guiou-a rapidamente na chuva até a nova sorveteria dos Fortescue do outro lado da rua. Retiraram a impermeabilização e foram até uma das mesas no fundo da loja.
"Está gostando de Gringotes?", perguntou Scorpius após se sentarem.
"Eu adoro", disse Rose abrindo um grande sorriso, "No começo não tinha gostado de ter ficado aqui... Sabes que queria muito ir para fora uns tempos... Mas depois de ver como meus pais ficaram felizes por eu ter ficado eu comecei a realmente gostar da idéia".
"Podes ter certeza que não foram só teus pais que ficaram felizes por você ter ficado", disse Scorpius sorrindo. Rose agradeceu mentalmente quando o garçom chegou para pegar o pedido, evitando assim que ela precisasse responder.
"Como está o St. Mungus?", perguntou Rose assim que o garçom se afastou, tentando desesperadamente mudar de assunto.
"Ótimo. Na medida do possível, claro. Mas às vezes ainda me pergunto se escolhi a profissão certa..."
"Eu tenho certeza que sim", disse Rose pegando os sorvetes que haviam flutuado até a mesa deles. Ela começou a comer seu sorvete, deliciando-se com cada colherada, até que notou que Scorpius a olhava sem ter ainda tocado no sorvete dele, "O que houve? Sorvete no nariz?", disse ela passando a mão para limpar.
"Pare, Rose. Não tem nada no teu nariz", disse Scorpius rindo, "Eu só tinha esquecido como tu ficas linda comendo sorvete...", disse dando de ombros e comendo um pouco do seu.
"Scorp, por favor...", disse ela baixando o rosto e colocando uma mecha de cabelo para trás da orelha, "Acho que já passamos da fase de cantadas baratas", ela então ergueu o rosto e ele pôde ver o rubor em suas bochechas e o sorriso torto em seu rosto.
Ele sorriu, "Isso não muda o fato de que ficas linda com a boca suja de sorvete..."
"A verdade é que eu fico linda de qualquer jeito, admita!", respondeu ela sorrindo.
"Até faria isso, mas não quero ser culpado por aumentar ainda mais o teu ego", riu ele de volta.
Ficaram em silêncio por alguns segundos, até que Rose suspirou e disse olhando para sua taça de sorvete, "Eu senti falta disso..."
"Achei que teu vício por sorvete ia ficar sob controle agora que trabalhas na frente de uma sorveteria", disse ele debochado.
"Seu tolo! Sabes do que eu tô falando! Senti falta da situação em si... De nós dois...", disse ela erguendo os olhos para os dele.
"Então pare de fugir de mim... Já se passaram dois anos, Rose", disse ele alcançando a mão de Rose sobre a mesa, "Acho que já está mais do que na hora de darmos mais uma chance pra gente..."
"Eu não sei, Scorpius... Os nossos pais...", ela começou, mas ela a interrompeu.
"Os nosso pais têm os problemas deles. Não é justo que a gente fique separado por conta deles!", ele então baixou a cabeça e disse num suspiro, "Eu não tenho vergonha da minha família, apesar de tudo que eles fizeram... Mas eu estou cansado de me olharem como se o fato de eu ser um Malfoy definisse toda a minha vida", ele então voltou a olhar nos olhos dela e continuou, "A gente é mais do que o nosso nome, lembra? Se tu me deixares, eu vou provar isso pra tua família..."
Rose olhou no fundo dos olhos dele e se lembrou de todos os momentos felizes que tiveram, dos encontros escondidos, das horas de estudo que passaram juntos, dos presentes surpresas, do primeiro beijo em público, de quando ele disse que gostava dela porque ela era muito mais que só uma Weasley... Quanto mais lembrava, mais um sorriso teimava em surgir em seu rosto e uma pergunta começou a martelar em sua mente: 'por que não?'. Mas antes que pudesse sair qualquer palavra de seus lábios ouviu uma batida surda na mesa.
"Que diabos está acontecendo aqui?", se surpreendeu ao ouviu a voz rouca de seu irmão que estava em pé ao seu lado com o punho sobre a mesa.
"Pára de escândalo, Hugo!", rosnou Rose, o sorriso desaparecendo do seu rosto.
"A gente só está conversando, ok?", disse Scorpius tentando parecer calmo.
"Sei bem que tipo de conversa tu tás querendo ter com a minha irmã!", disse Hugo já completamente vermelho de raiva. Rose então viu que uma garota tentava afastar Hugo da mesa, mas sem sucesso.
"Vai embora, Hugo! Por favor!", disse Rose puxando o braço do irmão em direção à porta, "Tá todo mundo olhando pra gente!"
"E te deixar aqui sozinha com ele de novo? Não senhora!", disse Hugo se desvencilhando dela.
"Eu sei me cuidar sozinha, sabias?!", indignou-se Rose.
"Deixa que eles se resolvam, Hugo!", interferiu a garota, puxando novamente Hugo pelo braço, "Eles já são adultos!", Rose agradecia mentalmente pela ajuda, mas algo lhe dizia que seu irmão não iria ceder tão fácil.
"Pára de me puxar!", disse ele desvencilhando o seu braço, depois, apontando para Scorpius continuou, "Se tu soubesse o que é bom pra ti, sairia daqui agora e nunca mais se aproximaria de Rose! Eu não vou ficar assistindo tu magoar ela de novo, Malfoy!"
"Quantas vezes vou ter que dizer que eu gosto da tua irmã?", disse Scorpius se levantando da mesa e encarando Hugo.
"Podes falar quantas vezes quiser", Hugo falou entre os dentes, batendo com seu dedo indicador no peito de Scorpius, "Isso não vai mudar o fato de que eu não acredito que tu possa fazer ela feliz!"
"É uma pena que tu pense assim", disse Scorpius afastando a mão de Hugo de si, "Porque eu não planejo desistir dela tão fácil".
"Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui, droga!", gritou Rose. Todos ficaram em silêncio, então Rose respirou fundo e depois virou para Scorpius, "Por favor, pare de provocar o meu irmão. E Hugo", disse ela se voltando para o irmão, "Vá embora, eu sei muito bem me cuidar".
Rose encarou Hugo com olhos suplicantes por alguns segundos. Ele então suspirou e ela soube que finalmente havia vencido a discussão. Mas antes de sair ele se virou para Scorpius, "Fique longe dela!". Rose se assustou ao ver que Hugo voltou o olhar para ela, "Vou estar em casa te esperando. Se te atrasares mais do que quinze minutos pra chegar em casa eu vou contar pro nosso pai com quem tu andas te encontrando às escondidas". Hugo ainda lançou um último olhar feroz para Scorpius antes de sair dali com a garota que o acompanhava. Rose ainda sorriu quando viu o olhar de desculpas que esta lhe lançava sobre o ombro, mas isso não a acalmou, sabia que o irmão cumpriria a ameaça e a última coisa que ela queria era arrumar uma briga com os seus pais.
Rose voltou a se sentar na mesa cabisbaixa, remoendo o que acabara de acontecer. Hugo lhe trouxe de volta as memórias ruins do tempo que havia passado com Scorpius, as discussões que envolviam suas famílias, a rejeição deles, as palavras rudes. Por mais que eles fossem mais do que seus nomes, nunca deixariam de fazer parte de suas famílias... Após alguns segundos voltou à realidade com o toque de Scorpius em sua mão, "Desculpe por isso, Rose... Eu não devia ter perdido a calma desse jeito...", suspirou e continuou, "Eu... bem, eu só queria uma tarde tranqüila contigo..."
"Eu sei, Scorp... E a culpa foi do Hugo também... Ele não facilita muito as coisas...", disse forçando um sorriso.
"Eu quero que saibas que nada vai me fazer mudar de idéia, Rose. Eu sinto tua falta e acho que a gente deveria voltar... E eu não planejo desistir de ti tão fácil. Não agora..."
"Eu sei... Mas...", Rose respirou fundo tentando se acalmar, "Mas eu tenho que pensar... e voltar pro trabalho", disse já se levantando, mas Scorpius segurou sua mão.
"Eu te acompanho, espera".
"Não, eu prefiro ir sozinha..." disse, já se virando para ir embora, mas de repente parou, voltou para perto de Scorpius e beijou-lhe a face, "Obrigada por tudo".
Ele segurou-a e disse ao seu ouvido, "Eu vou te procurar de novo, podes ter certeza".
Rose então se levantou e saiu apressadamente da sorveteria, não se importando com os últimos pingos de chuva que teimavam em cair molhando o sorriso em seu rosto, enquanto a resposta para o último comentário de Scorpius continuava presa em sua garganta: "Eu espero que sim".
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N.A.: Bem galerinha, como dito no sumário, este é mais um bonus de uma outra história minha "Hugo e Monica" quem quiser e puder, dê um pulinho lá pra lê-la! Este foi um pequeno brinde pra todo mundo que reclamou que eu tinha rompido o namoro da Rose com o Scorpius. Esse foi só uma primeira tentativa de reaproximação, mas... quem sabe no próximo eles reatam? Vamos ter que esperar pra ver! Hehehehe! Ah! E se puderem deixar um comentáriozinho também eu ficaria muito feliz! Beijos!
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