A hóspede misteriosa

A hóspede misteriosa



Tão logo viu Snape voltando à festa, sem Malfoy, Sophie deixou a sala para ir procurar por Harry. Saiu ao corredor, olhando para os dois lados, sem ver ninguém, e, depois de certificar-se de ter fechado a porta às suas costas, chamou pelo garoto, mantendo a voz o mais baixa possível.


- Harry! – sibilou ela – Harry, você está aqui?


Harry então saiu de baixo da capa de invisibilidade, revelando-se para ela. A expressão em seu rosto era de total perplexidade.


- Que cara é essa? – perguntou Sophie – O que aconteceu?


- Vamos pra torre. – disse Harry, escondendo a capa por debaixo das roupas – Eu explico tudo pra você no caminho.


Os dois então deixaram o corredor, pelo lado oposto ao pelo qual Malfoy fora, seguindo rumo à torre oeste, e enquanto andavam até lá, Harry contou a Sophie tudo o que ouvira da conversa entre o sonserino e Snape.


- Então, Malfoy recebeu uma tarefa e a está cumprindo. – disse Sophie, pensativa.


- E Snape estava se oferecendo para ajudá-lo. – acrescentou Harry.


- Harry, sabe que Snape... – começou Sophie, mas foi logo interrompida.


- Eu sei o que vai dizer, Soph. – disse Harry – Ele devia estar fingindo, pra tentar descobrir o que o Malfoy está fazendo.


- Bom... é. – confirmou Sophie.


- Eu não acredito nisso. – disse Harry, teimoso.


- Eu sei. – disse Sophie – O que vai fazer?


- Contar a Dumbledore, assim que tiver uma chance, e a quem mais eu puder. – respondeu Harry.


- Quer dizer então... que Malfoy estava mesmo usando Oclumencia naquele dia... – comentou Sophie, meio distante. Eles haviam chegado à entrada da torre.


- Ele não queria você vendo o que ele estava pensando. – disse Harry, e então parou por um momento, franzindo a testa – Esquecemos Hermione!


- Não, não. – disse Sophie – Ela saiu da festa há tempos, cansou de ficar se escondendo do McLaggen. Você não a viu passar?


- Não. – respondeu Harry – Tava tão concentrado em ouvir o Malfoy e o Snape, que não veria nem se dois trasgos passassem pelo corredor dançando tango. – disse ele, e Sophie riu.


- Ela deve estar me esperando acordada lá no quarto. – disse ela.


- Ei, vocês dois! – chamou a Mulher Gorda – Vão entrar, ou vão ficar aí de conversa? – perguntou ela – Está tarde, sabiam?


- Hipocampo. – disse Harry.


- Correto.


O retrato girou e os dois entraram no salão comunal. Harry levou Sophie até a beira da escada do dormitório feminino.


- Valeu por ter ido comigo, Soph. – agradeceu ele – E por ter me dado cobertura. Você é a melhor quase-prima do mundo.


- Eu sou a única que você tem. – retrucou Sophie, com um sorriso brincalhão – Pode contar comigo sempre, Harry.


- Eu sei. – disse Harry.


- Boa noite, Harry. – despediu-se a garota.


- Boa noite.


Como Sophie previra, Hermione estava no quarto, acordada, esperando por ela. Repetiu então para a amiga o relato que Harry lhe fizera sobre a conversa entre Snape e Malfoy, sendo que, quando terminou, Hermione disse exatamente a mesma coisa que ela havia dito a Harry no caminho até a torre.


- Snape é um membro da Ordem. – disse Hermione – Ele devia estar mentindo pro Malfoy.


- Eu também acho, Mione, apesar do Harry fincar pé que não. – disse Sophie – Mas não é esse o ponto mais importante.


- Não, não é. – concordou Hermione.


- Agora nós tivemos uma confirmação de que Malfoy está mesmo aprontando alguma coisa. – disse Sophie – E não é coisa boa.


- É, mas a nossa maior dúvida continua. – ponderou Hermione – O que é que ele tá fazendo?


Na manhã seguinte, porém, o grupo de amigos não teve oportunidade de discutir o assunto com mais calma. Eles partiram cedo da escola, embarcando no expresso em Hogsmeade para irem passar os feriados de Natal e Ano Novo em casa, e, como Lilá se enfiou na cabine junto com Rony, Hermione não os acompanhou durante a viagem, tendo ficado na cabine dos monitores durante todo o percurso até Londres. Chegando a King’s Cross, ela manteve-se afastada de Harry e dos Weasley, dando as costas a Rony quando ele e Lilá se enroscaram em uma despedida totalmente não-verbal.


Foi somente quando chegaram à estação de trem, em King’s Cross, que Harry e Rony souberam que além de Hermione, que, brigada com o ruivo, obviamente não os acompanharia, Gina também não iria passar os feriados n’A Toca. As duas iam, com Sophie, para a Mansão D’Argento, e depois para o Brasil, onde, junto com as Diamantes, aprontariam todas no verão escaldante do país.


- Gina, querida, comporte-se, e obedeça à avó de Sophie. – recomendou a Sra. Weasley, pela terceira ou quarta vez.


- Tá bom, mãe!


- Já vou ter que ficar longe de você de novo. – reclamou Fred, que abraçava Sophie pela cintura.


- São só alguns dias, Fred, e vai ser só depois do Natal. – disse Sophie, fazendo um carinho no rosto dele – Laura e Joanna me pediram pra ir, e também, eu quero que as meninas conheçam minha casa, o calor do Brasil, as praias...


- Peraí, praias? – ecoou Fred, ficando sério.


- É, praias. – confirmou Sophie – Por quê?


- Vocês não estão pensando em usar aquelas... coisas, – disse ele, fazendo uma careta – que supostamente são roupas, mas que não cobrem nada, estão?


- O nome é biquíni. – disse Sophie – E é claro que sim. É o que se usa pra ir à praia.


Fred bufou, desviando seu olhar do dela, e passando a encarar a locomotiva do expresso de Hogwarts com uma expressão furiosa.


- Fred... – chamou Sophie.


- Minha irmã caçula e minha namorada, vestidas, se é que dá pra chamar de vestidas, – disse ele, irritado – só com aquilo, na rua, pra todo mundo ver...


- Pára com isso, Fred. – disse Sophie, beijando-o de leve – Lá isso é normal, ninguém vai nem prestar atenção na gente.


- Ah, tá bom. – disse Fred, sem se convencer.


- É sério! – insistiu Sophie.


- Eu nunca vi você com tão pouca roupa. – disse Fred.


- Ah, meu Merlin... – disse Sophie, revirando os olhos.


O garoto continuou a olhar por cima da cabeça dela, furioso, como se seu olhar pudesse explodir a locomotiva do expresso.


- Fred... – chamou Sophie – Fred, olha pra mim. – pediu ela, quando ele não atendeu ao primeiro chamado, continuando a olhar para o trem. Fred então a encarou, de má vontade – Nós não vamos brigar por causa disso, vamos?


Ele voltou a desviar o olhar. Seu rosto, porém, já não mostrava tanta irritação; não conseguia se zangar com Sophie por muito tempo.


- Promete que vocês vão pelo menos usar um short? – perguntou ele, meio zangado, meio resignado – As três?


- Tá bom, seu chato ciumento. – concordou Sophie, meio rindo, beijando-o logo em seguida.


Sophie, Hermione e Gina então se despediram de todos. Sophie estava meio chateada por que Sirius não pudera ir à estação para despedir-se dela; ele estava em missão pela ordem.


- Nos vemos na véspera de Natal, então. – disse Sophie.


- Gina... – começou a Sra. Weasley.


- Eu já sei, mamãe. – interrompeu Gina, impaciente – Não sou mais uma criancinha.


Sophie despediu-se mais uma vez de Fred, e as três foram embora com John, rumo à Mansão D’Argento. Fred aparatou para a loja, e os demais Weasley e Harry rumaram para A Toca.


Ao desembarcar do expresso, em King’s Cross, Draco Malfoy encontrou sua mãe na plataforma, à sua espera.


- Oh, Draco! – exclamou Narcissa, quando ele a alcançou, beijando-o nas duas faces.


- Mãe... – disse Draco, embaraçado, olhando ao redor, para verificar se alguém havia visto a cena.


- Me desculpe. – pediu Narcissa, embora seus olhos ainda brilhassem de contentamento – Como você está? Está bem?


- Estou. – respondeu Draco – E a senhora, como está?


- Agora estou bem. – respondeu a mulher – Você está aqui, comigo. – disse ela, fazendo um leve carinho no rosto do filho – Agora vamos, vamos para casa. Mandei Dot preparar aquela torta de amora silvestre que você adora.


Ela segurou Draco pelo ombro, aparatando com ele para a Mansão Malfoy. Antes de entrar, porém, ela se deteve por um momento, diante da porta.


- Antes de entrarmos, há algo que tenho que lhe dizer, Draco. – disse ela – Nós temos uma... hóspede em casa. Ela veio para cá, a pedido do Lorde.


- Uma hóspede? – ecoou Draco – Quem é ela?


- Você não a conhece. – respondeu Narcissa – Ela veio diretamente da França para cá. Seu nome é Is... Annabella.


Draco encarou a mãe por um instante; Narcissa jamais fora boa mentirosa. No entanto, se ela estava escondendo algo dele, era porque tinha algum motivo realmente muito bom.


- Annabella... – repetiu Draco.


- Quero que fique longe dela, Draco.


- O quê? – perguntou Draco, surpreso – Por quê?


- Por favor, Draco, apenas obedeça. – pediu Narcissa, e, ao notar a urgência na voz dela, Draco assentiu.


- Tá.


- Mais uma coisa: – continuou Narcissa – ninguém, ninguém mesmo, deve saber da presença dela aqui, você entendeu?


Sem pensar muito, Draco assentiu mais uma vez. Todo aquele mistério feito por sua mãe atiçara sua curiosidade, e ele não queria perder tempo discutindo com Narcissa. Queria ver logo essa hóspede misteriosa.


Os dois entraram na mansão, deixando os casacos e o malão de Draco no hall, para que um dos elfos-domésticos levasse para os quartos, e seguiram rumo à sala de estar; em uma bandeja, um bule de café fumegante e xícaras os aguardavam. A cada passo que dava, Draco esperava encontrar a hóspede misteriosa, mas não a viu em parte alguma. Dot, a elfa-doméstica, trouxe generosas fatias de uma torta, que estava com uma aparência ótima, para acompanhar o café, e, enquanto comiam, Draco contou à mãe como andavam as coisas em Hogwarts, e Narcissa deu a ele notícias sobre o marido, ainda preso em Azkaban, além de contar algumas coisas que haviam acontecido enquanto Draco estivera na escola.


Depois do café e da conversa, Draco subiu para seu quarto, para tomar um banho e descansar um pouco, enquanto Narcissa lia algumas correspondências que haviam chegado. Chegando à porta de seu quarto, Draco não pôde evitar olhar para a porta do quarto de hóspedes, imaginando como seria e o que estaria fazendo a mulher lá dentro. Perdido em suas divagações, assustou-se ao ver a porta se abrindo, revelando o objeto de sua curiosidade.


A mulher era muito bonita, a pele muito clara contrastava com os longos cabelos escuros, que caíam em cachos largos por seus ombros e costas. Os olhos eram de um azul mais claro e infinitamente mais belo do que o dos olhos de Narcissa, que até então, Draco considerava o segundo olhar mais bonito que já vira. Ela lhe lembrava alguém, mas Draco não conseguia definir quem.


- Ahn... oi. – cumprimentou ele, meio sem jeito.


- Oi. – respondeu a mulher – Draco, não é?


Draco assentiu com a cabeça, continuando a encarar a estranha.


- Draco?!


Narcissa entrou no corredor, deparando-se com Draco e a mulher encarando um ao outro. Viu a expressão no rosto do filho, e tratou de desviar a atenção dele.


- Vamos, Draco, você deve estar cansado da viagem. – disse ela – Vá logo para o seu banho. Dot trará toalhas para você.


Draco assentiu, e, olhando mais uma vez para Annabella, entrou em seu quarto, deixando as duas mulheres sozinhas no corredor.


- Precisa de algo, Annabella? – perguntou Narcissa.


- Não. – respondeu a outra – Apenas desejava caminhar um pouco. Acho que vou até o jardim.


- Está frio lá fora.


- Eu não irei fugir, Narcissa. – disse Annabella, encarando Narcissa – Não sou nenhuma tola. Sei bem que não sou somente vigilante, sou vigiada também. Sou a segurança dele em relação a você e Draco, e você é a segurança dele em relação a mim. Sei que a colocaria em problemas caso faça algo que não é do agrado dele. Ficarei dentro dos limites da mansão, não se preocupe.


- Obrigada. – disse Narcissa, realmente agradecida.


Annabella passou por Narcissa, rumo às escadas, por onde desceu, sem fazer qualquer ruído, deixando a anfitriã ainda parada no corredor, pensativa.


“Ele se engana sobre ela” – pensava ela, de cenho franzido – “Sua índole é boa, ela ainda está aí dentro, esperando o motivo certo para voltar a ser o que era.”


A viagem das meninas até a Mansão D’Argento foi bem rápida, e elas mal viram o tempo passar, conversando sobre o que fariam enquanto estivessem na casa da avó de Sophie.


- E eu vou levar vocês até o bosque. – dizia Sophie – E ao lago, é o lugar mais lindo do mundo!


- E nós vamos poder conhecer Jael! – disse Gina, animada.


Elas se surpreenderam quando John anunciou que já haviam chegado em casa. Desceram do carro, dirigindo-se à porta da frente.


- Vovó! – chamou Sophie, ao entrar na casa – Chegamos!


Violet surgiu em um dos corredores que levavam ao hall, sorrindo. Sophie adiantou-se até ela, abraçando-a afetuosamente.


- Como você está, querida? – perguntou Violet.


- Bem, vovó. – respondeu Sophie, ao soltar-se do abraço.


- Meninas! – exclamou Violet, voltando-se para Gina e Hermione – Que bom que puderam vir!


- Obrigada pelo convite, Sra. D’Argento. – agradeceu Gina.


- Oh, Gina, por favor, que formalidade é esta? – perguntou Violet – Vou chamá-la de Ginevra, se continuar a me chamar de senhora.


- Está bem, Violet! – disse Gina, sorrindo.


- Vocês devem estar cansadas da viagem. – disse Violet – Subam. John vai levar os malões lá para cima. Enquanto vocês descansam um pouco, vou preparar tudo para o nosso lanche.


As meninas subiram para os quartos, onde tomaram banho e trocaram de roupas. Elas conversavam, sentadas na cama de Sophie, quando a garota parou de falar de repente, olhando para a janela como se alguém a houvesse chamado.


- Que foi, Soph? – perguntou Hermione.


- Eu... volto num minuto. – disse Sophie, levantando-se e deixando o quarto apressada.


- Sophie? – chamou Violet, da sala de jantar, enquanto Sophie descia as escadas.


- Eu volto já! – gritou Sophie em resposta, passando feito um raio pela porta da frente.


Ela fez a volta na mansão, indo em direção ao estábulo, onde vários cavalos dormitavam. Assim que ela entrou no estábulo, Selena abriu os olhos, e pateou o chão, bufando.


- Também estava com saudade. – disse Sophie, acariciando o longo focinho da égua.


- Espero que de mim também.


Sophie voltou-se para a entrada do estábulo. Jael estava parado, fitando-a com um leve sorriso.


- De você muito mais.


O centauro adiantou-se até ela, e os dois se abraçaram com força, encarando-se pr um longo tempo, em silêncio, ao se soltarem.


- Você está preocupado. – disse Sophie.


- Você também está. – retrucou Jael.


- Há muita coisa acontecendo. – justificou a garota.


- Eu sei.


“Sophie. As meninas a estão esperando...”


- Tenho que voltar. – disse Sophie, em tom de quem se desculpa.


Jael riu.


- Irá ao bosque? – perguntou ele.


- Sim. – respondeu Sophie – Haverá problemas se as meninas forem comigo?


- Claro que não. – respondeu Jael – Nos vemos amanhã, então?


- Sim. – confirmou Sophie – Até amanhã.


- Até amanhã. – respondeu Jael, ficando ainda parado à porta do estábulo, observando a garota ir embora, correndo, de volta para a mansão.


Longe dali, Harry e Rony conversavam na cozinha d’A Toca, enquanto quebravam algumas nozes para a torta que a Sra. Weasley estava preparando para a ceia de Natal, aproveitando que ela havia ido até Ottery St. Catchpole, buscar mais alguns ingredientes que faltavam.


- Quer dizer que Snape estava se oferecendo para ajudar o Malfoy? – perguntou Rony, em voz baixa, depois que Harry lhe contou sobre o que acontecera na véspera – Ele estava mesmo se oferecendo para ajudá-lo?


- Sim. – confirmou Harry – Disse que tinha prometido à mãe de Malfoy que o protegeria, que tinha feito um... voto eterno, ou algo parecido.


- Um Voto Perpétuo? – perguntou Rony, espantado.


- É, acho que era isso...


- Não, ele não deve... – começou Rony – Você tem certeza?


- Sei lá, Rony, acho que sim. – disse Harry, impaciente – Mas o que tem isso?


- Isso é sério, cara. – disse Rony – Você não pode quebrar um Voto Perpétuo.


- É, isso eu pude deduzir. – disse Harry – O que acontece se você o quebra?


- Bem, você morre.


Harry encarou Rony por um instante, levemente boquiaberto. Snape teria realmente feito um juramento que poderia matá-lo se não o cumprisse?


- Vai contar ao Dumbledore sobre isso? – perguntou Rony.


- Vou. Assim que puder. – respondeu Harry – E ao Sirius e ao Lupin também.


- Pena que você não tenha ouvido o que exatamente o Malfoy está fazendo... – lamentou Rony.


- É, ele se recusou a contar ao Snape.


- Sabe o que Dumbledore vai dizer, não sabe?


- Sei. Que o Snape estava fingindo, pra tentar descobrir o que o Malfoy tá fazendo. – disse Harry, sem emoção – Mas eles não estavam lá. Nem o Snape consegue mentir tão bem.


Rony apenas assentiu com a cabeça, continuando seu trabalho. Harry sabia que o amigo hesitava em aceitar suas suspeitas sobre Snape, mas agora havia algo que nem mesmo Dumbledore poderia negar: Malfoy estava fazendo alguma coisa, e Snape sabia disso, embora não soubesse exatamente o que era. E era exatamente em descobrir isto que Harry iria se concentrar a partir de agora. Iria encontrar um jeito de descobrir o que o sonserino estava tramando, ou não se chamava Harry Tiago Potter.

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