Um sentimento verdadeiro
Capitulo 4: Um sentimento verdadeiro.
A aula já havia começado à meia hora e a professora Sprout apresentava umas plantas esquisitas, de cor roxa-berinjela. A planta tinha a forma de um balaço e cilindros finos e compridos por toda ela, o que pareciam cabelos de borracha.
- Essas são as Fenínceras – dizia a Profª. Sprout animada. – Agora... Estão todos de luvas? – perguntou olhando atenciosa para os garotos. – Muito bem, quero que as segurem pelo cilindro no meio da planta.
Para o desapontamento da professora, quase ninguém parecia muito animado, alguns até julgavam a planta assustadora; certo exagero, é claro.
- Por que no cilindro do meio, professora? – perguntou Cassie Lee, uma das poucas alunas interessadas.
- Boa pergunta – sorriu a professora. – Vocês podem notar que esse cilindro é maior que os outros. E segurando ele é o único jeito de deixar as Fenínceras imóveis. Confie em mim, Srta. Lee, colocar a mão em qualquer um dos outros cilindros é uma grande besteira a se fazer.
Os alunos ouviram a explicação da professora e, um a um, foram pegando no cilindro maior da Feníncera à sua frente.
- Muito bem, segurem firme e levantem a planta para que possam ver a parte de baixo dela.
Hermione olhava enojada para sua Feníncera, pois a planta realmente tinha um aspecto nojento: era muito gosmenta. Ao levantá-la, a garota viu um círculo cheio de dentes; eram miúdos, porém muitos e se moviam para frente e para trás. Ouviu-se um murmúrio de desaprovação vindo dos alunos. Ela levou a planta para mais perto do seu rosto e viu algo estranho que parecia ser a língua. Nesse momento, ela sorriu maliciosamente.
- Olha Rony! Acho que, finalmente, encontrei seu irmão gêmeo!
Rony riu sarcasticamente e disse com rispidez:
- Sério? Então essa deve ser sua prima! – e mostrou os dentes de sua planta à garota, que fechou a cara depressa.
- Prestem atenção, uma mordida e pode ser fatal! – acrescentou a Profª. Sprout.
- Como assim, fatal, professora? – perguntou Lilá Brown assustada.
- Calma – disse a professora sorrindo. – Calma, Srta. Brown, elas só matam quando querem, quando se sentem realmente ameaçadas. Isto é, quando arrancam seu cilindro principal, que, bom, é este que está segurando. Mas não, por Merlin, não o solte! – exclamou, vendo que Lilá estava prestes a fazê-lo. – Isso a deixaria nervosa...
- E em seguida me comeria... – disse a garota com a voz fraca, enquanto a professora falava vivamente.
Eu procurava por Tom pela escola, demasiado ansiosa para vê-lo, pois não havíamos nos falado desde a noite anterior e eu havia pensado muito no que acontecera. Eu sabia que sentia algo forte por ele, mas não estava preparada para lhe dizer isso, afinal, nem tinha certeza se devia. Apesar de achar que meu sentimento era recíproco.
Estava no quinto andar, passando pelas salas com passos apressados, quando, imersa em meus pensamentos, fui trazida de volta à realidade, ao som de uma voz conhecida.
- Ah, vem cá!
Era a voz de Thomas, sem dúvida, que vinha de dentro de uma sala próxima. Caminhei até ela, a porta estava entreaberta, pude ouvir a voz de mais alguém, mas essa eu não conhecia. Sem aviso, fui entrando num silêncio não proposital. A voz desconhecida vinha de uma garota Corvinal, sem muito prestígio entre as demais garotas de Hogwarts – ladra de namorados – Kyara Jones, tinha longos cabelos ondulados e negros, uma pele muito branca e olhos castanho-esverdeados.
Bom, tive a certeza de que não deveria ter entrado, não deveria ter sequer desejado encontrar com Tom, que, agora, de costas para mim, beijava Jones, intensamente. Mas eu já havia entrado, já havia visto o que não queria e, naquele momento, eu só conseguia permanecer ali. Minhas pernas pareciam cravadas no chão da sala e, mesmo que eu as libertasse, meu corpo estaria pesado como cimento; eu era incapaz de me mover.
Por um momento tive a impressão de Kyara ter me visto, mas não podia ter certeza, ela parecia um tanto... Entretida. Digo, entretida o suficiente para eu arrancá-la dos braços de Tom e lhe dar crateras pelo corpo que nem no St. Mungus ela poderia curar, tratando de provocar muita dor!
- Tom, pêra aí! – ela disse com uma voz tão doce que transbordava ingenuidade. – E a Granger?
Falsa ingênua! Ela só podia ter me visto, essa pergunta não foi à toa, como era possível? Ela conseguiu me prender ainda mais ali, mas agora eu queria ficar, ansiava pela resposta de Tom! O que ele diria, será que...
- A Granger? – repetiu ele
Meu coração me chutava o peito, minha respiração ficou mais forte, embora sentisse necessidade de trancá-la.
- O que tem ela? – perguntou ele como se nunca houvesse ouvido tal nome.
Não, essa reação... O tom de voz, o jeito de Tom... Não poderia ser verdade, ser real...
- Soube que você não desgruda dela – disse Kyara olhando mim com os olhos faiscando em malicia. A desgraçada realmente me viu...
- Fala sério, ela é gatinha, mas não significa nada!
Desconsolada: foi assim que me senti. Mas não por muito tempo; de repente, a raiva foi crescendo dentro de mim, invadindo, contaminando... Por que ele disse isso? Ficou um dia inteiro comigo, matando aula e depois me buscou para passearmos e... E não me beijou. É verdade, ele não me beijou! POR QUE ELE NÃO ME BEIJOU? Eu havia pensado que ele não quis me usar, mas agora eu, simplesmente, não sabia o que pensar! Podia ter pelo menos falado comigo... Ele me iludiu! E, vendo-o com outra, eu era incapaz de fazer qualquer objeção, eu era incapaz até de me retirar daquela sala, que ficava cada vez mais suja!
Precisa sair dali, faltava-me o ar, eu estava enojada! Comecei a dar passos lentos e pesados para trás, vagarosamente eu sabia que conseguiria sair... Mas não vi a cadeira às minhas costas. Derrubei-a. Tom imediatamente olhou para trás. Sua expressão era de total perplexidade ao me ver. Após alguns segundos sem ação, largou Jones bruscamente e deu alguns passos em minha direção.
- Nem mais um passo, Lefroy – eu disse friamente.
Kyara Jones me olhava vitoriosa, embora soubesse que Tom não voltaria para seus braços.
Sai correndo da sala, em alguns minutos, percebi que havia me distanciado o bastante, mas não conseguia parar de correr; minhas pernas que antes me imobilizavam, agora, me levavam, incansavelmente, para o mais longe que podiam. Ouvi passos fortes se aproximarem rapidamente. Senti, então, a mão de Tom em meu braço. Nossos olhares se encontraram por uma fração de segundos, que foi o suficiente para eu perceber que ele trazia consigo um grande arrependimento.
- Mione, o que você viu foi só...
- Eu sei muito bem o que eu vi, Lefroy! – ofeguei furiosa.
- Você nem imagina pelo que estou passando – disse ele com a voz fraca. – Eu nem sei o que sinto! Estou confuso!
- Você está confuso? – perguntei indignada.
Desvencilhei meu braço e virei às costas, mas ele me puxou novamente.
- Pois vou lhe dizer uma coisa – bradei, aproveitando que fui puxada de volta para despejar minha raiva. – Nem eu sei o que sinto, agora. Todos me avisaram sobre você, mas eu preferi acreditar que você era legal, e o que você fez? Jogou toda minha confiança no lixo!
- Mas nós nunca tivemos nada! – disse ele com um olhar tão inocente que quase me fez acreditar que ele realmente acreditava ser uma justificativa.
Nesse momento, eu quis ir embora, mas além de ele apertar meu braço com força, minhas pernas me traiam novamente.
- É, nunca tivemos! – eu disse secamente. Ele afrouxou um pouco o punho.
- Eu gosto de você – disse ele desesperado. – Mas tem muita coisa acontecendo. Não posso ter um compromisso com você agora!
- Não estou pedindo compromisso – arfei. – Só estou pedindo sinceridade!
Ele acariciou e olhou toda extensão do meu rosto. Agora, meus olhos também me traiam; sentia que as lágrimas queriam correr em minha face, mas não podia deixar, então, numa tentativa de fuga, olhei para os lados, apertando meus lábios, impaciente.
- Eu não quis te machucar... – falou baio, parecendo abalada.
- Claro – eu disse sarcástica. – Afinal, eu nunca saberia se não tivesse visto, não é?!
Ele suspirou.
- Não rolou sentimento, só... Desejo – disse ele, referindo-se a Kyara.
- Desejo... – murmurei, sentindo as lágrimas tocarem meus lábios. – Me beija – disse com a voz fraca.
Eu não sabia o que estava fazendo, achei que aquilo poderia ser uma prova, se ele não me beijar, se resistir, mostrará alguma dignidade! Saberei que realmente gosta de mim, que não acha que sou qualquer uma. Afinal, se ele não sentisse nada por mim, por que o medo de me magoar – pensei. Na verdade, isso não seria prova de nada, ele poderia não me beijar por pena, por não fazer diferença alguma na vida dele me beijar ou não, ainda mais no estado em que nos encontrava-mos. Mas, naquele momento, senti que aquilo faria diferença, senti que não podia virar as costas sem passar por aquilo!?
- O que? – repetiu ele, parecendo não entender, não o que eu dizia, mas o que eu, realmente, queria dizer.
- Me beija! – repeti, agora, decidida.
Ele não se moveu então insisti mais uma vez.
- Me beija! – insisti com vivacidade.
- Não – disse ele com um ar assustado. –, não posso fazer isso!
O puxei, então, pela gola da camisa. Minhas lágrimas haviam cessado, a tristeza dando lugar à sedução; a raiva permanecia irrevogável.
- Ah, você pode! – disse, mirando seus lábios que ficavam cada vez mais.
Ele parecia mudo, engoliu em seco. Meus lábios roçando os dele e, ao mesmo tempo em que eu queria provar o sabor daqueles lábios provocantes, precisava ouvir um “não”.
- Eu estou aqui... O que está esperando?
Tom se aproximou um pouco mais, entretanto, parecia vacilante. Por outro lado, mesmo com meu coração palpitante, minhas mãos frias e meu estômago parecendo fora do lugar, eu não hesitaria.
- Você não quer isso... – disse ele, dando um passo para trás.
- Você não imagina o quanto – o puxei volta pela gravata.
- Não me provoque, Granger – disse ele com a voz entre cortada.
Eu podia sentir sua respiração, levemente, ofegante.
Ele já poderia ter me agarrado se quisesse, será que era a hora de parar?
- Então eu estou conseguindo te provocar? – perguntei, sorrindo maliciosa e sedutoramente.
E claro que eu estava conseguindo provocá-lo, me admiraria não conseguir, estava me jogando para cima dele, descaradamente!
- O que você está querendo? – perguntou ele. Parecia, não sei se no olhar ou no tom de voz, ter pena de mim! Levei meu corpo para trás, como se tivesse sido puxada. Meu sorriso se desfez. – Você nem sabe o que quer... – deduziu ele chateado. – Tenho que fazer minha escolha, então... Mas saiba que te beijaria se você soubesse o que está fazendo! – disse com rispidez e, simplesmente, virou as costas, andando a passos lentos pelo corredor, na direção oposta da sala da qual viera.
Torturei-me com um choro amargurado por alguns instantes, parada exatamente onde Tom havia me deixado. De repente, minhas pernas me levaram a sair correndo; confusa, não sabia o que pensar, o que sentir, nem mesmo para onde ir, só não queria continuar parada. Não iria para o dormitório, pois não conseguiria parar de chorar tão cedo e não queria ser vista assim. Foi aí que lembrei de um lugar em que ninguém me incomodaria e não ficava muito longe dali.
Cheguei ao banheiro feminino do quinto andar quase que aos prantos. Ofegante, larguei-me encostada em uma das torneiras. Ninguém ia naquele banheiro com exceção da Murta e, talvez, ela fosse quem menos incomodaria, então teria muito tempo para chorar, pensar e por meus sentimentos no lugar.
Após alguns minutos, minhas lágrimas já não eram tantas, o que significava que eu poderia ressuscitar a Hermione racional que nunca me deixou na mão. Ele não me beijou! – falei em voz alta. Bom, ele não me beijou, pelo que entendi, porque achou que eu me arrependeria depois... Ele se importa comigo! Isso significava que sentia algo por mim! Mas se ele realmente gosta de mim por que estava se agarrando com a Jones? Todo mundo sabe que ela é uma vadia! E essa tal escolha que ele mencionou, parecia ser algo muito mais importante do que apenas me beijar ou não! Vai ver ele estava decidindo se devia deixar tudo para trás e se casar com Malfoy! – disse também em voz alta, ironicamente.
Mais um tempo se passou e percebi que, talvez Tom não tenha me beijado, simplesmente, porque não quer nada comigo e não queria me iludir, pois eu já havia bancado a idiota o bastante, e o um alto grau de melancolia voltou a me tomar por inteiro. Talvez ele me achasse ingênua demais pra ele e, realmente, prefira garotas mais experientes como a Jones. Traduzindo em miúdos: putinhas nojentas que contam suas conquistas a dedo, como se ganhassem pontos por isso: 10 pontos pra qualquer trouxa que cair na conversa; 50 pontos para garotos populares; e 100 se o otário tiver namorada!
As horas foram passando, trazendo uma noite fria e uma Hogwarts silenciosa, e meus olhos foram ficando mais inchados. A Murta que Geme não aparecera e ninguém mais para atrapalhar minha depressão profunda, com imenso exagero e criancice. Até que, de repente, ouvi um estrondo forte ali por perto e, é claro, resolvi verificar. Enxuguei as lágrimas depressa e caminhei pelo corredor na direção do barulho; ouvi mais um estrondo, ainda mais forte que o anterior. Cheguei até uma sala que tinha a porta fechada, então pensei duas vezes antes de abri-la, afinal, havia tido experiências fortes o bastante, entrando em salas que não devia, no mesmo dia. Por fim, abri uma fresta para espiar e, para minha surpresa, era Draco Malfoy que produzira tal barulho; estava praticando uns feitiços estranhos, os quais eu nunca tinha lido ou ouvido falar. Na verdade, eram feitiços muito interessantes e pareciam muito fortes também, e mesmo não querendo que Malfoy me visse, minha curiosidade foi maior.
- O que está fazendo? – perguntei, entrando na sala sem pedir licença.
Ele, de costas para mim, pareceu se assustar com a invasão. Virou-se rapidamente e perguntou:
- Granger?
- Sim – respondi, tentando parecer calma. Era óbvio que era eu! O que ele pensou que fosse? Alguém com a Poção Polissuco passando-se por Hermione, talvez? Logo percebi que eu estava com um mau humor terrível e a presença de Malfoy não iria dissipá-lo, entretanto, a intrusa era eu. – O que está fazendo aqui? – perguntei com um falso sorriso ingênuo no rosto.
- Nada – ele se apressou em dizer.
- Como assim, nada? Eu vi você praticando feitiços! – algo me dizia que Malfoy não podia estar praticando-os, ele parecia nervoso, algo estava errado.
- Não é nada! – disse irritado. – E, Granger, você é quem me deve satisfações. O que está fazendo aqui depois das aulas?
- Qual é o problema? Eu sou monitora.
- Muito bem, mas eu sou seu superior e ainda não sei o que está fazendo aqui! – disse, fazendo um gesto com a mão que mostrava a sala. – Pensei que a porta estivesse fechada.
- Esses feitiços – disse, ignorando-o. – são proibidos não são? São Feitiços das Trevas?
Ele ergueu a sobrancelha, mas, por incrível que pareça, a expressão aflita e hostil de Malfoy deu lugar para uma muito serena.
- São.
Eu me mostrei surpresa com sua resposta tão simples e direta.
- Então – disse calmamente. –, por que os está praticando?
- Porque eu posso precisar deles – respondeu ele, tão facilmente que eu precisei sorrir.
- E pra quê? – perguntei ansiosa.
- Pra matar pessoas – disse ele secamente.
Fitei-o por um instante, preocupada e, em seguida, sorri novamente.
- Isso é brincadeira, certo?
- O que acha? – respondeu ele revirando os olhos e sentando-se no chão, encostando as costas na parede. Eu não tinha tanta certeza da resposta... – Mas falando sério, a gente nunca sabe o que ou quem vai encontrar pela frente... – disse maliciosa e assustadoramente.
- Entendo... – disse com falsa naturalidade, tentando esconder minha apreensão, acompanhada, em contrapartida, por minha ansiedade. – Mas como você aprendeu?
- Eu pareço disposto a te contar alguma coisa, Granger? – perguntou ele provavelmente estranhando a minha falta de senso. Eu nunca dirigira a palavra a Malfoy interessada daquele jeito, nem mesmo para xingá-lo. Ainda mais quando ele não parecia nem um pouco disposto a conversar nem comigo, nem com ninguém! – Feitiços das Trevas não são para sangue-ruins! E duvido que consiga suportá-los.
Eu estremeci, engoli em seco, tomei fôlego e continuei insistindo em meu objetivo: saber tudo sobre aqueles feitiços. Sabia que Feitiços das Trevas não eram como os normais, difíceis para aprender e utilizá-los, e também que aquilo não era brincadeira.
- Olha, Malfoy. Eu te odeio e você me odeia – afirmei, indo em sua direção, enquanto ele assentia com a cabeça. – Mas você tem que entender que eu não vou deixar você em paz no momento, pois não posso deixar de saber algo mais sobre esses feitiços. Ainda mais quando não sei o que ou quem vou encontrar pela frente... – eu disse sorrindo sarcasticamente, me sentando ao lado dele, um pouco afastada, de costas para a parede.
Malfoy apenas soltou uma risadinha tão sarcástica quanto meu sorriso, mas não me dei por vencida, claro.
- Sabe, eles são realmente bons! – disse tentando sorrir naturalmente.
- Quem diria! Hermione Granger dizendo que sou bom!
- Não confunda as coisas, Malfoy! – disse irritada. – Eu disse que os feitiços são bons e não você! Os feitiços!
- Tudo bem, calminha. Já entendi – disse ele debochado. – Mas eu sei que ai no fundo você me acha um máximo! – disse ele sorrindo e, ridiculamente, jogando os cabelos para trás.
- Cala a boca! Fico até admirada em ver que você consegue fazer feitiços tão bons!
- Hum... – ele sorriu ainda mais. – Agora sente admiração por mim?
Eu o fuzilei com o olhar, furiosa, e voltei ao assunto anterior antes que não conseguisse mais parar a briga.
– Então – respirei fundo. –, vai me contar como sabe esses feitiços ou não?
- Não – respondeu ele com simplicidade. Se eu não soubesse que ele não poderia falar sem abrir a boca, diria que ele não se deu ao trabalho de mover um músculo.
Bom, claro que imaginei que seria essa a resposta, mas não custava nada perguntar, não é mesmo?
- Muito bem – disse com uma voz doce e amigável, porém muito falsa, que, infelizmente, me lembrava Dolores Umbridge. –, então vou te fazer uma proposta. Você me ensina os feitiços e eu te ajudo a treiná-los. Só uma semana de aulas. O que acha?
- Eu não preciso de ajuda – disse ele com rispidez, fitando-me. – Muito menos a sua!
Fez-se um breve momento em silêncio.
- O que custa, Malfoy? – eu perguntei brava.
- O que custa? Estar um minuto com você já me faz querer vomitar! – respondeu ele asqueroso. – E pensei que havia dito que eram proibidos. Você está disposta a quebrar as regras, Granger? – perguntou irônico.
Eu levantei uma das minhas sobrancelhas.
- Ora, Malfoy, não me provoque! – disse sorrindo maliciosamente.
- Vai sonhando, Granger! Eu não vou lhe ensinar nada – disse ele levantando a voz. – Agora saia daqui, garota, eu tenho mais o que fazer e, realmente, não sei por que fiquei falando com você até agora!
Fitei-o por um instante, em silêncio, sufocando-o com o olhos. Não acredito que, realmente, cheguei a pensar que ele me ensinaria. Onde eu estava com a cabeça?
- O que está olhando? – perguntou ele ríspido. – Perdeu alguma coisa no meu rosto? – e por incrível que pareça, quase sorri ao ouvi-lo; ele havia feito a mesma pergunta que Tom me fez na primeira vez que nos vimos, embora Tom a tivesse feito de maneira, impressionantemente, mais doce!
- NADA – respondi impaciente. – E quer saber, você é um grosso! E um burro também, pois se tivesse o mínimo de inteligência saberia que é muito melhor ter alguém com quem praticar feitiços!
- EU TINHA ALGUÉM PRA PRATICAR – respondeu ele aos berros. – MAS VOCÊ FEZ QUESTÃO DE ME TIRAR ISSO!
O garoto se levantara num impulso, levando ódio nos olhos, um ódio muito maior do que o que Hermione estava acostumada a ver.
- Tom? – murmurei, meu peito se enchendo do mesmo ódio. – POIS PREFERIA MIL VEZES TER DEIXADO THOMAS TODO PRA VOCÊ! – eu também levantei, gritando, mas fui enfraquecendo a voz, à medida que a tristeza, provocada por meu desapontamento com Tom, voltava a mim. – Eu fui uma mula! Jamais devia ter acreditado que Tom era diferente de você!
- ELE É MUITO DIFERENTE DE MIM! – urrou Malfoy. – PENA QUE SÓ ENXERGUEI ISSO DEPOIS QUE SOUBE QUE ELE ESTÁ DE CASINHO COM VOCÊ!
De casinho? Isso fez o sangue me subiu à cabeça! Essas palavrinhas me deram força pra esquecer qualquer sentimento meloso e gritar novamente.
- O QUÊ? – exclamei, furiosa. – NÓS NUNCA TIVEMOS NADA! O SEU AMIGUINHO É DO TIPO QUE PREFERE VADIAS!
- DO QUE ESTÁ FALANDO? – perguntou ele perdido. É, era realmente impossível Malfoy saber do que eu estava falando. Ele não estava lá quando vi Tom e Jones juntos, e nem depois, quando briguei com ele. Mas eu não ia contar para Draco Malfoy, em primeira mão, que o Tom me “trocou” pela Jones.
- Se está curioso – eu disse desdenhosa. –, por que não pergunta pro seu amiguinho?
No dia seguinte Hermione acordou bem cedo, vestiu-se depressa e em silêncio para não acordar ninguém e rumou à biblioteca procurar algum livro sobre Feitiços das Trevas; quase sem esperança de encontrá-los nas prateleiras de Hogwarts, mas se Malfoy não queria ensiná-la, ela aprenderia sozinha! Estava cansada, não dormira muito bem naquela noite, afinal, havia muita coisa passando em sua cabeça.
Não havia quase ninguém andando pela escola e as poucas pessoas que passavam falavam um rápido “bom dia”, seguido de um longo bocejo.
Depois de um bom tempo olhando cada livro da biblioteca, atentamente, não conseguira encontrar nada que lhe chamasse a atenção. Ela deu a volta na prateleira, olhou para uma mesa e viu uma garota de longos cabelos louros caídos sobre o rosto e a cabeça deitada nos braços.
- Cassie... Ei, Cassie? – Hermione começou a cutucar a garota de leve, na tentativa de acordá-la.
Cassie se mexeu, coçou o nariz, mas ainda parecia adormecida.
- Cassie – exclamou Hermione. – ACORDA!
- O QUÊ? Será que não se pode mais dormir aqui? – perguntou Cassie, erguendo a cabeça, mal-humorada e sonolenta. – Hermione?! O que faz no dormitório da Sonserina?
- Ai, Cassie! – disse Hermione sorrindo. – Eu é que pergunto o porquê de você estar dormindo na biblioteca!
Cassie passou a mão nos olhos, depois olhou à sua volta.
- Oh! – exclamou a garota. – É mesmo, estou na biblioteca – e bocejou. –Bom, é que eu resolvi vir aqui mais cedo, sabe, pra procurar um livro pro trabalho de História da Magia, mas acho que acabei pegando no sono... Desculpa ter gritado com você. Sabe como é, acordar de mau humor...
- Tudo bem, eu entendo – disse Hermione sentando-se na cadeira de frente para Cassie, debruçando-se na mesa. – Mas então, você achou o livro que procurava?
- Achei sim, até mais do que procurava, mas nenhum me ajudou. É tanta coisa pra ler, eu mal sei por onde começar!
- Bom, se você quiser, eu posso te emprestar as minhas anotações... Tem tudo resumido.
- Mas você não vai precisar delas?
- Não. Já fiz meu trabalho – respondeu Hermione sorridente.
- Sendo assim, seria ótimo se você me emprestasse – disse Cassie contente. – Mas e você, o que faz aqui tão cedo?
- Eu também vim procurar um livro – disse Hermione querendo desconversar.
- Naturalmente, está na biblioteca! – disse Cassie rindo baixinho. – E você achou o que queria?
- Não – respondeu a castanha. – Na verdade, cheguei aqui sem muita esperança de achar...
- Hum... – disse Cassie fechando o livro à sua frente, o qual havia feito de travesseiro minutos antes, permitindo a Hermione ler o seguinte título: “A honra de ser Sonserino”, e em baixo, como subtítulo: “Tudo que um verdadeiro sonserino deve saber”.
- Ah... Cassie, esse livro que está lendo... - Hermione logo pensou que esse poderia ser o livro que procurava e, antes que perguntasse, Cassie lhe interrompeu comunicando animada.
- Ah, é interessantíssimo! Fala sobre os sonserinos e os fardos que devem carregar. Claro, nem todos carregam fardos, mas aqui tem vários casos tristes, uns até chegam a ser assustadores. Fala também dos prazeres, mordomias, deveres e preocupações de um sonserino... Conta coisas que apenas bruxos poderosíssimos foram capazes de fazer, bruxos bons ou cruéis, enfim, é ótimo para um sonserino! Achei que seria interessante ler, para saber mais sobre minha Casa e Draco me emprestou!
- Quem diria – disse Hermione rindo. –, Draco Malfoy sabe ler! Ah... Desculpe Cassie – apressou-se em dizer. –, eu sei que ele é seu amigo, mas você sabe que não nos damos bem.
- Engraçado, eu acho que vocês... Combinam. – disse Cassie, meigamente.
Hermione riu debochada.
- Até parece! Somos totalmente o oposto um do outro!
- Isso é o que vocês pensam, eu acho que têm mais em comum do que imaginam!
- Não acho – afirmou Hermione. –, mas de qualquer forma, parecidos ou não, nós nos odiamos! Isso é fato.
- Ah, mas vocês se encontraram ontem à noite e ficaram conversando por um bom tempo – disse Cassie sorrindo maliciosa.
- Ai, Cassie – sorriu Hermione. – Encontramos-nos por acaso!
- É, Draco me contou! – disse ela rindo. – Só estou brincando.
- E ele também te contou que brigamos feio por causa do Tom?
- Contou... – disse Cassie, demonstrando estar chateada.
- Mas ele não contou pra mais ninguém não é?! – perguntou Hermione preocupada. – Só o que faltava ele ficar espalhando isso para os amiguinhos sonserinos dele! Eu o mato se...
- Não – interrompeu Cassie. – Pode ficar tranqüila, ele não contou a mais ninguém. E nem vai contar, eu acho.
- Você sabe o que ele estava fazendo lá, não sabe?!
- Sei sim... Por quê?
- Bom, é só que eu não acredito que ele não vai me ensinar aqueles feitiços – Hermione respondeu infeliz.
- Bom, Hermione, se vocês realmente se odeiam eu não sei o que te levou a pensar que ele te ensinaria...
- Ora, é bem melhor ter alguém pra treinar – protestou a castanha.
- Foi quando você disse isso pra ele que ele que a briga começou não foi?!
- Foi sim! – respondeu Hermione carrancuda. – Mas pode escrever, Cassie: ele ainda vai me ensinar esses feitiços! – finalizou confiante.
- Bom, apesar de que achar que vocês combinam, é fato que vocês se odeiam, como você mesma disse, então espero que você não se machuque como da última vez... – disse Cassie preocupada, lembrando da primeira e única aula de monitores, em que ficara uma semana inconsciente.
- Dessa vez eu estarei precavida! – afirmou.
- É, desta vez, você tem um trunfo – disse a loira, sorrindo meigamente. – Ele não pode ferir você com um Feitiço das Trevas em Hogwarts. Poderia ser expulso por isso!
- Isso é verdade, embora da última vez ele podia ter sido expulso por ter nos levado à Floresta Proibida, mas isso não o impedira...
- Sim, mas daquela vez ele nos enganou! Agora, você sabe que o que ele está fazendo é errado... Não vai por sua vida em risco, não é?! – disse Cassie cheia da razão. – Mas voltando a falar do livro, eu acabei de ler antes de dormir... Você o quer para saber mais sobre esses Feitiços das Trevas, não é?!
- Sim – respondeu, prontamente. – Isso mesmo!
- Bom, não tem bem o que você está procurando, mas vai ajudá-la... – disse Cassie, entregando-lhe o livro.
Era estranho, Cassie tinha um jeito suave de falar que sempre a fazia parecer ter razão e Hermione notara que às vezes ela parecia falar mais com o olhar do que com a boca.
- Ok! – disse Mione sorrindo. – Hum... Cassie, o Tom, ele... – disse, sem jeito. – Bom... Tem falado de mim?
- Bom... Na verdade não. – disse Cassie parecendo triste por Hermione. – Mas sabe, às vezes isso pode ser bom... Talvez ele não queira falar de você porque ainda sente algo além da amizade...
Hermione ficou quieta.
- Por que você não o perdoa? – perguntou Cassie.
- Essa não é a questão, perdoar ou não, entende? – respondeu Mione. – Eu até já o perdoei por ter ficado com a Kühn, todo mundo fica com ela, mesmo! Mas ele podia ter sido um pouco mais sincero, você não acha?
- Bom, acho... Mas você tem que entender, Mione, ele está muito nervoso ultimamente. Ele e o Draco não se entendiam mais e, de repente, eles brigaram por sua causa – Hermione arregalou os olhos para Cassie – Ele só encontrou uma saída: ficar longe dos dois pra poder pensar.
- Não, espera ai! Ele brigou com Malfoy por minha causa? Mas como assim? Ele...
- Você não sabia? – interrompeu Cassie surpresa. – Droga! Acho que não devia ter te contado isso, afinal, se fosse pra você saber, Tom já teria contado. É melhor eu parar...
- Nem pense em parar agora! – interrompeu Hermione ansiosa. – Agora que começou, termine! Anda, me explica isso direito!
- Bom, eu também não sei ao certo o que aconteceu – disse Cassie, parecendo desculpar-se. – Acho que Draco estava bravo, porque Tom estava com você o tempo todo... Talvez fosse só ciúme, não sei, então Tom deve ter se irritado... E olha, Mione, essas são as minhas suposições! Só o que sei é que você foi o motivo da briga! Não sei detalhes, ok?!
- Então ele não se desculpou com Malfoy? – perguntou Hermione incrédula.
- Claro que não! – respondeu Cassie ansiosa. – Por que acha que Draco brigou com você ontem à noite?
Hermione levantou-se confusa e irritada e caminhou em direção à porta.
- Mione! – disse Cassie correndo atrás de mim. – Espera, aonde você vai?
- Falar com Tom, é claro! – respondeu e saí da biblioteca aflita.
- Não faz isso! Sabe, isso pode só piorar as coisas... Tom queria um tempo, então dê esse tempo a ele!
- Cassie, eu dou o tempo que ele quiser, mas depois de falar com ele só mais desta vez! – disse ela, parando pouco à frente da porta da biblioteca.
- Você acha mesmo que é a coisa certa a fazer? – perguntou Cassie preocupada.
- Vou descobrir – disse Hermione sorrindo meigamente.
- Boa sorte! – disse Cassie com a voz suave, devolvendo o sorriso.
Hermione nem imaginava onde Tom estava, ainda era cedo e ele poderia estar dormindo, e, obviamente, ela não poderia entrar no dormitório masculino da Sonserina, mas mesmo assim saiu procurando por toda parte.
Sem encontrá-lo, foi decidida às masmorras, onde ficaria plantada à sua espera, por mais demorada que fosse; e realmente foi o que aconteceu, esperou-o por um bom tempo, enquanto sonserinos passavam por ela – rumando em direção ao Salão Principal para o café da manhã – com seus olhares mal encarados ou debochados; “Olha ali se não é a sangue-ruim da Granger”, diziam, “Era só o que faltava: o pessoalzinho da Grifinória vir aqui nos incomodar”, mas continuou ali, fingindo não ouvir.
Mais uma meia hora se passou e, após ter visto vários sonserinos arrogantes saindo, avistou Tom bagunçando o cabelo ao lado de um garoto, o qual Hermione não lembrara o nome. Quando os garotos foram se aproximando seu coração começou a acelerar. O que direi a ele? – perguntou-se.
- Você? – perguntou ele ao se aproximar, parecendo feliz, mas espantado.
- É – ela disse nervosa. – Eu... Preciso muito falar com você!
- Ah – disse ele voltando-se para o outro garoto. –, a gente se encontra no Salão. – e se aproximou de Hermione o bastante para não serem ouvidos. – Sobre o que quer falar?
- Bom – começou ela ansiosa, sem olhá-lo nos olhos. –, sabe, Tom... Você cometeu um erro, certo?
- Se veio aqui para brigar... – começou ele irritado.
- Não, não – apressou-se em dizer. – Escuta! Você cometeu um erro, mas eu também cometi...
Ele me puxou para um canto, onde os alunos que passavam quase não conseguiam nos ver.
- E o que você espera que eu faça? – perguntou ele sério.
- Nada – respondeu Hermione calmamente. – Eu só acho que nós dois... Bom, que merecemos uma segunda chance.
- Olha, Mione – disse ele com um leve sorriso. –, realmente sinto algo por você...
- Mas você quer um tempo pra pensar – disse ela, completando a frase, tentando parecer indiferente.
- É... – ele segurou suas mãos. – Você fica chateada?
- Não – ela respondeu suavemente. – Você pode pensar o tempo que quiser, eu sei que está confuso. E quero que saiba que não vou julgá-lo de novo se ficar com outra garota, é que... Bom, você estava se aproximando... Eu só...
- Você não estava errada, eu é que fiz besteira, realmente me aproximei de você e pensei que poderíamos ficar juntos... – disse o garoto sorrindo. – Mas aconteceram algumas coisas que...
- Não precisa explicar – ela disse sorrindo, olhando-o nos olhos. - Já entendi tudo, mas não gostaria de ter que me afastar de você.
- E não vai ter! – exclamou ele. – Nem eu permitiria isso!
Ela sorriu, contente, mas seu sorriso não durou mais que três segundos em seu rosto, dando lugar uma expressão preocupada.
- O que foi? – perguntou Tom sério, sem entender.
- Tom, eu vou respeitar seu tempo e espaço, pode ter certeza! Mas – ela baixou a voz, receosa. – gostaria que fizesse algo por mim.
- O que? – perguntou ele no mesmo tom de voz da garota.
- Quando brigamos você me disse... Disse que me beijaria se eu soubesse o que estava fazendo, lembra?
- Lembro – respondeu Tom ainda mais baixou, com uma das mãos acariciando seu rosto.
- Agora eu sei o que estou fazendo, Tom – disse Hermione, tentando sorrir. – Um único...
Ela não precisou terminar a frase, pois Tom atendeu seu pedido fervorosamente; ele a puxou com a mão por trás de seu pescoço e passou a outra mão para sua cintura. Hermione, por sua vez, tinha os braços moles ao lado corpo, anestesiada pelo toque dos quentes lábios do garoto contra os seus. O movimento suave de Tom fazia parecer que seus lábios foram desenhados para se encaixar com os dela. Por fim, os lábios que pareciam colados, roçaram um no outro, os olhares se encontraram e ela o abraçou, com a cabeça encostada no peito do garoto, sentindo seu corpo que, assim como os lábios, era extremamente quente.
N/A: Primeiro que agradecer pelos novos comentários, que não foram muitos, mas significativos!
Espero que tenham gostado do Capitulo 4 que, como eu e Lari explicamos, teve de ser revisto e acredito que as modificações que foram feitas desta vez ficaram no mesmo nível dos anteriores.
Não sei se estão interessados em ler isso, mas eu gosto de N/A’s grandes, então escrevo e escrevo, quase com a certeza de que a maioria das pessoas não chega ao final delas! Bom, se você, caro leitor e leitora, chegou até aqui, é porque agüenta mais um pouquinho, né?! Sua vista está cansada e sua paciência se esgotando? Reclame nos comentários, quem sabe assim eles crescem \o/ – brincadeirinha, hahaha! Tá, não teve a menor graça ¬¬’
Ah, chega! Eu vou acabar com essa N/A de uma vez, antes que eu mesma tenha vontade de me enforcar! Apesar de eu já estar parecendo uma morta-viva...
Beijinhos a todos :* Capitulo 5 não vai demorar! PROMETO!
Bye ♥
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!