A Filha do eleito



O verão chegara mais cedo naquele ano e o mormaço característico desta época se intensificara em demasia, sendo de comentário obrigatório, do Parlamento ao London Eye as reclamações sobre o clima. O costume londrino de sair às ruas com guarda-chuvas e roupas de frio modificara-se, dando espaço a leques e roupas curtas.
A antiga névoa de Londres se desfizera quase que por magia e um sol brilhava imponente no céu azul, dando a falsa impressão de estar em um país de clima tropical.
Essa Inglaterra, feliz e pacata, parecia não saber que há vinte e um anos, um adolescente de 17 anos, dono de olhos verdes e cicatriz em forma de raio, derrotara o mais temível dos bruxos das trevas: Lord Voldemort.
Harry Potter era agora um homem maduro, chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia, ou seja, dos aurores. Vivia na lacuna, não visível aos trouxas, entre os números 11 e 13 do Largo Grimmauld. A antiga casa de Sirius era agora uma suntuosa mansão, ricamente decorada e sem o quadro da Senhora Black (graças a um feitiço, cortesia de Hermione) e com os quartos de Sirius e Régulo trancados. Não havia mais sinas das cabeças decapitadas dos antigos elfos domésticos e o local não era imundo como antes. Era costume trazer Monstro para passar feriados e as férias de verão em casa e por isso mesmo estava mais amável, exceto com Hermione, a quem continuava a chamar de “escória” e “vergonha do Ministério”.
Sentado em uma confortável poltrona reclinável, Harry lia a edição do Profeta Diário com uma das sobrancelhas levemente levantada.

O Brasão de Grigontes roubado
Por Paul Newell
Na madrugada de ontem, o Brasão de Grigontes, artefato confeccionado por duendes há dois milênios, foi roubado do referido banco. Não se sabe como o banco foi invadido, uma vez que desde a Invasão Potter (famosa invasão do chefe dos Aurores, durante a guerra contra Você-Sabe-Quem), a segurança foi reforçada com poderosos feitiços e o Brasão estava na mais reforçada câmara do local. “Não podemos supor qual o poder do Brasão” afirma Bins, professor de História da Magia em Hogwarts há um par de séculos “Embora seja sabido que o mesmo o tenha. Fantasmalmente, sou mais inclinado à teoria de chave, que destrancaria um compartimento obscuro do Departamento de Mistérios”. Procurados pela redação, o Ministério não quis se manifestar sobre o assunto.

Harry colocou o jornal na mesinha de canto mais próxima e subiu até o segundo andar, para procurar Lílian.
_Gina, onde está a Lily?
_Foi jogar quadribol com os Lovegood_ gritou a Weasley da cozinha_ Espero que não arrume confusão... Da última vez...
Nem bem terminou de falar e uma garotinha de cabelos ruivos e olhos castanhos adentrou a casa, trajando vestes vermelhas e amarelas, com uma vassoura em uma das mãos e o rosto marcado por lágrimas.
_O que aconteceu dessa vez, Lílian? Ai meu Deus... Você se machucou?
_Nã-não ma-ma-mamãe_ disse ela, soluçando_ o Lysander rebateu uma goles no meu joelho e aí eu queimei a vassoura dele.
_Você o quê?_ indagou Harry, perplexo. Toda vez que Lílian queimava alguma coisa, era sinal de confusão como da vez em que a vizinha trouxa roubou seu pomo e ela fez cair um raio na casa ou como da vez em que perseguiu Jorge com um dragão conjurado sabe Deus de onde.
_Sim, papai_ fungou ela_ Eu estava com raiva, aí o Lysander me disse que meus olhos_ e ela apontou para os próprios olhos para reforçar a tese_ começaram a brilhar muito. Só me lembro da Firebolt pegando fogo...
Gina levantou as vestes da filha, à altura do joelho, esperando um grande machucado, quem sabe até uma fratura exposta.Para sua surpresa, a pele estava lisa como seda, sem o menor sinal do impacto provocado pela goles.
_Onde está a fratura, Lily?
Com uma carinha inocente, a menina perguntou:
_Que fratura?
_A fratura causada pela goles, minha filha. Onde está para que eu possa curá-la?!?
_Ela mesmo se curou_ pela primeira vez, o garotinho loiro que acompanhava Lílian falava. Trajava vetes azuis e prata e tinha no rosto um expressão apavorada, como se a ruivinha fosse explodir a qualquer momento_ Não foi só os olhos que brilharam, a Lily inteira brilhou e, enquanto brilhava, seu joelho cicatrizou bizarramente.
_Você não me contou isso, Lys!_disse Lílian, com as mãos na cintura e batendo furiosamente um dos pés no chão, numa clara imitação da Srª Weasley.
_Não me venha com gracinhas_ vociferou Gina._E você, Lysander, me responda: onde está Lorcan?
_Está na porta, esperando a mamãe e o pai aparatarem para nos levar embora.
Harry tinha na face um sorriso maroto, como que lembrando as trapalhadas de Fred e Jorge, enquanto Gina o mirava com um olhar de “Você não vai fazer nada?”
Uma mulher de madeixas loiras e um homem alto e moreno adentraram o local, trajando vestes vermelhas com estrelas prateadas que piscavam, dando a eles um aspecto chamativo. Traziam junto a eles um garotinho novo, com seu oito ou nove anos, trajando vestes iguais ao do irmão.
_Olá Luna, Ralf, Lorcan._cumprimentou Gina, até então ajoelhada próxima a Lílian_ Como vai?
_Muito bem e vocês?_mantinha o mesmo olhar sonhador que Harry tanto conhecia_ Não se preocupe, Gina_ e se aproximou de Harry para lhe sussurrar ao ouvido_ Devem ter sido os Carábeles, eles conseguem descontrolar um bruxo quando querem, os carábeles. Talvez fosse interessante sua filha andar com uma cebola roxa da Noruega, Harry...
Harry sorriu, imaginando uma discussão entre Luna e Hermione, debatendo sobre a possível existência de carábeles: Luna afirmando que foram eles os causadores do acidente e Hermione dizendo que “certamente Lílian era poderosa e haveria uma explicação para isso.”. Pensou: “Existem coisas que nunca mudam...”
_Até mais pessoal. Sabem como é... O Pasquim está bombando... Tanto trabalho, não é mesmo Ralf querido. Não chore, Lys, eu lhe compro uma vassoura nova no caminho. Adeus Harry.
_Adeus Harry_ disse Ralf_ Dê uma passadinha no meu departamento depois. Preciso de sua assinatura para uma ação conjunta dos Inomináveis com os Aurores.
_Ahh... Claro... O Ministro já havia me solicitado informalmente em uma reunião com você, Rony, Hermione e Miranda. Estou apenas esperando a coruja chegar.
_Até mais então.
Harry teve a impressão de ver uma estrelinha da vestes de Luna acenar para ele.

***

_Corujas, mamãe, corujas de Hogwarts_ chamou Lílian_ Deus do céu, meu material...
_Calma, Lily. Você é tão parecida com Fred quanto Tiago é com o Rony...
Três corujas de igreja traziam em sua perna um envelope pardo, lacrados com um selo verde-esmeralda. Elas adentraram pela janela da cozinha e ficaram voando pela casa até pousarem ao lado de Harry.
A primeira carta aberta fora a de Lílian, a mais empolgada e a única acorda desde as cinco da madrugada.

Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts

Diretora: Minerva McGonagall
(Ordem de Merlin, Segunda Classe, Mestra da Transfiguração, Animaga regulamentada, Suprema Maga, Duelista Maior, Confederação Internacional do Bruxos)
Prezada Srª Potter,
Temos o prazer de informar que V. As. Tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. . Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários.
O ano letivo em 1º de Setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de Julho, no mais tardar.
Atenciosamente,
Filio Flitwick

_Me deixa ver, papai, me deixa ver!
_Calma, Lily. Chame seus irmãos para receberem as cartas deles também.
A pequena subiu as escadas correndo, de dois em dois degraus e, em um minuto, trazia em seu encalço dois jovens altos e corpulentos e um homem, com idade aparente de vinte anos, com cabelos roxo berrante.
_Desculpe, papai, acabei acordando o Teddy também... Venha, Al e Tiago, vamos_ e puxava pelos braços os dois irmãos, na tentativa frustrada de arrastá-los.
_Você os acordou?_indagou Gina
Mas a menina já não os ouvia. Largara os irmãos e correra ao colo do pai, que afastava a carta ao alto, brincando com a filha.
_Me dá, papai_ pediu, sorrindo. Ao receber a carta, pulou do colo e Harry e saiu saltitando de alegria pela sala_ Hiupi! Eu vou pra Hogwarts. O Hugo não vai acreditar quando eu contar que já recebi a carta... Vai ficar mordido de inveja. Monstro... Eu vou pra, Monstro!_ e desapareceu pela cortina da cozinha, contar ao elfo a novidade.
_Onde está a minha, papai? Haaaaaaaaaah..._bocejou Alvo. Não poderia haver dúvidas de que ali estava uma caricatura de Harry: algumas décadas mais novo e sem cicatriz. Os mesmos cabelos ouriçados, os óculos redondos e os olhos de Lílian Evans.
O garoto pegou a carta e puxou Tiago, ferrado no sono, pelas escadas, de volta ao quarto.
_Acho que teremos de fazer uma visita ao Beco Diagonal hoje_ afirmou Gina, verificando o estoque de Pó de Flu.
_Que eu não caia na Travessa do Tranco. Vamos, Mostro, quero lhe mostrar o que aprendi a fazer._disse Lílian que passava pela sala trazendo Monstro pela gola da “camisa”.
De longe, Harry ainda pode ouvir o elfo murmurar, feliz “A menina Potter não toma jeito!”. Concordava plenamente com ele.

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