CAPÍTULO DEZENOVE



CAPÍTULO DEZENOVE

- Está me dizendo que não vai acusá-la? - seus olhos ficaram sombrios com choque e raiva, enquanto Malfoy parecia entrar em erupção. - Você já conseguiu uma droga de confissão.
- Aquilo não foi uma confissão. - corrigiu Gina. Estava se sentindo cansada, muito cansada e desprezando a si mesma. - Ela teria dito qualquer coisa.
- Meu Deus, Gina! Meu Deus! - Em uma tentativa de acalmar a própria fúria, Malfoy começou a andar de um lado para outro no anti-séptico corredor azulejado do ambulatório. - Você conseguiu pegá-la!
- Não consegui não. - Com ar cansado, Gina esfregou a têmpora esquerda, onde estava começando a sentir uma dor de cabeça. - Escute só, Malfoy, nas condições em que ela estava, Jerry teria confessado que martelou pessoalmente os pregos nas mãos de Cristo se eu lhe desse uma dose. Se eu resolver acusá-la, ela naquela situação, seus advogados vão desmontar o caso antes de ele chegar à audiência prévia.
- Você não está preocupada com a audiência prévia. - Hermione estava ao lado, apertando os lábios, e ele passou direto por ela ao voltar até onde Gina estava. - Você a pegou direto na jugular, do jeito como um tira deve fazer em casos de assassinato. Agora, amoleceu. Você está é com pena dela!
- Não venha me dizer como eu estou. - replicou Gina, no mesmo tom. - E não venha me dizer como conduzir esta investigação. Sou a encarregada deste caso, Malfoy; portanto, saia do meu caminho.
Ele a avaliou e disse:
- Você não vai querer que eu passe por cima de você a respeito dessa decisão, vai?
- Ameaças? - Ela empinou o corpo e girou nos calcanhares, como um pugilista pronto para a luta. - Vá em frente e faça o que tem a fazer. Minha posição permanece a mesma. Ela vai para tratamento, embora Deus saiba que não vai adiantar muita coisa, a curto prazo, e então nós faremos um novo interrogatório. Até que eu fique satisfeita e reconheça que ela está sendo coerente e capaz de julgar as coisas por si própria, ela não vai ser acusada de nada.
Gina notou que ele estava fazendo um esforço para se controlar. E dava para sentir que estava sendo difícil, para ele, conseguir. Não deu a mínima importância.
- Gina, você tem o motivo, tem a oportunidade, tem os testes de personalidade e capacidade. Ela é capaz de cometer tais crimes. Estava, segundo suas próprias palavras, sob o efeito da droga e predisposta a agredir Cho, pois a odiava profundamente. O que mais você quer?
- Quero que ela me olhe nos olhos, bem lúcida, e me diga que matou todos eles. Quero que ela me conte como os matou. Até então, vamos esperar. Porque eu vou lhe dizer uma coisa, seu sabetudo: ela não agiu sozinha, de jeito nenhum! Não foi ela que matou todos eles com as próprias mãozinhas bonitas, não foi mesmo!
- Por quê? Porque ela é mulher?
- Não. Porque grana não é o grande barato dela. Paixão, sim, amor, sim, inveja também. Então, talvez ela tenha assassinado Cho em um acesso de fúria e ciúme, mas eu não engulo ela ter acabado com os outros três. Não sem ajuda. Não sem um empurrão. Então, a gente espera, volta a interrogar, até conseguirmos fazer com que ela entregue Justin ou Paul Redford, ou os dois. Aí, sim, vamos ter tudo.
- Acho que você está errada.
- Sua opinião ficou anotada. - disse ela, com energia. - Agora vá, vá preencher a sua queixa interdepartamental, vá dar uma volta para acalmar o facho, mas saia da minha frente!
Os olhos dele piscaram, e a raiva continuava neles, a todo vapor. Mas ele se afastou, dizendo:
- Vou esfriar a cabeça.
E saiu ventando, mal lançando um olhar para Hermione.
- Seu amigo está com menos charme esta noite. - comentou Gina.
Hermione podia dizer que o mesmo valia para a sua oficial superior, mas segurou a língua.
- Todos nós estamos sofrendo muita pressão, Weasley. Resolver este caso significa muito para ele.
- Sabe de uma coisa, Hermione? Conseguir justiça significa um pouco mais para mim do que uma estrelinha de ouro no currículo ou a porcaria de um distintivo de capitão. E se você quiser correr atrás do seu namorado para afagar o ego dele, ninguém a está impedindo.
O queixo de Hermione se contraiu, mas sua voz estava firme.
- Não vou a lugar algum, tenente.
- Ótimo! Então fique por aqui se fazendo de vítima, porque eu... - no meio da frase, Gina parou e sugou o ar. - Desculpe. Você é um alvo bem cômodo neste momento, Hermione.
- E isso faz parte do meu trabalho, senhora?
- Você tem sempre uma resposta boa na ponta da língua. Vou acabar odiando você por isso. - Mais calma, Gina colocou a mão sobre o ombro da auxiliar. - Desculpe o que eu falei e me desculpe também por deixar você em uma posição tão desconfortável. Trabalho e emoções pessoais não combinam muito bem.
- Consigo lidar com tudo isso. Ele estava errado em atacá-la daquela forma, Weasley. Consigo entender como ele se sente, mas isso não faz com que esteja certo.
- Talvez não. - Gina se encostou na parede e fechou os olhos. - Só que ele estava certo a respeito de uma coisa, e é isso que está me corroendo por dentro. Eu não me senti satisfeita com o que fiz com Jerry no interrogatório. Não gostei quando me vi fazendo aquilo, quando ouvi a minha própria voz martelando a cabeça dela e tentando dobrá-la, mesmo vendo que ela estava sofrendo. Mas fiz o que devia, porque esse é o meu trabalho, e atacar a jugular quando a presa está ferida é exatamente o que eu devia fazer.
Gina abriu os olhos e fitou a porta atrás da qual Jerry Fitzgerald estava levemente sedada.
- Às vezes, Hermione, este trabalho fede!
- Sim, senhora. - Pela primeira vez, Hermione esticou a mão e a colocou sobre o braço de Gina. - É por isso que você é tão boa no que faz.
Gina abriu a boca, sentindo-se surpresa, quando uma risada escapou.
- Mas que droga Hermione, eu realmente gosto de você!
- Gosto de você também. - e esperou um segundo. - O que há de errado conosco?
Mais animada, ela colocou o braço em volta dos ombros rígidos de Hermione e convidou:
- Vamos arrumar alguma coisa para comer. Jerry Fitzgerald não vai a parte alguma esta noite.
Nisso os instintos de Gina estavam errados.

A ligação a acordou pouco antes das quatro da manhã, tirando-a de um sono profundo e, felizmente, sem sonhos. Seus olhos estavam ardendo e a língua parecia grossa por efeito do vinho que ela se permitira tomar para fazer companhia a Luna e Leonardo. Conseguiu dar um resmungo quando atendeu o tele-link.
- Aqui fala Weasley. Puxa vida, será que ninguém consegue dormir em paz nesta cidade?
- Eu me pergunto a mesma coisa o tempo todo. - O rosto e a voz que surgiram no tele-link lhe pareciam vagamente familiares. Gina tentou focar melhor os olhos e pesquisar os discos de memória em sua cabeça.
- Ora... doutora... Ambrose? - As lembranças foram voltando lentamente, camada por camada. Doutora Ambrose, alta e esguia, mulata clara e chefe do Departamento de Quimiodependentes do Centro de Reabilitação para Drogas, no centro da cidade. - A senhora ainda está aí? Jerry Fitzgerald já está acordando?
- Não exatamente. Tenente, temos um problema aqui. A paciente Jerry Fitzgerald está morta.
- Morta? Como assim, morta?
- Assim, tipo falecida. - disse a doutora Ambrose, com um leve sorriso. - Como tenente de homicídios, imagino que a senhorita conhece bem o termo.
- Mas como, droga! O sistema nervoso dela apagou, ela pulou da janela, o que houve?
- Pelo que consegui determinar, ela ingeriu uma overdose, por conta própria. Conseguiu alcançar a amostra de Immortality que estávamos usando para determinar o tratamento mais apropriado para ela. Tomou tudo, acompanhado de algumas outras drogas que nós temos em estoque aqui. Sinto muito, tenente, ela se foi. Não podemos trazê-la de volta. Vou lhe fornecer mais detalhes assim que a senhorita e a sua equipe chegarem.
- Ah, mas vai fornecer mesmo, com certeza! - atirou Gina, e desligou.

Assim que chegou, Gina foi verificar o corpo, como se quisesse se certificar de que tudo aquilo não era um terrível engano. Jerry estava deitada na cama, vestindo um roupão do hospital que ia até o meio das coxas, identificado por uma cor especialmente codificada: azul-claro para dependentes na primeira fase de tratamento.
Ela jamais chegaria na fase dois.
Sua beleza estava de volta, estranhamente lúgubre, no rosto branco como cera. As olheiras haviam desaparecido, e a mancha já não estava em volta da boca. A morte era o calmante definitivo, afinal. Havia leves marcas de queimadura em seu peito, nos locais em que a equipe médica de ressuscitação trabalhara nela, além de uma marca roxa bem fraca nas costas da mão, onde a agulha do soro estivera enfiada. Sob o olhar cauteloso da médica, Gina examinou o corpo por completo, mas não encontrou sinal algum de violência.
Ela morrera, Gina imaginava, tão feliz quanto jamais conseguiria estar.
- Como isso aconteceu? - quis saber ela, de forma direta.
- Foi uma combinação de Immortality e, pelo que conseguimos determinar a partir do que está faltando no estoque, doses de morfina e Zeus sintético. A autópsia vai confirmar.
- E vocês mantêm um estoque de Zeus aqui, na clínica de reabilitação? - essa idéia fez Gina esfregar a mão no rosto. - Meu Deus!
- É para pesquisas e reabilitação. - explicou a doutora Ambrose, com firmeza. - Os dependentes precisam de um período lento e supervisionado de ingestão para a diminuição gradual da droga.
- Então, onde é que estava esta tal de supervisão, doutora?
- A senhorita Fitzgerald estava sedada. Não esperávamos que ela fosse ficar consciente até as oito da manhã. Já que ainda não compreendemos por completo as propriedades da Immortality, minha hipótese é a de que a quantidade que ainda havia em seu organismo contrabalançou o sedativo.
- Então ela se levantou, foi direto até o lugar onde vocês guardam as drogas e se serviu à vontade.
- Algo desse tipo. - Gina quase conseguia ouvir os dentes da médica rangendo.
- E quanto à segurança e à enfermagem? Ela ficou invisível e passou bem na frente delas sem ser notada?
- A senhorita pode verificar estas questões de segurança com a própria policial de vocês que estava de serviço aqui, tenente Weasley.
- Ah, mas pode ter certeza de que é o que eu vou fazer, doutora Ambrose.
A médica rangeu os dentes novamente e a seguir suspirou, dizendo:
- Olhe, não quero jogar toda a culpa nela, tenente. Houve uma grande confusão aqui há algumas horas. Um dos nossos pacientes com tendências violentas atacou a responsável pela enfermaria, depois de escapar das correias que o prendiam. Tivemos muito trabalho e tumulto aqui, por alguns minutos, e a policial que estava fazendo a segurança nos ajudou. Se ela não tivesse vindo nos acudir, a enfermeira que foi atacada estaria agora, provavelmente, diante das Portas do Paraíso, em companhia da senhorita Fitzgerald, em vez de estar apenas com algumas costelas e a perna quebradas.
- Vocês tiveram uma noite movimentada, doutora.
- Uma noite que eu gostaria que não se repetisse tão cedo. - e passou os dedos pelos cabelos castanhos encaracolados. - Olhe tenente, este centro possui uma excelente reputação. Nós ajudamos as pessoas. Perder uma paciente, desse modo, faz com que eu me sinta tão arrasada quanto a senhorita. Ela deveria estar dormindo, droga! E a policial da segurança não ficou longe do seu posto por mais de quinze minutos.
- Novamente, um cálculo exato de tempo. - Gina olhou mais uma vez para Jerry e tentou sacudir dos ombros o peso da culpa. - E quanto às suas câmeras do sistema de segurança?
- Não temos câmeras aqui. Tenente, consegue imaginar quantas imagens poderiam chegar às mãos da mídia se gravássemos os nossos pacientes, alguns deles pessoas famosas? Seguimos as leis de proteção à privacidade aqui.
- Que ótimo, sem discos de segurança. E ninguém a viu dar o seu último passeio. Onde fica o depósito das drogas, onde ela tomou a overdose?
- Nesta mesma ala, um andar abaixo de nós.
- Mas que diabos, como é que ela conhecia essa informação?
- Isso, tenente, eu não sei dizer. Da mesma forma que não sei explicar como foi que ela destrancou a porta, não só da sala dos medicamentos, como também do armário onde eles ficavam guardados. E ela fez isso. O servente da noite foi quem a encontrou quando fazia a limpeza. A porta estava aberta.
- Destrancada ou aberta?
- Aberta. - confirmou a médica. - Como também estavam as duas portas do armário. Ela estava no chão, mortinha da silva. Tentamos os procedimentos usuais para ressuscitação, é claro, mais pela tentativa do que por alguma esperança que tivéssemos.
- Vou precisar conversar com todas as pessoas desta ala, tanto com os funcionários quanto com os pacientes.
- Tenente...
- Danem-se as leis de proteção à privacidade, doutora! Eu estou passando por cima delas. Quero falar com o servente da noite, também. - O pesar sacudia os nervos de Gina enquanto ela tornava a cobrir o corpo. - Alguém veio aqui ou tentou visitá-la? Alguém ligou para verificar as condições em que ela estava?
- A encarregada da ala em que ela estava internada pode lhe fornecer esta informação.
- Então vamos começar por ela. Por favor, reúna os outros. Há alguma sala que eu possa usar para interrogatório?
- A senhorita pode usar a minha sala. - A doutora Ambrose olhou novamente para o corpo e falou por entre os dentes: - Era uma mulher linda. Jovem, com fama e fortuna ao alcance das mãos. As drogas curam, tenente. Elas aumentam a qualidade de vida e prolongam a existência. Acabam com a dor e aliviam uma mente conturbada. Procuro sempre me lembrar disso quando vejo o que mais elas podem fazer. Se quer saber, acho que ela estava destinada a vir para cá a partir do momento em que experimentou aquele lindo suco azul pela primeira vez.
- É... Só que chegou aqui bem mais depressa do que era de esperar.
Gina saiu da sala, avistou Hermione no corredor e perguntou:
- E Malfoy?
- Já entrei em contato com ele. Está vindo para cá.
- Isto está uma tremenda confusão, Hermione! Vamos fazer o possível para limpar tudo. Providencie para que esta sala... Ei, você! - Ela viu a policial que abandonara o posto no fundo do corredor. Gina apontou o dedo para ela como se fosse uma lança. Viu que seu gesto foi compreendido pelo jeito com que ela estremeceu, antes de tirar qualquer expressão do rosto e vir na direção da sua oficial superior.
Gina soltou o verbo, fazendo-lhe uma severa repreensão. Ela não precisava saber que Gina não ia recomendar nenhuma ação disciplinar contra ela. Era melhor deixá-la sofrer um pouco.
No fim, quando a moça já estava suando, totalmente pálida, Gina olhou para as terríveis marcas de arranhões na clavícula da policial.
- Foi o paciente com tendências violentas que fez isso em você?
- Sim, senhora, antes de eu conseguir imobilizá-lo.
- Vá cuidar desses ferimentos, pelo amor de Deus! Você está em um hospital. E quero que esta porta seja vigiada. Entendeu bem desta vez? Ninguém entra, ninguém sai!
- Sim, senhora. - Ela demonstrava atenção total ao olhar de forma patética para Gina, que achou que ela parecia um cachorrinho que acabou de levar uma bronca. Sua aparência era de quem mal tinha idade para comprar bebidas alcoólicas, avaliou Gina, balançando a cabeça.
- Fique de guarda aqui, policial, até que eu lhe dê ordem para sair. - e girou o corpo, fazendo um gesto para que Hermione a acompanhasse.
- Se você algum dia ficar assim tão pau da vida comigo - disse Hermione com sua voz calma - saiba que prefiro levar um soco na cara a sofrer uma esculhambação dessas...
- Está anotado. Malfoy, fico feliz por você ter decidido se juntar a nós.
A camisa dele estava amarrotada, como se tivesse vestido a primeira coisa que caiu em sua mão. Gina bem sabia como eram essas coisas. Sua própria blusa parecia ter ficado guardada por uma semana no bolso de alguém.
- O que houve aqui? - quis saber ele.
- É isso que nós descobriremos. Vamos nos instalar na sala da doutora Ambrose e interrogar todos os funcionários, um de cada vez. No caso dos pacientes, provavelmente vamos ter de percorrer quarto por quarto. Tudo deve ser gravado, Hermione, a começar de agora.
Em silêncio, Hermione pegou o gravador, prendeu-o na lapela e avisou:
- Gravando, senhora.
Gina acenou com a cabeça para a doutora Ambrose, seguiu atrás dela pelas portas de vidro reforçado, indo por um pequeno corredor até uma sala pequena e desarrumada.
- Aqui fala a tenente Gina Weasley. Estamos fazendo investigações em busca de possíveis testemunhas da morte de Jerry Fitzgerald. - Olhando para o relógio, recitou a data e a hora exata. - Também presentes o tenente Draco Malfoy, da Divisão de Drogas Ilegais, e a policial Hermione Granger, atuando como auxiliar da encarregada do caso. Todo o interrogatório vai acontecer na sala da doutora Ambrose, do Centro de Reabilitação para Drogas, no centro da cidade. Doutora Ambrose, queira mandar entrar a encarregada da enfermaria. E permaneça na sala, por favor.
- Como foi que ela morreu? - quis saber Malfoy. - Seu organismo não agüentou? O que houve?
- De certo modo, foi isso. Vou lhe contando à medida que formos em frente.
Ele pensou em dizer alguma coisa, mas se controlou e perguntou apenas:
- Podemos conseguir algum café aqui, Gina? Ainda não tomei a minha dose.
- Experimente aquilo. - e indicou com o polegar um AutoChef muito velho, antes de se sentar atrás da mesa.

As coisas não melhoraram muito. Ao meio-dia, Gina já interrogara pessoalmente todos os funcionários que estavam de serviço naquela ala, conseguindo quase os mesmos resultados em todas as vezes. O paciente com tendências violentas do quarto 6027 conseguira se soltar de suas correias, atacou a enfermeira do setor e causou o maior tumulto. Segundo as informações que conseguiu reunir, as pessoas saíram correndo em direção ao corredor como rios que correm para o mar, deixando o quarto de Jerry desguarnecido por um intervalo de tempo entre doze e dezoito minutos.
Tempo mais do que suficiente, imaginou Gina, para uma mulher desesperada fugir. Mas como ela sabia onde encontrar a droga pela qual ansiava e como conseguiu ter acesso a ela?
- Talvez alguns dos funcionários tivessem conversado a respeito disso no quarto dela. - Malfoy mastigava com vontade uma macarronada com molho vegetariano durante o intervalo para o almoço, na lanchonete do centro de reabilitação. - Um novo tipo de droga sempre levanta um bocado de interesse. Não é muito difícil de imaginar que a enfermeira e uma ou duas atendentes estivessem fofocando a respeito disso. Jerry, obviamente, não estava tão apagada quanto todos imaginaram. Ela escuta a conversa e, assim que tem uma chance, vai correndo buscar a droga.
Gina avaliou a teoria entre uma garfada e outra do seu frango grelhado.
- É, isso é possível. - concluiu. - Ela soube por alguém aqui de dentro. Estava desesperada, e era esperta. Dá para aceitar que ela tenha conseguido um modo de descer sem ser vista. Mas, que diabos, como foi que ela conseguiu abrir as fechaduras eletrônicas? Onde conseguiu a senha?
Ele remexeu a comida e olhou com cara feia para o prato. Um homem precisava de carne, droga! Um bife grande e vermelho. E aqueles centros de saúde cheios de frescura tratavam a carne como se ela fosse veneno.
- Ela não poderia ter pego um cartão-mestre em algum lugar? - especulou Hermione. Ela estava comendo apenas salada verde, sem molho, para se livrar de alguns quilinhos extras. - Ou quem sabe um cartão decodificador?
- Nesse caso, onde é que o cartão está? - rebateu Gina. - Ela caiu dura e já estava morta quando eles a encontraram. Os técnicos da polícia não acharam cartão algum na sala.
- Então, talvez a porta do armário já estivesse aberta quando ela chegou lá. - Sem vontade de comer aquilo, Malfoy empurrou o prato para o lado. - Do jeito que anda a nossa sorte...
- Isso já são coincidências demais para a minha cabeça! Tudo bem, ela escuta um papo a respeito da Immortality e descobre que a droga é guardada em um armário para pesquisas. Está na maior fissura, provocada pela abstinência, apesar dos remédios que tomou para aliviar a necessidade do organismo. Precisa muito da droga. Então, como um presente dos céus, acontece um tumulto lá fora. Eu não gosto de presentes dos céus, não os desse tipo, - murmurou Gina - mas tudo bem, vamos seguir essa teoria, por enquanto. Ela se levanta, a policial de guarda saiu do posto e está longe. Jerry desce até o armário das drogas, embora eu não consiga imaginar os funcionários lhe indicando o caminho. Enfim, ela chega lá, já aceitamos isso. Só que, para entrar na sala...
- O que está achando, Gina?
- Que ela teve ajuda. - e levantou os olhos para Malfoy. - Alguém tinha interesse em que ela conseguisse chegar lá.
- Você acha que um dos funcionários a conduziu até lá, para que ela pudesse se servir à vontade?
- É uma possibilidade. - Gina afastou com a mão o tom de dúvida na voz de Malfoy. - Uma propina, uma promessa, um fã. E quando cruzarmos as informações de todos os funcionários pode ser que topemos com um elo fraco na história. Nesse meio tempo... - parou de falar para atender ao comunicador: - Aqui é Weasley falando!
- Aqui é Lobar, um dos técnicos. Achamos um objeto interessante em uma das latas de lixo aqui do andar de baixo, tenente. É um cartão-mestre e está todo coberto de impressões digitais de Jerry Fitzgerald.
- Registre e guarde-o, Lobar. Já estou descendo!
- Isso explica muita coisa. - reagiu Malfoy. A notícia estimulou tanto o seu apetite que ele começou novamente a se interessar pelo macarrão. - Alguém a ajudou, como você disse. Ou ela pegou o cartão-mestre em uma das centrais de enfermagem durante a confusão.
- Garota esperta... - murmurou Gina. - Muito esperta. Calculou o tempo como se tivesse um cronômetro, desceu, destrancou as portas e pegou o que queria, e ainda reservou um tempinho para se livrar do cartão-mestre. Ela estava mesmo raciocinando com toda a lucidez, não é?
Hermione tamborilou com os dedos sobre a mesa e disse:
- Se ela tomou uma dose da Immortality primeiro, e parece que foi o que ela fez, a droga provavelmente a trouxe de volta com força total. Talvez, então, ela tenha compreendido que corria o risco de ser pega ali com o cartão. Livrando-se dele, ela podia alegar que vagou pelos corredores porque estava confusa.
- É... - Malfoy lançou-lhe um sorriso. - Isso faz sentido para mim.
- Então por que ficar ali? - quis saber Gina. - Depois de conseguir a dose que queria, por que ela não correu de volta para o quarto?
- Gina... - a voz de Malfoy estava calma e séria, como os seus olhos. - Há uma possibilidade que nós não consideramos aqui. Talvez ela quisesse morrer.
- Uma overdose deliberada? - Gina já pensara nisso, mas não gostou do que a idéia fez com os músculos do seu estômago. Uma sensação de culpa desceu sobre ela, como uma névoa pegajosa. - Mas por quê?
Compreendendo a reação de Gina, Malfoy colocou a mão de leve sobre a dela, dizendo:
- Ela estava em um beco sem saída. Você a pegou. Ela sabia que ia passar o resto da vida na cadeia... em uma cela. - acrescentou ele - E sem acesso a drogas. Ficaria velha, ia perder a beleza, ia perder tudo o que mais importava para ela. Foi uma forma de escapar, um jeito de morrer jovem e linda.
- Suicídio. - Hermione pegou as pontas soltas e tentou juntá-las. - A combinação de drogas que ela ingeriu era letal. Se ela estava lúcida o suficiente para chegar até o armário, também estava para ter consciência disso. Por que enfrentar o escândalo, a prisão, uma nova crise de abstinência se ela podia escapar de forma rápida e limpa?
- Já vi isso acontecer. - acrescentou Malfoy. - Na área em que trabalho, não é incomum. As pessoas não conseguem viver com a droga e também não conseguem viver sem ela. Então, tiram a própria vida.
- Sem deixar um bilhete? - insistiu Gina, com teimosia. - Sem deixar uma mensagem?
- Ela estava deprimida, Gina. E, como você mesma disse, desesperada. - Malfoy brincou um pouco com a xícara de café. - Se ela fez isso por impulso, se foi algo que ela sentiu que precisava fazer, e fazer depressa, talvez nem tenha pensado em deixar um bilhete. Gina, ninguém a forçou. Não há sinais de violência nem de luta no corpo. Foi auto-induzida. Pode ter sido um acidente, mas também pode ter sido deliberado. Você provavelmente não vai conseguir determinar qual dos dois.
- Isso não resolve os assassinatos. Ela não cometeu aqueles crimes sozinha, de jeito nenhum.
Malfoy trocou um olhar com Hermione e disse:
- Talvez não. Mas o fato é que a influência da droga pode explicar que ela tenha feito tudo aquilo. Você pode até continuar martelando mais um pouco em cima de Paul Redford e Justin Young. Só Deus sabe que nenhum dos dois devia escapar ileso disso. Só que você vai ter que fechar o caso, cedo ou tarde. Acabou. - e pousou a xícara. - Dê uma folga a si mesma.
- Ora, que cena linda! - Justin Young apareceu neste instante ao lado da mesa. Seus olhos, fundos e vermelhos, se fixaram em Gina. - Nada tira o seu apetite, não é, sua vadia?
Quando Malfoy fez menção de se levantar, Gina elevou um dedo, fazendo-lhe sinal para que permanecesse sentado, e deixou a pena de lado.
- Seus advogados conseguiram liberar você, Justin? - perguntou ela.
- Isso mesmo! Só foi preciso que Jerry morresse para eles conseguirem me liberar sob fiança. Minha advogada afirmou que, diante desses novos desdobramentos, e foram essas as palavras exatas que usou, com esses novos desdobramentos, o caso está praticamente fechado. Jerry é uma assassina múltipla, uma viciada em drogas, uma mulher morta, e eu estou livre. Cômodo, não é?
- É?... - perguntou Gina, no mesmo tom.
- Você a matou. - Ele se inclinou sobre a mesa e, com a força de suas mãos, os talheres estremeceram. - Foi o mesmo que enfiar uma faca na garganta dela. Ela precisava de ajuda, de compreensão, um pouco de compaixão. Mas você continuou forçando a barra, golpeando-a sem parar, até que ela desmontou. Agora ela está morta. Você consegue compreender isso? - Lágrimas começaram a aparecer em seus olhos. - Ela está morta, e você vai conseguir uma linda estrela para colocar ao lado do seu nome. Acabou com a carreira de uma louca assassina. Só que eu tenho novidades para você, tenente. Jerry nunca matou ninguém. Quem matou foi você. Isso ainda não acabou. - E passou o braço sobre a mesa, lançando longe os pratos e os talheres, formando no chão uma mistura confusa de cacos e comida espalhada. - Isso ainda não chegou ao fim, não!
Gina soltou um longo suspiro enquanto ele saía da lanchonete, dizendo:
- Não, eu acho que ainda não acabou.




Agradecimentos especiais:

gilmara: Que bom que vc gostou dos últimos capítulos e quanto a salvar no pc, não precisa se preocupar não, eu mesmo faço isso com as fics que eu mais gosto e as vezes dou uma lida rápida quando a net esta fora do ar. Como você viu a Jerry infelizmente morreu, tomou uma overdose das brabas, fazer o que não é mesmo, já posso adiantar que o Justin não era culpado de nada além de querer proteger a Jerry, mas acabou se enrolando demais. Bem, no próximo capitulo vamos ter o desenrolar dos fatos e também é o ultimo capitulo. Abraços e espero que tenha gostado.

Bianca: O Harry ficou realmente com ciúmes e a cena foi demais mesmo, a Gina com ciúmes é melhor ainda do que o Harry e isso ainda vai acontecer muito. Os três realmente sabiam da historia, mas na verdade não estavam envolvidos tão a fundo e não sabem quem realmente é o assassino, coitada da Jerry, a culpa ficou tudo nas costas dela, mas no próximo capitulo as coisas se encaixam e ficam claras. Quanto ao livro, na internet eu apenas encontrei em sites de venda de livros, mas para baixar mesmo ta complicado, e pra falar a verdade eu não leio traduções de muitos sites não, eu me restrinjo praticamente ao site do Portaldetonando, acho que você conhece, acredito que esse seja o melhor sites de e-books traduzidos, a maioria dos outros a linguagem é bastante falha e as vezes você precisa se esforçar para compreender as frases. Você acredita que eu fui na Biblioteca Central daqui da cidade pra ver se eles tinham o livro para me emprestar, “eu tenho carteirinha pra empréstimo”, e eles simplesmente não tem quase nenhum livro da Nora disponível sendo que esse eles não tem mesmo. Pelo menos ai o livro ta mais barato do que aqui, eu também estou querendo comprar, mas eu acabei tendo de gastar com alguns livros pra faculdade e ficou meio apertado para os próximos dois meses... Puts, acho que escrevi demais, fico por aqui antes que eu acabe enchendo uma pagina. Beijos
Ah, não se sinta culpada não. Abraços.

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