Não cumprindo com a hereditari



A sala de poções ficava em uma masmorra, e não tinhas janelas. Alvo e Rosa se sentiram um tanto claustrofóbicos ali dentro, mas mesmo assim, entraram e arrumaram seu material.
Menos de cinco minutos depois, o professor, que tinha cara de poucos amigos, entrou e se postou de frente aos alunos. Seus passos faziam eco, e nem uma mosca zumbia na sala.
Ele era alto e magro, e se assemelhava muito com um vampiro. Pálido, tinha os cabelos e olhos negros.
- Boa tarde. Meu nome é Dimitrius Bolt, e eu sou o professor de poções de vocês. – Ele começou a andar pela sala, passando o dedo nas paredes e nas carteiras – Eu costumo dizer que em poções, apenas um erro e tudo vai por água abaixo. Se você mexe seis vezes em sentido horário, quando deveriam ser cinco, ela já não é mais a mesma. Quando você adiciona seiva de Gaminho, quando se pede o pus, você pode até mesmo criar um veneno. E... Quando você cozinha em fogo alto, quando é pra se cozinhar em baixo, há probabilidades do caldeirão explodir. E eu garanto, ninguém quer ver um caldeirão explodir. Então, se for para não ter empenho na minha aula, peço que se retirem.
Dimitrius foi para a sua mesa, em passos curtos, e se sentou. Olhou para a classe com olhos vagarosos, até que depois de um tempo em silêncio, disse
- Troquem de pares.
A sala se encheu de murmúrios. Alvo olhou para Rosa assustado.
- Eu só conheço você aqui.
- Eu também ! Ah, não.
- Que foi ?
- Scorpion.
De fato, o garoto vinha andando, com um sorriso maroto em seu rosto. Parou em frente aos dois e disse
- Acho que agora ela é minha, Potter.
- Sua ? – Perguntou Rosa, se sentindo um objeto – Você nem perguntou se eu quero fazer com você.
- Todos já tem pares.
De fato, era verdade. Só tinha sobrado um garoto baixinho, da Sonserina, que pelo visto seria a dupla de Alvo.
- Eu não vou fazer com você Scorpion. Eu... Faço com aquele garoto ali. EI, MENINO !
O professor se levantou, visivelmente irritado.
- Vocês quatro, eu agradeceria se fossem um pouco mais rápidos.
- Mas professor, eu não quero...
- Basta. Você, ruivinha, faz com esse loirinho. Você, baixinho, faz com o garoto de olhos verdes.
Rosa olhou contrariada para Scorpion, que sorria vitorioso.
- Vou sentar atrás de você – Cochichou ela para Alvo.
Assim, sentaram :
- Rosa e Scorpion
- Alvo e o-menino-que-era-baixinho

- Muito bem... Vamos lá. Hoje vocês vão aprender os princípios básicos para uma poção do amor. E não, sinto muito, ninguém irá levar a poção depois da aula – Disse Dimitrius, olhando fixamente para as garotas que riam sem parar– Agora, por favor, quero que piquem a raiz de Mandrágora em pedaços e tirem todo o pó que encontrarem dentro dela. Agora.
Rapidamente, o garoto que era baixinho estendeu a mão para Alvo
- Antes de tudo quero que saiba que sou fã do seu pai da sua mãe e dos amigos deles Rony e Hermione! – Disse, falando muito rápido.
- Ahn... Ok.
- Meu nome é Higor.
- Prazer.
Alvo tentou cortar as raízes em pedaços certos, mas Higor falava com ele sem parar e tirando sua concentração. Sem contar com Scorpion, na mesa de trás, que jogava cantadas baratas para Rosa toda a hora. No final do tempo, Alvo descobriu que havia mutilado as raízes e não obterá o pó suficiente.
- É uma vergonha Potter – Disse o professor passando pela sua mesa – Que você, no primeiro dia, já seja um dos piores alunos da classe.
Scorpion começou a rir, mas Rosa o interrompeu
- Hm, com licença professor. Mas só porque ele não conseguiu obter pó suficiente para a poção agora ele é o pior aluno ?
Dimitrius desviou o olhar de Alvo para a garota.
- Tem uma namorada para lhe defender ? Interessante. Bem, depois do fiasco de agora, que vocês diluam esse pó com essa seguinte receita que vou passar...
Enquanto o professor escrevia instruções no quadro, Alvo se segurava para não matá-lo. Talvez seu pai estivesse certo, poções fosse uma perda de tempo.
Rosa percebia a agonia do amigo, e colocava a mão em seu ombro. De alguma maneira, isso o tranqüilizava suficientemente para ele conter sua raiva.
- Bem, entederam ? Agora podem começar, e não se esqueçam de diluir o pó.
Alvo, que não conseguira se concentrar em uma palavra do professor, se sentiu confuso.
- Hm... Higor. O que é pra fazer ?
O garoto, que estava muito concentrado, rapidamente olhou para Alvo.
- Ooipodefalar – Ele disse isso muito rápido.
- A solução, eu não entendi muita coisa...
Ele, rapidamente, pegou o caldeirão de Alvo, e começou a derramar os ingredientes. Logo, um líquido meio rosado tinha sido feito.
- Agora jogue o pó – Explicou, mal conseguindo se conter.
- Obrigado...
Assim feito, o caldeirão soltou uma pequena fumaça de cheiro cítrico, fazendo Alvo saltar um pouco para trás.
Dimitrius passou pelo local, e, ao olhar para a poção de Alvo, soltou uma exclamação.
- Uau, Potter, parabéns ! Conseguiu se superar ! Mesmo não obtendo pó suficiente, a sua poção está magnífica !
- Ahn, professor, eu...
Higor deu um beliscão na sua perna, enquanto falava.
- Ele é realmente muito bom.
- Notei... Bem, quero você depois da aula.
Assim dizendo, saiu andando em direção aos fundos da sala.
- Ta maluco ? Você que fez a solução !
- Eu não fiz nada... – Disse Higor, sorrindo – Você quem fez.
- Não, eu não fiz. Foi você.
- Esquece isso.
Alvo afundou-se na carteira, com um sentimento de culpa, ódio, e vergonha. O que fazer ? Tinha um garoto que era seu fã, fazia suas coisas, e uma garota que ele amava, sendo assediada pelo meu ‘inimigo’.
* * *

- Você vem sempre aqui ? – Perguntou Scorpion, colocando seu pó na poção.
‘’Ai não. Por favor, não’’.
- De fato, eu venho. Eu estudo aqui, afinal. – Respondeu Rosa, ríspida, enquanto mexia o caldeirão seis vezes para o sentido horário.
O garoto pareceu, por um breve instante, desconcertado. Mas logo, sorriu.
- Então eu posso te pegar pra sair ?
- Caraca... Por Merlin... Não, não pode.
- Porque ?
- Não to afim.
- Mas porque ?
- Porque eu não... Ah, MINHA POÇÃO !
Scorpion tinha a desconcentrado, e, Rosa acabara mexendo o dobro do que era pra mexer. O líquido estava verde escarlate, soltando algumas bolhas.
A menina tentou, rapidamente, colocar o pó no caldeirão, mas já era tarde. O mesmo estava fervendo, e, ao contado com o pó, começou a ficar pastoso.
Dimitrius estava passando, quando viu o que estava acontecendo. Faz uma cara de espanto, enquanto coçava o nariz.
- O que você fez ?
- Perdi a concentração – Disse, olhando com raiva para Scorpion.
O professor esticou a mão e, com repugnância, tocou o caldeirão de Rosa com a varinha, fazendo a poção sumir.
- Você é um desastre. Seu namorado lhe devia ensinar algumas coisas.
- Potter não é o namorado dela – Disse Scorpion, com raiva.
Sem dar atenção, Dimitrius novamente passou pelas carteiras, deixando Rosa bufando de raiva.


* * *

- Uma hora você vai ter que me ouvir Julia...
- Sai de perto de mim. – Disse a garota, se virando e apontando a varinha para Thiago – Eu não me importo de fazer seus dentes crescerem de novo, sabia ?
Ele parou de súbito, parecendo estar preocupado. Mas, logo depois, sorriu.
- Fui grosso. Realmente, peço desculpas.
- Grosso é pouco. Eu confiava em você, gostava de você, aí...
- Espera – Disse, colocando o dedo indicador sobre a boca da menina – Gostava de mim ?
Julia, rapidamente, corou. Balbuciou algumas palavras, enquanto guardava a varinha no bolso das vestes.
- É... É, gostava como amigo.
- Sei, sei. Me perdoa, então ?
A garota ergueu novamente a cabeça,e encarou Thiago nos olhos. Sua expressão estava séria, mas depois de alguns segundos ela sorriu, dando um tapa no ombro de seu amigo.
- Te perdôo sim, seu idiota.
- Melhor assim, sua nervosinha.
- Não sou nervosinha, agi por instinto.
Thiago sorriu, colocando a mão por cima do ombro da amiga, enquanto os dois retomavam a caminhada, rumo aos jardins.
- Perdi muita coisa, enquanto estava na enfermaria ?
- Para de palhaçada, nem ficou lá por tanto tempo. – Disse Julia, rindo, mas logo se lembrou... Ele tinha perdido sim uma coisa, uma novidade que provavelmente não seria de seu agrado.
- Hm... Eu acho que perdeu uma coisinha só. Pequenininha assim ó – Disse, unindo o dedão ao indicador, mostrando pouca quantidade.
- Deeesse tamanho doutor ?
- Vai te catar homem! – Falou, rindo, mas logo depois retomou o ar de seriedade – Fui chamada para a Armada Dumbledore.
- HEIN ??
O garoto estava vermelho, quase igual aos seus cabelos. Ficou olhando incrédulo para Julia, sem ser capaz de dizer nada, apenas boquiaberto. Aquela idéia, dela ser convidada e não ele, não lhe era boa. Se sentiu incapaz, como se não pudesse mostrar para a garota que era bom em alguma coisa.
- O que houve ? – Perguntou, seu rosto corando igual ao dele. Sabia que, no lugar do amigo, provavelmente ficaria assim.
- Eu não acredito que eles te chamaram.
- Porque ? Acha que não sou boa o suficiente ? – Desta vez, seu tom de voz estava alterado.
- Você é boa. Mas, bem, qualquer um que te conhece sabe que não consegue transfigurar um fósforo em agulha. – Disse, um tanto irritado.
- Mas todos que me conhecem sabem que eu posso azarar, e muito bem. Você sabe, não é? - Perguntou, deboxada, sacando a varinha e a segurando na altura do nariz.
- Está se achando, só porque me pegou desprevinido.
- E você está com inveja, porque eu estou na armada e você não.
Ainda segurava a varinha, com força, lutando para não acabar com o garoto ali mesmo. Mas era firme, respirou, e guardou-a calmamente em seu bolso interno, pela segunda vez.
- Sabe qual o seu problema? É muito infantil. Quando crescer, venha falar comigo. Não estou a fim de discutir com você de novo, pelo menos não hoje. Com licença.
Dizendo isso, virou-se, e saiu caminhando sozinha em direção aos jardins.


* * *


- Hãhã Potter, venha aqui – Disse Dimitrius, segurando o garoto pela ombro, que tentava escapar junto com a aglomeração de alunos – Precisamos conversar.
- Ham... Professor, eu tenho aula de Vôo agora – Mentiu, olhando de esguelha para Rosa, que balançava a cabeça furtivamente. A mesma tentava se desvencilhar de Scorpion, que toda hora a segurava pela cintura.
- Só daqui a uma hora. Vamos, vamos, eu não vou tomar todo seu tempo.
Derrotado, abaixou a cabeça, seguindo o professor para o fundo da sala e esperando todos os alunos saírem.
Assim feito, Dimitrius apontou a varinha para porta, fechando-a, e o som ecoando pela sala vazia. O único sussuro audível era de um caldeirão fumegante, com um líquido cor de rosa, na mesa do professor.
- Você se saiu excepcionalmente bem nesta aula, Potter – Disse, quebrando a monotonia – Mesmo não obtendo o pó suficiente, sua poção ficou a mais parecida com a original.
- Bem, eu... Não sei o que falar – Disse, corado.
- Sabe sim. Por isso, vou te propor uma coisa. Quero que faça a poção do amor pra mim.
- HEIN ?
- Se souber, terá o direito de ganhar um frasco. Claro, não da sua poção, mas desse caldeirão aqui da mesa. Quero ver se é mesmo bom o suficiente.
Dimitrius foi andando em direção a um armário no canto direito da sala, onde pegou uma braçada de ingredientes. Logo após, depositou-os em cima da mesa, com um sorriso.
- Pode pegar seu livro e começar a fazer. Você tem uma hora, ou se atrasará para a aula de vôo.
- M-mas...
- Uma hora.
Rapidamente, Alvo abriu seu livro na página ordenada, e começou a seguir as instruções.
Fatiou, desta vez um pouco mais cuidadoso, a raiz de Mandrágora, obtendo uma quantidade de pó realmente razoável. Ligou um pequeno fogo, colocando o caldeirão para ferver, enquanto preparava a solução.
Se atrapalhou com um ou dois ingredientes, resultando, numa poção um pouco mais opaca do que a original.
O professor ergueu os olhos do jornal que lia, olhando para Alvo e logo após para o relógio.
- Trinta minutos se passaram... faltam apenas meia hora, Potter.
Seu coração começou a acelerar, e suor pingava de sua testa. Chegar atrasado em sua primeira aula de Vôo não lhe parecia uma idéia muito boa.
Seus dedos perpassaram freneticamente pelas páginas, enquanto ele pegava um pouco de cada ingrediente. Aquela era a última etapa e, feito aquilo, era só deixar a poção repousar por duas semanas.
Mexeu o caldeirão quatorze vezes no sentido anti-horário, logo depois acrescentando flúor de betânias concentrado. Mais quatro pro sentido horário, e jogava água de larva.
- Essência... De... Hortelã – Disse, sorrindo, enquanto acrescentava esse ultimo ingrediente. A poção, rapidamente se transformou em um rosa claro. Cheirava a chiclete.
Dimitrius se levantou se sua cadeira, visivelmente impressionado, e caminhou até Alvo. Chegou perto do caldeirão, cheirando-o, e olhou assustado para o menino.
- Você conseguiu.
O garoto mal conseguia acreditar. Gotas de suor ainda escorriam pelo rosto, devido ao contato diretor com o vapor quente.
- É... – Disse, tentando aparentar tranqüilidade – Consegui.
- Realmente impressionante. E eu nunca pensei que faria isso, mas... – Falou isso enquanto pegava um frasco do bolso – Terei que fazê-lo.
Caminhou até sua mesa, mergulhando o frasco no caldeirão e, logo depois, lacrando-o com uma rolha conjurada. Andou novamente até Alvo, estendendo-lhe a mão.
- É sua. Use corretamente, por favor.
Com a mão trêmula, segurou o frasco delicadamente. Ainda sem acreditar, o ficou admirando.
- Está dispensado. Pode ir, faltam quinze minutos para sua próxima aula.
Incrédulo, se despediu educadamente do professor, enquanto guardava seu material na bolsa junto com a poção. Caminhou até a saída, onde, impressionantemente, Rosa o esperava.
- Como foi ? – Perguntou, nervosa.
- Eu... Consegui fazer a poção. Mal estou acreditando nisso.
Rosa sorriu, e abraçou o menino, como se o parabenizasse. Logo após, os dois começaram a caminhar juntos, em direção ao campo.
- Ainda bem. Porque eu realmente achei o professor um ótimo ator.
- Ator?! – Perguntou, confuso.
- Uhun. Se você não notou, ele sabia o tempo todo que você não sabia fazer a solução. Dimitrius queria quebrar a sua cara, te ‘’dar uma lição’’. Mas você conseguiu.
‘’ É mesmo ! Ele queria que eu fizesse tudo sozinho, eu tinha um tempo, se não eu perdia a aula de vôo... E ele disse tudo isso em um tom bem irônico...’’
- Filho da mãe – Disse, sorrindo de triunfo – Agora ele aprendeu o que é bom.
- E você descobriu que é bom em poções.
- Até que é legal...
- Viu? Não é só porque seu pai achava chato que você também tem que achar.
Alvo olhou para Rosa, um tanto feliz, com um sorriso esboçado nos lábios.
- Quer saber? Eu acho que não nasci para cumprir a Hereditariedade...

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