Capitulo 26 - O DIA DO FESTIVA
Capitulo 26 - O DIA DO FESTIVAL DE SOLSTÍCIO DE INVERNO
- Não, obrigada, Galena. Não vou ao Festival de Solstício de Inverno dessas bruxas. Nós, os Feiticeiros, não celebramos essa data. - disse Lílian a Galena, depois de Tiago ter partido nessa manhã.
- Pois eu vou, - afirmou Galena - e acho que todos devíamos ir. Não é de ânimo leve que se recusa um convite das Bruxas Wendron, Lílian. É uma honra receber um convite desses. Na verdade, nem sei como é que o Tiago conseguiu que nos convidassem.
- Humf. - foi a única resposta de Lílian.
Mas com o avançar da tarde e com o aroma de carcaju assado pairando sobre a Floresta e subindo até à casa-na-árvore, os rapazes começaram a mostrar-se muito agitados. Galena comia apenas vegetais, frutos e nozes, ou seja, como Fred tinha observado bem alto logo após a primeira refeição com ela, exatamente aquilo que se dava para comer aos coelhos em casa.
A neve caía pesadamente por entre as árvores quando Galena abriu o alçapão da casa-na-árvore. Servindo-se de um inteligente sistema de roldanas que ela própria tinha criado, baixou a longa escada de madeira até esta estar pousada no tapete de neve que agora cobria o chão. A própria casa-na-árvore estava construída como uma série de plataformas que uniam três velhos carvalhos e tinha feito parte integrante desses mesmos carvalhos desde que tinham atingido a sua altura máxima, há muitas centenas de anos. Uma profusa confusão de cabanas tinha sido acrescentada à plataforma ao longo dos anos. Estavam cobertas de heras e misturavam-se tão perfeitamente com a árvore, que eram invisíveis para quem olhasse de baixo.
Carlinhos, Fred e Jorge, e Neville partilhavam a cabana de hóspedes bem no topo da árvore do meio e tinham a sua própria corda para escorregar até o chão da Floresta. Enquanto os rapazes discutiam para decidir quem ia ser o primeiro a descer pela corda, Lílian e Molly saíam de forma bem mais tranqüila pela escada principal.
Galena tinha se aprontado toda para o Festival de Solstício de Inverno. Já tinha sido convidada para um há muitos anos, depois de ter curado a filha de uma das bruxas, e por isso sabia que era um acontecimento único. Galena era uma mulher de pequena estatura, algo marcada por longos anos passados fora dos muros, na Floresta.
Tinha cabelo curto e desgrenhado, de um vermelho brilhante, sorridentes olhos castanhos e, geralmente, vestia apenas uma curta túnica verde, polainas e uma capa. Mas hoje, hoje tinha posto o seu vestido de Festival de Solstício de Inverno.
- Caramba, Galena, deu-se mesmo ao trabalho. - exclamou Lílian, com um ligeiro toque de repreensão. - Nunca tinha visto esse vestido antes. É... é muito impressionante.
Galena não costumava sair muitas vezes, mas quando saía, vestia-se a rigor. O seu vestido parecia ser feito de centenas de folhas multicoloridas, todas cosidas umas às outras e unidas no meio por uma brilhante faixa verde.
- Oh, obrigada. - disse Galena. - Fui eu que o fiz.
- Também achei que sim. - disse Lílian.
Molly Weasley empurrou a escada para cima através do alçapão, e o grupo pôs-se a caminho pela Floresta, seguindo o delicioso aroma de carcaju no espeto.
Galena conduziu-os pelas trilhas da Floresta, as quais estavam cobertas por um tapete recente de neve e pontilhada por um entrecruzado de rastros de animais de todos os tamanhos e feitios. Depois de uma longa marcha através de um labirinto de trilhas, canais e barrancos, chegaram ao que em tempos tinha sido uma pedreira de ardósia que fornecia o Castelo. Era ali que as Assembléias das Bruxas Wendron tinham lugar agora.
Ali, em torno de uma fogueira no centro da pedreira, estavam reunidas trinta e nove bruxas, todas vestidas com seus mantos vermelhos do Festival de Solstício de Inverno. O chão estava espargido de flores recém-cortadas e enfarinhadas pela neve que caía suavemente em torno delas, boa parte dela derretendo-se e assobiando ao calor das chamas. Respirava-se um aroma embriagante de comida temperada com especiarias: espetos eram girados, carcajus eram assados, coelhos eram guisados em caldeirões borbulhantes e esquilos eram cozidos em fornos subterrâneos. Uma mesa comprida estava atravancada com todo o tipo de pratos doces e apimentados. As bruxas tinham negociado aquelas iguarias com os Mercadores Nortenhos e tinham-nas guardado para aquela ocasião, o dia mais importante do ano. Os rapazes arregalavam os olhos de assombro. Nunca tinham visto tanta comida junta num só lugar na vida. Até Lílian tinha que admitir para si mesma que era uma coisa impressionante.
Morwenna Mould viu-os à entrada da pedreira, hesitantes. Levantou o manto vermelho e foi até eles, para recebê-los.
- Sejam bem-vindos. Por favor, juntem-se a nós.
As bruxas afastaram-se respeitosamente para permitirem que Morwenna, a Bruxa Mãe, acompanhasse os seus convidados, excessivamente intimidados, até aos melhores lugares junto da fogueira.
- Estou tão contente por finalmente conhecê-la, Lílian. - Morwenna sorriu. - Sinto-me como se já a conhecesse há muito. O Tiago fartou-se de falar de você na noite em que me salvou.
- Ah foi? - perguntou Lílian.
- Oh, sim. Falou toda a noite sobre você e o bebê.
- Verdade?
Morwenna pôs um braço sobre os ombros de Lílian.
- Todas nós andamos à procura do seu filho. Tenho certeza que tudo vai acabar bem. E com os seus outros três que agora estão longe de você. Tudo vai estar bem com eles também.
- Os meus outros três? - perguntou Lílian.
- Os seus outros três filhos.
Lílian fez uma breve contagem. Às vezes, nem ela conseguia se lembrar quantos eram eles.
- Dois. - disse por fim. - Os meus outros dois.
O Festival de Solstício de Inverno prolongou-se bem noite adentro e depois de um bom tempo de Cerveja das Bruxas, Lílian conseguiu esquecer completamente suas preocupações com Gui e Tiago. Infelizmente, elas voltaram rapidamente na manhã seguinte, juntamente com uma terrível dor de cabeça.
O Dia do Festival de Solstício de Inverno de Tiago foi muito mais contido.
Seguiu pelo caminho ribeirinho que corria ao longo da orla da Floresta, antes de contornar as paredes do Castelo e, empurrado por gélidos redemoinhos de neve, dirigiu-se para o Portão Norte. Queria chegar a território familiar antes de decidir o que fazer. Tiago puxou o capuz cinzento de forma a cobrir seus olhos verdes de Feiticeiro, respirou fundo, e avançou pela ponte levadiça coberta de neve, que levava ao Portão Norte.
Gringe estava de serviço à entrada e estava de péssimo humor. As coisas no lar de Gringe não andavam lá muito boas e ele tinha estado a pensar nos seus problemas domésticos durante toda a manhã.
- Ei você, - grunhiu Gringe, batendo com os pés na neve fria - apresse-se. Já está atrasado para a limpeza obrigatória das ruas.
Tiago apressou-se a passar por ele.
- Não tenha tanta pressa! - ladrou Gringe. - Para você é uma moeda de prata.
Tiago remexeu no bolso e pescou de lá uma moeda de prata, ainda pegajosa com as delícias de cereja e pastinaga que ele tinha enfiado no bolso para não ter que come-las. Gringe pegou a moeda e cheirou-a, desconfiado, depois esfregou-a no colete e colocou-a de lado. A Sra. Gringe tinha a deliciosa tarefa de, todas as noites, limpar o dinheiro pegajoso, e por isso ele limitou-se a acrescentá-la à pilha dela e deixou Tiago passar.
- Escuta aqui, não te conheço de algum lugar? - perguntou Gringe enquanto Tiago se apressava a passar por ele.
Tiago negou com um movimento de cabeça.
- Dança Morris?
Tiago voltou a negar com a cabeça e continuou a andar.
- Aulas de alaúde?
- Não! - Tiago esgueirou-se para as sombras e de-
sapareceu por um beco.
- Eu o conheço. - murmurou Gringe para si mesmo. - E também não é nenhum trabalhador. Não com aqueles olhos verdes brilhando como duas lagartas num balde de carvão. - Gringe pôs-se a pensar um bocado. - É Tiago Potter! Tem a cara de voltar aqui. Mas eu não demoro a encontrá-lo.
Não demorou muito até Gringe encontrar um Guarda de passagem e, em breve, o Guardião Supremo já tinha sido informado da volta de Tiago ao Castelo. Mas por muito que se esforçasse, não conseguia encontrá-lo. O FicaEmSegurança de Marcia cumpria exemplarmente a sua função.
Tiago, entretanto, tinha se apressado em chegar aos velhos Bairros, satisfeito por se livrar de Gringe e da neve.
Sabia onde ir; não sabia porquê, mas queria voltar a ver sua casa. Tiago esgueirou-se pelos corredores escuros, mas familiares. Estava satisfeito com o seu disfarce, pois ninguém prestava atenção a um trabalhador de pouca importância, mas Tiago nunca tinha notado de quão pouco respeito lhes era prestado. Ninguém se afastava para deixá-lo passar. As pessoas empurravam-no para o lado, permitiam que portas se fechassem na sua cara e, por duas vezes, foi-lhe dito de forma pouco educada que devia estar lá fora limpando as ruas.
Talvez, pensou Tiago, ser um mero Feiticeiro Normal não era assim tão mau.
A porta para o apartamento dos Potter estava desamparadamente aberta. Pareceu não reconhecer Tiago quando ele entrou na ponta dos pés para a sala onde tinha passado grande parte dos últimos vinte e cinco anos de sua vida. Tiago sentou-se na sua cadeira artesanal favorita, e correu tristemente os olhos pela sala, perdido em cogitações. Parecia estranhamente pequena, na ausência de crianças, barulho e de Lílian, que presidia ao rebuliço diário.
E, mesmo a Tiago, que nunca se importara muito com um pouco de pó aqui e ali, parecia embaraçosamente suja.
- Viviam mesmo numa lixeira, não é? Escumalha de Feiticeiros. Nunca tive muito tempo p’ra eles. - disse uma voz dura. Tiago voltou-se, para se deparar com um homem encorpado junto da entrada. Por trás dele, no corredor, podia ver um grande carrinho de madeira. - Num pensei que fossem mandar alguém p’ra m’ajudar. Inda bem que mandaram. Eu sozinho levaria o dia todo. Bem, o carrinho ‘tá lá fora. É p’ra ir tudo p’ro lixo. Os livros de Magya é p’ra queimar. Pegou?
- O que?
- M’Deus. Mandaram-me um atrasadinho. Lixo. Carrinho. Lixeira. Não é propr’amente Alquimia. Agora manda p’ra cá esse monte de madeira em qu’está estacionado e mãos à obra.
Tiago levantou-se da cadeira, como se estivesse num sonho e entregou-a ao homem da remoção, que pegou-a e atirou para o carrinho de mão. A cadeira desfez-se e espalhou-se em pedaços pelo fundo do carrinho. Não demorou muito a ficar debaixo de uma enorme pilha de pertences que os Potter tinham acumulado ao longo de uma vida.
O carrinho estava praticamente transbordando.
- Muito bem. - disse o homem da remoção. - Vou levar isto à lixeira antes que feche, enquanto você põe os livros de Magya lá fora. Os bombeiros vão recolhê-los amanhã, quando fizerem a ronda matinal.
Estendeu uma grande vassoura a Tiago.
- Fica varrendo esse pêlo de cão n’jento e tudo mais. Depois pode ir pr’a casa. Parece cansado. Num ‘tá habituado a trabalho duro, heim! - O homem da remoção soltou uma risadinha e deu uma palmada, que pretendia ser amistosa, nas costas de Tiago. Tiago tossiu e sorriu com ar triste. - Num s’esqueça dos livros de Magya. - foi a despedida do homem, enquanto empurrava o carrinho abarrotado pelo corredor abaixo, em direção à Lixeira de Detritos da Amenidade Ribeirinha.
Como num transe, Tiago varreu vinte e cinco anos de acumulação de pó, pêlo de cão e lixo, para um montinho ordenado. Depois olhou com pena para os seus livros de Magya.
- Se quiser te dou uma mãozinha. - disse a voz de Alther perto dele. O fantasma pousou um braço sobre os ombros de Tiago.
- Oh. Olá, Alther. - cumprimentou Tiago sombriamente. - Que dia.
- É, não foi nada bom, não. Lamento muito, Tiago.
- Foi-se... tudo - murmurou Tiago - e agora os livros também. Tínhamos alguns bem bons aqui. Muitos Encantamentos raros... e tudo vai ser queimado.
- Não necessariamente. - comentou Alther. - Cabem perfeitamente no seu quarto no sótão. Se quiser ajudo-o com o Feitiço de Remoção.
Tiago ficou um bocado mais animado.
- Lembre-me só como é, Alther, e eu consigo fazê-lo. Tenho certeza que consigo.
A Remoção de Tiago funcionou muito bem. Os livros alinharam-se ordenadamente, o alçapão abriu-se e, um a um, os livros voaram pela abertura e empilharam-se no antigo quarto de Tiago e Lílian. Um ou dois dos livros mais teimosos dirigiram-se para a porta e já iam a meio do corredor quando Tiago conseguiu trazê-los de volta, mas quando o feitiço se dissipou, os livros de Magya estavam sãos e salvos no sótão e Tiago tinha até Camuflado o alçapão. Agora, ninguém conseguiria adivinhar o que havia ali.
E assim Tiago saiu pela última vez do seu quarto, vazio e cheio de ecos, e desceu pelo Corredor 223. Alther flutuava ao lado dele.
- Venha sentar-se conosco um pouco. - convidou Alther. - Vamos até o Buraco na Parede.
- Vamos onde?
- Eu também só o descobri há pouco tempo. Foi um dos Antigos que me mostrou. É uma velha taverna no interior das paredes do Castelo. Foi emparedado há uns anos atrás por uma das Rainhas, que não gostava de cerveja. Parece que desde que se tenha andado pelas paredes do Castelo, e quem não andou?, qualquer fantasma pode entrar lá, por isso está sempre apinhado. Mas tem um ótimo ambiente, pode ser que se anime.
- Não sei se me apetece muito, Alther, mas obrigado mesmo assim. Não foi ali que emparedaram a freira?
- Oh, ela é muito divertida, a Irmã Bernadette. Adora uma boa caneca de cerveja. Costuma ser a vida e a alma de qualquer festa. Por assim dizer. De qualquer forma, tenho novidades do Gui que acho que deveria ouvir.
- Do Gui! Ele está bem? Onde está? - perguntou Tiago.
- Está aqui, Tiago. No Castelo. Venha até o Buraco na Parede. Há uma pessoa lá com quem devia falar.
O Buraco na Parede estava apinhado.
Alther tinha levado Tiago até um amontoado de pedras tombadas contra a parede do Castelo, a pouco distância do Portão Norte. Ali tinha lhe mostrado uma estreita fenda na parede, escondida pela pilha de destroços e Tiago mal tinha conseguido enfiar-se por ali. Uma vez do outro lado, encontrou-se num outro mundo. O Buraco na Parede era uma caverna antiga construída no interior da parede do Castelo. Quando Marcia tinha se servido de um atalho para o Lado Norte há uns dias, parte do caminho tinha passado por cima do teto da taverna, mas ela não tinha percebido o conjunto heteróclito de fantasmas que passavam o tempo conversando, bem por baixo dos seus pés.
Levou algum tempo até que os olhos de Tiago, que vinha do brilho da neve, se habituassem à luz suave dos candeeiros que bruxuleavam ao longo das paredes. Mas quando finalmente se habituaram, viu a mais estranha coleção de fantasmas que jamais tinha visto. Estavam reunidos em volta de compridas mesas de cavalete, ou em pequenos grupos perto da lareira fantasma, ou até sentados em silenciosa contemplação num canto mais sossegado.
Havia ali um grande contingente de Feiticeiros ExtraOrdinários, as suas capas e mantos púrpura abarcando as várias modas ao longo dos séculos. Havia cavaleiros em armadura completa, pajens em brocados extravagantes, mulheres com véus, jovens Rainhas com longos vestidos de seda e Rainhas mais velhas vestidas de preto, todos desfrutando da companhia uns dos outros.
Alther conduziu Tiago pelo meio da multidão. Tiago esforçou-se ao máximo para não atravessar nenhum deles, mas uma ou outra vez sentiu uma brisa gélida ao atravessar um fantasma. Ninguém pareceu se importar — alguns cumprimentaram-no de forma amigável com um aceno de cabeça, enquanto outros estavam tão embrenhados em suas conversas infindáveis que nem perceberam — e Tiago ficou com a impressão que qualquer amigo de Alther era um convidado bem-vindo ao Buraco na Parede.
O fantasmagórico dono da taverna há muito já tinha desistido de pairar por perto dos barris de cerveja, pois todos os fantasmas ainda seguravam a mesma caneca de cerveja que tinham recebido quando entraram lá pela primeira vez e algumas delas já tinham durado muitas centenas de anos. Alther saudou efusivamente o dono, que estava conversando animadamente com três Feiticeiros ExtraOrdinários e um velho vagabundo que tinha adormecido debaixo de uma das mesas e nunca mais acordara.
Depois levou Tiago até um canto mais calmo onde uma figura rechonchuda, num hábito de freira, estava sentada à espera deles.
- Permita-me que lhe apresente à Irmã Bernadette. - disse Alther. - Irmã Bernadette, este é Tiago Potter, aquele de quem tenho lhe falado. É pai do rapaz.
Apesar do caloroso sorriso de Irmã Bernadette, Tiago teve uma sensação de fatalidade.
A freira de cara rechonchuda voltou seus olhos brilhantes para Tiago, e disse numa voz suave e cadenciada.
- É um rapaz e tanto, o seu filho, não é? Sabe o que quer e não tem medo de ir atrás do que quer.
- Sim, suponho que sim. E quer mesmo ser um Feiticeiro, isso eu sei. Quer uma Aprendizagem, mas claro, da maneira como estão as coisas...
- Ah, não é uma boa hora para se ser um Feiticeiro jovem e voluntarioso, com certeza, - concordou a freira - mas não foi por isso que ele voltou ao castelo, sabia?
- Então, ele voltou. Oh, é um alívio. Pensei que tivesse sido capturado. Ou... sido morto.
Alther pôs uma mão no ombro de Tiago.
- Infelizmente, Tiago, ele foi capturado ontem. A Irmã Bernadette estava lá. Ela contará como foi.
Tiago levou as mãos à cabeça e gemeu.
- Como foi? - perguntou. - O que aconteceu?
- Pois bem, - disse a freira - parece que o jovem Gui tinha uma namorada.
- Tinha?
- Pois é verdade. Chamada Lucy Gringe.
- A filha de Gringe, Guarda do Portão? Oh, não.
- Tenho certeza de que é uma boa menina, Tiago. - censurou a Irmã Bernadette.
- Pois espero que não seja nada parecida com o pai dela, é só o que posso dizer. Lucy Gringe. Oh, bolas.
- Pois bem, Tiago, parece que o Gui voltou ao Castelo por uma questão urgente. Ele e Lucy tinham um encontro secreto na capela. Para se casarem. É tão romântico. - A freira sorriu sonhadora.
- Casar? Não acredito. Sou parente do horrível Gringe. - Tiago estava mais pálido do que alguns dos ocupantes da taverna.
- Não Tiago, não é. - disse a Irmã Bernadette reprovadoramente. - Porque, infelizmente, o jovem Gui e Lucy não chegaram a se casar.
- Infelizmente?
- Gringe descobriu e denunciou-os aos Guardiães. Tinha tanta vontade que a filha dele se casasse com um Potter, como você que o Gui se casasse com uma Gringe. Os Guardiães invadiram a capela, mandaram a desolada noiva para casa e levaram Gui com eles. - A freira suspirou. - Tão cruel. Foi tudo tão cruel.
- Para onde o levaram? - perguntou Tiago baixinho.
- Ora bem, Tiago... - disse a Irmã Bernadette com sua voz suave. - Eu mesma estava na capela para o casamento. Adoro casamentos. E o Guardião que estava segurando Gui passou bem através de mim, e por isso fiquei sabendo o que ele estava pensando neste momento. E estava pensando que tinha que levar o seu filho para o Tribunal. Nada mais do que até ao Supremo Guardião. Tenho tanta pena de ter que te dizer isso, Tiago. - A freira pousou uma mão fantasma no braço de Tiago. Era um gesto caloroso, mas não trazia grande conforto a Tiago.
Eram as notícias que Tiago mais temia ouvir. Gui estava nas mãos do Supremo Guardião — como ele iria dar a notícia a Lílian? Tiago passou o resto do dia à espera no Buraco na Parede, enquanto Alther enviava todos os fantasmas que podia até o Tribunal para procurar Gui e descobrir o que estava acontecendo.
Nenhum deles teve sorte. Era como se Gui tivesse desaparecido.
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