Capítulo O1





Nova casa
*suspiro*


Eu já tinha esquecido de como era viajar num trailer. A casa toda sacudindo; meu pai assobiando enquanto dirigia; Ana lendo o Profeta Diário ou ouvindo e cantando músicas românticas de alguma cantora bruxa; Pete ouvindo música de olhos fechados, como se nada estivesse acontecendo; e eu sentada numa poltrona, de braços cruzados, vendo as cidades passarem pela minha janela, completamente entediada. Eu sou a única aqui que não gosta muito de se mudar? É o que parece. Ainda bem que a viagem só vai durar duas horas!

Eu respiro fundo e levanto da poltrona. Fico andando em círculos em volta do tapete enquanto penso em algo pra me distrair. Eu parecia uma barata tonta, mas ficar andando em círculos é legal quando você quer pensar, pelo menos eu acho. Deve ser porque você acaba se desligando do chão e a tontura faz você pensar melhor. Ou, é porque eu sou maluca, o que é mais provável. Eu continuo encarando o tapete até que uma idéia boba vem na minha cabeça e eu paro no mesmo lugar. Conversar com Pete. Será que eu devia acordá-lo? Ele ia me matar! Mas eu não sabia se ele estava ou não dormindo, ele estava ouvindo música de olhos fechados, só isso.

Eu não tenho nada pra fazer, ele vai me entender. Eu caminho até o sofá que ele está deitado e hesito, pensando nas possibilidades dele me azarar por eu ter feito isso. Ele já tem 17 anos, pode muito bem usar magia a hora que quiser, eu não, tenho que esperar até setembro para isso. Eu suspiro longamente. Quem se importa? É por uma boa causa! Eu o cutuco no ombro e aqueles olhos azuis se abrem e piscam sem nenhum sinal de sono. Ótimo! Ele me examina curioso e eu sorrio.

- O que foi, Mel? – ele fala, tirando os fones de ouvido.
- Eu estou entediada, converse comigo. – eu faço beicinho e junto as sobrancelhas, uma expressão que eu costumo usar para chantagens.
Ele sorri e se senta no sofá.
- Ok, senta ai.
Eu sento ao lado dele e abraço uma almofada.
- O que você tava ouvindo?
- Bandas trouxas. Tem umas músicas bem legais, sabia? – ele fala enquanto desliga o mini-rádio, se é assim que essa coisa trouxa se chama...
- Você gosta dessas coisas trouxas né? – eu pego o mini-rádio e o examino. Coisa estranha.
- Sim, meu avô é trouxa, eu já te disse isso! Por isso que eu sou acostumado com as coisas deles.
- Ah, verdade, tinha esque... ARRE!
Eu apertei um botão na caixa e uma tampa abriu, me matando de susto. Eu largo o aparelho trouxa no sofá e Pete ri de mim.
- Calma, Mel! É aí que coloca o CD, não é nada demais.
- Me assustou! – eu faço uma careta e empurro o aparelho para ele.
- Mel, querida, você gritou? – Ana sái da cabine do motorista com uma expressão preocupada no rosto.
- Gritei, Ana, mas não foi nada! Eu pensei ter visto um... Gnomo. – eu não ia admitir que estava com medo de uma coisa trouxa, claro!
- Gnomo no trailer? – ela faz uma careta de confusão. – Bem, deve ter sido impressão sua... – ela diz e eu concordo ”Por isso que gritei”. Ana sorri. – Crianças, nós vamos parar no porto, vocês sabem que pra chegar à Londres nós temos que passar por baixo do mar, então nós vamos ter que enfeitiçar o trailer!
- No meio dos trouxas? – Pete e eu perguntamos ao mesmo tempo.
- Tem um porto só pra bruxos! Vocês já deviam saber disso! – Meu pai grita de dentro da cabine incapaz de segurar uma gargalhada. Ana sorri também e fecha a porta.
- Ai que medo, nós vamos passar por baixo do mar! – eu estremeço.
- Isso vai ser mega estranho. – Pete fala olhando as janelas e eu imagino um tubarão ou qualquer outro animal passando por elas. Credo!!


~


Nós descemos do trailer assim que chegamos no porto. Um senhor magrelo com vestes amarelas e verde-limão vem correndo na nossa direção com um sorriso no rosto. A julgar pela combinação de tons, devia ser um bruxo tentando passar despercebido pelos trouxas. Por sinal, o porto deve ter um feitiço anti-trouxas, porque eu não vi nenhum por perto.
- Bonjour! – O senhor nos cumprimenta.
Eu torço para que ele saiba falar inglês, francês não era o forte de nenhum de nós, apesar de termos morado na França esses últimos meses.
- Bonjour! – Meu pai responde.
- Voulez-vous só falam français? – o homem pergunta e eu percebo que ele também não domina o idioma.
Até com meu pouco conhecimento eu percebi que ele falou tudo errado, apesar de estar entonando as palavras com força, como os franceses fazem. Meu pai solta uma gargalhada que faz sua cabeça inclinar para trás.
- Não, não! Nós falamos inglês.
O homem sorri e bate palmas de felicidade.
- Ainda bem! Vocês devem ter percebido que eu não sou muito bom nesse idioma!
Percebemos! O senhor sorri outra vez e pergunta se nós íamos alugar um barco. Papai começa a explicar que nós vamos de trailer, quando Pete cutuca minha costela e indica um dos cais. Eu olho para onde ele apontava e vejo o mar. Olhando assim eu não consigo imaginar que vou passar por baixo dele, parece tão imenso!
- Vamos lá. Ele fala e nós andamos em direção ao cais, deixando papai e Ana conversando com o homem.
- Será que Londres é legal? – eu pergunto enquanto tiro os sapatos e sento na beira do cais ao lado de Pete.
- É uma cidade bonita. E a sociedade de bruxos é maior, tem até o Ministério da Magia, eles podem conhecer mais pessoas por lá. Eu sorrio. Pelo menos agora papai e Ana iam se divertir um pouco enquanto eu e Pete estivéssemos na escola. Eu mergulho os pés na água morna e fico balançando as pernas. Que chato, o verão já está acabando logo agora! Dizem que o inverno na Inglaterra é bem rigoroso...
- Pena que nós não vamos conhecer muita coisa, papai disse que as aulas começam dia 1°. – digo.
Pete pega uma pedrinha e joga no mar, formando ondulações circulares na superfície.
- Eu espero que eles nos recebam bem. – ele fala e eu de repente lembro de mais essa coisa chata.
E se eu não fizesse nenhum amigo nessa nova escola? Eu já passei por isso milhares de vezes, os alunos veteranos realmente demoram pra aceitar os novatos, o que eu até entendo, pois eles já têm um grupo de amigos formado, e de repente chegam dois intrusos querendo se enturmar. Eu acho que é uma forma de dizer “Você é novato aqui, aprenda que a gente que manda”. Demora tanto pra se conseguir confiança...
É pior quando são adolescentes. E eu ouvi dizer que ingleses são frios, imagine então, um inglês adolescente.
- Pelo menos dessa vez nós não chegamos no meio do ano – digo. – Talvez eles nem nos notem.
- Até parece. – Pete ri – Nós seremos ‘a novidade’ de qualquer forma.
- Urgh. – eu lembro de como todos olhavam para nós como se fossemos uma espécie rara de animal e estremeço. Pete ri outra vez.
- Pete, Mel! – a voz de Ana canta nossos nomes e eu tiro os pés da água. Nós caminhamos até o trailer outra vez e eu torço para meu pai não me ver descalça.
Papai fez um gesto para nós entrarmos e eu ouço o senhor falar:
- Mantenha sempre a mesma direção e você vai chegar no outro porto bruxo, faça como eu mostrei, certo? Boa viagem!
O que será que eles tinham feito? Eu não notei nenhuma diferença no trailer, tomara que tenha dado certo.
- Obrigado por tudo, Eugênio! Meu pai entra no trailer e dirige em direção ao mar. Eu fecho os olhos e tampo os ouvidos esperando o pior. Deve ter passado uns cinco minutos em que eu, mesmo com os ouvidos tampados, ouvi meu pai assobiando como fazia quando estava dirigindo em terra firme.


Ah, vem mexer o meu caldeirão E se mexer como deve ser...


Celestina Warbeck começou a cantar e eu quase abro os olhos, já que tudo parecia normal.


...faço procê um amor quente e forte Para sua noite aquecer.


- Mel! Abre os olhos, você vai perder o melhor! – Pete me sacode pelo ombro e eu abro os olhos e tiro minhas mãos dos ouvidos, mas não ouso olhar pela janela, fico encarando minhas mãos sobre meu colo.
- A gente ta no fundo do mar? – eu pergunto sem olhar para ele.
- Estamos, vem ver!
- Não mesmo!
Pete bufa e bate o pé com força no chão. Eu não vou olhar, nem adianta ele insistir, fazer birra ou o que for.
- Mel, querida, está tudo normal, olhe! – Ana senta do meu lado e me beija na bochecha.
Pete sái da minha frente e senta do outro lado, agora eu podia ver o rosto dele, e ele devia estar pensando “Que menina boba”, ou algo do tipo.
- Olhe, só está azul. – ele insiste.
Podia estar amarelo e eu não olhava. Eu continuo encarando minhas mãos.
- Ah, ela não vai olhar, melhor você desistir filho! – Ana ri e levanta – Eu vou ver a vista da cabine.
Eu ouço o “Nossa, que lindo!” quando Ana abre a porta da cabine e a curiosidade me invade. Ela deve ter feito isso de propósito! Eu encaro Pete outra vez.
- Certo... – eu suspiro e olho a janela na minha frente. - Pelas calças de Merlin! Isso é real?
Era azul como Pete tinha dito. A única, e enorme, diferença, é que pequenas manchas se moviam de um lado pra o outro, e essas manchinhas, eram animais. Ana devia estar louca, isso não era normal de jeito nenhum! Eu pisquei inúmeras vezes sem acreditar que era real, mas continuava tudo ali. Parecia um aquário embutido na parede.
- Quer que eu quebre o vidro pra você ver que é real? – Pete levanta e estica o braço na minha direção. – Vem ver mais de perto, dá pra ver a bolha.
- Que bolha? – eu seguro a mão dele e sou guiada até a janela.
- Por causa da bolha que nós não morremos afogados. Foi um feitiço que aquele bruxo lançou sobre o trailer. – ele indica a janela e eu percebo algo que de longe era transparente.
Uma coisa rosa claro estava contornando o trailer, eu percebi que não havia água dentro dela, de certa forma ela impedia a água do mar de entrar no trailer, como se nós estivéssemos dentro de uma bolha de ar. Tomara que ela dure a viagem inteira!
- Isso é incrível! – eu murmuro, sem voz.

Papai seguiu o caminho certinho e nós fomos parar no outro porto bruxo. Pelo caminho eu olhei pouco pela janela, imaginar que estava no fundo do mar me dava arrepios. Um bruxo mais jovem e bem menos esquisito do que o senhor que estava no porto anterior, nos recebeu e fez o contra feitiço para nosso trailer voltar ao normal, se é que tinha alguma coisa diferente nele. Ana convenceu meu pai a alugar uma casa em Londres, já que agora eles tinham um emprego no Ministério da Magia. Graças a Napoleão, um ex-companheiro de viagem de papai que há 10 anos decidiu morar em Londres, Ana e papai conseguiram um emprego no Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, o emprego era a cara deles.

Os dois já tinham achado até uma casa para nós e Londres, era uma surpresa para Pete e eu. Só aí que eu entendi porque meu pai tinha dito que “Já estava tudo pronto”. A casa é simplesmente linda! Fica num bairro bem tranquilo, tem um jardim lindo, uma garagem alta e grande o suficiente pra um trailer, e claro, uma lareira enorme! A casa era tão linda que me deu vontade de não ir para a escola esse ano só pra morar nela. Morar em um trailer era bem legal, mas muito irritante. Claro que nosso trailer era bem maior do que um trailer normal, pois tinha sido magicamente ampliado, mas ainda assim, era um trailer. Só Deus sabe o quanto eu gostaria de ter um jardim.

- Ela é perfeita! – eu falo e ouço minha voz sendo ecoada pela sala vazia.
Pete já tinha subido as escadas, eu ainda estava chocada na sala de estar.
- Que bom que vocês gostaram! – Ana bate palmas de emoção. – Agora vamos arrumar. Pena que teremos que fazer isso sem magia!

Arrumar a casa nunca demorou tanto! Tudo isso porque os vizinhos trouxas não paravam de espiar os ‘novos inquilinos’. Eu arrumei meu quarto, que agora tinha um charme especial: uma janela. Aliás, eu quase morri de susto por causa dela. À tarde uma coruja entrou pela janela e eu cai da cama. A coruja piou indignada e esticou a perna pra mim. Ela trouxe 3 cartas de Hogwarts, e por incrível que pareça, uma delas era pra o meu pai. A coruja foi embora e eu corri pra sala, morrendo de curiosidade sobre a carta endereçada a meu pai, porque as outras só podiam ser as listas de materiais.
- Uh, pai, chegaram cartas... – eu estico o braço pra ele e ele abre primeiro a carta dele. – Cadê o Pete?
- Lá no trailer... – ele responde enquanto lê a carta.
Eu não posso conter a curiosidade.
- O que diz aí?
- Que vocês vão ter que procurar Minerva McGonagall assim que chegarem à Hogwarts, ela vai fazer a escolha da casa que vocês vão ficar em Hogwarts.
- A gente que escolhe em que casa quer ficar? – eu falo na hora que Pete entra na sala. Ele pára ao meu lado, curioso.
- Não sei, nunca estive em Hogwarts! – Papai sorri, guarda a carta no envelope e abre as outras cartas.
- O que é isso? – Pete pergunta.
- A lista de materiais de vocês! Nós iremos ao Beco Diagonal amanhã cedo, vamos deixar tudo pronto.
- Beco Diagonal? – eu franzo a testa pra papai. – Mas você não conhece nada aqui em Londres, como nós vamos encontrar esse lugar?
- Ah, não se preocupe, Mel. Napoleão me ensinou como chegar lá de carro, mas nós vamos de um jeito bem mais simples.
- Que jeito? – agora Pete que franze a testa pra ele.
Papai nem abriu a boca para responder. Apenas sorri presunçosamente e indica a lareira. Arg, Pó de Flu.


~


Depois de tirar as cinzas de cima da minha roupa que eu fui reparar onde estava. O Beco Diagonal era uma rua cheia de lojas e apinhada de bruxos. Eu caminho para o lado de Ana, que tinha chegado primeiro e também estava admirada com o lugar.

- Por isso que eu não gosto de viajar com Pó de Flu. – Pete aparece ao meu lado, tirando as cinzas de cima da roupa.
Eu sorrio.
- Pelo menos o lugar é legal.
Ele olha ao redor e balança a cabeça, concordando.
- Crianças, podem passear enquanto eu e John vamos ao Banco. – Ana fala e eu noto que papai tinha acabado de aparecer atrás de nós.
- Banco? – Pete pergunta e Ana aponta pra um enorme prédio branco no começo da rua.
- Nos encontramos na Floreios e Borrões, ok? – ela sorri e vai ao encontro de papai.
Eu olho ao redor e não consigo decidir que lugar ir primeiro.
- O que você acha? – eu pergunto para Pete e ele dá de ombros.
- Não sei, que tal aquela? – ele aponta para uma loja de logros e brincadeiras e eu concordo.
Seria bom ver os jovens de Londres, assim eu teria uma idéia do que esperar para Hogwarts.

A loja estava cheia. Assim que nós entramos, um grupinho chama minha atenção. Eram três garotos que riam abertamente e a conversa deles me deixa curiosa.
- Eu comprei um bumerangue que grita nessas férias, vocês acham que eu devo levar para Hogwarts? - um garoto moreno de óculos que fala para os outros dois.
Eles são de Hogwarts e devem ser da minha idade! Eu deixo Pete olhando uma prateleira e me aproximo dos garotos, fingindo que estou vendo bombas de bosta.
- Filch vai adorar se você levar! – o garoto que tinha cabelos mais claros que os outros dois que fala.
 Os três riem.
- Então eu levo! Vocês pegaram as bombas de bostas?
- Não, eu pego!

O terceiro garoto, com cabelos escuros até os ombros vem na minha direção e eu, por impulso, faço uma cortina com meu cabelo para esconder meu rosto, mas ainda consigo ver o garoto pelo canto do olho e entre meus fios loiros. Ele olha para minhas mãos e tenta ver meu rosto.

- Nossa, garota, vai pegar todas essas bombas? Você é de Hogwarts?

Eu olho para o que estou fazendo. Sem nem perceber, eu tinha feito um montinho de bombas de bostas, como se estivesse separando para comprar, devia ter umas vinte no montinho. Eu sinto minhas bochechas ferverem. Eu agarro todas as bombas e viro de costas para o garoto.

- Sim, sou.

Murmuro e saio de lá a passos largos sem olhar para trás. Eu deposito as bombas em qualquer prateleira e puxo Pete pelo braço, pra sair da loja.

- Ei, o que foi?
- Meninos. Hogwarts. Não quero.
- Mel, todo mundo dali era de Hogwarts! Que outra escola de magia tem na Inglaterra?
- Sim, mas... Sei lá! Aonde é Floreios e Borrões?
- Maluca... – ele sacode a cabeça
– Ali na frente, vamos.
Antes de chegarmos à loja que devíamos encontrar meu pai e Ana, um velho com vestes que eram uma mistura de bruxo e cigano pára na nossa frente e estica um braço para mim.
- Você precisa do olho. Eu vejo que você vai precisar.
- Me desculpe senhor, mas eu já tenho dois olhos, acho que não preciso de mais nenhum.
Eu digo e Pete ri enquanto nós tentamos passar pelo senhor, mas ele insiste.
- Moça bonita, você vai precisar do olho, eu vejo.
Eu reviro os olhos.
- Vou precisar de que olho? E pra que?
Ele abre a minha mão e deposita um colar com um pingente de cristal em forma de coração.
- Você vai saber quando precisar, pra seguir seu coração, ele não pode te deixar.
- Eu achei que ela precisava de um olho. – Pete franze a testa pro senhor e enfia a mão no bolso. – Tome, agora nos deixe passar, ela adorou o coração, olho, sei lá, muito obrigado.

Ele entrega alguns nuques ao senhor e me puxa pelo braço, para a loja. Eu abro a mão e o sol toca o coração, formando um pequeno arco-íris na minha palma e na minha blusa. É lindo e eu fico feliz por ter ganhado o colar. Eu olho para trás, para agradecer, mas o senhor não está mais lá.

- Eles fazem de tudo para vender – Pete ri, olhando para a palma da minha mão.
- Como assim?
- Vai dizer que você acreditou naquilo que ele disse? É puro golpe!
- Ah, não acreditei, não...

Na verdade eu não entendi nada do que o senhor falou, mas eu gostei do colar, então, coloco ele no pescoço, com o pingente por baixo da blusa, para não brilhar tanto. Nós entramos na livraria, e logo papai e Ana chegam do banco para comprar nossos materiais.

- Desculpe a demora, crianças, os duendes se atrapalharam um pouco porque nós só fizemos a transferência do nosso ouro ontem, do banco da França. – Ana diz.
- A gente acabou de chegar aqui, Ana
- Ah, que ótimo! Como são os jovens da Inglaterra? Conheceram alguém por aí?
- Não, mas conhecemos um senhor maluco, serve?

Depois de comprar nossos materiais, nós fomos fazer nossas vestes de Hogwarts e ver as outras lojas do Beco Diagonal. No fim, voltamos para casa, cheios de sacolas e com duas corujas.


~


Finalmente, dia 1° de setembro chegou. Nós acordamos bem cedo, porque Ana estava histérica, com medo de esquecer alguma coisa. Nós saímos de casa as dez e meia, e o trem partia exatamente às onze horas. Ainda bem que o amigo de papai tinha ensinado o caminho e como chegar a plataforma direitinho, senão nós não tínhamos chegado a tempo.

A estação de King’s Cross estava cheia de trouxas quando nós chegamos, mas ainda assim era possível notar os bruxos no meio da multidão, seguindo para a plataforma, ou deixando a estação. Nós atravessamos a barreira para a plataforma nove e meia e demos de cara com a locomotiva vermelha, com um letreiro no alto que informava Expresso de Hogwarts, 11 horas.

Papai nos ajudou a colocar os malões na cabine, no fundo do trem, já que as outras estavam ocupadas, e saiu para se despedir. Eu e Pete nos debruçamos sobre a janela para ouvir os avisos de Ana.

- Lembrem de procurar a vice-diretora, Minerva McGonagall; - ela começou, com seu tom de voz doce - escrevam sempre; e cuide do meu Pete, ok Melzinha?
- Pode deixar, Ana! Se ele bagunçar vai se ver comigo!
- Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui e fosse um bebê mal educado, ok? – Pete diz, imitando o mesmo tom de voz de Ana e nós duas rimos.
Papai chega e pára ao lado de Ana, abraçando ela pela cintura.
- Pete, cuide da Mel, você sabe como ela é boba, certo?
- Eu sei bem, John, pode deixar.
- Ei! Não concorde! – eu dou uma tapa no ombro de Pete e nós todos rimos.
O apito que indica que o trem vai partir soa e Ana se inclina para nos dar beijinhos.
- Se divirtam, meus amores!
- Bom trabalho para vocês, até o Natal. – eu digo, incapaz de esconder minha tristeza.
- Nós vamos escrever sempre contando as novidades, certo? – papai diz quando me dá um beijo.
- Certo, nós também escrevemos!

Pete diz e finalmente a locomotiva começa a andar. Ana faz cara de choro quando nós começamos a se distanciar e eu sinto que estou com a mesma expressão, porque estou deixando os dois numa cidade desconhecida, e estou com medo do que vou encontrar na nova escola. Nós voltamos para a cabine e logo o trem sai da estação e segue por campos verdes, longe de Londres.

Ninguém dividiu a cabine comigo e com Pete e nós passamos o caminho todo conversando sobre o que esperar da nova escola, mais necessariamente, o formato que ela tinha. Um navio, uma mansão, um trailer, quem sabe? Nós podemos esperar tudo de uma escola de bruxaria. Nós vestimos nossas vestes bruxas quando percebemos que o trem estava perdendo a velocidade, finalmente. A bagagem deveria ser deixada no trem, o que era ótimo, porque eu não queria carregar meu malão. Nós enchemos os bolsos com o resto dos doces do almoço e nos juntamos com os outros alunos no corredor.

Depois de muitas horas de viagem, a locomotiva parou no vilarejo chamado Hogsmeade. Eu já ouvi falar daqui. É o único vilarejo inteiramente bruxo da Inglaterra! Oh, como sou esperta... Eu notei que tinham várias lojas, como no Beco Diagonal, e me perguntei se era permitido passear por Hogsmeade nos finais de Semana, já que Hogwarts ficava tão próxima. O lugar parecia bem agradável, apesar de estar de noite.

Um homem gigantesco chamou os alunos do primeiro ano e um monte de pirralhos correu na direção dele. Confesso que fiquei na dúvida se deveria ou não segui-lo, já que era o meu primeiro ano, mas seria uma coisa humilhante...
“Minha querida, tem certeza que está no lugar certo?”
“Sim, esse é o meu 1° ano aqui.”
 “Parece que você cresceu demais, uh?”
Eu sorri, imaginando como seria engraçado entrar na escola, rodeada por crianças. Pete com certeza ia desejar estar invisível.
- Acho que é por ali, Mel. – ele fala sem perceber meu sorriso bobo.

A massa de alunos estava indo na direção oposta. Nós os seguimos pela plataforma e descemos pra uma trilha enlameada onde, eu fiquei surpresa, uma centena de coches nos aguardavam. Nós entramos em um deles, que já estava ocupado por um garoto, um tanto esquisito. Ele tinha cabelos negros que iam até os ombros e emolduravam seu rosto, como uma cortina; Um nariz grande em formato de gancho e olhos escuros. Estes, estavam presos no coche atrás do nosso. Eu virei pra ver o que ele estava olhando.

Três garotas vinham no outro coche e ele estava olhando diretamente pra uma delas. Eu não vi o rosto da garota, só vi que era ruiva, porque ela estava de costas pra nós, e eu imaginei que fosse por causa do garoto. Mesmo assim, ele não parou de olhá-la. Um garoto mais novo entrou no nosso coche e sentou ao lado do garoto esquisito, que finalmente desviou o olhar da ruiva quando o coche começou a andar aos trancos e balanços. Ele examinou o menino mais novo, mais precisamente o símbolo da sua capa, um imponente leão, e estalou a língua, como se estivesse com raiva do que viu.
Garoto estranho...
Então, seu olhar finalmente caiu sobre mim. Eu não desviei o olhar, como faria qualquer pessoa que fosse pega no flagra. Sorri para ele desejando que ele fosse social o suficiente pra me retribuir o sorriso, mas ele não sorriu de volta. Ele examinou minha capa, procurando alguma coisa, talvez o símbolo que viu na capa do menino, mas a minha capa e a de Pete não tinham nenhum símbolo, nós ainda não tínhamos uma casa em Hogwarts. O garoto ficou intrigado. Franziu a testa e voltou a olhar pra mim. Dessa vez eu não sorri.
- Olha, Mel – Pete fala.
Ele estava completamente fora das minhas observações porque estava vigiando o caminho, curioso. Ele aponta pra frente do coche e eu viro pra olhar. Eu me assusto ao ver Hogwarts. Eu nunca tinha imaginado um castelo, claro que eu já estudei em lugares bem diferentes, como um navio gigantesco, por exemplo, mas um castelo?

- Meu Merlin, eu imagino quantas escadas tem lá! – eu murmuro.
- Cento e quarenta e duas. – eu me assusto outra vez ao ver que o garoto estranho tinha falado conosco.
A voz dele era fria e baixa, quase um sussurro.
– Vocês são novos?
Pete confirma.
- Vamos fazer o último ano! Me chamo Peter Feldman, prazer.
- Severo Snape. – ele demora um pouco pra responder e volta a olhar pra mim.
- Melissa Diamond. – me apresento secamente, como ele.
Acabei de fazer pra mim mesma a promessa que nunca mais torno a sorrir pra esse garoto.
- Que casa você está? – Pete pergunta.
- Sonserina – ele aponta pro símbolo da sua capa. – A morada dos astuciosos. É a melhor casa.

O garoto ao lado dele tosse como se estivesse abafando um risinho, e Snape o olha. O garoto examina o lado de fora do coche, como se soubesse que está sendo observado. Pete volta a falar, chamando de volta a atenção de Snape:
- Quais são as outras casas?
- Corvinal, Lufa-Lufa e Grifinória.
- Não faço idéia de qual escolher – eu murmuro.
- Não é você que escolhe.
- Não? Mas... – eu estou prestes a perguntar como é feita a seleção, mas o coche pára abruptamente na frente dos portões do castelo.

Pete desce do coche e me ajuda a descer. Snape passa por nós como se nem tivesse falado conosco há pouco tempo. Mas que garoto estranho!
- Vamos, temos que achar a vice diretora. – Pete me puxa pelo braço e nós vamos em direção ao castelo.
No caminho eu tento ver o jardim, mas está muito escuro e eu não consigo ver muitos detalhes. Mas vejo que tem um lago enorme, terrivelmente negro por causa da escuridão. Uma mulher está parada no saguão de entrada, ela é cumprimentada por vários alunos que cruzam as portas de carvalho e viram à esquerda, para onde eu ainda não sei. Ela deve ser uma professora... Será que essa é Minerva? Eu olho para Pete e ele parece ter a mesma dúvida.

Nós finalmente atravessamos as portas de carvalho e nos aproximamos da mulher. Ela tem os cabelos presos num coque bem apertado e uma expressão severa por baixos dos óculos.

- Com licença, a Sra. pode nos levar até a Profa. Minerva McGonagall? – Pete pergunta.
- Você está falando com ela. – ela responde e sua expressão severa se quebra com algo que eu interpreto como um sorriso, embora não pareça tanto. – Vocês são os alunos novos – não é uma pergunta – Sigam-me, por gentileza.

Nós seguimos, é claro. Eu espio a porta que os alunos estavam entrando, deu pra ver que é um salão com enormes mesas e está iluminado por milhares de velas. Minerva entra numa sala ao lado.
- Esperem aqui, após a seleção dos alunos do primeiro ano eu os chamarei e vocês deverão ir para o Salão por aquela porta. – ela indica uma porta do outro lado da sala – Vocês serão selecionados por casas. Em Hogwarts, vocês assistirão aulas com os outros alunos da sua casa, dormirão no dormitório da casa e passarão o tempo livre na sala comunal. – eu percebo que ela já tem esse discurso decorado.

“Grifinória, Corvinal, Sonserina e Lufa-Lufa são os nomes das quatro casas de Hogwarts, e enquanto estiverem aqui, seus acertos darão pontos para sua casa e seus erros a farão perder. No fim do ano, a casa que tiver mais pontos receberá a Taça das Casas, que é uma grande honra. Espero que vocês se tornem motivo de orgulho para sua casa. Fiquem à vontade e sejam bem vindos a Hogwarts.”
- Obrigado – nós dissemos em uníssono.
Minerva sorri outra vez e sai pela mesma porta que nós entramos, nos deixando sozinhos e nervosos naquela sala.
- Como será a seleção? – eu murmuro, sentando-me numa cadeira.
- Não faço idéia... – Pete examina a sala com uma expressão curiosa no rosto.

Os minutos parecem nem passar, e a espera só me faz ficar mais nervosa. Nós ouvimos a voz de Minerva anunciando um chapéu - eu acho que ouvi errado – depois, alguém cantou uma música sobre um chapéu – eu ouvi bem mesmo? – e as quatro casas de Hogwarts, e agora, Minerva voltou a falar, anunciando nomes e logo depois, outra voz anuncia a que casa o novo aluno pertence. Eu estou perdendo tudo! Eu queria estar lá, e não aqui nessa sala sem nada pra ver!

Pete batuca com os dedos na mesa sem parar e eu puxo e solto a liga que uso pra prender os cabelos que está no meu pulso. Nós não falamos quase nada desde que entramos aqui. E então, de repente ele pára de batucar e se levanta, pedindo para eu fazer silêncio. É a voz de Minerva!

- Esse ano nós teremos dois alunos novos no sétimo ano. Eles vieram da França e eu espero que sejam muito bem recebidos por vocês.
Eu sinto que ela está falando com os adolescentes da escola.
- Venham, por favor, Srta. Melissa Diamond e Sr. Peter Feldman!

Ai, é agora! Meu estômago revira violentamente enquanto eu e Pete caminhamos para o Salão, passando pela porta que Minerva indicou. A visão é assustadora. Quatro mesas enormes, lotadas de alunos que nos avaliam sem disfarçar.
- Srta. Melissa, quer ser a primeira? – Minerva pergunta gentilmente.
Eu estremeço quando balanço a cabeça, confirmando. Eu não faço idéia do que tenho que fazer. Minerva indica um banquinho e eu me sento nele, olhando assustada para os jovens a minha frente. Alguma coisa é jogada sobre a minha cabeça e tapa meus olhos.
“Humm... Interessante...”
De onde vem essa voz? Tem uma voz - que não é a minha - dentro da minha cabeça!
“Você é muito inteligente. Adora fazer amizades, embora tenha decidido não fazê-las, e isso a torna bastante corajosa, já que tomou essa decisão difícil sem pensar duas vezes.”
Merlin, ele sabe a minha vida!
“Sei uma casa que vai te receber de braços abertos...” - GRIFINÓRIA!

A última palavra foi compartilhada com todo o Salão. A coisa é retirada da minha cabeça e eu finalmente vejo o dono da voz, um chapéu pontudo – o tal chapéu que foi apresentado antes. É isso então? Fui selecionada? As pessoas da mesa encostada na parede estão aplaudindo, deve ser essa a mesa da Grifinória...

Minerva sorri e aponta a varinha para a minha capa, no mesmo momento, como se fosse costura sem máquina, o símbolo do imponente leão aparece como se sempre estivesse lá. Eu demoro um segundo para perceber que é o símbolo que o tal de Snape não gostou de ver na capa do garoto. Ótimo, agora eu não preciso mesmo sorrir para ele. Minerva me indica com um gesto a mesa da Grifinória, mas eu fico no mesmo lugar, quero ver a seleção de Pete.
- Sr. Peter, por favor.
Pete senta no banco e Minerva coloca o chapéu sobre a cabeça dele. Ele passa alguns segundos lá e finalmente...
- GRIFINÓRIA!
Ainda bem! Pete se levanta e Minerva faz o leão aparecer na capa dele também. Dessa vez ela indica a mesa e nos empurra levemente, deve achar que estamos petrificados.
- Não foi ruim, né? – digo enquanto nós caminhamos para a mesa que ainda aplaude a nossa seleção.
- Não, mas você devia ter visto sua cara quando ela colocou o chapéu na sua cabeça! – ele sorri e eu faço uma careta.
Nós chegamos na mesa. Uma garota de cabelo castanho escuro e com cara de muito simpática escorrega no banco para eu sentar.
- Hey, você! Peter, né? – um garoto de cabelos pretos e óculos que chama.
- Eu? – Pete responde.
- Senta aqui conosco!
Nãããão! Garoto chato, tira de mim a única pessoa que eu conheço!
- Vou lá, Mel – Pete bagunça meus cabelos, notando meu desapontamento. – Calma, é só o jantar!
E vai embora sentar do lado do garoto. Eu sento no lugar que a menina me deu, mas continuo olhando pra Pete com cara de choro.
- Ele não vai ser abduzido, garota! Só está sentando do outro lado da mesa! – um garoto meio loiro que está sentado ao lado do garoto de óculos que fala.

São os garotos que eu vi no Beco Diagonal! Do outro lado do garoto de óculos está o garoto que eu vi pegando as bombas de bosta, ele está com a cabeça inclinada, me observando. Será que ele está me reconhecendo?

Eu rapidamente prendo meu cabelo num rabo de cavalo pra impedir que ele me reconheça, ia ser um mico daqueles! Ele continua me encarando curioso, mas, para minha sorte, um homem chama a atenção de todos lá na frente.
- Boa noite a todos!
Eu sei quem ele é, já vi o rosto dele milhares de vezes no Profeta. Alvo Dumbledore, Ordem de Merlin e diretor de Hogwarts. Ele parece ser gente boa...
- Sejam bem-vindos a Hogwarts! – ele diz, com os braços abertos, nos saudando, e sorrindo radiante. - Deliciem nosso banquete!
E todos batem palmas ou gritam, apoiando. Dumbledore se senta outra vez. É só isso? Nenhum aviso?
- Não vai comer? – uma voz doce que me chama.
Eu volto a olhar para a mesa e meu queixo cai. Eu estou de cara com as mais diversas comidas do mundo! A menina ao meu lado ri, foi ela que falou comigo.
- Uau, agora eu entendo os gritos de apoio! – digo, decidindo o que eu como primeiro, uma tarefa difícil, já que tem tudo que eu gosto na mesa. Eu volto a falar com a garota – Não tem avisos?
- Ele deixa os avisos para depois do jantar! – ela diz e sorri outra vez. – Sou Marlene, faço o 7° ano também!
E estica a mão para mim. Eu a aperto enquanto me apresento.
- Melissa, mas pode me chamar de Mel!
- É um bonito nome! Você veio da França mesmo? Você não tem sotaque! Porque saiu de lá no último ano? Você é irmã do aluno novo? Está na Inglaterra desde quando?
Eu não sei que pergunta responder primeiro.
- Calma, Lene, você vai sobrecarregar a coitada assim! – uma garota loira do outro lado de Marlene que fala, enquanto ri. – Me chamo Dorcas! – ela se apresenta para mim.
- Olá, sou a Mel!
- É que não costumamos ter novatos no último ano, fiquei curiosa – Marlene se desculpa.
- Tudo bem, eu posso responder!
- É melhor você jantar primeiro, Lene costuma não parar de fazer perguntas! – uma garota ruiva na minha frente que diz.
Ela e Dorcas riem enquanto Marlene faz uma careta.
- Depois nós quatro conversamos na Sala Comunal! Sou Lilian.
Ela também estica a mão para mim, eu a aperto enquanto me apresento.
- Mel – digo simplesmente, porque minha cabeça está funcionando agora.
Lilian é a garota ruiva que Snape estava olhando, e provavelmente, Dorcas e Marlene eram as outras duas que estavam no coche. Será que eles namoravam? Não consigo imaginá-la com ele, ela parece ser muito gentil e educada.
- Vocês todas fazem o sétimo ano? - eu pergunto e elas confirmam com a cabeça.
- Nós e eles. – Marlene aponta para o grupinho que está com Pete.
Lilian revira os olhos e fala baixinho:
- Infelizmente.
Eu faço uma nota mental de perguntar depois para ela por que ‘infelizmente’. Não seria ético falar dos garotos na mesa, eles poderiam ouvir. Aliás, Pete parecia estar se divertindo muito com eles, tanto, que eu fiquei mais curiosa ainda. O garoto das bombas de bostas não está mais me encarando, ainda bem.

As meninas e eu trocamos poucas palavras durante o jantar, como Lilian pediu. Eu comi de tudo um pouco e logo fico satisfeita e com sono. Quando finalmente as sobremesas desaparecem, deixando nossos pratos limpos outra vez, Dumbledore chama nossa atenção e eu desperto um pouco para ouvir os avisos.
- Agora que já saciamos nossa fome e sede, tenho alguns avisos para vocês antes de nos recolhermos. – ele diz. – Os novos alunos, como também alguns veteranos, devem notar que é proibido passear pela floresta que faz parte da propriedade.

“Também é proibido fazer mágicas no corredor durante os intervalos das aulas.” – e agora eu tenho a impressão que ele olha diretamente para os novos amigos de Pete.

“E por último, os testes de Quadribol serão realizados na segunda semana de aulas. Os interessados devem procurar Madame Hooch. Espero que todos tenham um ótimo ano letivo. Agora, hora de dormir! Andando!”

Eu tento chamar Pete, mas como todos se levantam ao mesmo tempo, é impossível. Ser baixinha dá nisso! Marlene segura a minha mão e ela e as meninas me levam na direção certa. Eu não faço idéia para onde estou indo, são tantas escadas, corredores, quadros, fantasmas, que eu desisto de tentar entender o caminho. Eu não sei por quanto tempo nós andamos, mas de repente, todos param na frente de um quadro com uma mulher gorda e antes de eu perguntar o que aconteceu, descubro que é a passagem para a Sala Comunal da Grifinória.

Devagar, todos entram e eu posso ver o aposento. É redondo e cheio de poltronas fofas. Uma lareira e alguns castiçais iluminam o lugar, que é bem agradável. Marlene me puxa para um sofá fofo na frente da lareira.
- Agora vai chover pergunta – Dorcas fala assim que Marlene abre a boca pra falar.
- Você é da França? Nasceu lá? – ela pergunta e eu de repente me sinto mais acordada.
- Não, não nasci, eu estava morando na casa da minha avó, mas meu pai e a mãe de Pete decidiram se mudar...
- Ah, vocês não são irmãos de verdade? – Dorcas que pergunta.
- Ele é como um irmão para mim, mas nós moramos juntos desde os 15 anos, apenas.
- Que legal! Vocês já tinham vindo na Inglaterra?
- Nunca! Chegamos uma semana antes das aulas começarem, nós nem passeamos...
- Que pena! Você precisa conhecer Londres! – Lilian diz.
- Me parece uma cidade bem agitada, né? Onde nós morávamos na França era bem sem movimento!
 - Sim! Por falar em agito, eu fui num show das Feiticeiras nessas férias, foi demais! – Dorcas diz, batendo palmas de emoção.
Eu sinto uma ponta de inveja dela, acho que papai nunca iria deixar eu ir num show de rock.
- Dorcas adora essa banda. – Marlene me informa, revirando os olhos.
- Eu também adoro as Feiticeiras! – digo, fazendo beicinho.
- Merlin! Vamos ter que aturar duas fanáticas agora, Lene! – Lilian diz enquanto Dorcas pula ao meu lado no sofá.
- Achei minha metade! – ela diz me abraçando e nós todas rimos.
- Hey, Meadowes! – o garoto das bombas de bosta que chama, ele e os outros, com Pete, estão do outro lado da sala e aparentemente, nossos risos chamaram a atenção deles.
- O que foi, Black? – Dorcas responde ainda com um sorriso bobo no rosto.
- Está feliz por ter encontrado a outra metade do seu cérebro? Você estava quase sem esperanças, não é?!
Ele diz e o grupinho dele ri, inclusive Pete. Eu demoro um pouco pra entender que ele está se referindo ao fato que eu e Dorcas somos loiras. Eu acho que estou começando a entender o ‘infelizmente’ de Lilian.
Dorcas sussurra pra Lilian, que parece que a qualquer momento vai responder o Black.
- Ignore, Lily, não vale a pena!
Lilian bufa, parecendo desapontada, mas segue o conselho de Dorcas e em vez de responder, cruza os braços no peito e com firmeza, vira as costas para os garotos, formando uma barreira entre eles e nós. Eles riem ainda mais e voltam a conversar entre si, olhando para nós de vez em quando.
- Não ligue para eles, Mel – Marlene murmura.
- Não liguei – eu digo, embora esteja estreitando os olhos pra o tal de Black - Quem são eles?
- Sirius Black, James Potter e Remo Lupin, ou resumindo, os marotos. – ela fala tão baixo que até para mim é difícil de ouvir.
- Eu já os vi antes. – digo e elas arregalam os olhos para mim.
- Aonde? – Lilian pergunta.
- No Beco Diagonal, semana passada. Eu acho que esse Black me reconheceu.
- Mas você falou com eles?
- Não, não! Eu estava ouvindo a conversa. – eu sorrio – Eles estavam falando de Hogwarts, e eu estava curiosa. Mas o Black falou comigo, mas não viu meu rosto, eu acho...
- Posso adivinhar a loja que eles estavam? – Dorcas faz uma careta.
- Com certeza a Logros e Brincadeiras. – Lilian dá de ombros.
- Acertou – eu digo, chocada. – Vocês são amigos?
- Não mesmo! – ela responde, horrorizada. – Seu irmão está em péssima companhia, se quer saber.
 - Por quê? - Só andar com eles é motivo para receber uma detenção.
 – Marlene ri.
- Verdade – Dorcas e Lilian concordam.
Eu bocejo e continuo olhando para os garotos. Eles não pareciam tão maus, me pareciam bem divertidos, na verdade.
- Mel está com sono, eu também estou. Vamos dormir? – Marlene diz.
- Não! Podem ficar se quiserem! Só me digam aon...aonde é o quarto? – eu pergunto incapaz de conter outro bocejo e elas riem.
De repente o sono voltou mais forte que antes.
- Tudo bem, Mel, amanhã tem aula cedo, é melhor todas nós nos recolhermos. – Dorcas diz e nós nos levantamos.
- Certo, vou dar boa noite ao Pete, esperem, por favor, é rápido! – eu digo e vou na direção dos garotos, meio contra vontade.
Eles param de conversar quando eu me aproximo e olham para mim curiosos. Black está com um meio sorriso pra mim.
- Desculpa atrapalhar... – digo pra eles e me viro pra Pete - Eu só vim dar boa noite.
- Já vai dormir? – ele pergunta.
- Vou sim, até amanhã. – eu sorrio e bagunço os cabelos dele.
- Até. Boa noite, Mel.
- Juízo.
Eu olho para os garotos ao falar e eles riem, enquanto se entreolham, mas não falam nada para mim. Eu volto para perto das meninas, que estão no início de uma escada.
- Obrigada, meninas.
- Imagine, Mel, a gente não ia deixar você dormir no sofá, né – Marlene ri e nós começamos a subir as escadas em forma de caracol, era obvio que o dormitório ficava em uma torre.

Minha mala já estava no quarto, que chique! Nós vestimos nossos pijamas e conversamos pouquíssimo antes de cair na cama. Eu fecho o cortinado e começo a pensar em como a primeira noite em Hogwarts tinha sido legal, como as garotas são divertidas e como aqueles garotos me deixam curiosa, mas eu estou cansada demais para pensar e meus olhos estão pesando, então acho melhor deixar a análise ‘nova escola’ para amanhã e finalmente adormeço.


 ~ N/A:

Olá pessoal! Vou comentar rápido ok? Espero que gostem desse capítulo! Agora que começa mesmo a história *-* Obrigada pelos comentários, continuem comentando! Beijinhos! :* Gica

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