Capítulo único.



Simples Assim.


Ela está parada numa sala na torre de astrologia, olhando as estrelas e pensando. Neles. Ela havia feito algo errado? Não, nunca, sempre foi educada e prestativa, então porque ele fazia isso com ela? Ainda mais se gosta dela como diz… não vou mais chorar por causa dele, não mais. Diz para si mesma, fungando e apoiando a cabeça no vão da janela com os braços cruzados no peito.

E então ouve a porta se abrindo, e alguém entrando.

- O que você está fazendo aqui? – ela pergunta surpresa e brava, virando para ele que acaba de entrar.

- E ainda pergunta? – ele pergunta arfando por ter subido toda a escadaria numa corrida. – O que você acha?

- Eu acho que você enlouqueceu de vez! – ela diz irritada, dando alguns passos para trás.

- E eu acho que você poderia me escutar, pelo menos dessa vez. – ele diz em um tom calmo, tentando ganhar a confiança dela.

- Eu acho que já te escutei uma vez, não lembra? – ela diz sarcástica. – Alias, foram várias vezes!

- Eu sei… e eu admito que errei… - ele confessa com a cabeça baixa, se encostando na porta que acabou de fechar. – Mas eu não posso merecer nem mais uma chance? – ele diz levantando de leve a cabeça para encarar aqueles profundos olhos verdes, deixando alguns fios do cabelo castanho bagunçado sobre os olhos castanhos.

Por um momento ela fraqueja. Aqueles olhos, com os quais ela sonha durante a noite, que a olham com um desejo inexplicável, mas também com uma ternura irrecusável. Sentiu os lábios tremerem e olhos arderem, as lágrimas querendo saltar sobre as bochechas sardentas. Não, ela não iria cair nessa de novo, iria?

Ele faz um movimento leve com cabeça para o lado para poder enxergá-la melhor. Ela suspirou enquanto fazia biquinho, olhando para os próprios pés e colocando uma mecha do cabelo ruivo atrás da orelha. Como não amar alguém assim? Ele pensa, inclinando o canto do lábio em um sorriso discreto, levanta a cabeça, ainda a observando, e ajeita a ponte dos óculos sobre o nariz.

- Como me achou aqui? – ela pergunta confusa, surpreendendo ele. Não era exatamente esse tipo de pergunta que ele esperava e queria ouvir.

- Bem, eu tenho meus meios. – ele diz com um sorriso maroto, e ela quase não conseguiu esconder um sorriso divertido pelo jeito dele, mas ele não notou.

- Tenho até medo de perguntar quais seriam. – ela diz, e logo sua expressão fica mais séria. – Está tarde e eu preciso dormir, então já que não vai responder minhas perguntas, pode ao menos me dar licença? – ela diz tentando desviar dele para chegar à porta, mas ele segura a maçaneta antes.

- Na verdade eu fui o único aqui que perguntou algo que ainda não foi respondido. – ele diz com um sorriso, e segurando o braço dela com a mão livre. – O que você quer que eu explique novamente?

- Não quero que explique nada. Eu quero que você me largue, me deixe sair. – ela impõe puxando o braço, as lágrimas quase vindo à tona de novo.

- É isso mesmo o que você quer? – ele pergunta olhando para o chão. Ela apenas resmunga em concordância. – Tudo bem, vá. – abre a porta e dá espaço para ela passar.

Sem pensar duas vezes ela atravessa o vão da porta limpando uma lágrima teimosa, mas pára depois de dar dois passos no corredor. Espia para trás, e ele está parado na mesma posição de quando ela passou, ainda de costas. Um aperto no peito. Aquela vontade de correr de volta e o abraçar. Ela vira o corpo relutante, como se fosse voltar para a sala. Ele está ali parado, acabou de tirar os óculos e se encostar no vão da porta.

Porque as coisas têm que ser assim? Porque não podem ser mais simples? Ele a ama, isso é lógico, até as paredes e os lustres sabem disso. Então porque ainda fazer besteiras? Porque convidar outras garotas para sair? Talvez seja algo ligado ao ego masculino, algo que ele não entende. A única coisa que entende e tem total certeza, e não tem mais nenhum medo de admitir é que é loucamente apaixonado por essa ruiva. Essa que provavelmente está dando pulos de alegria agora que se livrou do chato do Potter. Mas o que ele poderia fazer? Obrigá-la a ouvir o quão idiota ele é, o quanto ele lamenta e se arrepende? De que adiantaria se já falou milhares de vezes…

Ele coça a cabeça de leve, e segue em direção a janela, sem notar que a ruiva ainda se encontra parada logo atrás dele. Ele se apóia no parapeito, e deita a cabeça nos braços olhando para o céu. É uma noite clara, e ela tinha razão, está tarde, perto da uma da madrugada. Esfrega os olhos, cansado.

- Você é mesmo um idiota dos grandes James… - resmunga baixinho.

Ela chega, e pára perto de suas costas, mordendo os lábios. Estica a mão para cutucá-lo, mas logo a puxa de volta, agora mordendo as unhas para se impedir de se fazer presente. O que fazer? Sempre foi tão simples. Antes era só ignorar o Potter, dar uns gritos e ele saia de perto. Mas agora parece tão complicado. Tão difícil de admitir. Você o ama, ela pensa, você ama esse Maroto idiota. Sim, ama. E agora não há nada que se posa fazer, a não ser aceitar os defeitos dele, assim como ele aceita os dela.

Ela respirou fundo e se apoiou ao lado dele, na mesma posição. Seja o que Merlin quiser.

- Concordo totalmente. – disse num suspiro, olhando para algum ponto indefinido no céu.

Ele sente o coração bater mais rápido do que nunca, mas não olha pra ela, apenas fecha os olhos e se acomoda melhor sobre os braços.

Nenhum dos dois não fala mais nada, e nem se olham. Talvez tenha sido o pior silêncio entre eles. Ambos queria falar, mas não sabiam como começar. Ele quer dizer o quanto a ama; que está realmente disposto a largar essa vida de Maroto (parte dela, na verdade) por ela; que vai fazer tudo o que ela quiser; que precisa de mais uma chance; que precisa dela. Ela quer dizer o quanto ele é idiota; o quanto o ama e odeia ao mesmo tempo; que ele não tem o direito de fazer isso com ela, deixá-la confusa; que quer socar a cara dele até ele não ter mais nenhum dente na boca. Mas ninguém fala nada.

- Ou talvez a idiota seja eu. – ela conclui e sai em direção à porta lentamente, malditas lágrimas! Pensa secando com raiva novamente mais lágrimas.

- Lily! – ele diz de repente, e corre até ela, a segurando pelo braço. Ela nem tentou se soltar, e continuava secando os olhos com o punho da manga do outro braço, e olhando para qualquer lado que não seja o dele.

É incrível como pode ser tão adorável. Ele pensa com uma expressão boba enquanto olha ela, que parece uma criança pequena e inofensiva.

Involuntariamente sua mão livre vai em direção ao rosto dela. Seus dedos afastam a mão dela suavemente do rosto vermelho, e deslizam por sua bochecha molhada. Ela fecha os olhos e deixa escapar um suspiro fraco, ainda com a cabeça baixa.

- Lily. – ele diz baixinho, levantando o rosto dela pelo queixo. Ela abre os olhos, mas continua olhando para baixo, com os lábios enrugados num bico infantil. Ele não conseguiu evitar um sorriso leve. – Lily… - ele chama ainda segurando o queixo dela. – Me perdoa? – pergunta no mesmo tom, sem deixar de olhar nos olhos verdes dela.

- Eu… - ela começa, também baixinho. Passa a olhá-lo nos olhos. – Pra que? – ela diz com uma risada forçada. – Pra chegar semana que vem e você ter feito de novo, ai vir pedir desculpas e a idiota aqui aceitar? – tira a mão dele do seu rosto, e solta seu braço da outra mão dele. As lágrimas descendo livremente agora. – Não James, eu to cansada disso…

- Lily, por favor, me escuta. – ele pede a segurando de novo, mesmo contra a vontade dele. – É a última vez, se eu fizer algo você pode fazer o que quiser.

- Então você já está pensando na possibilidade de aprontar de novo. – ela diz com um sorriso triste e revirando os olhos. – Eu devia ter imaginado isso. – e tenta fugir dele de novo, mas dessa vez ele a segura com mais força. – Eu já disse que está tarde.

- E amanhã é sábado. – ele diz sério a prendendo delicadamente contra a parede para poder limpar suas lágrimas sem que ela escape. – Eu não quero te perder de novo Lily, eu… - ele morde o lábio inferior, e olha para o lado.

- Não consegue dizer, não é mesmo? – ela diz ainda no mesmo tom, algumas lágrimas ainda escorrendo. – Me dá licença. – e força a saída de novo.

- Calma. – ele praticamente implora.

- Não quero que diga se precisa de todo esse esforço. – ela cruza os braços, irritada. Ele abre a boca pra falar, mas ela interrompe. – Mas pelo visto não vamos sair daqui tão cedo, não é?

Ele suspira olhando para cima, mas ainda a segurando. Passa a mão pelos cabelos e depois pelo próprio rosto, arrumando os óculos que estavam escorregando novamente.

- Não é esforço, é só que… - ele diz tentando se expressar de uma forma clara. – Poxa Lily, você sabe…

- Não eu não sei. – ela diz inclinando a cabeça pro lado, e ainda muito séria.

- Vou te mostrar, então. – e antes que ela pudesse sequer pensar, ele segura seu rosto com as duas mãos, e a beija com delicadeza, mas também com desejo. Ela fica sem reação por instantes, mas logo corresponde ao beijo na mesma intensidade que ele, e sim, ela está consciente do que está acontecendo. Aos poucos os braços dela passam pelo pescoço dele, e os dele, pela cintura dela, num abraço forte.

Ele parou o beijo logo em seguida, mas continuaram abraçados. Ele beijou toda a bochecha dela carinhosamente, até chegar a sua orelha.

- Não é difícil. – ele sussurra no ouvido dela. – É simples assim… eu te amo Lily, eu te amo desde a primeira vez que vi você. E sempre vou amar. Eu preciso de você.

O coração dela bate tão forte que parece que vai sair pela boca, e a única coisa que consegue fazer é apertar mais os braços em volta do pescoço dele, e beijá-lo de novo.

Não interessa quantas lágrimas derramou, ou de quantos palavrões já o chingou. Só o que importa agora é a certeza que o ama, mesmo que ele seja terrível, insistente, insuportavelmente chato, e muitas outras coisas. Ele a trata como se fosse uma princesa, mesmo que com alguns deslizes; ninguém poderia amar e cuidar dela do jeito que ele pode e faz, mesmo que seja desajeitado.

Defeitos todos têm, mas para se amar alguém não precisa fazer tanto sentido. É simples assim.



~~
Lizzie.

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