Uma nova peça no xadrez
CAPÍTULO 28 - Uma nova peça no xadrez
Os olhos de Úrsula, inflamados de ódio, observaram o corpo cair rapidamente. A única pessoa que podia estragar seus planos estava caindo agora, indo para a morte. Ela escutou o baque quando o corpo bateu no solo e, com os olhos marejados de lágrimas de furor e remorso, correu em disparada para o salão comunal da Grifinória.
* * *
Argo Filch patrulhava as masmorras quando ouviu um baque forte. Rapidamente, virou-se de costas, alerta. Nada. Começou a caminhar. O estrondo parecia ter vindo do Saguão de Entrada.
Ia com passos largos. Devia ser o criminoso que estava aterrorizando a escola, e ele queria apanha-lo. Se fizesse isso, teria profunda gratidão de Dumbledore, do Ministro da Magia e de vários bruxos importantes.
Ao chegar no Saguão de Entrada, o que viu, para seu pesar, não foi o assassino, e sim um corpo estendido no chão. Filch suspirou. Mais uma vítima.
Aproximou-se mais do corpo. Era um garoto jovem, que trazia nas vestes o símbolo de Corvinal. Os cabelos louros estavam desgrenhados, e um filete de sangue escorria pelo canto de sua boca. Os olhos estavam fechados, guardando para si a identidade de quem o havia matado.
Filch reparou que não havia nenhum ferimento. Olhou para cima, vendo as escadas que subiam. Ele não podia ter certeza, mas quase podia afirmar que o garoto havia sido jogado lá de cima, de algum dos andares.
Afastou-se do corpo e começou a andar com cautela em direção ao dormitório do Professor Dumbledore. Filch sentiu um peso no estômago. Era um fracassado. Por mais que Dumbledore não dissesse, Filch sabia que ele estava inconformado pela demora na captura do assassino. Com vários alunos morrendo a cada semana. Filch sentiu uma pontada de temor. Se a notícia dos crimes vazasse, a escola correria riscos de fechar as portas.
* * *
Uma reunião na sala de Dumbledore se estendeu até altas horas daquela noite. Passaram a madrugada adentro discutindo o que fazer para conter o criminoso.
-É um assunto muito delicado – falou Dumbledore, em certo momento. – A escola só não fechou as portas por causa do abafamento do caso. A imprensa está muito preocupada com um novo ataque de Voldemort para se preocupar com outros assuntos.
-E também temos que agradecer à colaboração dos pais dos alunos mortos – disse Minerva. – Se eles tivessem se revoltado, pediriam o fechamento da escola.
-Eu não sei se isso seria ruim, Minerva – falou Dumbledore com sinceridade. – É um erro colocarmos a vida dos nossos alunos em risco.
-Mas deve haver alguma maneira – insistiu a professora. – Alvo, se a escola for fechada, dificilmente conseguiremos fazer com que ela volte a funcionar, mesmo se o criminoso for capturado. Espere mais um pouco.
-Já esperamos muito – suspirou Dumbledore. – Porém, tentaremos esperar mais um pouco. O Ministro da Magia nos orientou para que tentássemos manter a calma na escola. Investirmos em novas idas a Hogsmeade, festas, banquetes... O banquete da chegada do novo professor era para aliviar os ânimos, mas, de repente, aquela jovem entrou morrendo no Salão Principal... Ou seja, parece que tudo que tentamos fazer para melhorar, o assassino vem para nos atrapalhar.
-Você pensa em desmarcar os eventos? – perguntou o Professor Flitwick, que também participava.
-Não. Mas a atenção será redobrada. Só espero que novos assassinatos não ocorram nesses eventos – Dumbledore suspirou. – Se isso acontecer, terei que fugir do que o Ministro nos pediu, tornar o fato público e fechar as portas da escola.
A reunião continuou, com a mesma carga de tensão. Quando o sol já ia nascendo, a Professora Minerva perguntou:
-Não iremos avisar à família do rapaz?
-Sim, claro – respondeu o diretor. – Você sabe o nome dele?
-Sei. É Rogério Davies. Ele joga, quero dizer, jogava no time de quadribol da Corvinal.
-Vá até a Sala de Arquivo e pegue os dados completos do garoto. Endereço, nome dos pais, tudo. Por favor, Minerva.
A professora fez um sinal afirmativo e saiu da sala do diretor. Quando a professora saiu, Filch entrou, apreensivo, com medo de levar uma bronca.
-Professor... Posso remover o corpo?
-Ainda não. Vamos chamar Madame Pomfrey, e ela examinará o garoto para sabermos a causa da morte.
Dumbledore saiu de sua sala e começou a andar em direção à ala hospitalar, para chamar a enfermeira. Filch ia logo atrás, com uma grande aflição.
Madame Pomfrey recebeu com espanto a notícia de um novo crime.
-Onde iremos parar! – exclamou. – Coitadinhos dos alunos... Correndo esse risco por causa de um delinqüente.
O diretor acalmou-a. Quando Madame Pomfrey se recompôs, pediu para que ela pegasse os utensílios necessários para examinar o corpo de Rogério Davies, enquanto Filch iria apanha-lo.
-Vá rápido, Filch – pediu o diretor. – Não quero que os estudantes vejam o corpo de seu colega de escola.
O zelador balançou a cabeça e saiu, deixando Dumbledore e a enfermeira na ala hospitalar.
Filch carregou uma maca até o Saguão de Entrada. Deixou-a ao lado do corpo. Debruçou-se sobre ele e, sem se esforçar muito, o colocou sobre a maca. O filete de sangue que caía pelo canto da boca já ia se coagulando e um odor desagradável começava a emanar.
O zelador ouviu passos apressados descendo as escadas. Os alunos já estavam descendo. Com pressa, cobriu o corpo com um lençol branco e começou a empurrar a maca. Quando estava quase saindo, os primeiros estudantes que desciam apareceram e apontaram para a maca, vendo os fios de cabelo e os olhos de Rogério para fora.
-Vejam! Mais um! – disse um deles.
-É o jogador da nossa casa!
-Aquele loiro... O...
-Rogério Davies! – exclamou Harry, que acabava de chegar e ver, apenas de relance, o corpo sobre a maca. Mas os olhos e os cabelos eram inconfundíveis. – Mas... Como? – sussurrou para Rony, que estava boquiaberto, ainda olhando para a entrada do corredor onde Filch tinha acabado de desaparecer com a maca.
-Ele não estava na lista, Harry – falou o garoto. – Por que ele o mataria?
-Não sei... – murmurou Harry, pensativo. – Talvez Rogério soubesse de alguma coisa.
-Será que ele descobriu quem era o assassino e por isso foi morto?
-Pode ser... Para o assassino matar uma pessoa fora da lista, deve ter algum motivo muito importante para fazer isso.
-Como será que ele foi morto? – indagou Rony, quando os dois começaram a descer as escadas e o movimento voltou ao normal. – Facadas, machadadas, envenenamento...?
-Uma hora ficaremos sabendo – disse Harry.
O garoto olhou atentamente para o chão, enquanto passavam. Não havia sangue em parte alguma do Saguão. E, Harry não deixou de observar, não havia nenhum círculo desenhado, tampouco as iniciais.
Hermione chegou perto dos dois, ofegante.
-Sei que estão com raiva de mim, mas... Como é assunto que tem a ver com o caso dos assassinatos, acho que vocês podem me responder.
Harry e Rony se entreolharam. Apesar do olhar contrariado de Rony, Harry resolveu responder:
-Claro.
-É verdade que quem foi assassinado foi Rogério Davies? – perguntou a garota, baixando a voz.
-Foi – falou Harry. – Não é muito estranho?
-Sim, mas poderia ser aceito, já que ele poderia ter descoberto alguma coisa... Mas... Harry, olhe ao seu redor. Falaram que ele foi morto aqui, no Saguão. Filch acabou de levar o corpo. Porém, não há nenhum círculo rodeado de desenhos, e nenhum ME!
-Também observei isso – disse ele.
-Harry, por mais que ele tivesse medidas urgentes para matar Rogério, por mais que ele não fizesse parte da lista negra dele, o assassino iria fazer questão de deixar sua marca. Por que ele não deixou?
-O que você quer dizer com isso? – perguntou Harry, intrigado.
-Que quem matou Rogério não foi o Michael Evans!
Harry recebeu a frase com espanto. Rony, porém, deu uma risadinha sarcástica.
-Se não foi ele, quem foi? – perguntou em tom de desafio. – Quer dizer que existe mais de um assassino lunático aqui dentro? Ah essa foi boa... Depois dizem que é a mais inteligente da escola...
-Estou dizendo que não foi ele – afirmou Hermione novamente.
-Pode ser que ele não teve tempo de deixar as marcas – disse Harry. – Laurie também não recebeu marca nenhuma...
-Mas Laurie foi atacada num local cheio de alunos por um dardo lançado por alguém que estava no meio da multidão. O assassino não tinha como deixar sua marca. Já Rogério foi assassinado durante a noite.
-Então quem matou Rogério foi outra pessoa? – indagou Harry, com a testa franzida. – Francamente, Mione, isso é um absurdo. Quem iria querer matar o Rogério e por que?
-Ainda não sei – respondeu Hermione, balançando os ombros. – Mas pode ter certeza que irei descobrir, Harry.
A garota se afastou. Harry deu uma última olhada para o chão limpo e começou a caminhar para o Salão Principal, junto com Rony.
No meio da multidão, uma pessoa tinha os pensamentos pipocando de dúvidas. Passou direto pelo local do crime. Rogério Davies estava morto. Mas ele não o matara. Fechou os punhos com força e apertou a mão, despejando todo o seu furor sobre ela.
Alguém agira durante a noite, como se fosse ele. Alguém matara tranqüilamente, pois sabia que todos estavam à procura dele, e que todas as estimativas cairiam para cima dele.
Ele deu um soco no ar.
Ele, Michael Evans, não entendia quem tinha cometido aquele crime.
* * *
As conversas entre James e Padma iam evoluindo muito, apesar do temor que Christian e Jennifer demonstravam ao constatar que o amigo ia se aproximando cada vez mais da principal suspeita dos assassinatos.
Quando estavam na aula de Herbologia, numa das estufas, James demonstrou seu entusiasmo.
-Ela continua muito nervosa. Mas estou falando que farei o possível para ajuda-la. Ela vai amansar rápido. Podem esperar.
-Você também vai amansar logo – murmurou Jennifer, limpando a terra que sujava suas mãos. – Não vai demorar muito pra ela te matar.
-Vocês não param de me lembrar isso, não é? – reclamou James. – Nem tem certeza se ela é mesmo a assassina. Quem garante que o maníaco não é um de vocês?
-Só faltava você começar a desconfiar da gente – disse Jennifer. – Primeiro veio o Christian com a bobagem de que quem estava cometendo os crimes era Michael Evans, incorporado em outro corpo; agora, o querido James diz que eu e Christian significamos suspeitos para ele.
-E tenho razão – falou ele. – Não tanto pelo Christian, mas você, Jennifer, tem alguns aspectos que apontam contra você. Quer que eu enumere? – desafiou.
-Vá, enumere – devolveu a garota. – Nada aponta contra mim.
-Ah aponta sim – insistiu James. – Por exemplo: há pouco tempo atrás, você nunca travaria uma conversa tão longa comigo quanto essa.
Jennifer, furiosa, largou o vaso e olhou firme para o amigo.
-Você acha que eu seria capaz de matar todas essas pessoas? Você acha que eu seria capaz de matar minha melhor amiga?
-Acho – afirmou James. – Se o que nosso amigo Christian diz, e o Potter também, for verdade – a baboseira do Michael Evans – você é uma forte candidata.
-Você está muito chato hoje, James – ralhou a garota. – Até logo.
E se afastou, indo fazer a atividade no lugar mais longe possível de James e Christian.
-Você pegou pesado – falou Christian, olhando de longe a fúria de Jennifer.
-Eu não posso tolerar que ela acuse a Padma sem ter certeza de que ela é a assassina. Não podemos sair por aí dizendo algo que não podemos confirmar. Quis mostrar para a Jennifer que ela ainda é uma suspeita. E, cá entre nós, é uma forte candidata. Você não concorda?
Chistian lembrou-se do episódio em que fora contar a Harry a mudança de comportamento da amiga. Sim, a teoria de James tinha sentido, mas ele resolveu disfarçar que concordava, dando uma resposta simples.
-Pode ser...
Quando o sinal tocou e a aula de Herbologia foi finalizada, Jennifer continuou afastada dos dois, saindo rapidamente da estufa e os deixando para trás.
Quando entrou no castelo, avistou Harry e Rony, que conversavam com Charles Sheppard, da Sonserina. Jennifer franziu as sobrancelhas. O que Harry e Rony estariam conversando com aquele Sonserino? De repente, a resposta penetrou em sua mente com força total: Sheppard era um suspeito, portanto estava contando a Harry alguma coisa sobre os assassinatos.
O trio estava próximo à escadaria de mármore. Jennifer, discretamente, caminhou em direção à escada e começou a subir os degraus lentamente, apurando os ouvidos para escutar qualquer fragmento da conversa.
-–...isso já foi há alguns dias atrás – dizia Sheppard. – Draco e Kevin pareciam temer que você começasse a desconfiar dos dois.
-–Esse medo dos dois é intrigante – falou Rony. – Quem não deve não teme.
-Sim – disse Harry, que tinha a mão sobre o queixo. – Qualquer mínimo detalhe deve ser considerado.
Jennifer lançou um rápido olhar para os três, no momento em que Hermione se aproximava. Jennifer fingiu que derrubou os cadernos que tinha na mão e se abaixou lentamente para os pegar.
-O que você quer? – perguntou Rony para Hermione, rispidamente.
-Eu só queria falar algo sobre o caso – murmurou Hermione, sem graça.
-De novo! – exclamou Rony. – Mas que saco. Por que você não fala tudo de uma vez? Aí não precisa ficar nos enchendo toda a hora. Aliás, nem sei como o Harry confia no que você diz, pois todo o mundo sabe que você não presta!
Hermione estava vermelha.
-Rony... Eu só...
-Só o quê? Você não é nada confiável. Eu e todos os alunos dessa escola sabemos o quanto você é falsa! Aquela entrevista no Profeta Diário demonstra a pessoa horrível que você é. A coitada da Gina vive chorando por sua causa. Você não presta. É como uma cobra.
Hermione começou a chorar e saiu correndo escada acima. Jennifer, que já estava com os cadernos na mão e nem disfarçava mais que os estava ouvindo – nem precisava, pois um aglomerado de estudantes tinha se formado ao ouvirem a discussão – , aproximou-se de Rony e cutucou-lhe o ombro.
-O que é? – perguntou o garoto, furioso.
-Eu sei que você está nervoso, mas... Preciso lhe contar uma coisa. E é sério.
-Eu não estou bem para conversar agora – respondeu Rony, acalmando-se um pouco mais. – Você é a... Jennifer, não é?
-Sim. Mas... O que tenho pra falar não pode ser deixado pra depois. É importante. Foi o Rogério quem me contou.
A menção do nome chamou não só a atenção de Rony, mas a de Harry e Charles também.
-Rogério? – perguntou Rony, estranhando. – Rogério... Davies? O que foi assassinado?
-Esse mesmo – respondeu Jennifer, sem pestanejar. – Ele me contou que não foi Hermione quem deu aquela entrevista ao Profeta, e sim outra pessoa, alguém que queria prejudica-la.
Rony franziu a testa.
-Mas... Como? O nome da Hermione estava lá, nas páginas do jornal, todo mundo leu. Vai me dizer que foi um erro de impressão? – ironizou.
-Não. Você não está me entendendo... A pessoa deu a entrevista com o nome de Hermione Granger, para que todos pensassem que fosse a Hermione.
Rony empalideceu. Olhou para Harry, que estava com a mesma cor que ele.
-Você tem certeza? – indagou, ainda bastante intrigado.
-Foi o que ele me disse... Ele estava fazendo chantagem com essa pessoa. Pedia dinheiro em troca para ficar calado... Droga! – exclamou, subitamente. – Eu avisei pra ele que isso podia ser perigoso.
-Você acha que ele foi morto por essa pessoa que deu a entrevista, devido à chantagem? – perguntou Harry, se intrometendo.
-Só pode ter sido... Ele não estava na lista de vítimas – respondeu a garota, tensa. – Mas a única coisa de que tenho certeza é de que Hermione não deu essa entrevista.
-Mas quem iria fazer isso para prejudicá-la? – perguntou Rony, ainda não querendo acreditar.
-Isso eu também não sei – falou Jennifer.
Rony passou a mão sobre a testa. Sentia a consciência pesar como nunca. Seu estômago estava despencando. Cometera uma grande injustiça. Tratara Hermione como a um inseto, sendo que ela não tinha culpa alguma.
-Estou me sentindo um lixo – murmurou ele para Harry.
-Eu também... Antes do jantar a gente conversa com ela. Espero que ela aceite nossas desculpas. Vamos pra sala?
-Não – falou Rony. – Eu preciso pedir desculpas agora.
-Mas... Rony! Você vai acabar se atrasando.
-Não importa. Eu posso até ser expulso, mas quero falar com ela agora.
E, com passos rápidos, o garoto desatou a correr em direção à sala onde a jovem estudava Runas Antigas.
* * *
Draco, Kevin e Úrsula estavam numa rápida reunião entre os intervalos, dentro de um corredor do segundo andar. Úrsula tentava esconder ao máximo seu nervosismo. Teve terríveis pesadelos durante a noite. Não entendia como tivera coragem de empurrar Rogério em direção à morte. Foi um impulso terrível. Ela não tivera escolhas. Ainda sentia fortes pontadas na têmpora, mas tentava esconder ao máximo. Draco, no entanto, não escondia seu aborrecimento por causa de Gina, o que Úrsula logo percebeu.
-Por que está tão nervoso? – perguntou ela. – É por causa do plano que foi por água abaixo? Relaxa, Draco! Você sabe que eu sempre tenho grandes idéias. Vou arranjar outra forma de você irritar o Potter.
-Não é isso – falou ele, impaciente. – Quero dizer... É e não é. Tem a ver com o plano sim... Mas não se trata da vontade de provocar o Potter... E sim... – Draco pestanejou.
Úrsula, percebendo a hesitação, foi logo perguntando:
-Você está afim dela?
Draco ruborizou. Kevin Wallace, que se mantivera calado até o momento, com as mãos dentro dos bolsos das vestes, deu umas risadinhas. Úrsula sorriu com arrogância.
-Quem diria... O famoso Malfoy, que sempre detestou os alunos da Grifinória e os Weasley, gostando da única garota da família que sempre detestou.
Úrsula riu, ruborizando ainda mais o rosto de Draco.
-Agora eu começarei a acreditar que o amor é capaz de tudo – recitou Úrsula, ainda às gargalhadas.
-Será que dá pra parar com essa palhaçada? – vociferou Draco, perdendo a paciência.
-Ah não se irrite – pediu Úrsula, com impaciência. – Por favor, não vá se regenerar agora! Isso foi só uma brincadeira! Não perca seu senso esportivo.
Draco permaneceu em silêncio, com os braços cruzados. Por uns instantes, só se ouviu as risadas de Kevin. Úrsula quebrou o silêncio.
-Você quer minha ajuda, Draco?
-Não tem como você me ajudar – respondeu ele. – Gina não quer nada comigo, por causa do flagrante. Flagrante, aliás, que só beneficiou você!
-É verdade – concordou Úrsula. – Mas estou oferecendo minha ajuda agora. Posso fazer com que Gina volte pra você.
-Não quero sua ajuda. Se Gina voltar, quero que seja por vontade própria – falou o garoto, não acreditando que fora capaz de revelar abertamente seus sentimentos.
-Se não quer, tudo bem – disse Úrsula. – Pela minha parte, já estou satisfeita. Estou quase conquistando o Rony, a Granger não tem mais nenhuma chance... As peças do xadrez que podiam me atrapalhar foram eliminadas do jogo.
-As peças? – perguntou Kevin. – Pensei que a única que podia te atrapalhar era a Granger. Que outra peça você eliminou do jogo?
Úrsula engasgou-se por um momento, mas conseguiu se safar.
-Ah... Tinha uma outra aluna da Grifinória que gostava dele. Mas arranjei um garoto pra ela. Atualmente, ela nem liga pro Rony. Está apaixonada pelo outro garoto.
-Você nunca nos contou sobre isso – falou Kevin.
-Nem tinha porquê... Isso é coisa do passado... – Úrsula tratou de mudar o rumo da conversa. – O que eu sei é que o Rony será meu, só meu. E não tem como ninguém impedir. Aliás, como estou livre nesta aula, vou atrás do meu amorzinho.
Draco e Kevin saíram um minuto depois da garota, em direção à sala de Feitiços. Úrsula, porém, resolveu caminhar pelo castelo, à procura de seu querido Rony.
* * *
Rony correu muito para alcançar Hermione. Mas não se cansou. Dava cada passo com firmeza. Sentia dentro do peito o preço amargo do arrependimento, que lhe dava forças para correr e corrigir o seu erro.
Hermione estava quase entrando na sala, quando Rony chegou no corredor e gritou por seu nome. A garota derrubou os livros que tinha nas mãos e sentiu o queixo cair.
Rony correu até ela, que o continuava fitando com espanto, e tomou-lhe a mão. Os alunos que ainda estavam nos corredores pararam para observar.
-Hermione... Eu... Perdoe-me – gaguejou ele.
Hermione não entendia o que estava se passando ali. Rony, que a maltratara durante os últimos dias, agora pedia perdão.
-Eu não acreditei quando você disse que não tinha dado aquela entrevista – falou ele, um pouco sem graça, devido à presença dos alunos que os observavam. Mas ele não podia perder aquela oportunidade: tinha que pedir perdão. – Já fiquei sabendo que você não tem nada a ver com aquilo.
Hermione sentiu uma pontada de felicidade. Não podia acreditar: Rony descobrira a verdade! Descobrira que ela nunca tinha dado aquela entrevista.
-Você me perdoa? – perguntou Rony, sentindo um calor tomar-lhe a face.
-Claro – respondeu Hermione, sem pestanejar, não contendo um abraço apertado no amigo. – Sua desconfiança foi compreensível. Meu nome estava lá, com todas as letras. Quem não iria acreditar?
-Mesmo assim foi um erro – falou Rony. – Não podia ter acreditado! Você é minha amiga há tanto tempo. Como não fui acreditar em você?
-Esqueça isso. Pelo menos agora você já sabe a verdade. Aliás, como descobriu?
-Ah depois eu te conto – falou Rony, sorrindo. – Agora só quero demonstrar a minha felicidade por ter descoberto que você não aprontou nada daquilo.
Rony baixou a cabeça.
-Foi muito difícil pra mim essa nossa distância – falou ele, com sinceridade.
-Pra mim também – suspirou Hermione. – Eu continuo muito confusa por causa daquele... beijo. Mas... Depois de tudo o que aconteceu... Eu percebi, Rony, que cada momento da vida deve ser aproveitado intensamente.
-O que você quer dizer? – perguntou ele com o coração disparado.
-Que descobri que devia ter investido no sentimento que surgiu naquela noite. Consegui tirar minhas dúvidas. Percebi que não era só amizade o sentimento que eu tinha em relação a você.
-Não? – perguntou Rony.
-Não. Eu estava confusa, mas... Agora tenho certeza. Eu amo você, Rony.
O rosto de Hermione estava vermelho, assim como o de Rony.
-Vai ser difícil, mas... Eu quero que os sonhos que eu tive durante essas noites tornem-se realidade. Nós dois juntos... Apesar de eu ficar assim, encabulada, eu quero enfrentar todos os comentários que se formarão quando os dois amigos aparecerem de mãos dadas.
Rony balançava os pés e olhava para o chão.
-E então? – perguntou Hermione.
Rony respirou fundo e, finalmente olhando nos olhos de Hermione, respondeu:
-Eu também te amo.
Movidos pelo sentimento, os lábios dos dois se juntaram, num beijo apaixonado. Um beijo com o sabor da paixão, que só pode ser sentido quando o sentimento entre duas pessoas se funde com intensidade.
Eles nem ouviram os passos de Úrsula Hubbard, que entrava no corredor nesse momento. Enquanto a felicidade daqueles dois era compartilhada entre si, Úrsula sentiu uma forte pontada de dor e ódio ao ver a cena, que foram exprimidos pelas lágrimas que começaram a rolar pelo seu rosto.
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