De volta para casa




Era quase meia noite. As ondas batiam furiosas nas pedras do grande penhasco. A uns quinze metros dali uma cabana deixava sair uma fumaça escura pela chaminé. Dumbledore, que agora se encontrava de frente para a escada principal olhava atento ao chalé, pensativo, por um instante podia-se notar um pequeno sorriso em seus lábios. O vento balançava sua capa e afastava sua longa barba branca para o lado.

Dentro da cabana uma mulher estava ajoelhada esfregando o chão de costas para a porta, quando sentiu uma presença. Imediatamente ela parou o que fazia e levantou a cabeça olhando pro nada como se pudesse enxergar além daquelas paredes. Duas batidas na porta da frente e como se já soubesse quem batia, ela volta a esfregar o chão, este movimento faz sua enorme trança, de um loiro brilhante, cair para frente de seu corpo.
- Está aberta! – diz ela sem se virar pra porta. O visitante entra vagarosamente, fecha a porta atrás de si e vira-se para fitar a mulher que estava agachada.
- Há um jeito mais fácil de realizar este trabalho. Não precisa ser tão sacrificante assim. – diz Dumbledore com um sorriso agora nítido no rosto.
- O que você quer? – diz a mulher levantando e levando o balde até uma pia, onde virou todo o conteúdo dele.
- Ver como você está. – respondeu olhando agora a sua volta e reparando nos móveis daquele chalé. Viu a lareira que ardia acesa de onde saia a fumaça que podia ser vista do lado de fora. – Faz tanto tempo...
- Isso mesmo. – ela vira-se apoiada na pia para olhar Dumbledore. Seus olhos de um verde esmeralda o fitavam com um brilho perigoso. – Muito tempo para uma simples visitinha, não acha?
Dumbledore solta um ruidoso suspiro e olhando para o sofá bege com almofadas marrons ele comenta:
- Imagino que vai me convidar ao menos para sentar. Minha viajem foi cansativa, estou muito velho pra certas coisas. – ela não responde, as rugas em sua testa provavam que aquela visita não era bem vista. Dumbledore senta-se no sofá. – Muito bonito aqui. O lugar. O chalé. Você fez uma boa escolha. Não diria que foi a escolha mais sensata. Mas uma boa escolha.
- Você ainda não me disse o que veio fazer aqui.
- Sim, eu disse... Mas, pelo visto, minha palavra não vale tanto quanto antigamente. – sem resposta. – Não vai me oferecer algo para beber?
- Só tenho café! – anuncia ela virando-se e pegando num armário acima da pia uma xícara azul com desenhos em mandarim brancos.
- Sirius está morto. - a mulher pára segurando a xícara no ar como se aquelas palavras tivessem o poder de imobilizar seus movimentos. Por fim ela coloca a xícara sobre a pia. – Faleceu lutando no ministério...
- Eu ouvi algo a respeito. – anunciou ela querendo por um fim na conversa, enquanto pegava outra xícara.
- Ele voltou.
E essas palavras a fizerem deixar cair a xícara no chão. A xícara de porcelana quebrou-se em vários pedaços aos seus pés. Dumbledore levantou imediatamente assim que o objeto chocou-se com o assoalho. Sem esperar, Dumbledore retirou da capa sua varinha apontando para que um dia fora uma xícara. Ele já abria boca para murmurar o feitiço quando a mulher gritou mostrando a mão sobre protesto.
- NÃO! – ele a olhou incrédulo, mas obedeceu baixando a varinha. A mulher agachou e começou a catar os cacos para jogar fora.
- Mas isso também não deve ser uma novidade pra você. Sua marca deve ter anunciado a chegada Daquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. – ela se corta num caco levantando-se e colocando um pano de prato na palma da mão para estancar o sangue que pingava. Suas mãos tremiam levemente, o suficiente para Dumbledore perceber. – Me deixe ajuda-la.
- Não sabia que tínhamos visitas hoje. – disse um homem que entrava no chalé retirando seu sobretudo e colocando sobre uma cadeira.
A mulher vai até ele abraçando-o fortemente. Ele se espanta e retribui o abraço fazendo carinho em sua cabeça.
- Você está bem? – ela se afasta confirmando com a cabeça enquanto enxugava uma lágrima que percorria seu rosto. – O que aconteceu com sua mão? – perguntou ele segurando seu pulso e lançando a Dumbledore um olhar inquisidor. Ele a guia até um armário ao lado da lareira e tira de lá uma caixinha de primeiros- socorros. – O que você fez a minha mulher, velho?
- Dimitri está tudo bem. Ele não fez nada, eu que derrubei sem querer uma xícara e me cortei. – Dimitri agora fixou sua atenção a mão de sua mulher. Ele tirou o pano e levantou a manga que caia sobre o sangue que voltava a escorrer revelando a marca negra tatuada e seu antebraço.
- Precisamos ir até a cidade, o corte foi profundo, você precisa levar uns pontos.
- Apenas... estanque o sangue.
- Elisabeth.
- Por favor Dimitri. – ele olhou novamente para Dumbledore desconfiado e em seguida fez o que a mulher pediu. Pegou uma tala e enfaixou sua mão com cuidado e habilidade. Dumbledore havia se sentado novamente em silêncio observando a cena. Alguns minutos depois Dimitri sentou-se na frente de dumbledore, colocando os braços sobre os joelhos inclinando assim seu corpo para frente.
- Então... o que o traz de tão longe...
- Dumbledore. – ele se apresentou – Alvo Dumbledore. Fui professor de sua esposa em...
- Baltimore! – interrompeu ela com o coração aos pulos. Dumbledore olhou-a de relance por cima dos óculos meia-lua que pendiam em seu nariz. O silêncio pairou no ar mais uma vez. Dimitri passa os olhos de Elisabeth para Dumbledore voltando a encarar a mulher.
- Bem, acho que vocês dois devem ter muito o que conversar, afinal faz muito tempo que você se formou em Baltimore, não é mesmo, querida? – ele foi até a mulher e lhe deu um beijo na testa – Foi um prazer - disse ele, e retirou-se em direção a um corredor que dava no quarto do casal.
- Vejo que não contou pra ele.
- E porque eu deveria? Ele é um trouxa e eu também sou, agora.
- Voldemort não deve pensar assim.
-Voldemort tem mais com que se preocupar do que gastar seu tempo com uma ex-comensal da morte como eu.
- É nisso que você acredita? Mais cedo ou mais tarde ele irá acertar as contas com todos aqueles que o traíram, e minha querida, não serão seus belos olhos verdes que o impedirão de vir atrás de você.
- E imagino que tu te abalou até aqui pra me oferecer abrigo, segurança, proteção.
- Eu vim aqui pra lhe dar uma chance de redimir todos os seus erros menina. Uma guerra está começando e cabe a todos nós nos reunirmos contra um mal maior. Você já demonstrou em muitas ocasiões que escolheu o lado certo.
- eu não pertenço a nenhum lado. Não mais.
- Todos pertencemos a um lado, querendo ou não. Aqueles que escolherem ficar em cima do muro mais cedo ou mais tarde cairão num dos gramados, no seu, ou no do vizinho.
- Muito bonitas as tuas palavras. Mas se você trouxe apenas elas como argumento pra me convencer a voltar a Hogwarts, eu sinto muito, mas é melhor o senhor ir embora. – ela caminha em direção a porta da rua. Dumbledore se levanta e a acompanha com os olhos.
- Harry Potter é o eleito. Ele precisa de toda proteção possível. – ela pára a centímetros da porta como se pensasse nas palavras que acabara de ouvir. Mas decidida ela continua seu caminho e abre a porta.
- Não é da minha conta. – Dumbledore caminha até a porta e numa última tentativa ele pára defronte a ela.
- Ele é só uma criança... Como você era.
- Você está certo, professor. Como eu era. E quem se importou com isso?! Quem me ajudou quando mais precisei? – silêncio – Exatamente... ninguém. Então porque eu deveria me importar?
- Todo mundo errou naquela época. Eram outros tempos aqueles.
- Sinto muito. Tenha uma boa viajem de volta. – Ele saiu mas antes que fosse embora olhou-a com sinceridade.
- Você não sabe o quanto me culpei pelo que aconteceu. Não deixe que mais um inocente sofra pelo que aconteceu no passado. Ele precisa da sua proteção, não negue a ele a oportunidade de ter um fim diferente do seu minha cara.
Com as primeiras lágrimas começando a surgir pelo seu rosto. Elisabeth não responde, apenas bate a porta. Por um instante ela fica olhando-a, as lágrimas manchando seu rosto como fizeram a muito tempo atrás. Passos surge atrás de si. Ela vira-se e vê Dimitri com um olhar duro.
- Quem é Voldemort? E o que eu deveria saber que você não me contou?
- Dimitri por favor...
- Eu não sei o que está acontecendo, mas pelo o que eu percebi uma criança depende de ti e o que você faz é se lamentar pelo que aconteceu na sua infância?
- Há tanta coisa que você não sabe...
- O que eu sei é que a mulher que eu amo nunca deixaria um inocente ser vítima de qualquer um.
- Não é tão simples assim...
- E porque você não me conta, hum?!
- Eu não posso!
- Eu vou tomar um banho. – finaliza ele a conversa. Ela olha se afastar e caminhando até a cadeira senta-se levantando os pés do chão conseguindo assim agarrar seus joelhos. Já não chorava mais, sua feição tornara-se dura novamente e seu olhos de um verde profundo escureceram perdidos no nada.

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