Capítulo Único



The Last Song I’m Wasting on You





“Faíscas cinzas
Pelas minhas próprias veias”



A garrafa vazia ainda estava no chão, jogada entre a pilha de jornais velhos no canto da sala. A luz trêmula e branca da tarde de inverno entrava pelas cortinas entreabertas. Ela apagou o cigarro no cinzeiro e soltou a fumaça lentamente, vendo-a dançar perto de seu rosto. Evanescendo aos poucos.
Seu cabelo bagunçado continuava do mesmo jeito, mechas caíam em seus olhos. O copo de uísque ainda estava cheio, em cima da mesinha de centro. Ela não o tocaria, afinal. Era apenas um enfeite. Um enfeite dele. Um belo enfeite do qual seus olhos castanhos já haviam se cansado...
Levantou-se do sofá preto e andou lentamente em direção ao corredor. Os pés descalços no chão gelado. Empurrou a porta devagar, inspirando o perfume cítrico impregnado no local. Seus passos detiveram-se. As cortinas do quarto também estavam entreabertas. O lugar era tão cinza agora. Sua calça estava jogada no chão, perto da escrivaninha, do mesmo jeito da noite anterior. Os lençóis ainda bagunçados. Livros jogados perto do closet e o porta-retratos espatifado perto da parede próxima.



“Algo mais que um sussurro
Um súbito movimento do meu coração
E eu sei, eu sei que terei que assistir isso passar”



Ela andou na direção dos cacos de vidro e retirou, com cuidado, a foto de lá. Apenas para levá-la até a escrivaninha e joga-la de qualquer jeito em cima do teclado do computador, que ainda estava ligado. Aquele protetor de tela irritante, que exibia imagens felizes dos dois.


“Apenas ignore este dia”



Sentou-se na beirada da cama. As mãos firmes sobre o colchão. Respirou fundo, o cheiro que aqueles lençóis tinham. Lavanda e o shampoo que ele usava. Seus dedos tremeram quando sua garganta queimou com aquele perfume.
Afinal, aquilo tornara as coisas mais difíceis. Mais difíceis do que deveriam ser. Ela não poderia ignorar o travesseiro que faltava ali, ao lado do seu. O travesseiro jogado no chão do corredor.

“Desisto do seu caminho, você poderia ser qualquer coisa
Desisto do meu caminho
E me perco - hoje não
É culpa demais pra carregar”



As memórias ainda eram quentes. Tão quentes se comparadas àquele frio lá fora. No final das contas, ela suportou mais do que poderia, mais do que deveria.
As palavras cuspidas e embargadas pelo álcool ainda lhe doíam. Sempre ferindo a cada dia que passava. Um círculo vicioso e masoquista. O relógio nunca cooperou também, sempre revelando a verdade que ela tentava a todo custo esconder de si mesma.
E então, quando o cheiro da bebida lhe invadia as narinas ela realmente ficava com medo. Medo e raiva.
Raiva daquelas palavras frias e arrogantes, que sempre estavam prontas para feri-la. Não sabia quando tinha começado, na verdade sabia sim. Sempre estivera ali. Aquele orgulho.
Tão orgulhoso que era. Mas pra ela já era o bastante. Ter o perfume e seus braços por perto, mesmo sabendo que o sacrifício era muito pra ser carregado apenas por uma pessoa.
E às vezes, ele era tão doce...



“Adoecido ao sol
Você ousa dizer que me ama
Mas você me ofendeu e gritou que queria que eu morresse
Querido, você sabe, você sabe que eu jamais te machucaria desse jeito”




Ah...sim. Ela podia entender os motivos. As pequenas fraquezas que só ela sabia. Tudo aquilo que sempre assustou todas as pessoas ao redor dele.
Sempre fazendo a coisa errada. Sempre aumentando a carga em suas costas. Sempre tornando o esforço de mantê-lo vivo, mais e mais difícil.
Mas ele a amava. Do jeito dele. Sempre confiando no sentimento exageradamente correspondido. Exorbitantemente correspondido.
Nunca se dando conta do que havia ali. Das faíscas cinzas.
Ela nunca o machucaria. Nunca.


“Você é simplesmente lindo demais na sua dor”



Hermione levantou e pegou a calça jogada no chão, vestiu-a. Pegou a jaqueta preta na cadeira e pôs sobre a regata branca.
Seus olhos não se fixaram no maldito e irritante protetor de tela. O maço de cigarros ainda estava em seu bolso direito. Ela acendeu um. Mais um. Tragou e soltou a fumaça, sentindo novamente o cheiro de lavanda, agora misturado ao cheiro do cigarro. Tão familiar. Quase tão familiar quanto o cheiro de uísque e conhaque, que ela conhecia tão bem.
No final, ele havia escolhido se afogar em seus melhores amigos.


“Desisto do meu caminho e eu poderia ser qualquer coisa
Eu farei meu próprio caminho
Sem seu ódio sem sentido”



Ele a odiava também. Ela sabia. O velho ódio de sempre, porque certas coisas nunca mudam.
Motivos que sempre a desacreditaram, que ela nunca fez questão de entender completamente.
Não fazia muita diferença agora. Ela não podia impedi-lo de se afogar. E isso doía.



“Então corra, corra, corra
E me odeie, se isso parece bom
Eu não consigo mais ouvir seus gritos”




Ela terminou de pôr seu All Star e jogou a mochila desbotada nas costas. Saiu do quarto sem olhar pra trás. Passou pelo travesseiro jogado no corredor. Pegou um pequeno bloco de notas na mesinha do telefone e uma caneta. Sentou novamente naquele sofá preto. A folha em branco na frente de seus olhos e seus dedos tremiam enquanto a tinta percorria o papel.
Apenas jogou-o de qualquer jeito ao lado do copo, ainda intocado, em cima da mesinha de centro. Pôs-se de pé em direção à porta da frente. Trancou-a.


Seus pés a guiaram pra fora do prédio. Nevava lá fora. Um mar de pessoas enchia as calçadas.
Tirou seus fones de dentro da jaqueta e os colocou nos ouvidos. Aumentou o volume o máximo que pôde.
As mãos nos bolsos. O relógio no alto da torre marcava 17:35 quando ela sumiu em direção à algum lugar, no meio do mar de pessoas em Londres.



“Você mentiu pra mim
Mas eu amadureci agora
E não vou pagar por isto, meu bem”


Draco andava a passos rápidos pela calçada, tentando escapar das pessoas e da neve. Ele chegaria atrasado novamente. A pequena rosa em sua mão começava a ficar branca.
Seu relógio de pulso marcava 17:38 quando ele finalmente chegou à portaria de seu prédio.
Destrancou a porta o mais rápido que pôde. Entrou tirando o casaco pesado que vestia, olhando em volta. Jogou-o no sofá e foi até o quarto. Ainda segurava a pequena rosa.
Seus movimentos cuidadosos e passos silenciosos. Abriu a porta devagar e encarou a cama vazia. Ainda desfeita. Os cacos de vidro no chão. O lugar cheirava a cigarro e lavanda.
Talvez não adiantasse chamá-la. Temia que não houvesse resposta.


“Exigindo minha resposta”



Andou, inseguro, pelo corredor. A sala mergulhava na escuridão àquela altura. Ele acendeu uma luminária perto do sofá. A luz amarelada invadiu seus olhos. Refletiu o líquido dourado no copo. O cinzeiro, usado não fazia nem uma hora. O bloco chamou sua atenção.
Sentou-se.
Os olhos acinzentados fixos no papel amarelo por causa da luz. Deixou seu pedido de desculpas em cima da mesinha. Ela não o veria, ele pensou. Pegou o bloco, com cautela. E suas mãos tremeram pela rabiscada, inclinada e tão familiar letra.
Ela tinha deixado um bilhete, afinal. Um último ato de preocupação. Último. Ele sabia.
Seus olhos correram pelas palavras tremidas enquanto os flocos de neve na rosa derretiam sobre o vidro.





“Não se importe em levar a porta abaixo
Eu encontrarei uma saída

E você nunca me machucará novamente”
















N/A: Bom...deu pra perceber que eu gosto de Evanescence né? E olha q eu nem sou fã...mas sei lá...as músicas da Amy me inspiram ^^

Espero que vcs tenham gostado dessa Oneshot tanto quanto eu gostei de escreve-la...
E por favor! Comentem me dizendo o q acharam!!pleaaassseeee!!!!! se as críticas forem boas acho q vou investir na carreira de escritora de shortfics/songfics....hehehehe

E não se esqueçam de visitar a minha outra fic q ainda tah em andamento!
E de comentarem lógico... xb

Tbm é D/H

http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=17273


só como lembrete: eu ainda não tenho uma beta!!!! *se morre de desespero*



bejo povo!!!!e obrigada a todos que lerem!!!! E a Rhu tbm q foi o 1º q leu e disse q adorou!

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