Dos Shippers



Dos Shippers


Naquele dia - ou melhor, hoje mesmo – eu acordei à uma hora da tarde, ainda sentindo os efeitos da festa de Réveillon, se você entende o que eu quero dizer. Tomei um café tranqüilo e sentei em frente ao computador. Infelizmente, nem todo mundo tem a chance de estar em uma praia em pleno verão brasileiro, mas enfim.


Então, enquanto meus pais e meu irmão assistiam à “O Poderoso Chefão” (eu fiz uma tentativa de ver o filme, mas como há uma morte violenta a cada cinco minutos, acabei desistindo) eu fui escrever.


Estava terminando uma ShortFic sobre um encontro entre Scorpius Malfoy e Rose Weasley, quando comecei a pensar em todos os casais sobre os quais escrevi. Já foram Rony e Hermione, Harry e Gina... comecei uma fic em que planejava juntar Draco e Gina e Harry e Luna. Cara, Harry e Luna chega a ser engraçado.


Em homenagem à minha mais nova ShortFic, o primeiro capítulo dessa série de pequenas reflexões será sobre os casais, os famosos “Shippers”.


Qual é o casal que faz mais sucesso entre os fãs do universo Harry Potter? Algum leitor desavisado, ou autor inexperiente diria: “Qualquer um faz sucesso, desde que a história seja bem escrita.” Eu protesto: mentira!


Não sei se já comentei, mas se o que bastasse para fazer sucesso fosse uma história bem escrita, dezenas de autores desconhecidos deveriam estar sendo idolatrados nesse exato momento. Estou falando sério.


-“Harry e Luna? Isso realmente é engraçado!” – disse uma voz masculina atrás de mim.


Quase cai da cadeira ao me virar para ver quem era.


-“Harry? É você mesmo? O que você está fazendo aqui e como você entrou no meu quarto?”


Harry Potter me encarou sorrindo.


-“Capa de invisibilidade e vassoura.” – disse simplesmente, mostrando os dois objetos em suas mãos.


-“Ah, sim.” – eu disse, até que me dei conta de algo um tanto constrangedor – “Meu Deus, eu ainda estou de pijamas!”


Após uma rápida fuga até o banheiro, voltei a conversar com Harry, dessa vez vestindo algo muito mais, digamos, apresentável.


-“Ainda não entendi como você veio parar aqui.” – eu disse, sentando-me novamente em frente ao computador.


-“É simples, eu sou um personagem, vou aonde há imaginação suficiente.”


-“Nossa, Harry, isso foi poético!”


-“Foi mesmo, não é?”


-“Convencido!”


-“O fato é: isto aqui ia ficar muito chato se fosse só você escrevendo sobre suas idéias, então eu resolvi passar aqui, porque acho que um diálogo vai ficar bem melhor.”


-“Acho que você tem razão. Espere aí, deixe-me escrever tudo o que acabamos de dizer.”


Assim que terminei de escrever os acontecimentos mais recentes, Harry disse:


-“Certo, você estava escrevendo sobres os casais.”


-“Exato. Você acha Harry/Luna tão esquisito assim?” – eu perguntei.


-“Olha, Tarí, em primeiro lugar, eu amo a Gina...”


Coisa fofa.


-“Ah, Harry, isso todo mundo sabe!” – eu o interrompi – “Mas você não acha a Luna nem um pouquinho interessante?”


-“Interessante ela é sim. Você já viu aqueles brincos de rabanetes que ela usa? E as reportagens absurdas da revista do pai dela que ela jura que são verídicas? Se isso não for uma pessoa interessante, eu não sei o que é.”


-“Não foi esse sentido de ‘interessante’ ao qual eu me referi, Harry.”


-“Não foi?”


-“Não!” – eu quase berrei. Acho que Harry se assustou um pouco com aquilo – “E não se faça de desentendido! Eu perguntei se você não acha a Luna uma garota interessante para ser sua namorada.”


-“Olha, eu amo a Gina e...”


-“Eu já sei Harry!” – dessa vez eu realmente berrei – “Escuta aqui, você andou pisando na bola com a Gina?”


Ele me encarou com a mais falsa expressão de incredulidade que eu já vi.


-“Eu? Eu não! Por que você acha uma coisa dessas?”


-“Bom, digamos que você está soando um tanto quanto culpado aos meus ouvidos...”


-“Eu acho a Luna interessante, interessantíssima. E você já viu como o céu está azul hoje?”


-“Não desconversa...”


Ele cruzou os braços e fechou a cara. Eu achei melhor voltar ao computador e registrar os últimos detalhes da nossa conversa. Quando julguei conveniente, virei-me novamente para ele e continuei:


-“Bom, eis o que eu acho: a Luna é uma garota meiga, apesar de incompreendida. Histórias em que o Harry compreende o lado sensível e delicado da Luna e se apaixona por ela são fofas, por isso as pessoas escrevem e lêem sobre esse shipper.”


-“E isso faz sucesso?”


-“Hum, agora você me pegou. Eu acho que faz, mas não muito. Eu diria que, como história principal, não ‘dá muito lucro’, mas se for um acontecimento meio secundário em uma megahistória bem escrita, acho que contribui.”


-“Você fez uma bagunça nessa frase!”


-“É, eu sei. Depois eu tento concertar. Sabe, eu não acho que a Luna combine muito com você. Mas Luna e Neville ficaria uma gracinha!”


-“Agora eu concordo com você!”


Eu sorri e Harry sorriu de volta. Afinal, essa idéia de tê-lo por perto acabou sendo útil. Sempre é bom discutir (civilizadamente) suas idéias com outra pessoa.


-“Então, qual é o próximo casal?” – perguntou ele.


-“Bom, vamos continuar falando de você. Como você já ama a Gina e tudo o mais, vamos pular essa história. Todo mundo sabe que vocês dois ficam fofíssimos juntos, e as fics que falam sobre vocês (especialmente shorts) fazem bastante sucesso.”


Nesse momento, Harry levantou-se da minha cama, onde estivera sentado, e fez diversas reverências.


-“Obrigado! Obrigado!”


-“Hei, isso aqui não é o Oscar não!” – eu disse, ao que ele sentou-se novamente e eu continuei – “Vamos falar de Hermione. Hermione e você, para ser mais exata.”


-“Tão nada a ver quando eu e a Luna. Eu ...”


-“Se você disser que ama a Gina de novo eu expulso você do meu quarto!” – ameacei.


Harry ergueu as mãos imitando alguém que se rende, enquanto eu continuava:


-“Durante algum tempo muitos fãs realmente apostavam que vocês iam ficar juntos. Contudo, ao decorrer da série, ficou mais do que evidente de que Rony e Hermione se mereciam.”


-“Eu concordo, mas ainda há alguns fãs inconformados, escrevendo fanfics que me unem à ela.”


-“Não são só fãs inconformados que escrevem essas fics, Harry. Muita gente escreve porque é um casal interessante. Dois amigos que se apaixonam...”


-“Eles não poderiam se contentar com o Rony e a Hermione se apaixonando? Eles também eram amigos!”


-“Você não está entendendo. Harry e Hermione quebra as regras! E é gostoso quebrar as regras! Sinceramente, você não faz idéia o quanto é gostoso buscar meios, subterfúgios, para juntar vocês dois. É divertido escrever e é divertido ler.”


-“Bom, eu só tenho uma coisa a dizer: Hermione é minha amiga.”


-“Harry, toda a vez que você fala alguma coisa que todo mundo sabe, você ajuda tanto...”


-“Isso foi uma ironia?”


-“Que tal Draco e Hermione?” – eu perguntei, tentando mudar de assunto.


Houve um estalo no ar, e então uma terceira voz:


-“Eu e aquela sangue-ruim?”


Foi o meu segundo grande pulo do dia. Era Draco Malfoy, em pessoa, ou melhor, em pura e reluzente imaginação.


-“Como você se atreve a aparatar aqui, Malfoy?” – dessa vez era Harry o indignado.


-“Eu tenho tanto direito de estar aqui quanto você, Potter.”


Os dois começaram a fuzilar-se com os olhos, enquanto eu pensava que deveria ter arrumado melhor o meu quarto hoje de manhã. Não que ele estivesse um caos, mas também não estava impecável. De qualquer forma, eu estava no meio do fogo cruzado entre inimigos, e como o território era meu, eu tinha o dever de intervir.


-“Tá legal, escutem os dois! Harry, o Draco também é bem-vindo aqui.” – nesse ponto Malfoy fez uma cara de ‘bem-feito’ – “Mas você não pode provocar o Harry, Draco.” – e foi a fez de Potter fazer uma pose triunfante. – “Agora apertem as mãos, como duas pessoas civilizadas!” – ordenei por fim.


-“Você só pode estar brincando!” – disse Harry.


-“Eu estou falando sério!”


-“Eu me recuso!” – afirmou Draco, categórico.


-“Apertem as mãos, a-go-ra!”


Emburrados e a contra-gosto, eles fizeram o que eu mandei. Aparentemente, ambos tentaram quebrar os dedos um do outro, e o aperto foi bem breve, mas eu consegui o que eu queria. E cara, eu sempre quis fazer isso!


-“Certo, agora vamos voltar ao assunto.” – eu sugeri – “Por que não a Hermione, Draco? E não venha usar o argumento de que ela nasceu trouxa!”


-“Existe outro argumento?”


-“É claro que existe! Você não acha Hermione bonita? Quero dizer, em ‘O Cálice de Fogo’ ela teve os dentes arrumados, então deve estar bem mais bonita do que no início da série.” – eu disse.


-“Sim, ela melhorou.” – começou ele – “Mas com certeza não era a garota mais bonita de Hogwarts. E aquele jeito irritante dela de sabe-tudo? Sempre foi insuportável!”


-“Tudo bem, já entendi. É melhor concluirmos tudo, se não você vai começar a fazer igualzinho ao Harry e começar a falar aquelas coisas que todo mundo sabe. Bom, Draco e Hermione também é um casal que quebra as regras. Só que, ao invés de uma vez, quebra as regras duas vezes.”


-“O que você quer dizer com isso?” – perguntou Draco.


-“Não é óbvio?” – interveio Harry – “Além de mostrar um bruxo de ‘sangue puro’ preconceituoso se apaixonando por uma nascida trouxa, ainda há a relação do bem se apaixonando pelo mal.”


-“Nem eu mesma poderia ter explicado melhor! Estou orgulhosa, Harry.”


-“Obrigado.”


-“Enfim, acho que Draco/Hermione faz tanto sucesso quanto Harry/Hermione. Talvez até mais, já que não é fácil arrumar uma justificativa para juntá-los. Geralmente, a história enfoca Draco virando bonzinho. Nunca vi uma em que Hermione ficasse má. Já vi algumas em que ela fica meio revoltada com o mundo e sai chutando o pau da barraca, mas nenhuma em que ela fica exatamente má.” – eu expliquei, concluindo a questão.


-“Essa eu gostaria de ver!” – disse Draco – “A sangue-ruim certinha virando cruel.”


-“Draco, se você usar essa nomenclatura de novo, eu juro que te expulso!” – eu ameacei.


-“Vou tentar me lembrar disso.”


-“Certo, próximo casal!” – eu declarei, não querendo começar uma discussão – “Que tal Draco e Gina?”


-“Mas você vai de mal a pior mesmo...”


Eu lancei a Draco meu pior olhar ameaçador. Que não é dos mais eficazes, mas eu me esforço.


-“Eu também não gosto nem um pouco dessa história aí!” – protestou Harry.


-“Ok, Harry, antes que você comece a ficar irritadinho, deixe-me analisar um pouco essa idéia. É mais ou menos a mesma idéia de Draco/Hermione. Assim como Hermione, Gina odeia Draco; há toda aquela rivalidade Grifinória versus Sonserina, bem versus mal. O que muda é que Gina é uma bruxa de puro sangue, mas pobre, e as diferenças econômicas influenciam nessa relação. As ‘artimanhas’ para unir Draco à Gina são praticamente as mesmas usadas para unir Draco à Hermione. Quanto à popularidade, Draco/Gina também são um casal top. Eu, pessoalmente, adoro.”


-“O que foi que você disse?”


Harry levantou-se mais uma vez. Tinha os punhos cerrados e eu julguei ver uma veiazinha saltar em sua têmpora.


-“Eu disse que odeio essa idéia! Detesto! Acho completamente absurda!”


Em pé, encostado ao armário, Draco apenas ria da cena. Acho que consegui fazer com que Harry se acalmasse um pouco. Pedi aos dois um tempo para registrar nossas últimas falas e, quando declarei que o trabalho estava concluído, Harry perguntou:


-“E quanto a Rony e Hermione?”


-“Fofíssimos! Não há nem o que comentar.” – eu respondi.


-“Ok. Hum, bem...” – eu notei que ele hesitou um pouco, até que finalmente soltou – “e quanto aos meus pais? Eu sei que eles são amplamente utilizados em fanfics.”


-“São mesmo!” – eu concordei, sorrindo. Eu sempre soube (eu li os livros, dã) que falar dos pais era algo muito importante para ele – “A grande vantagem de escrever sobre seus pais e a época deles é a amplitude de possibilidades. Como não se sabe quase nada sobre o passado deles, o autor se sente livre para especular.”


-“Faz sentido.” – disse Harry, pensativo.


-“As possibilidades são tantas, que Tiago/Lílian torna-se um casal incrivelmente empolgante! Só tentar criar uma situação em que eles se apaixonariam já é desafiador. Eu só não gosto de grandes exageros. Acho que o repúdio inicial de sua mãe por seu pai não é tão grande como alguns atores o fazem.”


-“Se ele era realmente parecido com você, Potter, deveria ser um repúdio enorme.” – soltou Draco, em tom de desdém.


-“Já que estamos falando sobre pais, por que não falar sobre filhos?” – eu disse.


-“Mas nós já falamos sobre nós.” – argumentou Harry.


-“E quem disse que eu estou falando sobre vocês? Estou falando sobre os filhos de  vocês!”


-“Você quer dizer Scorpius?”


-“Exatamente, Draco. Scorpius Malfoy, Rose e Hugo Weasley, Tiago, Lílian e Alvo Potter. Eles são tão fantásticos para se escrever sobre quanto os pais de Harry, já que não sabemos mais nada sobre ales além do nome e de uma estimativa de quem é mais velho do que quem. E é óbvio que a combinação top entre eles é: Scorpius/Rose.” – eu expliquei.


-“Francamente, a idéia de unir meu filho à filha daquele Weasley é tão absurda quando à de me unir à esposa dele!”


-“Não, Draco, você não entendeu. A graça de juntar Scorpius à Rose é quase a mesma de que unir você à Gina.” – eu disse.


-“Mas, indiretamente, une à Hermione.” – observou Harry.


-“E não é que você tem razão?” – eu comecei – “Scorpius e Rose é quase como unir Hermione e Gina à Draco ao mesmo tempo! É Genial!”


-“Não vejo nada de genial disso.” – disse Draco.


-“Mais algum shipper?” – eu perguntei.


-“Tem aqueles shippers esquisitos, como Hermione/Sirius, ou Gina/Snape, mas acho que quase ninguém escreve sobre eles.” – disse Draco, e eu não pude deixar de me impressionar ao vê-lo tentando contribuir.


-“Falando em shippers esquisitos, que tal Draco e Harry?”


A reação dos dois foi unânime:


-“NUNCA!”

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