Retalhos do Passado



Cap. 14 – Retalhos do passado


 



 "Todo mundo mente."


 Novembro, 1996


Hermione acordou ainda sentindo-se cansada. Tinha a estranha sensação de que tivera um sonho ruim, contudo, não conseguir lembrar-se como fora. Já fazia vários dias que fora à festa clandestina na sala precisa, mas sua fama como cantora espalhou-se drasticamente pelos corredores de Hogwarts de forma que não podia evitar não ouvir comentários sobre ela.


O dia estava cinzento, não seria tão bom um passeio à Hogsmeade, mas prometera a Draco que iria com ele, e recentemente ele estava se mostrando muito evasivo e distante, portanto queria aproveitar o maior tempo possível com ele, e talvez, descobrir o que estava acontecendo com seu comportamento.


Levantou-se e alguns minutos depois já estava no salão principal para tomar seu café da manhã. Enquanto ia até o lugar ao lado de Harry vira Lilá tentar chamar a atenção de Rony, sem êxito.


–Rony, nós podemos conv... – ela começou, mas o próprio Rony a cortou.


–Harry, eu esqueci meu trabalho de transfiguração, te vejo na aula – disse e saiu em direção ao salão comunal da grifinória, deixando a garota quase chorando.


Hermione, então, sentou-se ao lado de Harry e percebeu que o moreno tinha uma expressão estranha no rosto. Acompanhou seu olhar e viu a manchete do profeta diário.


“Quatro trouxas assassinados em bairro de Londres”


Sem esperar que Harry terminasse de ler, ela arrancou o jornal das mãos dele. E mesmo sob os protestos do garoto, começou a ler.


“Uma família de trouxas foi encontrada morta na noite de ontem. Sabe-se apenas que Comensais da Morte foram vistos horas antes e a marca negra estava sobre a casa dos trouxas. Aurores do ministério estiveram no local, no entanto não conseguiram evitar a tragédia, nem identificar os envolvidos. Continua pag. 4”


Hermione abriu o jornal na página indicada e leu rapidamente, sentindo repulsa por aquelas palavras vazias. “O ministério não tem nada a declarar”. “Nossos aurores estão mais preparados do que nunca”.


Mas a verdade, ela sabia. Ninguém estava preparado para essa guerra. Voldemort estava retomando o poder e Hermione não suportava mais ver essas mortes sendo anunciadas tão friamente nos jornais. Algo se embolava em sua garganta, mas há tempos decidira não chorar pelas coisas que Voldemort provocava, ela queria ser forte.


–Onde você vai? – Harry perguntou ao vê-la preparar-se para sair da mesa.


–Preciso dar uma volta... isso tudo é ridículo! – Hermione disse apontando o profeta.


Dirigiu-se para a biblioteca, iria ficar lá até a hora de ir para Hogsmeade, mas agora queria menos ainda ir à vila.     


::: Flashback :::


Lucy ainda fitava Anthony com atenção. Tudo o que ela temia estava acontecendo. Odiava quando a julgavam e agora, tinha certeza, Anthony a julgaria uma manipuladora oportunista.


–Então, você vai me dizer a verdade? – ele perguntara já aborrecido.


–O que eu te disse noite passada? – a loira perguntou sentindo a cabeça doer mais ainda. “Definitivamente, eu não devia ter bebido tanto.” Pensara com ódio de si mesma.


–Você disse que seu plano estava dando certo, que logo a Granger iria achar uma tal pedra e o Malfoy não conseguiria cumprir sua missão.  


“Pronto! Lá se vai meu plano!” dissera para si própria, tentando achar um meio de escapar do garoto.


–Esqueça, Wolhein, não sei do que está falando, eu estava bêbada! – ela disse, embora não acreditasse que ele cairia naquela desculpa.


–Mas eu sei que é verdade, eu vi na sua mente!


–INVADIU MINHA MENTE ENQUANTO EU DORMIA? – Lucy perguntara alterada, ficando de frente para ele.


–VOCÊ FAZ ISSO O TEMPO TODO, E ADIVINHA? EU NÃO DEI AUTORIZAÇÃO NENHUMA!


–OKAY! Apenas cale a boca ou fale baixo... – dissera massageando as têmporas, que doíam ao menor ruído. – Quer a verdade? A verdade nua e crua? Então a terá, mas já vou visando, não é nada agradável de ouvir.


–Ótimo, então fale...


–Tudo começou quando eu tinha sete anos.


::: Fim do flashback :::


Lucy fitava o interior de coche mal-humorada, já fazia um mês que Anthony descobrira tudo. E ele, ainda por cima, obrigava-a a contar a verdade à Hermione. Mas a loira sabia que isso ainda não podia acontecer. “A Granger não está preparada para a verdade”, mas teve que admitir que o quanto antes a castanha soubesse, melhor seria. E o chato do Anthony não largava mais do seu pé, não podia dar um passo para a biblioteca e lá estava ele. No salão principal sempre lhe lançava olhares de advertência, como se dissesse “Diga a verdade, ou eu direi”. Mas por dentro, ela sentia que esses pequenos encontros com ele não eram tão ruins de fato. Sentia também que ele agia diferente com ela frequentemente. Não deixava mais intimidar-se com ela. Não dava oportunidades para Lucy ameaçar contar seus segredos, talvez porque ele soubesse segredos dela também. Isso a irritava. Odiava expor-se. Sentir-se vulnerável. E ele... bem, ele a decifrava melhor do que ninguém. Por mais que tentasse não conseguiu lembrar-se da festa que fora. Blaise a olhava com ódio. Sabia que era porque Anthony batera nele por quase ter abusado dela. Mas acabou por evitar o sonserino e seus olhares raivosos. No entanto percebia que havia algo diferente em Anthony, algo acontecera naquela noite e irritava-se mais ainda por que não encontrava nada em sua mente. Ele havia aprendido a controlar seus pensamentos perto dela. E agora... não conseguia descobrir muita coisa. Era frustrante para ela. Nunca imaginou que não pudesse ler a mente de alguém. Com pesar, continuou a lembrar-se do dia depois da festa.


::: Flashback :::


–Minha mãe e eu morávamos em Londres. – Lucy começou a contar – Ela era uma inominável, por isso poucos a conheciam, ela trabalhava em anonimato para o ministério, ela nunca me contava nada... mas eu descobria várias coisas...


–Como você descobria? Ah, desculpe, você lia a mente dela – Anthony a cortara sarcástico.


Lucy limitou-se a concordar com um aceno, já não tinha forças para discutir com ele e suas ironias. Já estava sem paciência e controlava-se para não começar uma briga. Resolveu por continuar a falar.


–Eu estava no meu quarto e percebi pessoas estranhas na minha casa. Eu desci as escadas e fiquei escondida, eles estavam no escritório. Havia outras duas pessoas além dela. Não me viram. E eu escutei tudo o que diziam.


–O que esses falavam?


–Diziam que a profecia iria se cumprir e que a próxima guardiã iria ter um grande poder. Mas que precisaria de ajuda.


–Guardiã do que? – Anthony perguntou confuso.


–Da Pedra do Destino – respondeu olhando o chão – ela tem o poder de ver o passado e o futuro. E essa pedra dá poderes à guardiã.


–Okay, mas o que tudo isso tem a ver com o que você fez com a Granger e com o Malfoy?


–Obviamente eu não dei importância na época... mas com o tempo eu percebi que minha mãe tinha visões com a nova guardiã. Uma criança de cachos castanhos. E quando eu vim para Hogwarts, eu a reconheci. Era a Granger. Por todo esse tempo eu guardei segredo sobre isso.


–Espera... você está me dizendo que a guardiã é a... ? – Anthony começou a perguntar incrédulo.


–É. – Lucy confirmou – A Granger é a guardiã.


–Mas por que...? – começou a dizer, mas a loira o interrompeu.


–Não disse nada a ela ainda, porque ela não controla seus poderes. E porque havia outra criança nas visões da minha mãe. – Lucy disse simplesmente. Já não se importava se Anthony descobrisse tudo ou não, e no seu íntimo, estava gostando de lhe contar tudo, como se tudo aquilo fosse somente uma confissão de alguma travessura infantil.


–Quem era a outra criança?


–Draco Malfoy – a loira viu Anthony abrir a boca em um perfeito “o” – Ele iria destruir a guardiã futuramente, segundo uma profecia que falaram, mas eu não me lembro exatamente do que falava. Mas agora... Agora ele não teria coragem. Não depois que eu o fiz se apaixonar por ela.


–Peraí! Como assim “eu o fiz se apaixonar”?


–Eu causei parte desse rolo todo entre o Malfoy e Granger. Primeiro eu os prendi no expresso de Hogwarts no começo do ano letivo. Eles nunca descobriram o culpado. Mas de qualquer modo foi fácil. Conheço alguns feitiços antigos e ninguém me viu prendendo-os. Depois eu percebi o quanto eles brigavam... Vi eles discutindo uma noite e fiz com que o Filch os achassem, então tiveram que cumprir uma detenção juntos. E também disse ao Draco o quanto ele deveria apaixonar-se e blá-blá-blá. Mas até que eles se entenderam bem rápido...


–Como você pôde? Você é tão fria e calculista... – algo na voz dele a irritou, não saberia dizer se era o espanto ou o óbvio protesto. Anthony estava indignado.   


–‘Tá vendo? Por isso não queria contar... – ela disse levantando-se da cama novamente e o fitando com veemência – você não me entende! Já pensou no porquê deu fazer isso?


–Não! E nem quero saber. – disse levantando-se também e se dirigindo para a porta.


–Espera. – Lucy o puxou pela mão, aquele toque o parou. A pele dela ardia contra a sua própria, o atordoava pela simples lembrança vaga do beijo de ela lhe dera, mas afastou esse pensamento, não queria que ela soubesse. Lucy não deveria lembrar-se. O tom dela ganhou uma ponta de súplica que ele nunca a vira usar – Fiz isso para a guardiã não ser destruída e poder encontrar a pedra.


–E essa pedra? – Anthony virou-se para ela, a mão pequena dela deixou-se cair do lado do corpo – Qual seu interesse nela?


–Eu precisava dela... mas não preciso mais.. – Lucy lutou disse ríspida, confessando para si mesma o motivo de não desejar a maldita relíquia.


–Precisava para quê? – Anthony viu Lucy virar-se de costas para ele. Mas podia ouvir a voz entrecortada dela dizer com dor e certa vergonha.


–Para ver o passado e saber por que meu pai foi embora. – o tom dela era amargurado, como se tentasse esquecer lembranças que insistiam em voltar, mas era exatamente o contrário. Ela insistia em não desejar ter lembranças de sua família.


–Mas por que não quer mais?


–Desisti de procurar por alguém que não quer ser achado. – A garota virou-se novamente para olhá-lo e Anthony pôde ver seus olhos brilharem por causa das lágrimas que ela insistia em segurar, pois Lucy nunca deixaria aquelas lágrimas caírem – Não me importo mais. – Lucy disse indiferente, mas por dentro sentia algo comprimir seu corpo, como se o ressentimento exigisse que ela se importasse em descobrir aqueles segredos que a deixaram sem ninguém.


–Mas você deveria se importar... ele é seu pai.


–Verdade, mas aparentemente ele me abandonou e quer saber? Não quero mais encontrá-lo.    


::: Fim do flashback :::


Lucy sentiu algumas lágrimas brotarem involuntariamente em seus olhos. Lutou contra elas. Não era fraca, não gostava de demonstrar fraqueza alguma. As coisas nunca saiam bem quando ela deixava alguém ver o quão fraca era. Anthony era um exemplo. Agora ele parecia distante. Não quisera vir com ela à Hogsmeade. Tudo bem que naquela noite ele se transformaria e estava sentindo-se mal, mas ela poderia ajudá-lo. Contudo, ele não queria ajuda. A loira fitou o exterior do coche. Todo aquele branco a entediava. Resolveu voar. Isso seria mais divertido do que ficar presa naquele coche frio.      


:::  :::


Anthony estava cansado. Já começara a sentir os efeitos da transformação eminente. Odiava isso mais do que tudo. Não quisera ir à Hogsmeade, pois preferiu ficar no conforto do castelo e aproveitar o tempo vago explorando a escola. Nos dias que se seguiram à confissão de Lucy, ele resolveu manter-se distante e esperava que ela revelasse tudo à Granger, mas aparentemente aquela loira era cabeça dura demais para fazer isso, nunca ia seguir conselhos dele. “Desse jeito eu vou ter que contar tudo à Granger”. Outra coisa que não entendia era a súbita mudança de atitude da sonserina. Primeiro ela queria achar o pai e agora não o quer nem pintado de ouro. “Parece até que se trata de mim e meu próprio pai, embora eu o conheça, e Lucy não.”


Tony atravessou o corredor e viu uma porta entreaberta. Era a sala do novo professor de duelos, Peter Woodsen. Resolveu ver se o professor estava e deu algumas batidas na porta.


Prof. Woodsen, posso entrar? – ele perguntou já entrando na sala sem hesitar.


A sala era escura, não como a de Snape, pelo o que o garoto percebera. Enquanto uma se mostrava extremamente sombria, a outra era um ambiente calmo, mas mesmo assim, pouco convidativo. Havia gárgulas antigas, que provocaram um arrepio em sua espinha, esculturas de animais mágicos que o corvinal já havia visto em seus livros de magia estavam espalhadas na sala, oferecendo ao ambiente um efeito fantasmagórico. Aproximou-se da mesa antiga do professor e reparou em um álbum de fotografias em cima dela. Olhou brevemente para os lados certificando-se se realmente estava sozinho e como estava curioso, ele abriu e viu as fotos.


“A curiosidade ainda vai me matar... mas fazer o quê? A coceira no dedo não agüenta...” pensou irônico.


A primeira foto apresentava uma família. Um casal de bruxos e duas crianças rindo. A menina sorria de uma forma inocente como qualquer outra criança e o menino abraçava seu ursinho de pelúcia. A mulher era magra e sua face era encovada, mas tinha certa beleza e esplendor. Já o homem tinha um ar arrogante que não agradou Anthony, pois era algo que ele já testemunhara no próprio pai. Tony passou para outra foto e viu um casal de namorados abraçados. Outra foto. Outra. E outra. Na medida em que passava as fotos ele reconheceu uma pessoa, mas não fazia ideia do que ela estava fazendo ali. Era tudo sem nexo. Ele conhecia aquele olhar, aquele sorriso.


O que está fazendo aqui?


Uma voz atrás de si perguntara, mas para sua surpresa, ele não sentira temor algum ao ser descoberto xeretando algo da privacidade de outra pessoa. Antes de virar-se para o homem, Tony reparou em um frasco na mesa, pegou-o e abriu. O cheiro familiar invadiu suas narinas, a consistência também lhe era conhecida. Tony virou-se finalmente para o homem. 


-E então professor? Vai me dizer exatamente o que está acontecendo? Isto é, se você for o Sr.Woodsen, não mesmo?  


-Você não vai contar isso a ninguém. – o bruxo sacou a varinha, mas esquecera-se que o aluno já era experiente em duelos.


Tony simplesmente o desarmou.


-Posso te dar uma detenção por desarmar um professor.


-Claro que pode, mas não vai. Você ia apagar minha memória, mas não vai conseguir tão facilmente. E agora eu quero saber o que está pretendendo com toda essa armação, professor.


O homem sentiu-se encurralado, mas para todos os efeitos poderia cuidar dele depois, não poderia contar à ele o que estava fazendo em Hogwarts, muito menos sobre sua vida, mas o garota não deixava espaço algum para uma mentira ser inventada. Teria que optar pela chantagem, e isso sempre funcionava quando queria algo.


–Você não vai contar nada a ninguém, se não o seu segredo também vai se revelar e tenho certeza que o senhor sabe muito bem qual é o pior. – começou – Você não tem que contar nada, lembre-se que esse é o seu último ano em Hogwarts e que em breve você precisará de um emprego. Quem contrataria um lobisomem?


Anthony olhou o homem com ódio, estava tão obstinado em arrancar a verdade dele que nem imaginara o quanto manipulador o homem poderia ser. Mas não iria deixar ele vencer. Ainda iria descobrir tudo sobre o homem. Custasse o que fosse, mas por enquanto, não poderia desperdiçar sua liberdade, mostrando a sua verdadeira face para o mundo. Teria que ceder à chantagem. 


:::  :::


Novembro, 1974


Nevava fracamente no antigo povoado de Hogsmeade. Vários coches levavam os alunos para mais uma visita ao povoado. Uma garota loira sentia-se indiferente à imagem magicamente romântica. Algo a afligia, algo dentro dela estava diferente. Sentia isso e não sabia explicar como. Fatos estranhos aconteciam. Ataques repentinos a alunos. Pequenos acidentes inexplicáveis. E ela via tudo antes de acontecer. Voldemort estava em ascensão. Atacava trouxas inocentes sem remorso algum, repudiando traidores do sangue ou sangue-ruins. Pessoas como ela. Filha de trouxas. E ela temia pela vida dos pais.


A loira fitou o exterior do coche que a levava para o povoado. Aquilo a entediava. Ela queria fazer algo. Queria descobrir o porquê de todas aquelas coisas acontecerem. Quando deu por si, havia feito o coche parar, era incapaz de esperar respostas, as buscava imediatamente e era isso que faria agora. Desceu e fitou o cavalo alvo que estava puxando o coche. Ele tinha uma beleza natural, uma magnitude que surpreendia a menina, um porte que a encantava. Mas resolveu por ignorar o animal. Deixou-o sozinho e seguiu adiante. Caminhava devagar sentindo a neve gelar seu corpo. Aquele cenário contrastava mais ainda seu olhar azulado. Não se importou tanto com o frio e acabou por entrar mais ainda na floresta. Algo a dizia para seguir naquela direção. Não se importava se aquilo representava perigo ou não. Alguns minutos depois, ela ainda caminhava, a neve ofuscava sua visão, por vezes ela escorregou, mas levantou-se continuou a andar. Até que uma voz a encontrou. Fria como seus olhos azuis. Mais gélida do que aquela paisagem. Seu olhar impressionava a menina, mesmo sendo tão desprezível, aqueles olhos azulados eram os mais belos que ela já vira. Não era muito mais velha que ela. Ainda estava no sexto ano.  A loira virou-se para encarar a outra garota. Tão bela e cruel era, e isso, ao mesmo tempo. Sua beleza era indefinível, seus cabelos negros davam um ar mais maduro à garota.


–O que faz aqui, Moore? Não deveria estar em Hogsmeade? – a morena começou a dizer com seu tom debochado.


–Não é da sua conta. Faço o que quero – a menina disse insolente, como sempre fazia, pois assim era seu jeito de ser.


A garota há sua frente sorriu. Não um sorriso gentil, havia algo cruel em sua expressão. Algo que só cresceu com o tempo e que a transformou anos mais tarde em uma mulher amargurada.


–Sempre a mesma garotinha insolente e rebelde... – a mais velha disse arrogante – quem pensa que é? Acha que tem algum poder especial? Algo que vá protegê-la de mim? Você deveria ter ido à Hogsmeade. Estaria protegida lá.


A morena sacou sua varinha. Mas não lançou feitiço algum na menina. Ficou alisando a madeira lisa de um modo ameaçador, não atacando, nem dando sinal algum de que não iria.


–Sabe o que minha mãe disse, Moore? –perguntou casualmente. – Ela me contou que o Lorde das Trevas matou a guardiã da Pedra do Destino, sabe o que significa, não?


–Do que está falando, Black?   


–Estou falando que há um objeto que controla o passado, o presente e o futuro. Uma pedra poderosa, destrutível e ameaçadora. E a única que sabia controlar essa magia está morta. – havia prazer em sua voz, e isso fez a loira sentir repulsa. “Onde estaria o prazer na morte de alguém?”


–Ainda não entendo.


–Moore, você entende muito bem o que eu quis dizer. Antes eu não percebia, mas agora... eu tenho certeza. Eu observei você durante algum tempo. Você sempre sabe mais do que aparenta. E os últimos ataques... tenho certeza que você viu antes de acontecer.


–Isso é ridículo, Bellatrix. – disse surpresa. Não sabia como ela poderia ter consciência de suas visões. Não contara a ninguém. – Eu não...


–Não minta! Eu sei a verdade, Melanie. Você é a nova guardiã. E garanto que não irá sobreviver muito tempo depois que meu mestre descobrir.


–Seu mestre? Você irá se juntar a ele?


–Mas é claro! – sua voz pareceu muito mais feliz ao dizer aquilo e seus olhos brilharam, numa óbvia adoração – E você irá morrer.


A morena levantou a varinha, a loira não precisava de um pressentimento para adivinhar o que iria acontecer. O feitiço a atingiu, fazendo-a cair na neve. Não teve tempo para pensar, pois outro feitiço a suspendeu no ar.


–Black! Pare...


–Não... – respondeu com crueldade, parecendo a mulher que se tornara mais tarde.


No outro instante ela fora jogada novamente no chão, sentia dor, muita dor. Não conseguia pensar direito. Doía até respirar, mas alguma força brotou no íntimo de seu ser. Ela pegou sua varinha e acertou Bellatrix. Levantou-se e viu a morena caída no chão, seus cabelos incrivelmente negros estavam caídos em suas costas e rosto. Melanie concentrou mais poder ainda em sua magia, acertando a garota. O gelo sobre seus pés se elevou, formando um círculo sobre seu corpo. Ela não sabia o que estava fazendo, muito menos conseguia controlar aquela magia desconhecida. Não falava mais por si. Não agia mais por conta própria. Era uma boneca de seu próprio poder. Um fantoche sem controle.


Bella recuou, pela primeira vez na vida estava assustada, mas aquilo comprovava mais ainda suas suspeitas. Melanie Moore era a guardiã. E era poderosa.


Percebeu que Melanie lançou uma estava de gelo nela, Black fez um feitiço e por pouco não foi atingida. Olhou para os olhos da garota. Estavam desfocados. Seu poder era tanto que Bellatrix temia aquela menina mais do que tudo naquele momento.


–Moore, pare... – dissera em vão.


Melanie levantou as mãos e executou um feitiço. Bella tombou, caindo no chão. Agora a morena era quem sentia dor. E raiva. O ódio brotava de seu coração, embrenhando-se nela como espinhos. Melanie pagaria por aquilo.


A garota estava descontrolada, no entanto sentia a magia em seu corpo e ouviu alguém pisar em um galho à suas costas. Ela virou-se e viu maravilhosos olhos castanhos a fitando.


–O que faz aqui, Steiner? – sua voz perigosamente doce ecoou pelo ambiente frio.


–Vim te proteger. – o garoto dissera calmo – Vim fazer você voltar ao normal.


Ele deu um passo para frente e a loira recuou, como se fosse uma medida de proteção. Mas a presença dele a trazia à tona. Ela não deveria aceitar que ele a enganasse, não o conhecia, não sabia se ele era confiável ou não. E, principalmente não sabia se era um truque dele. No entanto, aqueles olhos faziam tudo parecer melhor. Charles Steiner era bom. E a acalmava. Deixou-o aproximar-se e no momento em que ele chegou perto dela, foi como se toda a magia se rompesse. Melanie desmaiou. E Bella acompanhou tudo com o olhar. “Não era possível ele ter a acalmado tão rápido”


Charles pegou Melanie no colo e virou-se para Bella, ele parecia assustador, seus olhos amendoados faiscavam de raiva, no entanto tudo contrastava mais ainda em sua beleza. Seus cabelos loiros estavam desarrumados em razão do vento e davam um ar rebelde à ele. Era uma beleza que atraía Bella, mas ela nunca deixou isso transparecer em seu rosto, nem deixaria.   


–Nunca mais faça isso, Bella, caso contrário, não irei mais interferir. Ela ter poder suficiente para matá-la, se quisesse.


Charles, então, foi embora, levando Melanie junto com ele.


:::  :::


Tempo presente


Hermione estava saindo do dedosdemel com Draco em seu encalço. A loja estava lotada de crianças mais novas querendo doces e ela não tinha a menor paciência para ficar naquele ambiente. Preferiu o frio à loja incrivelmente cheia. Caminhou um pouco e parou depois de algum tempo. Ela estava inquieta demais. Sentiu que deveria estar em outro lugar, mas não fazia ideia de onde. Pensou e não chegou à conclusão alguma do porquê daquela sensação estranha. 


Por um momento esquecera-se que Draco estava atrás dela e assustou-se quando ele a abraçou por trás, colando a sua face fria na dela. A mão dele estava em sua cintura e Hermione deixou-se levar por lembranças antigas. Com surpresa, percebeu que o local onde estavam era onde Harry havia jogado bolas de neve em Draco, três anos antes. Parecia a ela que eles tinham muitas lembranças, muitos momentos, mesmo que não fossem tão bons a princípio. Draco estava se revelando ser muito diferente do que sempre fora, e a garota tinha medo de que ele voltasse a ser como era antes.


No outro segundo Draco a soltou, ela já ia protestar quando sentiu algo úmido e gelado bater em seu corpo. Draco estava parado atrás dela com bolas de neve e um sorriso zombeteiro estava em seus lábios. Quando percebeu os dois estavam travando uma batalha de gelo, um acertava no outro. Eles riam, esqueciam o mundo e corriam, tentando escapar dos ataques gelados, Hermione caiu na neve. Estava rindo ainda quando Draco aproximou-se dela estendendo sua mão para ajudá-la. Quando aceitou a ajuda dele, Hermione puxou-o em direção ao chão. Draco caiu ao lado dela. Num segundo estavam rindo de novo. Draco olhou para Hermione, os olhos amendoados dela estavam radiantes, naquele momento ele não via tristeza alguma nela, só uma felicidade genuína.


–O que está olhando? – ela perguntou divertida.


–Uma garota muito linda, mas não conta nada para a minha namorada, ‘tá?


–Depende, você gosta da sua namorada?


–Eu amo a minha namorada.


“Oh! Merlin! Eu não resisto a essa voz linda.” Hermione pensara ao ver Draco se inclinar para ela e beijá-la como sempre fazia, levando-a ao delírio. O loiro sugava seus lábios com desejo e ela adorava quando ele fazia isso, principalmente quando mordiscava seu lábio inferior. “Como eu amo esse loiro”. Eles nem ao menos sentiam o frio penetrar seus corpos, a mão dela puxava-o mais ainda de encontro a si, mas Hermione voltou a si.


–Draco, não seria... bom se... nos vissem assim... – sussurrou entre beijos.


–Esqueça os outros – ele respondeu sem dar atenção a ela, puxando-a pela cintura.


“Merlin! Como eu o faço parar? Como eu faça para me parar?”


–Draco... é sério... – disse perdendo o fôlego e temendo que perdesse o bom censo.


Draco mordeu seu lábio, para em seguida parar de beijá-la. Sorriu então, e aquele sorriso quase a fez a suspirar. Não seria uma boa cena se alguém os visse naquele momento. Draco a ajudou a levantar-se.


–Sabe que todos ainda estão loucos para te ouvir cantar de novo? – ele lembrou.


–Vão ficar esperando, aquilo foi só naquela noite. Não vai se repetir. – Hermione estava quase se afastando quando Draco a puxou, colando novamente seu corpo ao dela.


–E se eu pedisse hein? Você cantaria para mim?


“Como recusar algo sob aquele olhar cinzento? Como dizer não quando se está tão perto dele? Eu vou enlouquecer Merlin!”


–Eu já cantei para você, Malfoy.


Hermione desvencilhou-se e Draco riu, aquela garota era única. Mas algo o estava incomodando. Algo na expressão dela estava diferente. A castanha estava inquieta demais naquele dia.


–O que te preocupa tanto, Hermione? Você não consegue ficar parada nem um minuto... – O loiro perguntou vendo-a parar de andar e olhá-lo atentamente.


–Não tenho nada, Draco... – ela começou a dizer e respirou vencida sob o olhar dele – Eu só não consigo fingir que aquelas mortes não aconteceram. Voldemort deve ser destruído o quanto antes. E eu quero estar presente quando ele for destruído.


–Sabia que tinha a ver com isso. – ele debochou virando de costas para ela – será que dá pra você se preocupar mais com a sua segurança do que com trouxas que você nem sequer conhece?


Hermione ficou estática. Não conseguia acreditar que Draco não dava a menor importância para aquela situação.


–Quer saber, Draco? Não se preocupe comigo. – disse simplesmente e deixou-o para trás, resolvendo por andar sozinha.


O loiro até tentou protestar, mas a castanha não deixou. Todo aquele momento se fora, os risos, os beijos. Era incrível o modo como ele estragava tudo. Ela foi até um lugar que já conhecia, mas acabou por perceber que já estava ocupado. Harry estava ali. Sentado na mesma pedra onde estivera no terceiro ano. O mesmo lugar onde Hermione vira-o chorar pela primeira vez. Mas de certa forma, ela sabia que o moreno não estava chorando naquele momento, ele parecia com raiva.


–Harry? – chamou-o – o que faz aqui?


O garoto a ignorou, remoendo mais ainda sua fúria, não queria responder, nem estar na companhia de ninguém.  Hermione aproximou-se mais e abaixou-se na frente dele. Podendo olhar seus olhos esverdeados. Por um momento, pensou que eles nunca lhe pareceram tão belos, e com aquele ambiente frio, eram mais maravilhosos ainda. Mas Harry não a encarou.


–Vá embora, Hermione – disse com a voz controlada.


A castanha não entendia o motivo da raiva dele, mas tampouco iria deixá-lo à mercê de sua fúria rebelde.


–O que está havendo?


O moreno pousou seus olhos nela a contragosto. Seu maxilar contraiu-se, ele respirou profundamente, tentando ao máximo controlar sua voz, no entanto ela saíra o mais irritada possível.


–Eu can-sei, Hermione. Cansei da profecia. Cansei de Voldemort. Cansei de ser o-menino-que-sobreviveu. Simplesmente can-sei! – disse – Sabe o que a Gina me contou?


A castanha balançou a cabeça negativamente.


–Ela disse que acha que lançaram o Imperius nela. Ela não se lembra de onde estava quando Colin Creevey foi atacado. Eu não agüento mais correr tantos riscos e ainda colocar a Gina em perigo.


–Mas, Harry, não é culpa sua. Você não pode se responsabilizar pelos erros dos outros. Mas acho que só você pode acabar com essas ameaças. E eu quero te ajudar.  


–Você não entende, Hermione? Eu nunca desejei essa profecia maldita! E não queria lutar... eu queria ser apenas eu... Eu queria meus pais... Um não poderá viver enquanto o outro sobreviver. É assim que termina! Eu ou Voldemort. Apenas um de nós deve viver.


Hermione irritou-se, não queria discutir, mas o moreno insistia em se culpar. Como sempre fizera. A garota afastou-se, estava cansada de fazê-lo entender de quem realmente era a culpa.


–Me deixe Hermione, volte para seu amorzinho Malfoy. Você não entende essa guerra e eu não preciso de você.


O desprezo na voz de Harry a fez parar, nunca imaginara que ele podia dizer aquilo. Eu não preciso de você. As palavras a atingiam de uma forma dolorosa, fazendo-a sentir-se tonta e sem forças. Seu melhor amigo a renegava. Sem saber o que fazer, Hermione foi para longe dele. Não sabia se estava correndo ou simplesmente caminhando, tudo era muito confuso. Lembranças começavam a entrar em conflito em sua mente. Ela sentia uma descarga repentina de poder, sua magia oscilava. Um pressentimento a envolvia. Sabia que logo encontraria respostas para suas confusas visões. Num instante vira novamente aquelas cenas passadas. O sonho com o lobisomem. A morte de Melanie Moore. A mensagem de sangue. A fantasma misteriosa. O casal do baile de máscaras. Eram lembranças passadas que se mesclavam a visões futuras. De repente teve consciência de que vira algo quando beijara Draco certa vez. O beijo parecia ter intensificado a visão, mas agora, tanto tempo depois, ela já não se lembrava do que vira.


A neve penetrava a camada de agasalhos que vestia e o frio a atingia, sereno e incômodo. Mas tudo o que importava agora a ela, era seguir aquele caminho que a chamava.


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O pássaro branco misturava-se na paisagem também alva. Em razão do frio o animal não agüentava voar por muito tempo, mas aquele não era um pássaro normal. Era gracioso em sua beleza, magnífico em sua forma, mas mais do que tudo, era humano. Por um momento vira alguém andando na floresta abaixo de si. Sabia perfeitamente quem era e resolveu que aquela era a hora da verdade. A ave pousou com elegância na neve fria, mas segundos depois, o animal já não existia, em seu lugar estava ma jovem de longos cachos loiros caindo-lhe nas costas. Lucy começou a andar na direção que vira Hermione. Agora o segredo iria revelar-se, e Lucy seria quem desencadearia todos os problemas. Ela seria a responsável pelo fim da felicidade da guardiã da Pedra do Destino


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Hermione embrenhou-se na paisagem bela e terrivelmente fria, sentia o cansaço corroendo suas forças. Seu joelho cedeu e ela caiu na neve. “Draco não me ama” pensou com esforço e medo de que fosse verdade. “Harry não é meu amigo” tantos riscos corridos, tantos perigos vencidos juntos e agora de nada valia a amizade de Harry Potter. “Eu não significo nada para eles”. Insignificante era seu o poder. Sua inteligência era limitada demais.


–Você tem razão, Granger. – uma voz doce dissera – Você não vale nada.


A castanha olhara para frente e vira Lucy. A loira nunca lhe pareceu tão séria e surpreendeu-se pelas palavras dela a machucarem de uma fora desconhecida. Hermione nunca sentira seu peito arfar de ressentimento como naquele momento.


–Por que você acha que o Potter te odeia? Não percebe que foi você que o renegou primeiro? – Hermione não a entendia, tudo parecia distante demais para ser compreendido. Quando que ela deixara Harry? – Ele a amava, e você o beijou, mesmo sabendo que não teriam chance. Você o machucou primeiro, Hermione.


Eu não quero te perder


Nem eu.


Lentamente suas faces foram se aproximando para provar o que sentiam, o moreno a puxou para mais perto ainda e aproximou seus corpos enquanto roçava seus lábios nos dela. Aprofundou o beijo na medida em que a garota retribuía o mesmo amor. Ele ansiava esse toque há meses e agora a tinha em seus braços. Mas ele temia que ela lhe fosse tirada. Pensou se não seria melhor que ele se afastasse de todos, pelo menos assim estariam protegidos, mas ele simplesmente não conseguia parar de amá-la e de desejá-la.


Ela sentiu-se feliz pela iniciativa dele, queria mais do que tudo esse momento, mas sentia-se estranha, como se uma parte dela houvesse sumido, como se faltasse alguma coisa, sentiu um aperto no coração, como se estivesse traindo alguém, era uma sensação de culpa, ou pior, uma dupla culpa, mas ela não sabia o motivo e a cada investida do moreno, piorava a situação e ela só pode se afastar dele devagar.


Harry, me desculpa, mas eu não posso...


–Eu não o machuquei. – sussurrou.


–Você fez pior, Granger, logo depois de dispensá-lo, você escolheu o Draco, mesmo sabendo que seu melhor amigo o odiava.


Hermione sentiu uma pontada de dor, tinha a impressão que sofria algum choque, seu coração batia descompassado.  Por um momento vira os olhos cinzentos de Draco. Ele estava em Hogwarts. O quarto era desconhecido, havia uma mobília antiga e com aspecto sonserino. Seus dedos percorriam as casas de seu violão, prendendo as cordas com seus dedos pálidos e finos, formando acordes. Era uma bela melodia.


Those who came before


(Aqueles que vieram antes)


Left pictures frozen still, in time


(Deixaram fotos congeladas no tempo)


You say you want it all


(Você diz que quer tudo)


But whose side you fighting for?


(Mas de que lado você está lutando?)


I sit and wonder why


(Eu sento e imagino por que)


There are nights, we sleep, while others they weep


(Tem noites em que dormimos, enquanto em outras eles choram)


With regret, repent, be strong


(Com pena, arrependimento, seja forte)


 


A melodia pareceu ter sido levada para longe, assim como a visão de Draco. Agora ela via o rosto pálido de Lucy.


–Sabe que eu nunca acreditei que você e o Malfoy fossem dar certo? E você reforça mais ainda esse meu pensamento a cada minuto.


–O que pensa que está fazendo, Moore? Por que está fazendo isso comigo?


Hermione encolheu-se no chão. O frio gelava seu corpo, ela não estava sentindo mais seus dedos. Sua cabeça doía profundamente. “O que está havendo comigo?” Sentiu seu coração bater mais forte. Seu corpo tremia, suas mãos pareciam não responder mais ao seu comando.  


–Eu? Estou apenas provando minha teoria, Granger. Sente alguma dor? Algo diferente?


Começou a nevar. Flocos esbranquiçados faziam a visão da paisagem ficar prejudicada. Tudo era branco demais. Lucy aproximou-se da garota. Percebia que ela estava ficando com a pele azulada. Tocou sua testa, sua pele parecia mármore. “Ela é poderosa. Espero que agüente todo esse poder.” Concentrou-se, ligando sua mente à dela.


–Ele nunca te amou...


–Draco me ama.


–Como você pode saber que ele não só quer se aproveitar de você?


–ELE NÃO FARIA ISSO!


Hermione gritou e Lucy contorceu-se de dor, as mentes ligadas pensavam a mesma coisa, viam a mesma imagem. A marca negra destacava-se em um braço pálido. Um lobo uivava para a lua. Uma jóia negra estava adornada no pescoço de uma jovem garota de cachos castanhos.


–Concentre-se Hermione, você sabe perfeitamente que consegue dominar sua própria magia.


–É poder demais. Eu sinto frio...


Você chora porque não sabe o que fazer... – ela disse ainda fitando o chão frio do corredor.


Você fala como se nunca tivesse feito isso, vivia chorando, por simples palavras minhas. – isso abriu a antiga ferida dela, deixou-a desconcertada e mais frágil.


Não está vendo? Você me ensinou a ser o que sou hoje. Você. Eu não escolhi isso, só aceitei. – ela levando a cabeça indiferente e retomou a expressão que adotara naqueles tempos.


Sua própria voz ecoava em sua mente, ela ouvia perfeitamente e lembrava-se agora que sonhara com isso. Ela estava discutindo com Draco. Eles realmente não tinham um futuro juntos.


Pare com isso, você ainda pode se salvar... – ele se aproximou dela cauteloso e olhou calmamente a máscara que ela usava sem conseguir decifrar.


Você diz como se estivesse condenado a um futuro cruel. – a voz dela saíra insegura pela primeira vez naquele momento.


E se estiver? – ele perguntou seco, mas afetado.


A voz de Hermione tornou-se esganiçada. Seus olhos ficaram desfocados enquanto as palavras vinham à sua boca sem dificuldade alguma.


Chegará um tempo que tudo parecerá perdido. Guerras e desespero. Desconfiança e traições. Mas a guardiã do amuleto predestinado terá que usar seu poder contra o inimigo mais perigoso. Poder e perigo serão seu destino. Amor e ódio será sua sina. No entanto surgirá um enviado que trará a luz e irá decidir a guerra. Luz e trevas. Bem e mal. No fim nenhum irá ceder, mas alguém terá que renascer.


As palavras saiam de seus lábios sem permissão, ela estava em um estado hipnótico. Lucy não conseguia sair da mente dela, muito menos ir mais além em suas lembranças. Era Hermione quem estava controlando a ligação.


Salve-se. – foi a única palavra que ela foi capaz de dizer e abaixou a cabeça novamente derrotada.


Não finja que alguém pode chegar e me salvar de mim mesmo – ele rebateu indiferente.


Então me diga, o que você fará quando sair de Hogwarts?


Não é da sua conta.


Um comensal? – ela insistiu forçando o contato visual com ele.


Não fale do que não sabe.


Você nem ao menos nega...


–Hermione. Controle sua magia... não a deixe te consumir. – Lucy dissera sem forças, sentindo o frio consumi-la e sua respiração ficar entrecortada.


–Eu não agüento...


Suas mãos tremiam, ela não saberia dizer se era por causa do frio ou pela descarga repentina de magia. Lágrimas de dor saiam de seus olhos amendoados. Tudo o que ela queria era parar de ver aquelas imagens dolorosas. Draco era um comensal. Harry estava morto. Voldemort estava no poder. Destruição. Caos. Dor.


No outro instante, as mentes das duas garotas se desconectaram e cada uma foi lançada para um lado. Lucy e Hermione não viram mais nada.


:::  :::


A enfermaria estava escura e fria. Seu corpo doía mais ainda. Era insuportável. Ela gritou, sentindo uma dor aguda em sua garganta também. Tentou chamar alguém, mas ninguém a ouvia. Tentou mover-se, mas seu corpo não respondia sua mente. Ouviu sons. Uma voz arrastada.


–Ela está bem?


Draco. Draco estava ali, mas ela não conseguia gesticular nada. Ele estava lá por ela? Hermione tentou dizer algo, mas percebeu que estava em algum lugar úmido. Era água morna. Seu corpo formigava. Seus batimentos ainda estavam fracos. Tudo doía. Alguém colocou água quente na banheira. Ela não queria sentir aquela dor.


Alguém lhe dera uma bebida quente e o líquido desceu sua garganta com dificuldade. Hermione ainda tremia de frio. Seu corpo latejava. Era como se estivesse sendo queimada viva. E depois só o que viu foi a escuridão.


Lucy abriu os olhos e viu Draco sentado ao lado da cama de Hermione. Seu corpo aparentava cansaço, mas ela conseguiu sentar-se. Fitava divertida Draco olhar Hermione, como se ainda temesse que ela fosse morrer. Com certeza Draco a amava. E ela sempre soube. Fora difícil dizer aquelas coisas à Hermione, mas precisava para despertar a magia reprimida dela.


–Como vai o namorado modelo? – disse sorrindo e Draco a olhou.


–O que diabos vocês duas estavam fazendo lá? – ele perguntou levantando-se e indo na direção da loira.


“Ok, eu não devia ter chamado a atenção dele. Por que eu não fingi que estava dormindo? Burra! Burra!” Lucy pensou com raiva de si mesma. Seu cérebro começou a trabalhar rápido para encontrar uma mentira.


–Draco, a Hermione estava nervosa quando eu a encontrei, havia alguma coisa errado com ela – Lucy começou – Então começou a nevar e íamos para algum lugar quente quando algo nos atacou. Eu não vi o que era, nem pude me defender. Eu só lembro-me de ter desmaiado.


Lucy rezava internamente para que Draco aceitasse a mentira, no entanto mentir não era novidade para a loira. Tudo o que saía de sua boca parecia ser verdade.


–Aquela cabeça dura... é só falar uma coisinha que já estressa. – Draco resmungou – eu não sei o que fazer, Lucy. Ela quer a verdade sobre mim. E eu não posso arriscar a vida dela.


–Você sabia que seria assim quando começou a namorá-la.


–Muito obrigado, Srta. Gênio. Eu tinha esquecido... sabe que eu lembrei de outra coisa... VOCÊ INSISTIU PARA EU NAMORÁ-LA!


–Pularia de uma ponta se eu pedisse também?


Draco respirou derrotado, discutir com a menina era perca de tempo. Por outro lado, estava com muita raiva para conseguir parar. No fim, deixou-se levar por um sentimento estranho de cansaço.


–Quem nos achou? – Lucy perguntou


–Eu.


Draco lembrou-se vagamente das horas anteriores. Hermione desaparecera, mas ele sabia que não voltara para Hogwarts. A nevasca aumentava e nada dela, mas por um segundo vira alguém caído na neve. Seus cachos castanhos desmanchavam-se, aderindo-se ao rosto. Sua face estava gélida e azulada. Os batimentos eram fracos demais. E no mesmo estado encontrou Lucy a alguns metros de distância.


–Eu trouxe vocês duas para cá... foi difícil, mas consegui. – dissera distante. – Eu preciso te dizer uma coisa...    


–O que?


–Não posso mais mentir para ela. Lucy, você sempre soube que eu tinha uma missão. E também sabe que eu não quero que Hermione veja quem eu realmente sou.


–Mas ela já viu. Você não é um comensal, Draco. Esse é quem você pensava que era.


–Não. Esse é quem eu sou. O Draco bom eu criei para ela. Mas todo esse tempo, eu tenho fingido ser alguém que eu nunca fui.


O loiro baixou os olhos para o chão. Não era difícil dizer tudo à Lucy. A sonserina era uma amiga. Sua única amiga. Não revelaria seus segredos a ninguém. Ou pelo menos, era o que ele pensava.


–Draco, e se eu dissesse que seu maior erro é abandoná-la? E se eu dissesse que você não é nada sem ela? Hermione é seu presente e seu futuro.


Ele quis acreditar naquilo, mas sabia que seria apenas mais uma ilusão. Em breve ele teria que abrir mão de tudo, e entre essas coisas, estava o amor da grifinória. O amor era prejudicial à missão. Draco Malfoy não deveria amar.


:::  :::


Desespero. Ela sentia arrepios na espinha. Abriu os olhos. Estava em uma espécie de estrada. Havia uma placa na beira do caminho.


Bem-vindo à Roquefort


Não reconhecia o endereço. Mas parecia familiar. Foi então que se lembrou. Roquefort ficava no sudoeste da França. Visitara o local em sua infância. Junto com seus pais. A cena dissolveu-se e um castelo se solidificou. O mesmo castelo de seus sonhos. O lar da fantasma misteriosa.


Ela piscou por um segundo e quando abriu os olhos, a visão fora-se, percebeu que alguém estava com a cabeça apoiada em sua cama. Uma mão quente tocava a dela. Desta vez conseguiu mover sua mão. No mesmo instante a cabeça levantou e olhos incrivelmente cinzentos a fitaram.


–O que aconteceu? Por que você e a Lucy estavam desacordadas naquela floresta?


Havia desaprovação na voz dele. Draco estava irritado. E ela não tinha forças para brigar com ele.


–Droga, Hermione! Eu sempre te digo para se cuidar e ficar em segurança e o que você faz? Vai pro meio do nada! Tem consciência que quase morreu? Você ficou com Hipotermia.


A voz dele soava distante. Virou a cabeça e percebeu que Lucy estava dormindo na cama do lado. Lembrou-se de suas visões e, principalmente, da profecia que falara inconscientemente. Guerras e desespero. Desconfiança e traições. Aquilo se repetia continuadamente em sua mente. Sentia ódio de Lucy, um ódio tão forte quanto podia sentir. A loira pagaria por ter a feito sentir dor.


–Draco... eu sinto muito. – era difícil falar.


–Eu também, Hermione. – Draco dissera e esse afastou da cama, ficando de costas para ela.


Por dentro ele queria acariciá-la, abraçá-la para certificar-se de que ela era real e estava bem. Seu intimo clamava por tocá-la, mas o sonserino não iria permitir que seu desejo falasse mais alto que sua mente. “E se eu fosse frio, quando o que ela mais precisasse fosse carinho?” pensou por um instante. Mas a voz dela, fraca e vulnerável, o atingia, quebrando sua precaução e a necessidade de afastar-se.


–Não, Draco... não fique bravo comigo. Eu não disse aquilo por querer, eu não queria magoá-lo...


Será que ela não entendia que só havia uma forma de atingi-lo? Não era possível que ela julgasse que era só por aquilo que ele sentia ódio. Somente o fato de que ela poderia estar morta fazia com que ele se rebelasse.


–Será que você não é inteligente o bastante para ver que eu não ‘to nem aí para o que você me disse? Por Merlin, Hermione! Eu nunca agüentaria te perder! Será que tudo o que já nos aconteceu não é suficiente para provar isso?


–Apenas me abrace, Draco, me diga que tudo vai ficar bem. – ela pediu já sentindo-se à beira do sono.


Draco fitou-a por mais algum tempo. O modo como ela falava. A forma como o olhava. Tudo desmanchava seu comportamento duro e ridículo. Que problema haveria em ficar com ela só mais aquela noite?


O loiro deitou-se ao lado dela, abraçando-a e inalando o cheiro dos cabelos rebeldes dela. Beijou a testa dela e percebeu que Hermione estava mais calma. Seu corpo relaxou. Era provável que ela dormisse em seus braços. Mais uma vez.


–Lembra de quando eu lancei um feitiço da verdade em você? – ela perguntou sorrindo e Draco não pode fingir que também riu.


–Lembro. No fim você não fez o antídoto.


–Você me ameaçou. Era óbvio que eu não faria. – ela resmungou com uma falsa cara de vítima.


–No fim o feitiço cessou, durava só dois meses... – Draco disse lembrando-se.


–Mas nesse meio tempo, você mentia.


–Quer a verdade ou a mentira? – ele perguntou irônico.


Hermione apoiou a cabeça no peito dele. Era tão bom estar perto de Draco, no entanto, ele ainda parecia distante.


–Você vai estar aqui quando eu acordar? – perguntou abraçando-o com força e medo de deixá-lo.


–Vou. – ele respondeu sem convicção.


–Promete?


Ele não deviria prometer em falso. Mas não seria a primeira, nem última vez que faria isso com ela. Draco prometeu.


:::  :::


Anthony estava andando pelos corredores de Hogwarts. Não havia dormido nada naquela noite e, portanto, estava tão cansado que poderia cair no chão e dormir por quase uma eternidade. Mas ele não deixaria o sono vencê-lo. Não ainda. Dirigia-se para a enfermaria, há poucos instantes ouvira alguns quartanistas comentarem sobre duas garotas encontradas com hipotermia. Duas garotas que ele conhecia. Apesar do dia frio, ele só vestia a capa do uniforme por cima da camiseta fina. Sinceramente, o frio não o incomodava.


Cruzou um corredor e avistou a porta da ala hospitalar, abrindo-a e entrando em seguida. Vira Lucy acordada e não conteve um meio sorriso. Aquela loira podia aprontar tudo o que fosse, mas sempre saía ilesa. Com o barulho da porta abrindo, Lucy olhou-o e resmungou.


–Uau! Isso que é estar feliz em me ver. Com tanto amor assim eu fico sufocado – Tony disse divertido.


–Por favor, Wolhein, nem aqui você me dá sossego?


–O que posso fazer, querida? Você me deixa louco – ele disse sarcástico ao aproximando-se perigosamente dela e vendo-a sorrir.


–Sério? – ela perguntou ingênua – E se eu fizer isso? – Lucy apontou sua varinha para o pescoço dele. – Você fica louco assim também?


–Muito, você não faz ideia – ele dissera sem alterar seu tom sarcástico e cafajeste.


Se fosse outra garota, já teria agarrado ele ali naquele momento. Mas Lucy não faria isso. Ela gostava de jogar aqueles joguinhos com Anthony. Era divertido o jeito dele. O modo como ele agia e falava, mas principalmente, o modo como a fazia sorrir.


–Você se acha muito sabia?


–Sério? Nunca havia notado. – Tony disse e algo brotou na mente da menina.


Era uma lembrança que ela nem sabia se tinha, mas, além disso, era algo que ela queria lembrar a muito tempo. Um mês já havia transcorrido, mas por algum motivo, somente aquele comentário do garoto despertou sua memória.


 


Não estou bêbada.


Não, e óbvio que não está.


Você é lindo, sabia? – ela dissera quase tombando e caindo no chão, mas ele a segurou.


O engraçado é que você nunca vai repetir isso para mim. – ele dissera divertido – mas posso me contentar com seu ódio diário por mim. É melhor do que não existir para você.


Seus olhos... são negros. Os meus são castanhos, sabia? – Lucy disse mal registrando suas palavras.


Sério? Nunca havia notado.


São iguais aos dela... é por isso que você me odeia? – ela perguntou olhando-o tão hipnotizada e o deixou sem fala.


Como sabe tantas coisas sobre mim? – Anthony ousou perguntar.


Seus olhos me dizem o que quero saber. – Lucy disse e beijara de leve os lábios de Anthony, um beijo repentino e não planejado, que pegara Anthony de surpresa e fez ele sentir o hálito de firewiskey dela, o que o fez pensar que Lucy não faria nada daquilo se estivesse sóbria. 


Lucy, é melhor eu te levar agora – Tony disse se afastando dos lábios dela com esforço e a apoiando para ajudá-la a andar. – o problema é: Como te levar até seu salão comunal com você desse jeito?         




–O que foi? Qual é a da cara esquisita? – Anthony perguntou confuso ao ver a expressão desorientada de Lucy.


A garota levantou-se da cama, dirigindo-se até uma das janelas. O ar parecia ter sido sugado para outra dimensão. Era difícil encontrar alguma conexão para o que aconteceu naquela festa maluca. “Com certeza eu bebi demais.” Lucy pensou olhando para a janela, mas mal registrando o fato que a neve caía do lado de fora.


–O que aconteceu? – Tony perguntou dirigindo-se a ela.


–NÃO SE APROXIME DE MIM! – ela disse virando-se e vendo Tony parar de andar na mesma hora.


–Mas...


–VOCÊ É UM APROVEITADORZINHO IDIOTA! – ela gritou – ACHOU QUE EU NÃO LEMBRARIA?


De repente tudo fez sentido para ele. Não conseguiu conter uma risada. Aquela garota realmente era imprevisível. No entanto ela sentiu-se mais ofendida ainda ao ver a reação dele. Tentou aproximar-se novamente, mas ela recuou. Aquilo, decididamente, estava ficando divertido.


–Lucy, não fui eu que te beijei. Foi você que me agarrou.


–Mentira! Eu estava bêbada! Faria qualquer coisa que me dissessem. Você é o culpado.


O corvinal balançou a cabeça, era difícil tentar convencê-la do contrário. Ela nunca aceitaria o ocorrido. O cansaço o consumia por dentro. Ele ainda sentia dores em razão da transformação da noite anterior. O melhor era deixar tudo quieto por enquanto, virou-se para ir embora quando viu Hermione acordar. Só agora lhe ocorrera que os gritos de Lucy pudessem tê-la acordado.


Hermione estava com o olhar indefinido. Draco não estava ali. E ela sabia, no fundo, que ele não estaria. Acordou e viu Lucy perto da janela, enquanto Anthony permanecia a alguns metros de distância. Levantou-se. Deu um passo. O cansaço havia sumido, mas aquela sensação estranha não. Outro passo. A magia do dia anterior ainda estava nela, desta vez fraca e controlada. Hermione nunca havia sentido-a antes. Mais um passo. O caminho parecia inacabável, mas ela parou na frente de Lucy.


A loira a fitou confusa, nunca vira aquela expressão indecifrável e os pensamentos dela não revelava nada. Tudo o que via era indiferença.


–Hermione, eu...


PLAFT   


O rosto de Lucy estava ardendo, ela mantinha a mão na região acertada. O tapa fora rápido e inesperado, mas internamente, ela sabia que merecia. Para começo de história não deveria ter mentido. E depois, não deveria ter jogado aquelas coisas na cara da grifinória.


–Nunca mais se intrometa na minha vida. – a castanha disse entre dentes – e nunca mais faça aquilo comigo, nunca mais ataque minha mente.


–Eu não te ataquei – Lucy disse com a face ruborizada – Eu apenas liguei nossas mentes. Eu queria ver o que você estava vendo.


–Por quê? – Hermione perguntou de modo frio.


Lucy não conseguia olhá-la nos olhos, muito menos erguer a cabeça e ver o rosto de Anthony. Sentia-se agora desprotegida. Era como se fosse uma criança pega de surpresa em alguma arte.


Lucy explicou então, que desde o início sabia que a grifinória apresentava oscilações de humor e poder e que sabia o motivo, no entanto precisa despertar esse poder. Tudo o que fez era por que queria saber até que ponto Hermione conseguia controlar-se.


–Há uma razão para suas visões – disse por fim sentindo um bolo formar-se em sua garganta – Você é guardiã da pedra do destino.


Descrença a atingiu. Era óbvio que entendera tudo errado. Olhou de esguelha para Anthony, ele olhava o chão e fez ela ter consciência que ele sabia disso há algum tempo. Mas por que ela não sabia? Ela era quem deveria saber se herdou algum poder ou não. E então, entendeu. Estava procurando a guardiã de modo tão obstinado que nem percebia que ela era a protetora da pedra.


–Isso não pode ser possível...


No meio de seu desespero era lembrou-se novamente dos sonhos estranhos, das visões confusas, das premunições inconvenientes. Medo a atingiu quando um fato veio à sua mente. “Draco está procurando a pedra que eu supostamente deveria proteger”. Olhou para a sonserina em desespero.


–Ele está atrás da pedra sim. – ela confirmou sem ao menos disfarçar que lera a mente dela.


Agora Lucy a olhava sustentando os olhos. Precisava ajudar a castanha. Quem pelo o que via, aparentava estar atordoada demais para pensar em algo construtivo, mas pelo contrário, o cérebro de Hermione trabalhava furiosamente, não deixando nenhum detalhe passar despercebido.


–Essa pedra... ela permite ver fatos passados, cenas que estão acontecendo no presente e...


–...Coisas futuras. Certo. Mas mais do que isso, ela permite modificar o que vai acontecer.


–Não há como modificar algo que nunca aconteceu – Hermione disse cética e sentou-se na cama. – Não há por que Voldemort querer a pedra.


–Há sim. Você tem que pensar mais além. O futuro é predeterminado. Mas há formas de mudá-lo. Voldemort quer uma garantia que ganhará essa guerra. Ele quer o Potter morto, e com a pedra terá a certeza que conseguirá isso.


–Não! As coisas não funcionam assim.


Hermione já estava cansada. Pela a sua linha de raciocínio um fato não ocorrido não tinha como ser modificado. Era lógica. Pura lógica, mas Lucy parecia discordar totalmente dela. Isso a estressava.


–Hermione, você já teve provas o suficiente que acontece assim sim! Você viu o Colin e viu o lob... – Lucy parou de falar na mesma hora olhando de esguelha para Tony.


–Ela viu o quê? – Ele perguntou sentindo seu coração acelerar e olhou diretamente para Lucy.


–Um lobisomem me atacando. – fora Hermione quem respondeu – Eu sonhei com isso e na noite de Halloween aconteceu.


Lucy sentia-se impaciente, não contara isso para o garoto e queria que ele nem descobrisse, mas isso já não era possível. Concentrou-se então em outra coisa. Certo dia, vira uma parte de uma visão da garota. Era sobre sua mãe.


–Há mais coisas. Quando minha mãe morreu. Você a viu em uma casa escondendo a pedra. – começou a dizer e Hermione concordou – Era mentira. Aquela não era a nossa casa, fomos lá uma vez. De fato ela escondeu uma pedra lá, eu era só uma criança quando isso aconteceu, eu queria ver o que ela estava escondendo de mim, mas ela não mostrou. Mas a verdade é que ela nunca tirou a pedra de seu esconderijo principal, aquela era uma pedra qualquer! – Lucy disse – Aquilo foi só para despistar Voldemort.


–Quer dizer que sua mãe planejou tudo aquilo? Ela escolheu as lembranças que Voldemort poderia ter acesso? – Hermione perguntou visivelmente desorientada.


–Pior, ela escolheu exatamente a forma como ia morrer. – Lucy disse – Desde o começo ela sabia que Voldemort a mataria. Ela sabia o que ia acontecer – as palavras da menina continham ódio. – ELA NÃO TEVE NEM O TRABALHO DE ME DIZER ALGO!


As lágrimas saíam descontroladas de seus olhos amendoados. Anthony adiantou-se para perto dela, mas Lucy, como sempre, recuou limpando as lágrimas salgadas. Anthony sabia que havia mais alguma coisa oculta naquela história, mas não ousaria perguntar agora.


–Essa pedra... Faz alguma ideia de onde esteja? – Hermione perguntou mecanicamente.


–Com certeza. ‘Tá vendo ela aqui no meu bolso? – Lucy respondeu acidamente. – ACORDA , GRANGER! SE EU SOUBESSE NÃO ESTARIA AQUI!


–NÃO VENHA GRITAR COMIGO COMO SE EU PUDESSE RESOLVER ISSO ESTALANDO OS DEDOS.


–CALEM A BOCA VOCÊS DUAS! EU NÃO CONSIGO OUVIR NEM MEUS PENSAMENTOS! – Tony gritou com raiva. – Granger, você é tal super guardiã ou sei lá o que seja! Você é quem deveria saber algo. Em suas visões não há nenhum endereço estranho? Nenhum lugar desconhecido que talvez a pedra esteja tentando informar a você?


Hermione pensou, todas as vezes ela sabia onde acontecia a visão, com exceção da daquele castelo onde estava a fantasma bela e platinada. E havia a visão que tivera antes de acordar e encontrar Draco. Roquefort. Esse deveria ser o lugar.


–Eu sei onde está!


:::  :::


Hermione alcançou a porta da sala. Acabara de ter uma aula de poções e quase quis derrubar Snape em uma poção de morto-vivo, mas conteve seu desejo secreto. Quando saiu viu Draco a esperando, seus olhos cinzentos a fitaram com impaciência, o garoto já devia estar cansado de todo aquele joguinho. Já fazia dois dias que não se falavam. Mas desta vez, era ela quem mantinha distância e assim como acostumara-se a fazer, ignorou-o e seguiu seu caminho.


–Ei, vai fazer isso até quando? – ele perguntou em seu encalço. – eu nem sequer sei o que eu fiz!


Hermione na deu atenção a ele, então Draco a puxou pelo braço lembrando-se de meses atrás, quando começou a conquistá-la e fazia isso para impedi-la de ignorá-lo.


–Qual é o seu problema? – Draco perguntou controlando-se e vendo as íris castanhas dela exibirem um ar diferente, era uma raiva reprimida que ameaçava explodir a qualquer instante.


–O meu problema? Nenhum! – ela disse tentando soltar-se dele – Só tem um idiota me puxando toda hora! Me larga!


–Não até você me dizer o que aconteceu.


–Por favor, Malfoy, isso ‘tá ficando clichê, toda vez você faz isso.


–Desde quando eu sou Malfoy? – Hermione nem percebeu que falara o sobrenome dele e quando deu por si já havia dito. Aquilo já era automático quando ela sentia-se irritada.


Ela abaixou a cabeça desconfortável, queria bater nele até não poder mais. Depois daquele dia na enfermaria quase enlouqueceu. Era estranho saber que a guerra estava em suas mãos. Se falhasse, seus amigos morriam, mas se conseguisse cumprir sua missão, provavelmente perderia Draco. “Tudo o que eu queria era uma vida normal. Odeio um amor proibido!”      


–Por que você está fazendo isso? – ele perguntou dessa vez baixo, com um tom mais natural.


Mas por incrível que parece, isso a irritou mais ainda. Era difícil resistir quando ele usava aquele tom.


–Eu cansei de tudo isso – ela disse vencida – acha sinceramente que eu gosto de saber que você está do lado dele? E Que você tem uma maldita missão?


–Esqueça isso! Não tem nada a ver com a gente.


–Me responda só uma coisa então. – Hermione exigiu.


–O que?


–Qual é a sua missão?


Draco riu, ela não deveria ter perguntado aquilo. Seu riso a irritou. Draco não falaria, muito menos a deixaria envolver-se com aqueles problemas. O frio o atingia fazendo um vapor sair de sua boca. Seus olhos pousaram em Hermione, ela parecia mais afetada ainda pelo frio, no entanto seus lábios estavam convidativamente vermelhos.


–Você não me entende – ela disse com um sentimento estranho corroendo seu corpo de uma forma torturante. Sentia seu corpo ser possuído pela magia novamente, era difícil respirar – nunca entendeu. Nem ao menos tem certeza do que sente. 


Draco aproximou-se dela, mas Hermione recuou até encostar-se à parede gélida, o sonserino aproximava-se mais e mais, ela sentia a respiração dele batendo em seu rosto, aquilo a desconcertava. Somente o saber que não deveria beijá-lo, já a fazia desejá-lo. Mas mantinha-se firme enquanto ele tocava seu rosto.


–Não, Hermione. Eu sempre te entendi. – ele disse com sua voz arrastada e levou seus lábios até o ouvido direito dela. – Eu nunca duvidei do que eu sinto. – ela estremeceu quando ele beijou seu pescoço de uma forma como nunca havia feito antes. – Não duvide do que eu sinto.


–Esse não é você, nem nunca foi. – Hermione disse obrigando Draco a olhá-la nos olhos – eu te conheço Draco, você é aquele sonserino cafajeste e idiota que eu me lembro. Esse na minha frente não é você.


–Eu deixei de ser aquilo por você. A Hermione que está na minha frente nunca agüentaria o antigo Draco. – o garoto falou ainda calmo – Eu nunca te dei garantias que revelaria meu passado a você. Eu nunca prometi te contar meus segredos. E eu nunca exigi que você fizesse o mesmo.


Hermione sentia a voz embargar-se e desvencilhou-se dele, deixando-o apoiado na parede no lugar onde estivera antes. De fato, ele nunca prometera nada, e deixara bem claro que não diria a ela uma só palavra. E ela aceitou essa condição. Agora se arrependia.


–Eu não quero mais sentir isso, eu não vou mais deixar você brincar comigo, Draco.


Hermione disse e um segundo depois Draco aproximou-se dela. Ele acariciou a face dela, pressionou seus lábios nos dela, fazendo-a esquecer o que acabara de dizer.


–Você pode tentar, mas no fundo, você sabe que me ama.


Draco sussurrou para em seguida, aprofundar o beijo, tornando-o terno e desesperado, porque sabiam que não importava o que aconteceria. Não importava o que as pessoas pensassem. Draco sempre seria imprevisível, ora o sonserino idiota que ela conhecia tão bem, ora o Draco apaixonado e atencioso. No entanto seja de uma forma ou de outra, ele se mostrava sempre irresistível, levando-a a um mundo paralelo onde se enrolava cada vez mais nas teias inseguras de seus sentimentos. Já era tarde demais para ela voltar ao mundo real. Draco a entorpecia.


Mal sabiam que tudo tem sempre um fim. A herdeira da pedra teria que proteger seu amuleto para salvar aqueles que amava, mas assim, teria que abrir mão daquele que mais a amou. 


No final, não importa os artifícios, as mentiras sempre estarão presentes e maquiadas com algo próximo à verdade. Não existia mais o certo ou errado. Existia somente a chance de sobreviver.


:::  :::


N/a: Merlin! Mais um cap. *-* e devo acrescentar, esse é o penúltimo. Nem acredito que o próximo é o último. Parece que foi ontem que eu criei a fic. Nesse meio tempo conquistei leitores maravilhosos e espero que vocês continuem gostando da história.  


No capítulo passado eu esqueci de mencionar o nome da música que a Hermione canta. Para quem não sabe, é “Taking Chances” da Celine Dion.


Agora sobre o cap atual... o que acharam sinceramente?


Eu gostei de escrevê-lo, e tenho que confessar, se vocês acharem estranho o comportamento tão irritado dos personagens não se preocupem. Isso muda no próximo. Tive que decidir muitas coisas nesse capítulo...


Espero vocês no próximo... que vou tentar não atrasar tanto


Sobre os coments...  


 Claudiomir José Canan – Obrigada. Essa festa foi mesmo ao estilo das que o Gabriel vai suhshhsuhs, com certeza o Gabe adorou saber que ele não é o único que se mete em encrencas. Conversa de menina bêbada é ****. Uhshsuhu. Anthony e Lucy, esse é um casal daqueles mesmo, vc vai adorar esses dois juntos. Ou não. Mas se quiser saber, eles vão ser aquele tipo de casal que briga até não poder mais, mas que depois, não se larga. São bons separados, mas muito melhor juntos. Sobre a mensagem... talvez seja do pai dela. Ou não. Pode ser de uma tia, de um vô, de um cachorro, hshusuus, brincadeira. Em breve você vai descobrir e ter uma surpresa sobre o passado dela. Estou doida pra ler Apollyon e com muita saudade do Gabe. Não pude ler o cap inteiro ainda, mas já estou indo ler. Bjos   


MarciaBS – Que bom que gostou da capa. Dá um trabalhão fazer, mas eu adoro. Espero que goste da fic, e vê se comenta quando ler ok? Bjos


Katia Bell – Thanks, linda, mas tive a impressão do cap ser pequeno... Mas ainda bem que gostou dele. Lucy e Anthony vão ficar bem... ou não. Eles tem uma parceria incontestável. Se ajudam. Se conhecem. E o melhor, não admitem isso. Só o tempo pra descobrir no que isso vai dar, mas será um casal interessante. E não... a Lucy não é a Guardiã como você pôde ver nesse cap. Juro que tinha pensado seriamente nisso, mas a fic vai fazer muito mais sentido com a Hermione sendo a Guardiã. Bjos


Comandante Yura – Seis letras: Thanks. Shshus Muito Obrigada pelos elogios. É tão bom saber que minha fic é uma boa Dramione, nunca pensei que ela chegaria a isso. E pensar que eu escrevia ela em um caderninho na aula de matemática. Shusuuss. Sobre o trailer... fiquei feliz em saber que gostou... e vou tentar manter a fic no mesmo nível, ou até melhor. Bjos


É isso pessoas, vejo vocês no próximo cap, ou em mais uma prévia. E já garanto, fortes emoções vão rolar.    




Gabi Ravenclaw


 


 


 


 


 


 

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