Como encontrar a luz?
Capítulo 8
Como encontrar a luz?
O loiro abriu os olhos e se deparou com a claridade da manhã machucando seus olhos cinzentos, percebeu que estava na ala hospitalar, ele tentou se levantar, mas seu corpo doía. Viu alguns arranhões em seu corpo e percebeu que seu braço estava enfaixado.
“Cortei o braço! Que maravilha!” ele pensou com estresse e ironia, tentando não pensar na causa daqueles ferimentos, tentando ignorar os fatos reais que sua mente não conseguia apagar. Tentou se levantar de novo, mas desta vez foi impedido por Madame Pomfrey.
-Nem pensar Sr. Malfoy, você vai ficar quietinho na cama. – a enfermeira disse forçando-o a se deitar e ele de má vontade obedeceu.
Foi então que ele virou sua cabeça para o lado, lá estava uma garota de cachos castanhos deitada na cama, parecendo dormir um sono profundo. Sua respiração era calma, mas em sua pele alva se destacavam feridas avermelhadas, sua perna esquerda estava enfaixada e apresentava vários arranhões pela pele mórbida.
Somewhere deep inside
(Em algum lugar, bem no fundo)
Something's got a hold on you
(Alguma coisa tem exercido influência sobre você)
And it's pushing me aside
(E está me afastando)
Era insuportável vê-la naquele estado aéreo e torturado. Desviou seus olhos dela e se permitiu viajar em pensamentos para longe daquela triste realidade para outra pior ainda.
::::::Flash back::::::
A noite nunca esteve tão fria e sombria, a lua se escondia por detrás das nuvens negras da noite, não havia estrelas, não havia nada de bom naquele ambiente fantasmagórico. Os terrenos da enorme mansão permaneciam escuros e sem vida, embora demonstrassem nobreza e opulência em cada mínimo detalhe nos jardins cuidadosamente tratados e escondidos na noite. No portão que dava acesso à propriedade havia uma serpente decorada no metal cor de bronze a qual causava mais arrepios para os que ousassem passar ali perto, embora quem tentasse entrar jamais conseguisse sair e perderia a vida inutilmente, somente que fosse de total lealdade poderia entrar e cruzar aquele caminho escuro e serpentino. Na mansão vivia uma família nobre, talvez uma das poucas totalmente puras, o homem era alto, pálido e de longos cabelos loiros, seu olhar era superior e ele desprezava quem julgasse indigno de honra alguma. A mulher era bela, com seus cabelos loiros caindo-lhe na face alva, seus olhos eram frios, mas hipnotizantes, sua postura era opulente e seu ar narcisista. O garoto era como o pai, com seus fios loiros, sua pele pálida e seus olhos cinzentos. Qualquer um poderia olhá-los e julgá-los uma família feliz e perfeita. Mas não, não se tratava disso, pois embora a bela Narcisa tentasse impedir que seu filho seguisse o mesmo caminho perigoso dela e do marido, este sempre instigara o filho para a magia das trevas. Draco sempre foi uma criança diferente, solitária, não por acaso, mas sim por opção. Nunca confiou em ninguém, nunca fizera amigos. Mas sempre soube que chegaria um dia em que teria que enfrentar seu destino. Aceitá-lo. Era para isso que se preparava, desde práticas em feitiços das trevas até oclumência. Ele foi treinado para resistir à dor da maneira mais cruel, sentindo-a. Ele foi preparado para jamais desistir, por menor que fosse a recompensa, um dia ele teria a glória eterna.
Naquela noite fria, o casal Malfoy discutia o futuro do filho, ela não concordava em marcar a alma dele, como aconteceu com a sua.
-Draco tem uma missão – a voz de Lúcio Malfoy falou friamente pela milésima vez, mas agora de modo sombrio e autoritário.
-Mas ele é novo demais Lúcio! – Narcisa disse deixando suas lágrimas de mãe deslizarem por seu belo rosto.
-O Lorde o quer... – o homem perdeu a paciência e ficou de costas para ela, tentando controlar seu próprio ódio em relação àquele assunto.
-O lorde não pode tirar meu filho! – a mulher disse baixo, sentando de qualquer jeito no sofá da nobre sala. Ela abraçava a si própria tentando se consolar, já que o marido nunca a entenderia.
-Você é que não pode decidir isso, Narcisa. – o homem disse frio, dificultando qualquer tentativa de consolo para a mulher.
-Draco é quem deve decidir então! Deixe-o escolher! – Ela falou fitando o chão lustroso, vendo suas lágrimas caírem descontroladas, desejando mudar o destino de seu único filho, para que ele jamais tivesse que passar pelas dores e sofrimento que um seguidor de Voldemort passa.
-Se o lorde o quer, Draco cumprirá sua missão. – Lúcio repetiu para ela o que dizia há anos para aquela figura desesperada que não entendia o quanto de honra Draco traria a eles.
-Eu não vou deixar. – ela levantou a face amargurada para o homem que ainda permanecia de costas para ela. Narcisa lutaria até sua última força contra aquele destino cruel.
-Você não tem poder algum para isso... – Ele finalmente se virou com brutalidade e fitou a face de Narcisa já irritado com a fraqueza dela.
-Eu posso e vou... Meu filho não... – ela disse desafiadora e o marido a olhou novamente com desprezo.
-Eu não tenho pena de você, Narcisa, nunca tive, a única coisa que me liga a você é Draco, e ele foi criado exclusivamente para servir ao lorde, não tente brincar de casinha tão tarde, deveria ter escolhido o Black para isso.
-Sirius não tem nada a ver com nós. – ela disse com ressentimento, mas logo adotou uma expressão decidida e sombria. – eu posso ser tão má quanto você Lúcio, você sabe que eu posso lutar contra suas decisões.
-Tente... – ele desafiou e continuarem nesse impasse sem perceberem a presença de um garotinho de oito anos parado no topo da escada que escutava a briga dos pais.
::: :::
-Pai, o que eu tenho que fazer? – Draco perguntou naquela tarde quente de julho, em poucos meses estaria de volta em Hogwarts para seu 2º ano.
-Matar os seguidores de Harry Potter e servir ao lorde. – o pai disse-lhe com indiferença e não percebeu o olhar temeroso do filho.
-Quando vou fazer isso? – o garoto perguntou ao pai temendo a resposta.
-Em breve, Draco. – Lúcius disse com um sorriso desdenhoso nos lábios, o garoto percebeu que havia muito mais naquele olhar do que transparecia, mas preferia por não perguntar já que a resposta poderia não agradar-lhe, e embora ele desejasse não ter que cumprir missão alguma, a glória eterna o fascinava, a honra que iria adquirir poderia compensar os meios de obtê-la.
-O que vai acontecer esse ano? Eu sei que algo ruim vai acontecer... – o garoto retomou o assunto que tanto queria discutir com o pai.
-Ruim? Defina ruim, Draco. – o homem ordenou e o garoto ficou sem fala por um momento, pensando no modo certo de dizer o que achava.
-Ruim? – pensou, escolhendo suas palavras – Ruim é algo perverso, mal, prejudicial, alguém sempre sai perdendo... – ele disse com indiferença.
-E quem você acha que sairá perdendo dessa vez?
-Potter? – a resposta estava em seus lábios logo que a pergunta foi feita.
-E os sangue-ruins... – Lúcio disse com uma fina linha nos lábios no que julgava ser um sorriso, enquanto Draco desejava sarcasticamente em seu íntimo que todos os sangue-ruins fossem destruídos.
::: :::
-Você não pode ter piedade – a voz de Lúcio era cruel – Você não pode ser bom, não pode ser fraco, Você não poderá temer nada, não pode ter receio em matar. – ele assustava cada vez mais o filho.
-Mas se eu falhar? – ele perguntou infantilmente e a isso se ouviu a gargalhada debochada do pai.
-Você não vai... – ele disse severamente.
-Mas e se eu for fraco? E se eu não conseguir? E se eu não quiser nada disso? – Draco perguntou cada vez mais afetado, mas usando a máscara indiferente que aprendera com a mãe.
-Escute! – o homem avançou com ódio a ele puxando-o pelo braço – Você tem que fazer o que lhe será incumbido, Draco, não pode se dar ao luxo de fraquejar, não pode desistir, isso é para os covardes...
-Mas não é isso que eu quero...
::::::Fim do Flashback::::::
Draco voltou seu olhar para a castanha, certificou-se de que a enfermeira havia voltado para sua sala e saiu de sua cama se direcionando a castanha, fitou sua face machucada, cheia de arranhões, ela parecia morta, exceto por sua respiração uniforme.
-Droga, Granger! Acorda! Não adianta ficar assim para me fazer me sentir mal, foi tudo culpa sua, você foi atrás dele – o loiro falou com amargura e sentindo sua voz quebrar – Merd*, será que você não vê que eu tô sofrendo? Acorda, por mim... – ele disse, mas não obteve reação alguma dela – Merlin me odeia, por que ele não me lança um avada de uma vez? Ou será que crucio é mais divertido? Velho idiota... neonazista, ele deve beijar o pé de qualquer sangue-puro... Mas por que fazer mal pra minha sangue-ruim? – ele olhou a face dela novamente e acariciou seu rosto com o dorso da mão – Como eu fui me apaixonar por você? O que exatamente eu vi em você? Sangue-ruim. Muito obrigado por me fazer contestar se cumpro ou não a missão. Merd*! Que complicação. Se eu a cumpro, você vai me odiar. Se eu não cumpri-la eu morro. Qual é a melhor opção? – ele disse irônico – Me desculpe... Você não vai mais sofrer por minha causa, não podemos ficar juntos...– e dizendo isso beijou os lábios dela delicadamente – E você não iria despertar com um beijo...
See it stretch on forever
(Vejo isso estender-se eternamente.)
I know I'm right for the first time in my life
(Eu sei que estou certo, pela primeira vez na minha vida.)
O loiro se afastou dela e percebeu que havia uma cesta ao lado da cama da castanha, andou até ela e percebeu que era dos Weasley e dos pais dela. Com relutância começou a olhar o que tinha dentro dela, achou um álbum, tinha a capa vermelha num tom meio marrom e as páginas amareladas, Draco o abriu, dentro dele destacavam-se fotos de uma família feliz, a família dela. Na maioria delas estavam sorrindo, o loiro foi passando as páginas sorrindo sozinho cada vez que via aquela garota feliz naquelas recordações distantes, uma garota diferente daquela que estava ao seu lado naquela enfermaria, a Hermione das fotos sorria, essa permanecia num estado mórbido. Ele respirou profundamente e tirou uma foto dela do álbum, fitou a face alegre dela e desejou ver aquele mesmo sorriso naquele momento. Olhou a castanha na cama, acariciou o rosto dela levemente com o dorso da mão.
-Me promete uma coisa? – ele perguntou sabendo que nunca iria ter uma resposta – Não me odeie.
Olhou a foto de novo e foi tirado de seus devaneios por uma alvíssima coruja que acabara de adentrar a enfermaria. Draco pegou a carta e viu que era de sua mãe, começou a ler.
Draco,
Meu filho, como você está? Soube do fracasso do ataque e que você estava lá, não entendo por que você fez isso. Não deveria estar lá. É claro que o certo seria você ajudar os comensais, mas não deveria ter se arriscado tanto, me conte o que aconteceu, sua tia foi presa, o lorde está desapontado com ela, eu consegui visitá-la hoje, ela disse que foi estuporada, mas não soube quem foi que fez isso. Me diga, Draco, quem a estuporou?
Você está na enfermaria não é? Snape me mandou uma carta contando, se recupere logo, filho, e não se esqueça de descobrir informações sobre a pedra.
Te amo
N. Malfoy
Draco respirou profundamente, então Bellatrix não mencionara à irmã que torturou o próprio sobrinho... Ninguém sabia que ele havia estuporado a comensal, seria melhor assim. Ele olhou a castanha novamente. E se descobrissem que tudo aquilo foi para protegê-la? E se resolvessem fazer mal a ela? Não seria melhor se afastar dela antes que tudo piorasse?
A foto de Hermione queimava em sua mão enquanto a carta de sua mãe pesava em seu interior, suspirou e percebeu a porta da enfermaria se abrir, voltou para a cama e tentou esconder a foto e a carta no travesseiro antes que alguém as percebesse.
-Malfoy – a voz de Harry soou acusadora – o que você fez com ela?
-Potter, eu não fiz nada – o loiro manteve sua voz indiferente.
-Você a atraiu até lá, não foi? – o moreno continuou a acusá-lo não deixando espaço para ele se defender. – Você a levou até aquela armadilha?
-Não Potter – o loiro disse e conseguiu entrar na mente de Harry, viu o quanto ele se culpava pelo ataque – Ela foi lá por sua causa – o loiro disse sem se afetar, vendo que Harry não retrucou, Draco continuou a dizer – ela achou que você estava em perigo, eu tentei impedir ela de ir atrás de você, mas obviamente não consegui... O resto você já sabe.
-Não foi minha culpa... – o moreno disse tentando convencer a si próprio com suas palavras. Ele fitou a amiga na cama, não conseguiu reunir coragem para se aproximar dela e saiu da enfermaria, sem palavras e com o coração cheio de arrependimento.
:::::: ::::::
Draco adentrou no salão comunal devagar, tinha acabado de sair da enfermaria, mas ainda apresentava feridas mal cicatrizadas. Não havia ninguém lá, ele se sentou num dos sofás e ficou pensando no que fazer agora. Não podia continuar do lado dela, pois senão ela iria correr perigo, além de que ele tinha uma missão e já havia aceitado-a antes de se apaixonar por ela. Não, ele teria que esquecê-la, mas e se ela insistisse em continuar ao lado dele? Agora ele havia conquistado um pouco da confiança dela, teria que jogar isso pro alto para mantê-la a salvo?
-Que idiota eu sou! – murmurou para si próprio.
Afundou-se em pensamentos e nem percebeu quando uma loira entrou no salão comunal e ficou fitando-o de longe, diretamente nos olhos cinzentos.
-Você está bem, Malfoy? – Draco escutou uma voz doce e feminina, era Lucy.
-Você está falando comigo? – ele perguntou indiferente.
-Não, estou falando com Merlin. É claro que estou falando com você. – ela disse e o garoto revirou os olhos irritado. – Como vai você e a Granger?
-Quem é você para ficar perguntando isso? Não sei nem seu nome...
-Lucy Moore, do 5º ano, loira e de olhos castanhos, pronto, já me conhece. Agora me responde. – ela disse irônica e o loiro levantou uma sobrancelha em deboche.
-Se acha espertinha... A primeira pergunta sua: Estou ótimo. A segunda não tem resposta. Já te disseram que você é curiosa?
-Já, várias vezes. – ela disse sarcástica e continuou seu interrogatório – A Granger já acordou?
-Não. – ele disse seco e se lembrou de um dia em que encontrara Lucy na biblioteca – mas, o que aconteceu aquele dia, que você estava chorando na biblioteca?
Ela arregalou os olhos, não esperava que ele perguntasse isso, se lembrou daquele dia também, se sentou no sofá à frente dele, manteve sua voz firme e respondeu.
-Minha mãe morreu.
-Sinto muito. – o loiro se arrependeu de ter feito a pergunta e não quis mais continuar aquele assunto, mas a garota continuou a falar.
-Ás vezes é difícil você aceitar que perdeu alguém, é triste pensar em percas, em distâncias, você deve pensar duas vezes antes de fazer algo, antes de machucar alguém, mas o pior é quando alguém te tira quem você ama, quando rouba e nunca devolve, lágrimas, amargura, ressentimento, nada disso trás alguém de volta. – ela disse e fez o loiro engolir em seco.
“Certo, ela deve ser legilimente ou Merlin a contratou para dificultar minhas escolhas. Você está certo Malfoy, você vai perdê-la, mas é para o bem dela...” ele pensou afetado.
-Existe coisas que não tem volta... a pedra atirada, a palavra dita, a ocasião perdida, o tempo passado... não dá para mudar nada disso, e consertar pode ser difícil... – ela disse e Draco sentiu mais dúvidas ainda em sua mente.
-Você é legilimente? – ele não agüentou e perguntou.
-De certa forma sim. – ela respondeu fitando-o divertida.
-Me lembre de praticar oclumência.
-Bom, não vai adiantar, eu vou continuar a poder ler sua mente.
-Tente não ler meus pensamentos, ok?
-Claro.
“Me afastar ou não, eis a questão.”
-Você vai deixar ela mesmo? – Lucy perguntou de repente.
-O que eu disse sobre ler minha mente?
-Tudo bem. – ela revirou os olhos e desviou a atenção para os livros que trazia consigo.
-Afinal de contas. Para que tantos livros?
-Acabei de receber, minha tia me mandou, eram da minha mãe, ela disse que talvez eu quisesse me distrair com eles. – Lucy disse lendo um livro grosso de capa vermelha e páginas envelhecidas pelo tempo.
-Se distrair com livros? – ele tentou ler o título do livro que ela lia. – Que livro é esse?
-Nenhum importante – ele respondeu despreocupada deixando o livro de lado e pegou outro.
Ele começou a olhar os livros um a um, até que encontrou um com a capa negra e um nome ao centro escrito em dourado: “Melanie Moore”. Pegou e o folheou.
-Isso é um diário, ler o diário da sua mãe vai ser muito divertido – ele disse irônico.
-Um diário? Qual é a data dele? – a garota pegou o diário das mãos dele e começou a ler desesperada – Por Merlin, todas as páginas estão em branco.
-E...?
-E talvez eu pudesse descobrir o nome do meu pai, mas agora de que me adianta um diário em branco? – ela disse como se falasse com uma criança.
-Você não o conhece?
-Não...
-Nunca ouviu falar que alguns diários precisam de senhas? Talvez se você descobrir a senha que sua mãe usou...
-...Eu poderia descobrir quem ele é.
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-Você mudou Hermione, Você não é mais a mesma, não é a garota por quem eu me apaixonei! – a voz de Draco era magoada e furiosa ao mesmo tempo.
-Talvez eu não tenha sido a única a mudar, Draco. E se quer saber, eu estou muito melhor do que antes. – Hermione disse indiferente à reação do garoto, enquanto observava sua expressão séria e preocupada.
-Melhor? Não sabe o que diz. Depois das férias de natal você se tornou fria, não consegue ser o que era antes, você era inocente de certo modo, agora eu só vejo arrogância. – o loiro soltou um suspiro entediado e virou de costas para ela.
-Inocente. Eu cansei de ser quem eu sou. E você? O que acha que se tornou? Apenas mais um que vai cair, que não vai sobreviver, se acha esperto, mas engana a si próprio, você não é forte, é fraco, indefeso... – ela disse olhando o chão fingindo que ele não lhe dera às costas.
-Eu não sou nada disso... – ele se virou com brutalidade e olhou ela.
-Você chora porque não sabe o que fazer... – ela disse ainda fitando o chão frio do corredor.
-Você fala como se nunca tivesse feito isso, vivia chorando, por simples palavras minhas. – isso abriu a antiga ferida dela, deixou-a desconcertada e mais frágil.
-Não está vendo? Você me ensinou a ser o que sou hoje. Você. Eu não escolhi isso, só aceitei. – ela levando a cabeça indiferente e retomou a expressão que adotara naqueles tempos.
-Pare com isso, você ainda pode se salvar... – ele se aproximou dela cauteloso e olhou calmamente a máscara que ela usava sem conseguir decifrar.
-Você diz como se estivesse condenado a um futuro cruel. – a voz dela saíra insegura pela primeira vez naquele momento.
-E se estiver? – ele perguntou seco, mas afetado.
-Salve-se. – foi a única palavra que ela foi capaz de dizer e abaixou a cabeça novamente derrotada.
-Não finja que alguém pode chegar e me salvar de mim mesmo – ele rebateu indiferente.
-Então me diga, o que você fará quando sair de Hogwarts?
-Não é da sua conta.
-Um comensal? – ela insistiu forçando o contato visual com ele.
-Não fale do que não sabe.
-Você nem ao menos nega...
:::::: ::::::
A castanha abriu seus olhos, a luz perfurou suas íris de uma maneira dolorosa e em poucos segundos se acostumou à claridade. Não se lembrava do que tinha acontecido. A imagem de Draco não saia de sua mente, ela poderia jurar ter escutado a voz dele e a dela própria, mas não se lembrava de quase nada. Foi como se estivesse vivendo em um futuro próximo, mas o que iria acontecer realmente ela não recordava. Sua cabeça doía profundamente, ela olhou suas mãos e viu que apresentavam vários arranhões e sua perna esquerda estava enfaixada. De repente ela se lembrou de que havia sido atacada, com dificuldade, ela virou a cabeça para o lado e percebeu que estava na ala hospitalar, mas o que viu fez seu corpo se arrepiar inteiro, na poltrona ao lado de sua cama estava Draco, quieto, mas de olhos fechados, provavelmente mergulhado em pensamentos, pois sua expressão era séria e preocupada. Ele tinha um braço enfaixado e como ela apresentava uma série de arranhões quase curados. Sentiu seu coração bater descompassado ao pensar no que tinha ocorrido, ele lutou contra uma comensal por ela, lutou contra a própria tia por ela, fez o máximo para salvá-la. Hermione não percebeu, mas ficou observando ele durante algum tempo, quando os olhos dele se abriram e se direcionaram a ela.
-Você acordou! – ele exclamou e abriu um leve sorriso de alivio, mas ele manteve uma expressão indiferente. – Como se sente?
-Estou bem – ela disse, mas sua voz saiu fraca e sentiu sua cabeça latejar.
-Onde dói? – o loiro perguntou tentando manter a voz casual saindo da própria poltrona em direção a ela.
-Minha cabeça.
-Devia ter imaginado – ele disse distante – Você bateu a cabeça... Sua perna está quebrada e seu corpo deve doer... Sinto muito pela maldição. É horrível, não?
-Muito – ela admitiu percebendo um frio percorrer seu corpo. – E o que aconteceu com você? – ela perguntou não conseguindo reunir coragem para olhar todos os seus ferimentos.
-Não é nada. – ele disse sem se afetar, tentando parecer seguro – só uns arranhões e esse corte no braço.
“Engraçado, ele sabe exatamente o que eu tenho e sinto, mas com ele mesmo, ele não se preocupa” a castanha pensou e não conseguiu reprimir um sorriso de ternura pelo loiro.
-Por está sorrindo?
-Por nada... – ela disse fitando uma cesta em frente à sua cama – E o que é isso?
-De seus pais e dos Weasley. – ele respondeu franzindo o cenho e ela o olhou atônica – é que seu amiguinho de cabeça vermelha comeu quase todas as tortinhas de abóbora, varinhas de Alcaçuz... Não sobrou muito...
-Tinha que ser o Rony... Não importa. Mas há quanto tempo estou aqui?
-Dois dias. Segundo Madame Pomfrey se você acordasse hoje teria alta amanhã.
-E você? Não ficou aqui muito tempo, não é?
-Eu? Saí ontem... – ele disse distante e um silêncio constrangedor se instaurou entre os dois, incapazes de gesticularem uma só palavra, mas necessitados de algo que os confortassem. Ele fitou o chão não querendo sustentar um olhar com ela, tentando decidir o certo a fazer.
-Por que tinha que acontecer isso? – ela perguntou sentindo seu corpo doer profundamente não só por causa do ataque, mas também pela falta que o loiro fazia, queria mais do que tudo que ele a abraçasse e tirasse a sua dor.
-Essa é uma pergunta meio óbvia. – ele disse friamente.
-O que quer dizer? – ela perguntou estranhando o tom dele.
-Agora nada, melhor você descansar. – ele disse sem se afetar e se levantou para sair.
-Fique aqui comigo... – ela pediu esperançosa fitando ele enquanto este permanecia de costas para ela.
-Não posso. – disse sem se virar e seguiu seu caminho para longe dela.
Assim que saiu da enfermaria se encostou na parede fria do corredor e respirou pesadamente. Sentia que seu corpo queria agir por conta própria e voltar até a garota, mas não podia atender a essa súplica silenciosa. Não podia arriscar-se mais se quisesse mantê-la viva.
-Me desculpe, mas eu não posso mais ficar perto de você...
-Não dá para entender ele... – a castanha disse para si mesma estranhando a reação do loiro.
-Sabia que em geral, somos nós que não entendemos as mulheres? – um garoto disse assustando Hermione, que só então percebeu a presença dele.
-E quem é você? – ela perguntou e observou ele atentamente. O garoto tinha a pele pálida e os cabelos negros, seus olhos eram mais escuros ainda, além de frios e indiferentes. Apresentava um aspecto cansado e tinha uns arranhões nos braços e rosto.
-Anthony Wolhein a seu dispor, princesa... Estou no sétimo ano. E você é Hermione Granger, não é?
-Sou... Por que está aqui?
-Eu gosto de passar uns dias na enfermaria, tem umas poções que Pomfrey me dá que tem gosto de suco de abóbora... – ele disse irônico e a castanha ergueu a sobrancelha irritada com ele, só então se lembrando de quem ele realmente era.
-Eles não escutaram – Draco disse a mim se referindo ao público de alunos. Como assim eles não escutaram? Eu vou falar pra ele o que eles deviam escutar, cobra nojenta! – E é Draco, não Malfoy.
-Você é mal e desprezível – eu disse entre dentes e vendo que essa era a única maneira repeti mais alto - Eu te amo, Draco.
-Eu não escutei – um aluno idiota da Corvinal me provocou, quem mexe com fogo se queima, será que ninguém nunca aprendeu isso?
-Ele não escutou, Hermione. – A doninha maldita me disse despreocupado, será que estavam de marcação pra cima de mim?
-Eu vou matar você depois disso. – eu disse trincando mais ainda meus dentes e gritei para todos que pudessem ouvir – Eu te amo, Draco Malfoy.
-Eu também te amo, Hermione Granger. – ele disse antes de capturar meus lábios num beijo terno.
-Você é da corvinal, você zombou de mim enquanto o Malfoy me obrigou a dizer que o amava – ela disse acusadoramente se lembrando daquele dia que parecia ter sido há meses.
-É, foi isso mesmo... – ele disse rindo e ela o fuzilou com o olhar – Ah! Sorria, é ruim te ver naquele estado dormente que estava.
-Onde está o Harry? – ela perguntou a si própria tentando ignorar a presença irritante do garoto.
-O Potter e o Weasley vêm aqui bastante para te ver, o Malfoy por outro lado apareceu poucas vezes desde que saiu daqui, ele fica um bom tempo te olhando, às vezes eu escutava ele sussurrar umas coisas. E essa noite você falou enquanto dormia. – ele disse afetado.
-O que eu disse? – ela perguntou estranhando o tom dele.
-“Salve-se”. Eu não entendi exatamente porquê.
-Eu não lembro de nada que sonhei. – ela disse a si mesma e riu – é só mais um sonho a acrescentar na lista de sonhos sem significados, esse pode vir embaixo do que um lobisomem me ataca. – ela zombou e não percebeu o olhar receoso do garoto, como se estivesse mais afetado com o que ela diz, mas recompôs sua ironia.
-Não seria pra menos... Eu não lembro o que sonho também, a não ser que seja naquela vez que o tarado da machadinha estava tentando me seduzir fazendo beicinho, mas esquece. Bom, o que aconteceu em Hogsmeade realmente?
-NÃO DÁ PRA VOCÊ RESPEITAR MEU ESTADO NÃO? Tô aqui a DOIS dias e a primeira coisa que me perguntam é sobre a porcaria dos comensais! Grrr!!!
-Calminha Srta. Estresse, só queria saber, aliás, todos querem, ninguém sabe ao certo o que aconteceu...
-E POR MIM NEM VAI SABER!
-Grossa!
-Filhote de cruz-credo!
-Dá pra calar a boca?
-O que foi? Não consegue discutir com uma garotinha?
-Já ouviu falar que os mais velhos merecem respeito?
-Ah! Fala aí Vovô!
-Que irritante. – ele disse e ouviu a porta da enfermaria se abrir.
-Hermione! Você acordou. – Harry disse animado seguido por um ruivo.
-É, até que enfim, você não sabe como é frustrante ir à aula sem você, não entendi uma só palavra na aula de astronomia e preciso fazer um trabalho ainda...
-Rony, ela acabou de acordar, poupa ela um pouco. – Harry disse divertido e olhou para a amiga – É bom te ter de volta.
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A castanha entrou no salão principal e se dirigiu para a mesa da grifinória, lançou um breve olhar para outra mesa onde um loiro comia um pão e nem percebia e olhar dela sobre ele. Foi então que percebera que alguns alunos olhavam para ela curiosos. Era irritante quando faziam isso, como se, do nada, ela fosse ser atingida por um raio e se eles parassem de olhar fossem perder esse grande espetáculo.
-Tem alguma coisa na minha testa? Ou estou usando um chapéu de coelho na cabeça e nem percebi? – ela perguntou para os amigos ao lado dela.
-Noon lheu oss xorrnais iinda, Ermi? – Rony perguntou com um pão inteiro na boca.
-Eu sei traduzir runas, Rony, mas você eu não entendo nem sob tortura.
-Não leu os jornais ainda? – o garoto repetiu a perguntou depois de engolir o que comia.
-Meu Merlin, não quero nem ver...
-Tem certeza? – Gina estendeu o Profeta Diário a ela, a castanha ignorou, a ruiva começou a balançar o jornal na frente da amiga fazendo com que o título “Comensais atacam novamente” se destacasse. – Mione...
-Não quero ler isso, Gina.
-Não quer saber o que estão dizendo sobre a captura de Lestrange?
“Que vaca! Ela deve ter feito faculdade pra me estressar logo cedo. Perai! Pára tudo! CAPTURA DE LESTRANGE?”
-Ok ok, eu leio. – ela pegou o jornal com violência.
-Nossa que mau humor, mal saiu da ala hospitalar e já ‘tá assim...
-Cala a boca Gina!
Neste último sábado, na vila de Hogsmeade, um dos poucos povoados totalmente bruxos da Grã-Bretanha, e onde os alunos da escola de magia e bruxaria de Hogwarts passavam a tarde, aconteceu um ataque supostamente liderado por Bellatrix Lestrange.
-Supostamente? – Rony riu e Hermione o olhou assassinamente – Tudo bem, pode seguir com sua leitura...
-Obrigada Ronald. – ela disse irônica.
A bruxa até então foragida de Azkaban, que foi condenada por ser uma comensal e ter trabalhado fielmente para Você-sabe-quem, foi capturada. Lembrando que ela escapou de Azkaban na primeira fuga em massa da história dos bruxos. Provavelmente tendo tido ajuda do primo e também condenado Sirius Black, falecido há pouco tempo. Não se sabe o verdadeiro motivo de a comensal ter atacado o vilarejo, já que ela se recusa a ser interrogada e sua audiência ainda será marcada, mas suspeita-se que tenha sido mais uma tentativa frustrada de capturar “o eleito”, ou “o menino que sobreviveu” se preferirem. Harry Potter encontra-se seguro em Hogwarts e não sofreu um arranhão sequer, assim como os demais alunos que alegam não terem se afetado nada com o fracassado ataque.
-Isso é ridículo! E o que aconteceu comigo? Cai de um precipício em plena rua de Hogsmeade? Provoquei um hipogrifo com uma vareta? PAGUEI A MERLIN PARA ME ESPANCAR?
-Calma Hermione! O profeta não falou a verdade, nunca faz isso. Você esperava mesmo que isso acontecesse? – Harry disse calmamente e paciente também irritado com a matéria do jornal. Continuou a folheá-lo se afetando com cada matéria – Mais mortes de trouxas e bruxos, quando isso vai acabar? – perguntou a si próprio.
-Mas por outro lado o Ordem de Merlin é bem fiel aos fatos... – Gina disse distraída com o jornal.
-Como assim? – Rony e Harry perguntaram em uníssono tomando o jornal das mãos da ruiva – Ei! Não é justo!
-Nossa! Dêem uma olhada nisso. – Harry disse ignorando os protestos da ruiva e Hermione pegou e que começou a ler em voz alta.
Espero que meus leitores ainda não tenham se cansado de ler sobre o recente ataque a Hogsmeade. Oh! Não. Nem tudo foi a calmaria e controle relatados pela comunidade bruxa. Houve sim maldições e por pouco não aconteceram mortes. A então condenada-fugitiva-capturada Bellatrix Lestrange que liderou o ataque estava atrás do nosso jovem herói Harry Potter, não se sabe o que ela pretendia realmente com isso – matá-lo ou embrulhá-lo para presente de natal para o nosso adorado lorde das trevas – mas o que ninguém sabe é que o maravilhoso monitor e capitão da sonserina, Draco Malfoy, e a inteligente e sedutora Hermione Granger foram salvar “o menino que sobreviveu pela décima vez”. É fato que nosso novo casal sustenta um relacionamento tumultuado e incompreensível, vivendo brigando e se beijando publicamente, mas estavam juntos no recente passeio, quando Lestrange escolheu para tentar capturar “o eleito”. Hermione mesmo sendo nascida trouxa enfrentou os comensais com coragem junto do próprio Harry Potter, seu melhor amigo, Gina Weasley e Draco Malfoy. O Sr. Potter e a Srta. Weasley não sofreram aparentes danos, mas o casal maravilha teve que passar uns dias na enfermaria, provavelmente por terem sofrido maldições de tortura e sabe-se lá o que mais. Bellatrix Lestrange foi capturada e levada pra Azkaban pela auror Ninfadora Tonks e pelo ex-professor Remo Lupin depois de ser encontrada estuporada perto de onde Draco e Hermione estavam desacordados. Com a captura da comensal o ministério está instaurando uma falsa sensação de segurança para os bruxos, uma vez que nem todos os comensais foram capturados e estão rondando pelas ruas, então fiquem atentos.
Por: Miss M.
-Pela primeira vez eu preciso admitir, o OdM está melhor que o profeta. Onde está essa tal Miss M.? Quero cumprimentá-la. – Rony disse irônico. – Mas o que eu queria saber é onde ela arranja tantas informações.
-Rony, por Merlin, você não entende que quanto mais ela publicar esse tipo matéria, mais perigo ela corre? – Gina disse se estressando com o irmão.
-Mas ninguém sabe quem ela é. – Rony insistiu.
-O que faz ela correr mais perigo ainda, imagina se descobrirem... – Gina disse, mas foi ignorada.
-Mais um pra lista negra de Voldemort... – Harry comentou distante.
-Eu adoro as frases do OdM, “Fuja de uma hipogrifo desgovernado”, “não trabalhe como um elfo, peça salário e seguro-libertação.” Demais né? Olha essa. “Se serpentes falam com você, você é um ofidioglota, se aquele-que-não-deve-ser-nomeado fala com você, você vai morrer, se um gnomo fala com você, você não é ninguém, mas se Merlin fala com você, considere-se um esquizofrênico.” Ela tem imaginação... – o ruivo disse rindo.
-Rony, onde você estava em Hogsmeade na hora do ataque? – Harry perguntou de repente e o ruivo parou de rir.
-Eu... eu... estava na... loja de penas de escriba!
-Arrã... desde quando você se importa em comprar penas e tinteiros? – O moreno estranhou o amigo.
-Ah! Desde sempre. Vamos logo, temos história da magia agora.
-Sério, agora eu estou assustado. Você... querendo ir pra aula?
-Harry, eu 'tô com sono, qual é a melhor aula pra dormir senão a daquele fantasma? – o ruivo disse e o moreno o acompanhou rindo depois de deixarem Hermione e Gina para trás.
-Você tá tão quieta... – a ruiva começou. – é o Malfoy, não é?
-Não, é só que... Ele não me importa – ela respirou pesadamente e sentiu sua voz quebrar – eu ainda não o vi desde que estive na enfermaria.
-Você só saiu de lá ontem, vai vê-lo.
-Você não entende, eu estou com medo, acho que prefiro não vê-lo a ter que enfrentar aquele olhar cinza indiferente, eu posso vê-lo quando fecho os olhos, ele tem algo a me dizer, mas eu não quero ouvir.
-Como pode saber isso, Hermione?
-Eu sinto, não consigo fechar os olhos sem ver o rosto dele, ele está frio, como antes... É o mesmo olhar que eu vi em Hogsmeade, um olhar de um comensal, quando desafiou Lestrange... Eu tenho certeza que eu deveria estar morta. Ela disse tantas coisas sobre Draco, coisas que eu não deveria saber...
-Mas ele te protegeu, não é? Ficou o tempo todo do seu lado...
-E isso dificulta mais ainda as coisas... Eu o magoei Gina, eu o beijei como nunca antes o fiz, eu me senti segura quando estava com ele, mas eu o deixei, eu escolhi ir proteger o Harry, eu o machuco com minhas escolhas, sempre será assim...
-Mas ele te ama, e você também, só não admite.
-Eu não deveria amá-lo, ele é um Malfoy, ele está do lado de Voldemort, mesmo que eu tente fingir que não, ele está. E não há nada que mude isso, nós não temos um futuro juntos.
-O futuro somos nós que fazemos, não viva o hoje pensando no amanhã, Hermione, viva como se fosse o último dia. Seja a dona de sua própria vida ao invés de acreditar em destinos...
-O problema é que somos nós que decidimos nosso destino e a minha escolha é diferente da dele. – ela disse e ficou ele do outro lado do salão. – ele está me ignorando...
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A castanha saiu da biblioteca ainda lendo suas anotações ainda pensando na aula que tivera mais cedo com a sonserina, Draco não a olhou um só momento, não falou com ela, não fez nada. Sentiu algo bater contra ela, ia cair no chão, mas alguém a segurou pela cintura. Olhou e viu Draco, seus olhos cinzentos, sua respiração uniforme, mas um olhar indiferente, ela se afastou e pegou seu material que havia caído no chão. Deu um passo para ir embora, mas se virou novamente para ele.
-Por que está fazendo isso?
-Isso o que? – ele ergueu uma sobrancelha esperando a resposta dela.
-Você está me ignorando, não fala comigo desde quando eu acordei, até agora eu não entendo o que você quis dizer com tudo aquilo na enfermaria. – ela disse e ele soltou uma risada sarcástica.
-Acho que ficou claro na enfermaria que eu não quero mais ficar perto de você. – ele disse secamente.
-O que?
-Me faz um favor, Granger? – Draco pediu com sua voz arrastada à castanha, permanecia sério e com uma raiva crescente no peito. – Faça de conta que eu não existo, que eu nunca te beijei, que eu nunca tenha dito que te amo, me odeie, Granger, como odiava antes. – ele disse sentindo que o mundo estava despedaçando em suas mãos pesadas e frias, sentindo a garota a sua frente respirar com dificuldade tentando absorver todas aquelas informações reais e ruins.
-Eu, não... Mas por quê? – ela perguntou sem entender o que ele realmente queria com aquilo. “Uma hora ele não desgruda de mim, na outra me quer longe? Ele é pior que mulher em TPM”. Ela pensou com ironia não se permitindo aceitar aquelas afirmações.
-Porque você é insuportável, não quero ser seu amigo, você não aceita que as pessoas mudam, eu tentei, juro que tentei te entender, mas não dá, você nunca vai aceitar que eu possa saber quem você realmente é , e você é uma sangue-sujo. Onde eu estava com a cabeça para querer algo com você? – ele disse e viu os olhos dela adquirirem um brilho diferente, eram as lágrimas embaçando seus olhos castanhos, ele fechou os olhos não querendo ver ela em sua mágoa e tristeza e continuou a dizer, percebendo que aquelas palavras machucavam mais a ele do que a ela. - Eu não consigo não te odiar, vai ser sempre assim, não tente mudar isso.
-Então foram só... Mentiras todo esse tempo? – ela perguntou sentindo a voz quebrar e lutou contra a vontade de deixar as lágrimas escaparem. – Tudo mentira.
-É, acho que foi, me diverti bastante te fazendo de idiota se quer saber. – ele disse cruelmente vendo que ela teria que se ferir para que nunca mais o quisesse, Hermione sentiu o chão se abrir embaixo de seus pés, mas não ia o deixar pisar nela assim, nunca sairia perdendo.
-É, concordo, muito divertido – ela disse perigosamente soltando uma risada sarcástica que roubou do próprio loiro – vai ser mais divertido ainda agora, sua tia e seu pai em Azkaban, você tendo que cumprir sua maldita missão, Voldemort querendo a cabeça de Harry separada do corpo – lembrou com ironia de tudo aquilo, mas só isso não seria suficiente para humilhá-lo - e é claro, você apaixonado por uma sangue-ruim.
-Não seja idiota – ele abriu os olhos se deparando com a imagem humilhada da garota, mas continuou a mentir – eu nunca me permitiria me apaixonar por você, eu te odeio, lembra? Tudo aquilo que eu disse era parte do plano, eu precisava atrair o Potter para a armadilha, quem melhor do que você para fazê-lo ir atrás de comensais?
-O que? Mas eu é que fui atrás do Harry... – Ela disse para si mesma não entendendo o loiro.
-O Potter só foi atrás dos comensais por sua causa – ele disse e viu ela engolir em seco, como se não quisesse acreditar ainda nas palavras dele - ele achou que eu ia te levar para aquela armadilha, nem foi tão difícil se quer saber, você praticamente implorou para ir até lá. Eu só tinha que garantir que você não estragasse tudo.
-Mas você se opôs ao ataque! – ela exclamou para si mesma tentando se convencer de que tudo aquilo era mentira, que nada era real.
-Eu fingi, afinal, eles precisam de alguém em Hogwarts para investigar e passar informações.
-Pois vão perder seu único espião em Hogwarts! Eu vou denunciar você, Malfoy, para os professores, duvido que vão continuar a ensinar um seguidor de Voldemort! – ela disse deixando seu ódio transparecer, tentando descontar tudo no loiro.
-Ninguém vai acreditar em você, quem acreditaria nas suas acusações contra mim sendo que você sofreu muito com o ataque em Hogsmeade?
-Você é um idiota! Armou tudo! Como pode? – ela protestava inutilmente enquanto ele sustentava seu ar debochado.
-Sou um sonserino, sou um patético irritante e debochado, seu inimigo esqueceu? – ele disse com desprezo.
-Por um momento eu esqueci o quanto ruim você é. Obrigado por me lembrar, agora já pode se virar e ir embora como queria, não precisa mais se preocupar se eu vou ou não estragar seus planos. – ela disse tentando esconder sua mágoa em vão, afetando ele em cada palavra dita.
-Para quem está apaixonada por mim até que você aceitou bem os fatos... – ele deixou escapar esse comentário tentando convencer a si mesmo.
-Apaixonada? Eu nunca me apaixonaria por você, não gosto de contradizer os meus princípios. – ela mentiu forçando a si mesma a acreditar naquelas falsas palavras.
-Sério? Tem certeza que não sente nada por mim? – o loiro perguntou se aproximando perigosamente de Hermione, ela recuou, mas encontrou a parede fria atrás de si, não dava para fugir, ela teria que enfrentá-lo de frente e resistir. Ele a prendeu firmemente com os braços encostados na parede e em cada lado dela – consegue fugir? – ele sussurrou baixo e a castanha sentiu o hálito quente dele bater em seu rosto, tentou gesticular uma resposta, mas nada saiu de sua boca – consegue fugir, Granger? – sua voz arrastada saiu desafiadora e perigosa.
-Consigo... – ela respondeu baixo vendo a face do loiro tão próxima da sua.
-Então fuja – ele riu ao vê-la sem reação e prendeu-a mais ainda na parede unindo seus lábios aos dela de maneira desesperadora e tensa, explorava cada canto da boca dela e se lembrava do último beijo deles com mais nitidez do que conseguia, do quanto fora terno, e agora ela não conseguia fugir dele, não tentava nem afastá-lo dela, somente se entregava mais e mais ainda a ele, enquanto perdia a noção do que realmente estava fazendo. O loiro levou sua mão até a nuca dela, puxando-a mais para si, sentindo arrepios na espinha, pensando estar tendo alucinações, pois isso não fazia parte de seu real plano, ele deveria ter controle sobre suas ações, não ser levado pelas sensações que aquela garota lhe causava, não podia perder o juízo, senão tudo iria por água abaixo e ela sofreria ainda mais. Mas para ele aquele beijo significava a separação que haveria entre eles, um último beijo, um último toque, era isso que ele precisava naquele momento. Mas aos poucos sua mente foi se clareando e ele se permitiu voltar ao teatro que estava encenando tão bem. Sorriu marotamente em meio ao beijo e afastou sua face da dela alguns centímetros – Tem certeza que não sente nada por mim? – ele repetiu a pergunta e ela corou, Draco respirou pesadamente antes de prosseguir – Eu enxuguei todas as suas lágrimas, mesmo tendo causado elas, eu lutei contra seus medos, mas eu não posso mais fazer isso, Granger, eu não posso ser quem você é, nunca poderia. Fique com o Potter, você o ama, não é? Me promete uma coisa? Me odeie.
Stripping back the coats of lies and deception
(Despindo de volta as camadas de mentiras e decepções)
Back to nothingness like a week in the desert
(De volta ao nada, como uma semana no deserto.)
And I know I'm right for the first time in my life
(E eu sei que estou certo, pela primeira vez na minha vida.)
-Se é isso que você quer Malfoy – ela disse com a voz quebrada e fez menção de sair de perto dele – o que quer de mim ainda? – sua voz soou de maneira fraca, mas decidida devida à sua magoa.
-Apenas isso – ele disse e capturou os lábios dela novamente em outro beijo tumultuado, mas que passava toda a súplica silenciosa dele, para ela não esquecê-lo, ela deixou finalmente uma lágrima trilhar seu rosto e se afastou dele tentando recuperar seu fôlego.
So don't say no, don't say nothing's wrong
(Então não diga "não", não diga que nada está errado)
'Cause when you get back home maybe I'll be gone
(Porque quando você voltar para casa, talvez eu terei partido)
-Já era Malfoy, esse foi o último beijo que você me roubou... – ela disse e saiu em passos largos pelo castelo, sem uma direção exata, nem destino definido. Tentava deixar o loiro para trás, ignorá-lo, esquecê-lo. Mas não conseguia apagar nenhuma das palavras cruéis dele, sentia seu peito inflar de dor, parou de andar, incapaz de permanecer em pé por muito mais tempo, avistou uma porta e entrou na sala. Encostou-se lentamente na porta do lado de dentro, e pouco a pouco foi escorregando por ela até se encontrar sentada no chão frio. Sentiu-se se afundar em lágrimas, e à sua mente vinham lembranças, palavras, gestos dele, mas não conseguia deixar de pensar no que eles poderiam ser juntos. E se ele a amasse realmente? Seriam felizes? Não, nunca. Eram diferentes demais e gostar dele era arriscado e perigoso. Tarde demais, ela já sentia algo por ele. Via tudo embaçado por causa das grossas lágrimas, mas pôde identificar em meio à fraca iluminação da sala um piano antigo. Levantou-se devagar e ficou sentada na frente do piano imaginando sonhos irreais, tudo ilusões, mentiras...
Tocou as teclas com seus dedos finos e começou a tocar uma melodia triste e melancólica, seus dedos passeavam nas teclas enquanto suas lágrimas deslizavam por seu rosto e sua mente mergulhava em lembranças.
Como ele havia dito, ela chorava por simples palavras dele, tantas vezes ela já havia chorado por causa dele? Tantas vezes não conseguiu provocá-lo na mesma intensidade que ele a provocava? Era ridículo o modo como ele sempre a afetava.
Ela não queria lembrar-se dos beijos, das palavras, ela não queria lembrar-se dele. Era mais doloroso do que aquela melodia que ela tocava.
Por que ele fingia sempre? Em todos os momentos? Palavras ternas... sem fundamentos, ele era um ator, que fazia ela acreditar em uma mentira. Mentiras... Como sempre. Mentiras que machucam a alma, que destroem os sonhos e tudo de bom em alguém.
Ela podia amar alguém como ele, que nunca mereceu nenhum sentimento dela. Amor... ele não sabe o que é amor, sempre fingiu, nunca poderia corresponder esse sentimento. Draco Malfoy não amaria uma sangue-ruim.
E Harry... Ele é quem merece ser amado, tudo entre eles começou tão rápido como terminou, um sentimento que ela já havia aceitado, ela lutaria por ele, podia lembrar-se ainda do beijo que ele lhe dera, mas até isso Malfoy destruiu, ele arrancou Harry de seu coração mesmo não percebendo e agora a fazia sofrer.
Ela precisava de um amigo, ela precisava de Harry, mesmo que ele já não a amasse como antes, mesmo que ele fosse de Gina, a castanha precisava dele para abraçá-la, ela sentia a falta dele e isso o loiro não poderia destruir, a amizade entre eles.
Draco sempre zombaria dela, como fez naquela noite, como vem fazendo desde que se conheceram. Nunca se importou realmente com ela. Uma idiota... Ela era uma idiota por acreditar nele, por achar que ele podia ser diferente... Mas ao invés disso, ele a destruía cada vez mais... Como pode achar que ele queria ser seu amigo? Amigos... ele também não conhecia o significado disso. Não entendia o que era proteger alguém, o que era ser bom...
-Achei que fosse algo assim. E seu maior medo? Não vale dizer que é ir mal nos estudos.
-Esse é exatamente meu medo, um outro medo meu, é acordar de repente e ver que tudo que eu vivi não passou de um sonho, como se nada tivesse importância, nem sentido, como se eu não valesse nada. E o seu maior sonho?
Seu medo estava acontecendo, ela não valia nada para ele, se encontrava humilhada entre suas lágrimas, Tudo que ele dissera não passara de mentiras e tudo que ela sonhava nunca aconteceria. Parou de tocar a triste melodia e pegou seu material, não queria mais continuar ali, fora então que notara que pegara o caderno dele, abriu, na primeira página havia seu nome escrito em sua caligrafia, ela virou a página, fora quando encontrara uma pequena nota.
"Só é belo acreditar na luz quando é noite."
Ela não conseguia entender o que ele havia escrito, mesmo que ele fosse a pessoa mais idiota e fria do mundo, ele conseguia colocar no papel coisas lindas, ela se lembrou de um dia, antes do passeio a Hogsmeade, eles haviam se trombado na biblioteca, depois disso ela encontrara um pergaminho, eram as palavras dele, ele havia escrito.
Luz... Como encontrar a luz?
Virou a página, fora quando encontrara algumas anotações sobre a pedra do destino.
:::::: ::::::
N/A: Eu não acredito nisso! Nenhum comentário novo? Ninguém curioso com o que vai acontecer daqui pra frente? Nenhuma pergunta do tipo...
" A Lucy é do mal?"
" A Mione vai continuar tão ingênua e inocente?"
" O Draco vai aceitar sua missão?"
NÃO DÁ PARA ACREDITAR! Eu aqui escrevendo e ninguém lendo? Na-na-ni-na-não! Sem comentários, sem o próximo capítulo.
E olha que eu tenho uma surpresa que realmente vai valer a pena!
Então... COMENTEM!
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