Capítulo doze
Narrado por: Lene McKinnon Fazendo: Arrumando as coisas novas para um ano novo na escola Ouvindo: O silêncio profundo das almas. Então ta.
Então foi assim: eu não soube nem ao menos o que me atingiu. Estava tudo maravilhosamente bem enquanto voltávamos da viagem. Ou o melhor que poderia ficar, tendo em vista que Dorcas só ficava falando no telefone com sabe lá Deus quem, Lily dividida entre se arder e reclamar que o carro estava indo muito devagar e eu, absolutamente normal. Mas, de repente, eu ouço um estrondo fantasmagórico, um grito e, então, vejo coisas voando no quarto da minha melhor amiga.
Mas não tinha nada a ver com abdução alienígena. Tinha mais a ver com o fato de que ela estava furiosa.
Claro que a única coisa que eu poderia fazer era largar todo o processo de desfazer as malas e socorrê-la, antes que ela quebrasse o pescoço na sua sucessão de movimentos homicidas para destruir o quarto.
E, bem no meio da rua, eu dei de cara com Sirius Black.
Mas ele não era o nerd bizarro com o qual eu estava – infelizmente pra mim e felizmente para os blogs de fofoca da vida – habituada. Na verdade, eu não o reconheci por um instante. Tanto que meu primeiro pensamento foi: e aí, quem é esse gatinho?
Ele estava parado quase no meio da rua – uma atitude idiota e sem noção que me deu uma pista de quem poderia ser. Quero dizer, qual é o nome do energúmeno que para no meio da rua sem ter nada aparente para fazer? – olhando para o nada. Não tinha mais aquele rabinho de cavalo bizarro. Na verdade, seu cabelo fazia uma coisa meio sexy de cair na testa como se estivesse sempre ventando. E seus olhos – olhei duas vezes, porque eu não me lembrava de jamais tê-los visto assim – eram de um azul quase branco, livres de qualquer armação ou lente de cinco centímetros. E não parava por aí. Ele – e nessa hora eu imaginava ser uma miragem – usava uma calça jeans normal com uma blusa rosa que deixava ver o que, futuramente, seriam músculos muito bem desenvolvidos.
E tudo isso fazia com que ele fosse absolutamente bonito, sem ser uma coisa forçada. Era muito mais uma coisa no ponto.
Até que ele disse:
- Ora, ora, quem voltou! Olá, Lene. Sentiu minha falta?
E nada no mundo poderia me fazer esquecer daquela voz, que me ensinava química enquanto afastava o cabelo seboso da cara. Era, não sei porquê diabos, Sirius Black no corpo de um cara gatinho. Um cara gatinho! Simplesmente não dava pra acreditar.
Pensei honestamente em dar as costas e jogar as minhas próprias coisas contra as paredes do meu quarto. Porque como diabos alguém normal responderia alguma coisa pra esse garoto? Como diabos alguém normal sequer conseguiria falar com esse garoto? Até ontem ele era feio, pelo amor de Deus! E, tudo bem, não era como se Sirius de repente tivesse virado capa de revista... mas ainda assim. Ele estava bonito. Um deus grego, se comparado ao que era antes.
Então eu, estupidamente, gaguejei.
- Si-Sirius? – porque gaguejar me parecia a única coisa certa a se fazer.
Até, pelo menos, ele me lançar um sorriso típico (ok, agora eu tenho mesmo certeza de que é ele. E de que a tecnologia extraterrestre está mais avançada do que eu pensava) e me olhar de cima a baixo. O que me fez perceber que, mais uma vez, eu estava usando uma roupa ridícula na presença desse garoto.
E dessa vez era um vestido de vovó.
- Que palhaçada é essa? – disse, me recompondo e apontando pra ele. Que sorte que eu não tremi, percebo agora.
- O quê? – ele riu, chegando mais perto. Mais por medo dos alienígenas que estão por dentro dele do que qualquer outra coisa, eu recuei dois passos para trás.
- Que palhaçada é essa com você? – repeti – O que aconteceu com a sua cara?
- Não tem nada de errado com a minha cara – ele disse, passando a mão nos cabelos e me fazendo sentir aquela onda de perfume masculino. Ai meu Deus – Mas certamente tem algo de errado com a sua. Já ouviu sequer falar de que muita radiação solar faz mal?
Revirei os olhos. Sim, era ele. Nada de ETs. Era o mesmo nerd de sempre, com uma roupagem nova. Uma roupagem que me fazia somar dois mais dois e pensar: agora ele está gato, melhor beijo do mundo... Nada bom.
- Não tem nada de errado comigo, seu imbecil! – falei, me sentindo mais imbecil ainda por estar repetindo suas frases. E por mal conseguir pensar enquanto ele me olhava com aqueles malditos olhos azuis – Eu estou bronzeada!
De um carro de som ao lado, ou foi o que me pareceu, ainda era possível ouvir os gritos da Lily. O que me lembrou exatamente o que eu estava fazendo ali à princípio, antes de ser abordada por esse milagre da medicina. Que, aliás, não faz nenhum sentido. Nenhum mesmo. A não ser, claro, que Sirius tenha se juntado às forças das trevas pra me destruir. Isso então explicaria tudo.
- Ok, essa conversa ficou estranha – falei – Tchau.
Mas é claro que Sirius jamais me deixaria ir embora na santa paz de Deus. Não mesmo. Ele puxou meu braço e me fez ficar a cinco centímetros do rosto dele, podendo ver como o cirurgião plástico da família era realmente bom.
- Até amanhã, Marlene – ele disse, apertando meu braço com uma força que me fez quase desejar que ele estivesse apertando outros lugares.
Daí ele me soltou e saiu andando. Foi exatamente assim que eu fui atingida sem nem ao menos saber por quê.
[...]
7:00 horas, disse carinhosamente o meu despertador na semana seguinte. Como se eu sequer precisasse dele. Quero dizer, quem conseguiria dormir depois do que aconteceu ontem? Ou melhor, do quem vem acontecido a semana toda? Ninguém, essa é a resposta. Pelo menos não alguém que, curiosamente como eu, descubra que o nerd bizarro que estava ocasionalmente tendo um envolvimento físico havia se tornado alguém digno da noite para o dia. Esse é o tipo de coisa com a qual nenhuma garota normal consegue lidar.
Nem mesmo eu.
Ou Lily, como eu descobri assim que saí de casa para o meu último primeiro dia de aula (finalmente). O que imediatamente me lembrou do que eu deveria de fato estar fazendo na semana passada: verificando porque minha melhor amiga havia resolvido descontar toda a sua fúria assassina nos objetos da decoração do seu quarto.
Mas Sirius Black, versão 2.0, havia varrido tudo da minha mente. Que grande amiga eu sou!
Ninguém pode me culpar, certo, por ter passado uma semana inteira vegetando na cama? Era muita informação para processar.
- Vamos – ela disse, assim que me viu chegar, entrando no carro.
Obviamente o mau humor persistia, e eu meio que fiquei um pouco intrigada. Ela não deveria estar nas nuvens depois de ter encontrado com James? Mas, falando a verdade, nem eu me sentia assim tão feliz. Não como costumava nas outras vezes que um ano novo começava na escola. Dessa vez não tinha a empolgação com as canetas novas – que seriam todas inevitavelmente perdidas – ou a felicidade de usar as roupas novas do semestre. A única coisa em que eu conseguia pensar era em como Sirius havia me sacaneado.
Porque ninguém me tira da cabeça que essa história de ficar bonito não é a maior sacanagem do milênio.
- Lily! Lene! – gritou Dorcas, assim que chegamos. Aparentemente, ela havia esquecido que havíamos brigado. O que me era conveniente no momento. Uma pessoa normal só pode travar uma briga de cada vez.
- Dorcas – falei alegremente. Ou o mais alegremente que se pode, considerando minha situação.
Ela abriu a boca para falar alguma coisa, mas fechou-a imediatamente, olhando estarrecida para algo que estava atrás de nós. Normalmente, eu viraria na mesma hora para ver do que se tratava. Mas quando você tem uma boa ideia do que pode ser, era bem melhor ficar encolhida num canto e evitando pensar.
- Nossa! – falou uma garotinha qualquer. Só por curiosidade olhei, e o que eu vi quase fez meus olhos saltarem das órbitas. Onde estão as câmeras? Que diabos está acontecendo aqui? E alguém pode, por favor, mandar essa menina não babar no chão antes que eu quebre a cara dela?
Era exatamente o que eu fiquei temendo a noite toda: os ETs de fato haviam feito um estrago em nossas vidas. Ao longe, andando de um modo até normal vinham James, Sirius (exclua a normalidade desse, que mais parecia um pavão) e Remus. Mas eles não pareciam nadinha com os caras que eu havia visto antes das férias... definitivamente não. E todo mundo concordava comigo. Absolutamente todo mundo olhava da mesma maneira chocada.
Menos a Lily, que olhava pro chão. Então tudo ficou muito claro na minha mente: ela não gostou. O que é totalmente a cara dela.
E eu até entendo. Quer dizer, agora que eles são bonitos vai ter um monte de urubu na minha carniça. Onde está a justiça do mundo? Não que, tecnicamente, eu tenha alguma carniça por ali. Falei totalmente pela Lily. Só.
- Viu, Dorcas – falei por maldade, só pra aliviar a tensão – Quem mandou desdenhar do garoto? Agora ele te deu o troco.
[...]
A aula de matemática – graças a Deus só tenho mais dois semestres disso pela frente, depois nunca mais! – tinha sido um pavor. E isso porque eu estava sozinha na sala, sem nenhum dos ex-losers (?) ou das meninas. Mas ainda assim todo mundo comentava, todo mundo só sabia falar disso. O que é uma surpresa, porque eu nem sequer sabia que eles chamavam tanta atenção assim.
O sinal finalmente tocou e eu saí praticamente correndo da sala. Talvez tudo isso não passasse de um pesadelo esquisito, e eu logo vou abrir os olhos e me descobrir babando no banco de trás do carro, voltando para casa da viagem de férias.
Só que, se eu esperava um pouco de paz com o fim da aula, era melhor desistir agora mesmo. Isso porque, em frente ao meu armário, estava Sirius Black conversando com Lauren. LAUREN! E ele estava jogando charme pra ela. Não dava pra acreditar nisso!
- Lene! – me chamou alguém que estava atrás do “casal”. Ah, que maravilha. – Oi!
Era Mark. Ai meu Deus, agora essa! Me aproximei. De onde estava, eu podia ouvir todos os flertes dos dois atrás de mim. O que me fazia querer explodir cabeças.
- Oi, Mark – falei, enquanto ouvia Lauren murmurar o nome do Sirius. Que vadia. Como se ela fosse capaz disso quando ele ainda era feio.
- Como foi de férias? – ele perguntou. Atrás de mim, eu podia ouvir Sirius pegando o telefone da biscate da Lauren. Oh. – Não nos falamos faz tempo.
- Verdade – dei meu melhor sorriso. Dois podem jogar esse jogo! – Minhas férias foram ótimas, e as suas?
Agora, eu podia perceber pelos movimentos e pelos passos, Lauren tinha ido embora. Mas Sirius continuava encostado no meu armário. Provavelmente ouvindo a minha conversa. Será que ele quer me agarrar? Eu tiraria o cavalinho da chuva se fosse ele.
- Muito boas! – ele sorriu – Ei, Lene, eu estava pensando se poderíamos nos encontrar mais tarde. Estou atrasado pra aula, mas podemos nos ver depois?
Sirius deu um pigarro atrás de mim.
- Claro – sorri – Nos vemos mais tarde. Você tem o meu número.
Até parece que eu ia atender uma ligação sequer. Mas ele não precisa saber disso. Acenei enquanto ele se afastava e me virei em direção ao meu armário, onde Sirius me encarava com os braços cruzados. Arqueei as sobrancelhas.
- Pode me dar licença? – pedi.
- Não – ele sorriu. Que droga, essa visão era medonha quando ele usava aparelho. Porque então agora ficava tão... fascinante? – Quer dizer então que temos um encontro com Mark? Novamente?
- Não que seja da sua conta... – cantarolei, empurrando-o e colocando a combinação do meu armário. Era aula de quê mesmo? – Mas falando nisso... Como vai nosso encontro com a Lauren?
- Outch! – ele fez uma expressão de falsete, colocando as mãos no peito – Agora você me surpreendeu, cara Marlene.
Todos os alunos do corredor olhavam para a gente. O que eu acho um absurdo. Daqui a dois meses, quando Sirius deixar de ser novidade, ninguém vai se importar mais com ele. Só estão todos chocados. Ou achando que ele é um novo aluno vindo de uma escola particular na Europa.
- Eu não esperava um ataque de ciúmes assim de você, Lene – ele sorriu, enrolando uma mecha dos meus cabelos nos dedos. Dei um tapa na mão dele. Tomara que alguém tenha fotografado isso. – Preciso te lembrar que não temos compromisso um com o outro, querida?
Ah, que vagabundo! Apertei os olhos na direção dele e bati com força a porta do armário. Como se ele pudesse vir aqui e me dizer uma coisa dessas! Simplesmente não dá pra acreditar. Como eu fui capaz de encostar um dedo nesse garoto?
- Suma da minha frente, seu imbecil – falei – Não sei o que deu em você, sinceramente! – ele sorriu e a minha vontade era de tirar aquele sorrisinho presunçoso dali com as unhas – O jogo que você está tentando jogar, meu bem, fui eu quem inventou! Agora suma da minha frente.
Dei mais um tabefe no meu armário – vou me arrepender pra sempre se amassar – e sai andando, considerando aquilo um desfecho maravilhoso. Mas então, para estragar a minha festa, ele me puxou pelo braço e não me deu nem ao menos tempo pra pensar: me encostou brutalmente no meu próprio armário (ok, agora ficou marcado. Que ótimo. Obrigada, Sirius!) e me deu o beijo dos beijos. Ali, na frente de todo mundo.
Mas eu não tive como resistir. Eu nunca tenho como resistir.
Narrado por: James Potter Fazendo: pensando na melhor maneira de deixar o mundo Ouvindo: músicas depressivas
O teto do quarto piscou pra mim. Tenho absoluta certeza de que ele fez isso. Ou talvez eu só esteja ficando louco. No final das contas, quem se importa? Eu é que não. Quero dizer, agora que eu não tenho mais Lily Evans... pra quê viver? Para nada, eu respondo.
A semana que se passou entra com vantagem na lista dos piores dias da minha vida. Eu achei realmente que ela fosse gostar. Achei mesmo. Na minha cabeça, tudo tinha sido absolutamente perfeito: Lily ficaria maravilhada com a nova figura que atendia por seu namorado, cairia no meu braço e nós iríamos tomar sorvete, enquanto as outras meninas morriam de inveja dela.
Mas isso não aconteceu.
- Ja-James... O que fizeram com você? – ela disse.
Mas essa não era a reação que eu estava esperando. Então tudo o que eu fiz foi ficar lá, olhando com cara de panaca enquanto apertava a caixinha de veludo com as alianças no bolso.
- Lily... eu... – gaguejei. Ela estava tão bonita e engraçadinha, assim toda vermelha, que eu mal podia raciocinar.
Ainda que eu devesse, já que ela só ficava me olhando com aquela expressão horrorizada.
- James, eu... – ela piscou. E então se enfureceu –James! O que você fez?
Não era uma pergunta para a qual eu estava preparado, sinceramente. Quer dizer, ninguém nunca me falou sobre namoradas que ficam raivosas quando o parceiro corta o cabelo. Ou, no meu caso, quando o parceiro praticamente nasce outra vez. Mas, seja lá quais forem as regras, ela não deveria ficar brava, deveria? Mamãe não falou nada sobre isso.
- Lily... eu! – passei a mão no cabelo. Mas ela fez uma careta. Será que ela tem algum problema com caras que passam as mãos pelos cabelos? Preciso anotar isso e pesquisar no Google.
- Ah, meu Deus. Quem é você? – ela perguntou, se afastando e saiu correndo.
Assim, exatamente assim. E eu fiquei lá, parado, ainda com os braços meio abertos. Porque eu meio que estava esperando um abraço de boas vindas. Mas, na verdade, parece que eu fiz algo extremamente errado. Só me faltava descobrir o quê.
Mas eu não descobri. Isso porque Lily não falou comigo durante toda a semana. Ignorou minhas ligações, não me deixou entrar na casa dela, não me respondeu na internet nem me ouviu gritando seu nome pela rua. E ainda tinha fechado a janela do quarto no dia seguinte à nossa briga. Ainda que eu não saiba se isso pode ser qualificado como briga, já que nunca tive uma dessas antes.
Preciso me lembrar de procurar isso no Google também.
Mamãe disse que talvez eu tenha entendido as coisas de uma maneira errada. O que eu, sinceramente, não acho possível, levando em conta toda a minha potência cerebral. O que eu posso ter deixado escapar? Quero dizer, as garotas não gostam quando seus namorados são bonitos? Ainda mais quando são bonitos e inteligentes?! Minha mãe falou que talvez Lily não fosse como todas as garotas.
O que me fez querer chutar minha própria bunda, porque eu totalmente sabia disso. Claro que sabia. Lily nunca foi, nem nunca seria, igual a qualquer outra garota do mundo. Por isso que ela gostava de mim. Mas agora eu sou igual aos outro garotos e então ela não me quer mais.
- Você tem que mostrar a ela, querido, que não mudou nada dentro de você, entende? – minha mãe dizia enquanto me levava pra escola hoje de manhã – Garotas assim como Lily sempre acham que há algo por trás de ações simples e inocentes como as suas, Jay. É normal. Só mostre a ela que você continua o mesmo.
O plano, claro, era genial. Mas a pratica necessitava da colaboração das pessoas da minha escola, o que não era um bom sinal. Quero dizer, desde quando as pessoas da escola fazem alguma coisa que me ajude? Nunca, essa é a resposta.
Por isso mesmo que uma garota loira e esquisita que usava o uniforme da torcida não me deixou em paz o intervalo todo. E eu estava tão chocado e constrangido pela maneira com que ela tentava me mostrar seu decote que nem sequer percebi que Lily estava por perto. Então tudo o que ela viu foi a garota se insinuando enquanto eu passava as mãos na nuca.
O problema é que deve ter parecido que eu estava gostando, não que eu estava tentando pensar na maneira mais rápida de sair dali sem derrubar a garota.
Agora, mesmo horas depois, eu ainda queria me chutar. Tudo o que podia ter dado errado, deu. A única coisa que me resta é... Oh, espera. Não me resta mais nada.
- Oi. Aqui é a Lily Evans. Estou ocupada agora, mas deixe o seu recado e eu retorno assim que puder. – disse a secretária do telefone. Mais uma vez, ela não estava me atendendo. Esperei o bip – Lily! Vamos, me atende! Eu sei que você está com raiva. Olha, eu... Eu posso explicar. Não! Mamãe disse que eu não podia dizer isso. Olha, eu... Lily, atende! Eu não entendo porque você está com raiva de mim. Quer dizer, mamãe tem uma teoria, mas... Atende, Lily!
Mas, é claro, ela não me atendeu. Então eu fiz a única coisa que poderia ter feito: fui pra um bar.
Narrado por: Remus Lupin Fazendo: tentando jogar no laboratório da escola Ouvindo: os tiros e explosões do jogo. Que legal.
Finalmente, a paz do meu laboratório. Se antes eu mal podia andar nos corredores da escola que alguém derrubava alguma coisa gosmenta “sem querer” em mim, agora é porque de cinco em cinco segundos para alguém que quer conversar comigo. Veja só, falei hoje com mais pessoas na escola do que durante toda a minha vida. E isso só porque eu sou bonito. Ou melhor, só porque eu penteei o cabelo e troquei as calças. Qual o problema da humanidade?
Pelo menos ainda há um pouco de normalidade na santa paz do meu laboratório de informática. Ninguém nunca vem aqui, é mais nerd do que todos eles podem aguentar.
- Olá? – alguém abriu a porta. Bom demais para ser verdade, Remmie – Tem alguém ai?
Considerei seriamente não responder nada e continuar vivendo minha vida tranquilamente, explodindo um ou outro oponente por ali. Mas era ninguém mais, ninguém menos do que Dorcas Meadowes, e eu esperei – e passei por muitos médicos e horas na academia – demais por esse momento para simplesmente deixá-lo passar.
- Sim? – respondi, desviando minha atenção do jogo (droga, eu ia explodir uma cabeça!) e encarando a garota que havia feito da minha vida um inferno no semestre passado.
Curiosamente, ela estava vermelha. Da janela atrás dela, eu podia ver o resto do time da torcida. Arqueei as sobrancelhas e cruzei os braços. Se ela tinha vindo ali para acabar o serviço, bom... Era melhor dar meia-volta.
Dorcas empinou o queixo.
- Eu sei o que você está fazendo – ela disse. Por um instante eu acreditei que estava falando com a Mãe Diná. – Mas, já aviso: não vai dar certo.
-Ok. – falei lentamente. As outras garotas incrivelmente populares ainda bisbilhotavam na janela – Se importa em me dizer o que não vai dar certo?
-Ora, não me faça de idiota! – ela avançou, como se eu tivesse feito com que ela quebrasse uma unha ou algo parecido – Você pode até tentar me humilhar, eu sei que é isso que você está tentando fazer... Mas não vai dar certo. Eu estou um passo a sua frente, garotão!
Pisquei. Ela parecia realmente ameaçadora com o dedo em riste e apontando pro meio da minha testa. Ou o mais perto que ela podia chegar disso. O único problema é que Dorcas parece ter ser esquecido de um detalhe: naquele jogo, quem fazia as regras era eu.
- Desculpe se perdi alguma coisa por aqui... – pisquei – Mas desde quando você tem alguma coisa com a ver com o que faço ou não?
Alguns dizem que vingança é um prato doce que se come frio. Eu, no entanto, tenho outra visão. Vingança é, na verdade, inteligência. É, sobretudo, não subestimar seu inimigo. Não quando você sabe o quão longe ele pode ir para te atingir. Ou, especialmente nesse caso, quando seu inimigo pode usar de tudo para te destruir da maneira mais cruel, apertando sua mente. Para vencê-lo, então, a sua melhor arma é virar a mente dele.
Ou pelo menos foi mais ou menos isso o que eu aprendi na internet.
- Eu não sou estúpida – ela se aproximou raivosamente. Algumas colegas fotografavam pelo celular. Será que elas não sabem que, na verdade, eu posso vê-las? E que, na verdade, elas não podem me ver?
Oh, espera, elas não sabem. E é exatamente por isso que é tão engraçado vê-las se amontoando em umas por cima das outras tentando ver alguma coisa. Que decadência, meninas.
- Essa não é sua área, seja lá o que for então que você está pensando – dei risada. Mas ela não gostou. Ficou ainda mais raivosa. – Se você pensou que poderia aparecer aqui todo desse jeito e jogar alguma coisa na minha cara... Está muito enganado!
Ajeitei calmamente minha camiseta – ainda que, tecnicamente, eu preferisse as velhas, que eram muito mais confortáveis e não pinicavam. Mas não posso admitir isso. – e pisquei o olho. Mais porque minha lente estava saindo do lugar do que para fazer uma provocação. Mas serviu para os dois, já que ela parecia prestes a pular no meu pescoço.
- Não sei o que lhe deu a impressão, Dorcas, de que você tinha alguma influência sobre o meu comportamento – repeti. Era impressão minha ou estávamos com os mesmos argumentos em palavras repetidas? – Até entendo porque você possa ter tido essa impressão, mas... Você significa exatamente nada para mim. É bom deixarmos isso bem claro.
Dei o meu melhor sorriso. Ou, pelo menos, o que minha dentista dizia ser o melhor. E ela ficou parada me encarando. Mas não como uma garota bobinha que não sabia o que falar. Ela parecia mais como uma bruxa que calculava lentamente a dimensão da maldição que lançaria. Como em uma verdadeira briga de cachorro grande.
O que pra mim está muito bom.
- Agora, se me dá licença... – pedi, indicando a porta com a mão – Eu gostaria de terminar a manutenção das máquinas. Você já pode ir.
O que era a maior mentira, a parte da manutenção. Eu estava mentindo descaradamente e ela sabia disso, já que tinha me visto jogar. Dorcas me olhou lentamente com os olhos apertados, deu um sorriso de lado e saiu. Não sem antes bater a porta. O que era um claro sinal de “isso vai ter volta”.
Tanto melhor pra mim.
Narrado por: Lily Evans Fazendo: Nada Ouvindo: Nada
Não sei o que me deixa tão chocada: se é o fato de James ter feito isso ou ter me escondido que iria fazer. Talvez você pense que não tem nada a ver, que ele tem todo o direito de querer mudar o que diabos quiser na sua própria aparência. E eu sei que tem. Mas eu simplesmente não posso deixar de me sentir traída por isso. Certo?
- Lily! – gritou minha mãe assim que eu entrei em casa depois da escola. Não havia sido um dia muito bom. Na verdade, não tinha sido uma boa semana. E, obviamente, minha mãe concordava com isso. E estava raivosa, já que eu havia passado esse tempo todo trancada no quarto.
Estou considerando seriamente pintar as paredes de preto.
- Oi – respondi secamente. Não é culpa minha, não posso evitar. Meu namorado despedaçou meu coração e agora eu quero quebrar tudo que está na minha frente. Sacou?
- Volte aqui, mocinha!
Suspirei. Nada é tão ruim que não possa piorar, sinceramente. Obviamente, mamãe quer que eu reafirme o meu amor por ela e blábláblá. Porque meu pai não pode assumir esse papel? Facilitaria minha vida.
- Oi – repeti, me aproximando da cadeira onde ela estava lendo antes de ser interrompida pela minha chegada macabra.
Só espero que mamãe não venha com aquela história de “precisamos conversar”. Como eu poderia explicar que estou na fossa porque meu namorado está bonito? Isso não é uma coisa que você possa explicar para ninguém, porque eles não vão entender.
Mas a verdade é que eu me sinto traída, sabe? Eu passei tanto tempo pra entender que eu queria o diferente, que eu gostava do incomum... E agora James mostrou que ele queria exatamente o oposto disso. Será que ele se importava desse jeito o tempo todo? Não posso deixar também de me sentir usada. Posso? Quero dizer, e se ele ficou esse tempo todo comigo só para favorecer, de algum jeito doentio, a sua imagem?
Limpei a garganta. Chorar na frente da mamãe só traria mais perguntas indesejadas.
- O que houve com você, querida? – ela perguntou. Graças a Deus que Petúnia não estava em casa.
- Nada, mamãe, só tive um dia ruim na escola – o que nem era mentira.
É claro que eu sei que ela não caiu nessa, mas me deixou passar. O que pra mim é uma enorme vantagem. Pelo menos eu podia trancar a porta e repassar os acontecimentos de hoje. E, por isso, leia-se a garota com quem James estava descaradamente flertando hoje. Pode acreditar nisso, ele estava paquerando uma qualquer bem na minha cara! Fazendo aquela coisa idiota de mexer no cabelo. Alguém precisa sinceramente dar um toque nele e dizer que isso NÃO é legal. Sério, gente.
Meu telefone tocou, mas eu não atendi. Como fiz em toda a semana, porque eu sabia que era o James ligando. Ou o que restou dele, deixando mensagens idiotas na minha caixa postal. Não que eu sequer gastasse meu tempo – ou minha conta – ligando pra ler a mensagem: não importava. Nenhuma palavra que ele tivesse pra dizer agora importaria.
Gostaria de ter podido conversar com Sirius sobre isso. Mas ele estava ocupado demais conquistando as próprias lideres de torcida pra se lembrar da melhor amiga descontrolada aqui. De algum jeito, eu não me sinto ofendida por Sirius. Sinceramente, qualquer pessoa que convivesse com ele entenderia que isso era simplesmente inevitável. Então, nesse caso, é tudo muito engraçado.
O que não acontece com James. Nem com Remus, que me surpreendeu da pior maneira possível. Quer dizer... Sirius a gente entende, James a gente ignora. Mas Remus? É um pouco demais pra mim também.
- Lily? – mamãe bateu à minha porta, um pouco mais tarde naquele dia. Eu ainda fazia minhas reflexões profundas enquanto encarava o teto do meu quarto. Talvez eu pinte alguns corações partidos nele. Ou quem sabe algumas lagrimas. – Tem alguém querendo falar com você lá embaixo.
É claro que eu sabia quem era, mesmo que mamãe estivesse tentando amenizar a descoberta. Mas era impossível, pela cara dela, não saber que James estava lá embaixo. Me levantei lentamente e sai do quarto, descendo as escadas. Uma hora essa conversa seria necessária.
Mas James, pelo visto, não achava. Isso porque, na minha porta, estava um projeto de James Potter – versão repaginada e pegador de “garotinhas”. Um projeto que agia e cheirava como se tivesse saído do bar mais próximo.
Não dá pra acreditar que James apareceu na minha casa bêbado! E desde quando James bebe alguma coisa, pelo amor de Deus?
- Lil-ll-y!! – ele cantarolou com a voz engrolada. Pisquei duas vezes – Lil-ly! Meu u-oo amor.
Ele parecia deplorável. Segurava uma coisa vermelha nas mãos que eu não podia identificar, já que ele meio que ficava sacudindo isso na minha cara o tempo todo. Afastei o braço dele com as mãos – meu coração deu um salto nessa hora. Não nos tocávamos desde antes das férias. Droga. – e ele piscou confuso. Então pareceu um pouco mais aprumado.
Mas a sua voz ainda era uma coisa deplorável.
- Lily – ele falou com dificuldade. Depois começou a rir e sacudir a caixa vermelha. Ai ficou sério de novo. Se eu não estivesse brava, teria me preocupado seriamente – Lily, olha!
Ele abriu a caixa e estendeu pra mim. Ali tinham duas alianças, e isso fez meu coração dar outro salto. Na verdade, ele parecia meio engraçadinho ali. Todo atrapalhado. E usando uma camisa xadrez – provavelmente ele havia se esquecido de jogar essa fora em sua mudança rumo ao sucesso – que eu adorava. Mas ele usava por cima da camisa pólo com que tinha ido pra escola hoje. E os óculos estavam tortos no seu rosto.
Sacudi a cabeça e me lembrei de quão traída eu me sentia.
- Lily!! – ele cantarolou de novo, me pegando pelos ombros – Olha! Você me ama, eu te amo! Vamos nos casar!! – ele riu, me pegando pelo rosto e me fazendo arregalar os olhos – Olha! Alianças! Você não gosta de alianças? Mamãe disse que... Que sim! Mas que não. Entende? Ela disse... Você está brava comigo, Lily? Mamãe diz que eu devo esperar... Mas... eu... Você! Eu não vivo sem, Lily!!! Sem você.
Há certas coisas que uma garota precisa fazer, mesmo que isso faça com que seu coração fique dilacerado. Às vezes é muito mais fácil ceder, mas você sabe que não deve. Empurrei James, mesmo que meus olhos insistissem em pinicar de um jeito irritante. Ele não era mais quem costumava ser e eu não sabia se podia lidar com isso. Na verdade, eu já não sabia mais de nada.
Só que não me fazia nada bem ficar ali enquanto ele dizia que me amava. O empurrei quase delicadamente e fiz aquilo que era o certo. Ou talvez aquilo que era fácil no momento.
- Esquece, James – suspirei – Estamos terminando.
Não sei se ele entendeu, já que continuou me gritando por dez minutos. Só espero que nenhum carro tenha passado por cima de sua cabeça.
Lily Evans alterou seu relacionamento para “solteira”.
*Matt Webber curtiu isso*
n/a: OI, GENTE! Antes de mais nada tenho que desejar um feliz ano novo pra vocês, já que não nos vemos desde o ano passado. E, falando nisso, desculpe pela demora. Mas eu não estou de férias (sério, minha escola teve greve, então...), daí as coisas ficam complicadas. Ainda assim o capítulo está aqui. Espero que tenham gostado, e que estejam curtindo a transformação. Esse capítulo não é um dos meus favoritos, mas ele traz muita coisa importante sobre o rumo das histórias! Bom, perguntaram qual curso eu estou tentando pra faculdade: eu estou tentando jornalismo. Rezem por mim! Até o próximo capítulo, fico esperando os comentários de vocês. Beijos, Deb.
N/B: Feliz 2012 Pessoal! Nossos personagens aqui começaram o ano bem hein, que isso.
Só posso dizer que eu estou particularmente ansiosa, pela parte Remus/Dorcas no desenrolar da fanfic. Será que o Remmie vai mostrar o lado lobão dele? Rawr. E a Lily vai dar a chance do James se explicar? Tadinho :(((
Bom, esperam que tenham gostado desse capítulo assim como eu, e que tenham ficado tristes e alegres e vingados também como eu UHAUHAUHAUAHUAHUA. Beijos <3
Comentários (4)
como sempre esta incrivel o capitulo,nuss o Remus tem msm q acabar com a Dorcas, eu ainda ñ a perdoei pelo q fez a ele,to anciosa para o proximo capitulo,beijoks e vc será uma otima jornalista isso eu garanto espero q consiga entrar no curso
2012-01-16Lily burra, mas enfim, a entendo. Remus está ridículo, na moral kkkk. Essa coisa de vingança 'pesquisei na internet' é meio aleatória, mas é bom ver Dorcas sofrendo. E Sirius ja era de se esperar ne ahsuahsua. Muito bom, adorei
2012-01-16só tenho uma coisa a dizer: a Lily merece o inferno...
2012-01-16AE, FINALMENTE! Ah cara, eu não queria que Lily reagisse dessa forma, se ela pelo menos ouvisse o James, saberia que ele só fez isso pra parecer digno dela. Mas Sirius e Remus
2012-01-16