Capítulo 3
CAPÍTULO III
— Você perdeu completamente o juízo!
As palavras do pai ainda ecoavam pela sala, quando ele saiu para o trabalho. A mãe acompanhou-a até a estação, desejando-lhe sucesso.
A confiança do início da viagem começou a desaparecer, assim que o trem entrou nos subúrbios de Londres. E se Harry Potter nem mesmo a reconhecesse? Ela o reconheceria em qualquer lugar. Altos olhos verdes vivos, porte altivo... Sim, em qualquer lugar.
Quando o viu de novo, ele parecia frio e impessoal, sentado à extremidade de uma mesa comprida, numa sala imensa. Havia outras onze pessoas lá, e só uma mulher. Bonita, imponente, com muitas jóias e um olhar duro e calculista. Devia ser uma daquelas que Harry Potter descrevera ao jantar com ela há uma eternidade.
— Sente-se, Srta. Weasley — disse ele. Não havia o mínimo sinal de reconhecimento em seu rosto severo.
Ela sentou-se e as perguntas começaram. Gina respondeu com facilidade, até com um certo atrevimento.
— Você tem algum laço de família? — perguntou um dos homens. — Este cargo exige muito, e talvez precise trabalhar nas horas de folga, principalmente antes da data de lançamento da revista.
— Se está querendo perguntar se sou casada, a resposta é não. A voz de Harry Potter foi como uma facada:
— Mas a senhorita é noiva, certa?
- Eu... Eu não estou noiva, Sr. Potter. Ainda não.
Seu sorriso foi cínico, como se ele pensasse: "Mais uma disposta a dar o fora no pobre coitado, se aparecer uma oportunidade melhor". Gina corou com o pensamento, mas teve que admitir que Harry Potter tinha toda a razão!
O bombardeio de perguntas continuou, e ela mal tinha tempo de respirar. Terminado o interrogatório, foi dispensada para ficar esperando uma resposta na ante-sala.
A última candidata entrou enquanto ela se sentava. As outras levantaram os olhos, examinando-a de alto a baixo. Eram todas, sem exceção, do tipo que Harry Potter lhe havia descrito: frias, controladas, sofisticadas. E ali estava Gina Weasley, contrastando com elas, corada, quase ofegante por causa das perguntas difíceis que enfrentara, com suas roupas simples, feitas em casa, e sem jóias ou maquiagem.
Sentiu vontade de ir embora. Seria inútil ficar esperando só para ser dispensada. Durante o interrogatório, Harry Potter se mostrara duro e antipático, como se tivesse ficado com raiva dela por recusar seu convite.
A última moça saiu sorrindo e parecendo satisfeita. Com certeza, seria a escolhida, pensou Gina. Olhou para o relógio. Já estava ficando tarde, e o próximo trem partiria dentro de meia hora. Se saísse agora, talvez conseguisse pegá-lo...
A porta da sala de entrevistas foi aberta. Harry Potter apareceu e olhou diretamente para ela.
— Srta. Weasley!
Devagar, Gina levantou-se e foi até ele. Com certeza, ia ouvir uma desculpa gentil e impessoal para o fato de não ser a pessoa adequada para o cargo. Parou em frente a Harrye olhou-o bem nos olhos. Ele inclinou a cabeça ligeiramente e murmurou:
— Não me olhe assim, como se fosse me atirar o sapato de novo. Ia só oferecer-lhe o emprego!
Gina cambaleou e apoiou-se no braço dele para não cair. Harry puxou-a para dentro da sala.
Sentada no banco do trem, de volta para casa, ela tentou colocar os pensamentos confusos em ordem, mas foi inútil. Só conseguia se lembrar de que, depois dos acertos finais, Harry Potter a acompanhara até um táxi, acenando uma despedida.
Gina foi visitar a Sra. Potter uns dias antes de partir para o novo emprego. A velhinha ficou encantada, ao vê-la.
— Eu estava mesmo esperando que você aparecesse, meu bem.
— Gostou da reportagem sobre a senhora que saiu no jornal?
— Claro! Mandei um recorte para Harry.
— E o que ele achou? — Gina tentou disfarçar a preocupação na voz.
— Oh, ainda não sei. Ele raramente me escreve. Leva uma vida muito ocupada. Você vai ver, quando estiver trabalhando na firma.
— Ele vem visitá-la com freqüência? — perguntou Gina, começando a ficar desgostosa consigo mesma por estar tão ansiosa por saber mais sobre Harry Potter.
— Vou lhe contar um segredo. — A Sra. Potter deu uma risadinha. — Harry geralmente aparece quando tem algum problema. Conta-me o que o está preocupando, conversamos sobre o assunto e, de repente, surge uma solução. Eu raramente dou uma opinião. Acho que só o ajudo a pensar.
O sorriso desapareceu e a velhinha franziu a testa.
— Sabe, ele não consegue dialogar com os pais. Minha nora é bonita e delicada, mas não tem um pingo de juízo. Meu filho... Bem, eu o adoro, mas sei que vive com a cabeça nas nuvens. Só pensa no trabalho. Começou a inventar vestidos bonitos desde que se formou em arquitetura e nunca mais teve tempo para nada. E por isso que Harry sempre veio a mim. Lembro-me de que um dia...
A Sra. Potter continuou falando sobre a infância de Harry por algum tempo. Gina começou a ficar inquieta. Ouvir coisas íntimas sobre aquele homem a fazia imaginá-lo ali naquela sala, sentado no braço da poltrona da avó sorrindo para ela.
— Prometa vir me visitar quando vier ver seus pais, Gina — pediu a Sra. Potter, ao se despedirem. — Já encontrou onde morar em Londres?
— Sim, vou ficar com o apartamento de Luna Lovegood, a atual editora da revista. O Sr. Potter pediu ao advogado da firma para passar o contrato de locação para mim.
— Espero que goste do novo emprego.
— Ah, estou encantada com ele. — Gina deu uma risada. — Mas o principal é se o Sr. Potter vai gostar de mim!
— Minha querida menina, quanto a isso, não tenho dúvida, a menor dúvida.
No dia seguinte em que Gina se mudou para o apartamento, encontrou Luna Lovegood saindo.
— Espero que se dê bem no emprego. A única coisa de bom nele é o salário. De que revista você está vindo?
Quando Gina lhe explicou sobre o jornal do interior, a outra fez um ar de dúvida.
— Não sei se você vai conseguir enfrentar. Não imagina como eles são. Vão te dar umas duas ou três semanas para se acomodar e depois ficar observando. Na menor falha, você estará na rua. Assim! — Estalou os dedos.
— O que está querendo dizer? Quem é que vai ficar me observando?
— Oh, a diretoria. Harry especialmente. Vai levá-la para jantar, almoçar e muito mais... Isso faz parte do trabalho... Mas passará o tempo observando seu trabalho.
— Mas... Pelo que ele me disse, costumam dar carta branca aos editores.
— É o que Harry sempre diz, mas acho que deve ter um radar na cabeça, sempre pronto a captar o menor erro. Oh é bonito e charmoso, um dos partidos mais cobiçados de Londres, mas por dentro é puro aço. Se você se atravessar no caminho dele, será esmagada sem piedade. Afinal, como é que conseguiu esse emprego?
Gina lhe contou.
— Agora estou entendendo — disse Luna, balançando a cabeça como se tudo estivesse se encaixando. — Outra das "descobertas” de Harry. Sei como é. Também fui uma delas. Ele me conheceu numa festa e convidou-me para ser modelo na Maison do pai. Trabalhei lá por uma temporada. Quando Jamie mudou o estilo da coleção disse que meu rosto não se ajustava ao novo padrão. Então, Harry me ofereceu o emprego na revista, sabendo que eu entendia de moda. Mas acho que meu rosto também não se ajustou ao padrão dele, porque, pouco tempo depois, começou a me dar indiretas. Não sou boba e saí à procura de emprego, onde espero encontrar mais segurança e liberdade de criação.
Luna saiu, deixando uma onda de perfume francês. Gina afundou numa poltrona. Fechou os olhos, tomada por dúvidas e preocupações. Então, era só mais uma das "descobertas" de Harry? Alguém que ele poderia dispensar a qualquer momento? O pensamento a magoou de forma surpreendente. Devia ser por causa do orgulho ferido, mas havia uma outra sensação estranha, diferente, que não conseguia entender.
Passou o resto da tarde e o começo da noite arrumando suas coisas no apartamento, deliciando-se com seu espaço e conforto. Era muito mais bem equipado e mobiliado do que a casa de seus pais e valia cada centavo do aluguel bastante alto que teria que pagar.
Antes de dormir, ligou para os pais para lhes contar que já estava instalada. Depois telefonou para Dino. Enquanto conversavam, foi tomada por uma grande saudade dele, de seu jeito gentil e da segurança que representava.
No dia seguinte, Gina chegou bem cedo ao trabalho para poder sentir o ambiente antes da chegada dos outros funcionários. Tentou se convencer de que não estava nervosa e de que, com um pouco de prática e experiência, seria capaz de fazer um excelente trabalho.
A editora ficava num prédio de doze andares. Foi até a janela e olhou para a cidade. Ah, do nono andar, podia ver os prédios antigos e alguns marcos históricos, agora quase sufocados pelos modernos arranha-céus. Suspirou, lembrando-se do verde e da tranqüilidade de sua cidade.
Voltou à sua mesa, ajeitando o casaquinho do conjunto elegante, um pouco aborrecida por ter precisado ativar sua confiança usando uma roupa comprada pronta. Já se sentia diferente e não estava muito satisfeita com isso. Começou a folhear alguns números da revista que iria editar, Salon. Não gostava do nome nem do conteúdo ou estilo.
Tinha estudado a revista em detalhes desde sua contratação e, cada vez que a olhava, sentia que havia algo de muito errado nela.
Ouviu um movimento na sala ao lado e ficou tensa. O nervosismo voltou com toda intensidade.Houve uma batidinha na porta e um rosto sorridente apareceu,
— Bom dia. Posso entrar? Sou sua secretária. Secretária de todos, aliás.
Aliviada Gina estendeu a mão para a moça, que devia ter quase sua idade, e se apresentou.
—- Muito prazer, Srta. Weasley. Sou Hermione Granger.
— Me chame de Gina. Não gosto de formalidades.
— Sabe, estivemos todos imaginando quem iria aparecer, desta vez. Somos todos jovens por aqui e não gostaríamos de ser mandados por uma dessas madames pintadas. De uma coisa pode ter certeza: você será recebida de braços abertos... Principalmente pelos rapazes!
— Sente-se e me conte como funciona a revista.
— Não tenho muito a contar. Somos poucos funcionários e, como eu, todos fazem mais do que um trabalho. Michael Corner e Ben Harlow cuidam da arte e da publicidade, Sarah Buckley é a redatora, mas também trabalha como assistente de moda. E eu. Como vê, revista pequena, equipe pequena.
— E circulação pequena. Hermione fez uma careta.
— Acertou. Todos os meses, quando sai a revista, ficamos imaginando se não vai será última.
— Mas por que até agora não fizeram nada para melhorá-la? Será que os chefões não perceberam que há algo de errado nela?
— Tente dizer a eles — respondeu Hermione, encolhendo os ombros. O telefone tocou e ela se inclinou sobre a mesa para atender. — É a secretária da Srta. Weasley. — Levantou os olhos para o teto e deu o aparelho para Gina. — Falando no diabo... É o chefão em pessoa. — E saiu.
— Aqui é Harry Potter, Srta. Weasley. Como está se saindo?
—
Então, ele já começara sua observação. Nem lhe dera uma oportunidade para se acostumar com o novo ambiente.
— Muito bem, obrigada — respondeu, tentando aparentar frieza.
__Tem algum compromisso para o almoço?
_ Não, acho que não.
.__Ótimo. Então, almoçará comigo.
__Mas, Sr. Potter acho que não terei tempo para...
.__Srta. Weasley, este não é um convite qualquer. Não estou pensando em seduzi-la. — Gina corou e rangeu os dentes de raiva. — Será um almoço de negócios.
— Entendi. Uma ordem do rei.
— Como quiser. Estarei aí ao meio-dia e meia em ponto. — Harry Potter desligou sem dizer mais nada.
Durante a manhã, Gina conheceu os outros membros da equipe. Michael era alto, magro e bonito demais para ser verdade. Sarah era gordinha, simpática e sorridente. Ben usava óculos, barba e, em suas próprias palavras, era um pessimista incurável.
Gina estava sozinha quando Harry entrou. Ficou parado perto da porta, observando-a.
— Vejo que se vestiu para o papel. — Seu sorriso a irritou. Ele se aproximou e olhou para seus pés. — Hum, sapatos de salto, fechados. Com certeza, uma concessão a uma posição tão elevada. Sim, está acontecendo uma mudança. A gatinha do interior está começando a crescer.
Ela teve que controlar a raiva e olhou feio para ele.
— Estou esperando — disse Harry
.
— Esperando o quê?
— O sapato.
— Sr. Potter! — Gina fez o nome soar como um palavrão. — O senhor foi o primeiro a me dizer que o objetivo de nossa conversa seria só negócio.
— Olhe só, ela até está com jeito de executiva! — Ficou olhando, enquanto um vermelho de raiva tomava conta das faces de Gina. — Desculpe, estava só recordando o passado. — Até seu modo de se desculpar caçoava dela. Decidiu fazer tudo para ser levada a sério.
— Por mim, preferiria ficar aqui mesmo para conversarmos sobre a revista.
— Não. — Harry assumiu uma atitude decidida. — Vamos almoçar, e então conversaremos.
Foram a um restaurante onde havia uma mesa reservada para eles. Já estavam no meio da refeição, quando Harry começou a falar sobre a revista.
— Agora que estamos saciando nosso apetite e de melhor humor; vou fazer um resumo sobre a revista e o que espero que você faça. Imagino que já teve oportunidade de estudar a Salon e fazer uma análise.
— Sim — começou Gina, ansiosa por expor suas idéias. — Não gosto...
— Olhe, eu disse que ia explicar o que quero. — Harry levantou uma sobrancelha, cheio de sarcasmo.
— Desculpe. Não o interromperei mais.
— Quero que preste muita atenção ao que vou dizer, porque é muito importante. Meu pai, como você sabe, tem uma Maison de alta costura. Jamie dita a moda e veste mulheres ricas, que podem comprar seus modelos exclusivos. Em conseqüência, sua clientela é pequena. De fato, é tão pequena que, se ele não tivesse apoio financeiro vindo de outros lados, não poderia continuar seu trabalho. Iria à falência em pouco tempo. A revista que você vai editar é publicada como um tipo de mostruário dos modelos de Jamie.
— Quer dizer que ela só existe para promover os interesses dele, seus negócios?
— Sim. — Ele tomou um gole de vinho e colocou o copo sobre a mesa com um movimento brusco. — Por isso, a circulação é restrita. Sua proposta é atrair as muitas mulheres ricas de outras cidades, que são tímidas ou não têm coragem de vir direto a Maison de meu pai. Na verdade, a revista é uma isca, um incentivo. — Sua expressão mudou e Harry Potter assumiu um ar mais humano. — Acho que você deve ficar sabendo que, financeiramente, os negócios de meu pai vão muito mal.
Gina teve a sensação de que ele falava com ela não como se fosse funcionária da firma, mas de homem para mulher. Com a guarda baixada, Harry parecia estranhamente vulnerável. O antagonismo que sentia por ele desapareceu e teve de segurar sua mão. Encontrou o olhar dele, e aquela sensação da outra vez voltou com a mesma intensidade: a sala pareceu girar à sua volta.
Gina esforçou-se para recuperar a compostura e, depois de um breve intervalo, ouviu Harry dizer:
— A situação não é incomum. A alta costura em geral está sentindo os efeitos de uma nova era.
— Sr. Potter... Posso... — Gina procurou escolher bem as palavras. — Posso perguntar se o senhor é dono da firma?
— Não, não sou. Meu pai é o proprietário de tudo. Da Maison, da editora... — Deu um sorrisinho desanimado. — Ele é um fracasso como administrador; por isso comecei a tomar conta dos negócios. Uma porcentagem dos lucros da editora é destinada a cobrir os prejuízos com a alta costura.
— E ele não tem outros interesses, como a maioria dos criadores de moda? Cosméticos, por exemplo, ou acessórios, jóias, perfumes?
— Não. Meu pai é um purista, no que se refere a seus negócios. Chama tudo isso que você mencionou de "muletas", coisas que só servem para disfarçar a incompetência de um estilista.
— Mas não é verdade! Pense nos nomes famosos que estão envolvidos com isso!
— É assunto encerrado, para ele.
— Mas, com certeza, o senhor, como homem de negócios, pode tentar convencê-lo...
— Eu a apresentarei a meu pai, Srta. Weasley. Então, verá que, não só é impossível alguém tentar convencê-lo, como é mais impossível ainda dialogar com ele. É como se meu pai vivesse num mundo diferente do nosso, um mundo só dele.
— Mas quase todos os grandes costureiros têm butiques, uma linha prêt-à-porter, feita por uma equipe que adapta seus modelos. — Gina falava com animação e suas faces estavam coradas pelo entusiasmo. Nem notou os olhos verdes que a observavam atentamente. — E cedem sua grife para as mais variadas indústrias. Ganham muito dinheiro com isso.
— Está me dizendo algo que já sei há muito tempo. — Havia uma leve irritação na voz dele, mas ela se recusou a aceitá-la.
— Por favor, Sr. Potter compreenda: do jeito que está, a revista não vai durar mais do que poucos meses. Tem que ser alterada para continuar existindo. Já estou com várias idéias e... — Ficou decepcionada ao ver que os olhos verdes voltavam à habitual dureza. — Bem... Eu... Se me for permitido fazer algumas modificações... Graduais, é claro... Talvez... — Sua voz foi sumindo, até a expressão de Harry Potter interromper bruscamente seu ardor
— Parece que vou ter que me repetir até enjoar: a revista vai continuar como está. Não haverá mudanças, nem na forma, nem no cometido.
Falou como dono da firma, um verdadeiro rei ditando ordens que ela teria que aceitar, se quisesse continuar no emprego. Terminaram a refeição em silêncio. Harry olhou para o relógio,
— Você tem algum compromisso especial, esta tarde?
— Não.
— Ótimo, eu a levarei até a Maison de meu pai. Mais cedo ou mais tarde, terá que conhecê-lo. Como é, em certo sentido, uma protegida minha, é melhor eu fazer as apresentações. Vamos?
Levantou-se, ajudou-a vestir o casaquinho e saíram.
A casa era branca, imponente, com grandes colunas. Gina sentiu-se um pouco intimidada, ao pensar no homem famoso que vivia ali. Um lugar adequado pensou, ao ver o luxo e o bom gosto que á cercavam, para alguém que vivia num sonho e tentava se esconder do mundo lá fora.
— Impressionada srta. Weasley? — perguntou Harry, com um sorriso irônico. Apontou para os quadros no saguão, de onde saía uma escadaria dupla que levava a dois andares separados. — Tudo autêntico. Nada de imitações baratas.
Começou a subir um dos lances de escada e Gina seguiu-o, sentindo-se como um cachorrinho sendo levado pela coleira. Desconfiava de que não ia conseguir fazer quase nada do que planejara, no novo emprego.
— Espere aqui — disse ele, ao chegarem ao alto, apontando para uma saleta.
Havia tensão em sua voz, e Gina não ficou ressentida com seu modo brusco. Também se sentia nervosa e podia compreendê-lo. Quando Harry lhe fez um sinal para entrar, lançou-lhe um sorrisinho que não foi correspondido.
—Esta é minha mãe. Mamãe, a Sra. Weasley.
A Sra. Potter era miúda, magra e elegantíssima. Os cabelos, ruivos e brilhantes, estavam presos num penteado perfeito. Havia uma expressão de súplica e espera em seus olhos, e quando falou foi no tom choroso de uma criança ignorada, acostumada a se queixar para atrair atenção. Só tocou de leve a mão de Gina, como se apertá-la fosse um esforço de que não seria capaz.
— Seu pai virá dentro de alguns minutos — Lily Potter disse, dirigindo-se ao filho e ignorando a visitante. — Pelo menos, foi o que mandou dizer. Nunca se sabe se ele vai fazer o que promete.
— Sente-se, Srta. Weasley. — Harry deu um suspiro. — Parece que vamos ter de esperar um bom tempo. — Foi até a janela e acendeu um cigarro. Era fácil perceber o quanto estava tenso.
Pouco depois, a porta se abriu e Jamie entrou. Harry fez as apresentações e ficou observando.
Como a esposa, Jamie mal tocou os dedos de Gina. Não era muito alto e seus cabelos grisalhos estavam longos, cobrindo o colarinho da camisa. Apesar de bonito e conservado para a idade, parecia frio e sem vivacidade.
Gina sorriu, mas não recebeu resposta. Percebeu que estava sendo inspecionada da cabeça aos pés. Jamieolhava para ela como uma criança examina um estranho parado na porta de casa. Depois se sentou ao lado da esposa.
A moça começou a ficar desesperada. Alguém tinha que quebrar aquele silêncio incomodo.
— Esta casa é linda — disse, tentando forçar um tom alegre.
— Oh, é grande demais — choramingou a Sra. Potter, depois de alguns instantes. — Eu gostaria de me mudar daqui, de separar o trabalho de meu marido de nossa vida particular...
— Esta casa é perfeita — Jamiefalou, numa voz gelada e decidida. — Não poderia ser melhor para nossos propósitos.
A conversa terminou aí. Gina entrou em pânico e lançou um olhar suplicante para Harry. Por que ele não vinha em seu socorro? Mas ainda estava perto da janela, com um ar distante e indiferente.
Lembrou-se das palavras da velha Sra. Potter, que lhe contara que o neto não linha diálogo com os pais.
Tentou falar de novo, mas não encontrou uma única frase coerente. Tornou a olhar para Harry. Finalmente, ele tirou uma última baforada do cigarro, apagou-o no cinzeiro e quebrou o silêncio:
— Ela conhece vovó.
Houve um sinal de vida nos olhos azuis de Jamie.
— Ah, é mesmo?
Gina agarrou-se ao assunto como um náufrago a uma tábua de salvação.
— Ela é uma pessoa maravilhosa. Fui visitá-la e posso dizer que ficamos amigas. A renda que ela faz...
— Você sabe sobre a renda? — perguntou Jamie, ríspido.
— Sim — Harry respondeu por ela.
— Então, por favor, srta... Ahn... Weasley, guarde segredo.
Gina garantiu-lhe que já havia prometido não comentar o assunto com ninguém.
— E como ficou conhecendo minha mãe?
— Antes de eu vir trabalhar para o Sr. Potter era repórter do jornal de nossa cidade. Eu...
— Você é jornalista? — A voz de Lily saiu quase num ganido. — Pensei que tinha vindo para ser modelo!
— Não gostamos de jornalistas, nesta Maison. — Jamie não poderia ser mais gelado, mesmo se quisesse. Lançou ao filho um olhar cheio de censura.
— Papai, a Srta. Weasley é a nova editora da Salon.
A informação não pareceu alterar o mau humor do costureiro.
— Mesmo a editora da Salon não tem entrada livre em minha casa. Simplesmente, não confio em ninguém da imprensa, seja lá quem for.
— Mas, Sr. Potter, o senhor devia gostar deles — protestou Gina. — Claro que sei que a alta costura exige segredo até o lançamento das coleções, mas, entre as apresentações, a imprensa poderia ser uma grande aliada. Seu apoio e a publicidade acabariam com seus problemas financeiros, garantindo-lhe um futuro cheio de sucesso.
— Srta. Weasley, não preciso de conselhos de uma jovem inexperiente. Sei como lidar com meus negócios e consigo toda a publicidade que quero através da Salon.
Gina ignorou o tom ácido e a censura em sua voz. Só tinha consciência de que finalmente estava conseguindo se comunicar com ele, mesmo que fosse como gritar do outro lado de um rio muito largo.
— Nós não lhe damos publicidade, Sr. Potter. Pelo menos, não do tipo necessário. Como podemos, quando somos tão rigidamente controlados?
Jamie parecia perplexo demais com tanto atrevimento, para interrompê-la.— E o senhor quem determina o que devemos escrever nos editoriais, nos artigos. Meus colegas também me disseram que só podem publicar as fotos que o senhor seleciona. Aparentemente, não temos escolha. E também só podemos mostrar os modelos depois que foram apresentados nas coleções, quando já estão nas outras revistas. Ora, a Salon não é mais do que um catálogo enfeitado!
François levantou-se.Estava tremulo de raiva, o rosto completamente sem cor.
Harry chegou perto dela em dois passos e pegou-a pelo braço. —- Srta. Weasley! — Foi um aviso, um aviso cheio de raiva.
— Desculpe, Sr. Potter. — Gina também estava pálida e assustada com aquela reação.
A porta foi aberta com violência e uma mulher aflita implorou a monsieur Jamie para ir depressa.
— Cho está chorando e não consigo fazê-la parar.
— O que há com ela? — perguntou Harry, ríspido.
— Disse que eu a faço trabalhar demais, que espero que se mate no serviço, e agora... — A mulher levantou os braços, num gesto de desânimo.
— Pode deixar, vou acalmá-la. — Harry desapareceu pela porta. Ainda pálido, e desviando-se de Gina como se ela fosse portadora de uma doença contagiosa, Jamie seguiu o filho. A Sra. Potter saiu da sala e tomou a direção da escada.
Gina ficou sozinha. Sentindo as pernas fracas, afundou numa cadeira e apoiou a cabeça numa das mãos.
— Se eu não sair logo desta casa, vou ficar maluca! — resmungou.
— Mademoiselle Weasley? —.A mulher aflita que tinha vindo chamar Jamie estava de novo na porta. — O Sr. Potter pediu para chamá-la.
Gina seguiu a figura vestida de preto pelo corredor que levava a uma outra aia da casa. Ouviu alguém chorando quando a porta da oficina foi aberta.
Uma jovem bonita e seminua soluçava nos braços de Harry Potter.
----------------------------------------------------------------------------------------------------
N/A: Bom, eu estou repostando essa fic, por motivos de força maior haha! Só eu mesma pra cometer a burrice de apagar o meu e-mail do cadastro da F&B! Nunca façam isso crianças!!! Porque sem e-mail, não dá pra fazer login! Mas fazer o que? Perdi todas as minhas fics favoritadas e tô tendo que procurar td d novo! Mas o mais trabalhoso é, sem duvidas, repostar as fics!
E, por favor, perdoem-me por possíveis erros. É que eu não tenho beta e posso esquecer de adaptar alguma coisa eventualmente... mas, sinceramente, acho que funciono melhor sem beta, porque eu já sou enrolada por mim mesma, se eu fosse mandar o cap pra alguém betar então... vcs simplesmente não iam ler o cap nunca haha!
Enfim, é isso! Desculpem o fato de eu não reponder os coments, mas é que eu estou imensamente atolada! Mas mesmo assim vou tentar atualizar rapidinho e reponder os coments da próxima vez ok? Comentem por favor!!! Eu imploro, estou muito necessitada de incentivos!
Beijoooos!
Comentários (1)
e o proximo cap? desistiu da fic?!!
2011-03-16