Ao Som de Uma Música Lenta

Ao Som de Uma Música Lenta



Eu gostava tanto de você, embora nunca vou me perdoar por não ter te enxergado antes. Minha melhor amiga, minha confidente, você que nunca me virou as costas mesmo quando o resto do mundo o fez. Não podia contar com ninguém, meus pais estavam mortos, os Durleys me odiavam, Rony e eu tínhamos brigado, mas você sempre esteve lá para tudo que eu precisasse e nunca serei grato o suficiente. Namoramos em Hogwarts e terminamos na noite de formatura. Você se formaria como medi-bruxa na Rússia e eu faria um curso de auror nos Estados Unidos, aquilo me doeu tanto. Eu estava te deixando ir. Ao mesmo tempo em que não queria que nos separássemos, não queria ficar no caminho dos seus sonhos. Então parti, sem me despedir, achei que seria menos difícil. Fui buscar um Champanhe e nunca mais voltei, acredite isso machucou muito mais em mim do que em você.
Eu havia te tirado para dançar. Segurei fortemente sua cintura na tentativa de não te deixar ir, mas você sabia, assim como eu, que aquela seria a nossa última noite como namorados. Você repousou a cabeça na curva do meu pescoço e dançamos ao som de música lenta. Queria que aquele momento durasse eternamente para que pudesse ter você em meus braços para sempre. Fomos para a mesa junto com Rony, Gina e Luna. Depositei um carinhoso beijo em sua testa e disse que buscaria uma bebida para nós, você deu um sorriso doce como resposta. Eu me virei e andei em direção ao bar, girei meus calcanhares para te ver novamente, pela última vez. Você estava conversando alegremente com Gina e Luna, Rony fazia uma cara emburrada. Sorri ao te ver, você estava feliz. Voltei novamente ao meu caminho e desviei do bar, segui para a porta do grande salão. Não queria fazer aquilo, queria voltar e te contar que estava partindo, mas sei que você me pediria para ficar, e eu atenderia a esse pedido, apenas tornando as coisas mais difíceis. Deixei-te para nunca mais voltar.
Fiz meu curso de auror nos Estados Unidos, não passei um dia sem imaginar o que teria acontecido se eu tivesse voltado.
Voltei para o Reino Unido depois de dois anos, te procurei, mas você não estava lá, supus que estaria na Rússia. Encontrei com Rony, ele me disse que casaria com Luna em uma semana, resolvi ficar para o casamento.
A semana se arrastou e finalmente o dia do casamento chegou, eu seria padrinho. Cheguei à Toca com um terno preto e uma camisa também preta. Pela primeira vez me perguntei quem seria o meu par. Cumprimentei Rony que estava mais vermelho do que os próprios cabelos. Passava a mão freqüentemente pela cabeça. Quando tentava acalmá-lo, eu te vi. Com um sorriso de menina em um corpo de mulher, lembro-me como se fosse ontem, você vestida naquele vestido vermelho apagado até o meio das canelas. Os cabelos arrumados em um coque com alguns cachos caídos sobre o rosto, descendo as escadas da sala, como você estava linda. Cada degrau que você descia, minha boca abria um centímetro a mais. Meu coração acelerou e foi como se aquela escada não terminasse nunca. Seus olhos nos meus, os meus olhos nos seus. Finalmente o último degrau chegou. Rony parecia mais calmo.
‘’Olha aí a Mione, cara’’, ele me disse com um sorriso maroto no rosto, ‘’Você vai ser padrinho com ela, esqueci de te avisar’’, bateu em meu ombro e piscou.
Você também parecia surpresa, embora o sorriso de seu rosto nunca tenha desaparecido, parou ao meu lado e apenas falou um oi.
Eu respondi ao cumprimento e ofereci o braço. Você o segurou e juntos fomos ao quintal onde seria realizado o casamento. Chegamos ao altar e ficamos parados ainda de braços dados, fingindo olhar para frente, mas de tempo em tempo eu te olhava, fingindo estar procurando algo atrás de você, apenas para ver o seu sorriso novamente.
O casamento começou e passou ligeiramente rápido. Quando vi, já estávamos sentados em uma mesa. Uma música lenta tomou conta do local, mas os convidados pareciam estar acanhados. Sem conseguir controlar minhas emoções, eu levantei e te ofereci a mão, você me olhou com uma cara confusa e eu apenas perguntei: ‘’Quer dançar comigo?’’.
Segurei sua mão e fomos os primeiros na pista improvisada que montaram no meio do jardim. Repousei minha mão em sua cintura e com a outra segurei sua delicada mão, senti a outra descansando em meu ombro. Você me olhando e eu sustentando o olhar. Assim me lembro que ficamos um bom tempo. Para mim não existia mais ninguém naquele momento, como se estivéssemos apenas nós dois naquele casamento, eu e você, você e eu, dançando novamente ao som de uma música lenta.
Os convidados pouco a pouco lotaram a pista, mas eu apenas tinha olhos para você. Olhei-te.
‘’Eu não queria ter saído daquele jeito’’, eu disse me referindo à noite de formatura.
‘’Eu sei que não’’, você disse entendendo perfeitamente o que eu queria dizer.
‘’Como sabe?’’, perguntei confuso.
‘’Você sabe que eu não gosto de despedidas’’, você me disse com um fraco sorriso nos lábios, ‘’Teria feito o mesmo no seu lugar, mas sabe... ’’, você hesitou em continuar, tomou fôlego e disse ‘’eu senti sua falta. ’’
‘’Não teve um dia nesses dois anos que eu não tivesse pensado em você. ’’
Ao dizer isso, seus olhos me encararam com um brilho intenso que eu nunca tinha visto antes. Sustentamos aquele olhar durante alguns segundos e então eu te beijei. Com ternura, amor, carinho, mas que transmitia todo meu desejo. Ao separar nossos lábios, te vi sorrindo, aquele sorriso doce que eu tanto gostava. Retribui o sorriso embora sempre achasse que o meu ficaria sem graça ao lado do seu.
Você me abraçou, ali, em plena pista e eu correspondi ao seu abraço. Você foi para o meu apartamento aquele dia, e nos amamos como se fosse a primeira e a última vez. Acordar e te ter ali do meu lado foi a melhor sensação que já provei. Algumas mechas do seu cabelo caindo delicadamente sobre o rosto, afastei-as para dar um beijo estalado em seus lábios.
Você sorriu ainda com os olhos fechados e depois de breves segundos os abriu lentamente.
Você disse ‘’Bom dia’’ e eu respondi antes de te beijar.
Após aquele dia, nós namoramos. Segui o seu conselho de esquecer os problemas e apenas ser feliz.
Hoje faz exatamente dois anos que casamos, que moramos nessa casa que tenho orgulho de chamar de lar. Rony e as crianças nos visitam freqüentemente, mas ainda não temos filhos, ainda.
Deixo-te esse bilhete que mais parece uma novela como presente de aniversário de casamento ao lado de nossa cama, para que quando você acorde, se recorde de tudo que passamos juntos.

Até daqui a pouco.
Com todo amor e ternura de um homem, o sempre seu,
Harry.

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