Capítulo único




Mais uma vez, entro no quarto onde você me espera. Onde já me esperou tantas vezes e com tantos tipos diferentes de expectativa. Sei que agora é provavelmente a pior delas. Me olha com medo, com desespero, como se suplicasse, mesmo sabendo que eu não cedo. Eu não cederia, meu bem. O que você não sabe é que nesse mesmo quarto eu te esperei muito mais vezes. Te esperei chorando, com o coração na mão, enquanto você sorria pra mais de mil mulheres porta afora. E eu esperava pacientemente porque sou sua, sempre fui sua. Sua Bella. Mas você, Sirius, você tenta não ser meu. Foge das minhas mãos, bate a porta do quarto. E eu já te avisei diversas vezes que a fuga é desnecessária. Agora a prova viva: você na cama amarrado enquanto eu tranco a porta pra cobrar o que me deve. A dor igualmente forte que eu quero ver estampada no teu rosto pra compensar a que cobriu o meu. Pego a vela. Acesa, quente, derretendo. Quanto mais ela chega perto das tuas pernas, mais você grita. Conforme a cera escorre pela tua pele macia. Veja bem, meu bem: Não adianta gritar. Talvez se o fogo em si chegar mais perto você pare. Mas, sabe, Sirius, é como um ciclo, sempre foi. Você me amava, me iludia, chegava perto com esses olhos cor de céu enquanto eu me derretia colada ao teu corpo. Pra que, então, você se afastasse com tantas outras, tão desnecessárias quanto eu. E eu chorava. Eu, sempre tão forte, chorava por você como uma criança perdida na rua. Pra que você voltasse mas você não voltava, você nunca voltava e eu sempre esperava, Sirius! E então nasce o ódio. O ódio vem da mágoa e o ódio dilacera. Destrói qualquer coisa, embaça a visão. É o ódio que consome, Sirius. É o ódio que me move. Mas então seu rosto demonstra uma fraqueza que eu normalmente não vejo, dele caem lágrimas. E eu me vejo vulnerável novamente, rendida aos teus cuidados, aos teus olhos molhados... Pra que o ciclo recomece. Sem fim, Sirius. Porque meu fim é você e você sabe. Caminho pelo quarto pra não ter que encarar seus olhos. O espelho que tantas vezes refletiu nossos corpos juntos agora reflete o vazio. Não cabemos mais em um reflexo só. Você implora enquanto eu maltrato, você sorri enquanto eu choro, não cabemos mais. Nem sequer posso enxergar a mim, é um espelho vazio. Afinal, nem sei em que me tornei. Não era essa a “sua Bella”, era Sirius? Não, sua Bella não faria isso. Em um movimento impulsivo de raiva, quebro o espelho com as mãos trêmulas. Agora você não sangra mais sozinho, meu bem. Existe um caco enterrado em meu pulso que provavelmente me levará à morte. Com ele enterrado no braço e você enterrado no peito. Sabe, é como diz a lenda, 7 anos de azar. Pra você ou pra mim, tanto faz. Pra quem sobreviver ao ciclo.

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