Capítulo único




“Caro Sirius” – Bellatrix pronunciou em voz alta enquanto ao seu lado uma pena enfeitiçada escrevia com agilidade em um pergaminho – “Como combinado, estou lhe mandando a mala com suas vestes que ainda estavam aqui. Entendo que não queira me olhar nos olhos depois de tudo que passamos.” – Ela parou por um instante e a pena imitou o movimento. Fitou, então, a mala vazia e aberta que se encontrava sobre a cama. Com uma faca afiada na mão, espalhou as roupas que carregava pelo chão do quarto e tornou a falar. – “Mas espero que entenda que o estado de suas roupas só faz refletir o meu próprio.” – Parou, novamente, analisando uma linda blusa acinzentada. Esticou, então, a peça pelos braços e a passou contra a faca, cortando de uma ponta à outra. – “Você sabe, eu não consigo entender essa idéia absurda. Talvez eu deva te explicar novamente o quanto você não pode se desvencilhar de mim.” - Ao dizer isso, cortou o tecido ainda com mais força, dividindo a peça em vários pedaços. A seguir, passou para outra blusa. E outra. Com agilidade e força, com movimentos raivosos enquanto sua voz era decidida. – “E escrevo essa carta apenas para que você entenda. Sei que me acha fraca agora, provavelmente louca, não o culpo por isso. Mas posso ser muito pior do que imagina caso você insista nessa separação imbecil.” – Fez uma pausa contemplando os pedaços destruídos de tecido à sua frente. – “Eu não te aconselharia a isso embora você saiba que te amo com todo meu corpo e é só por isso que faço o que faço. Quero a certeza da sua felicidade comigo.” – Bellatrix levantou-se, colocando, calmamente, as roupas destroçadas dentro da mala. – “Mas espero que essas minhas palavras te cortem com a mesma dor que me invadiu ao cortar tuas roupas. E aí sim possa entender o que é enfraquecer por se amar demais.” – ela fechou a mala cuidadosamente. – “Eu não me importo com o resto, Sirius. Não vejo motivos ou sequer conseqüências, você há de entender que nada pode ser maior do que a tua presença eterna ao meu lado, custe ela o que custar.” – Com uma expressão que beirava a psicose em seu rosto, Bellatrix levou a faca ao braço e fez um pequeno corte. – “Não importa o que você é, pra mim basta que seja meu. E se não for meu, me perdoe, mas não será de mais ninguém.” – Três gotas de sangue caíram propositalmente no final da carta aonde se lia um borrado “Com amor eterno, Bella” e mancharam a última linha torta - “PS: Perdoe-me pelo sangue, não achei forma melhor de avisar-te que a vida é frágil.”

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