CAPITULO 37 - O LEGADO DE UM C
CAPITULO 37 - O LEGADO DE UM CAVALEIRO
- Acorde, Harry. - Ele se mexeu e resmungou. - Preciso da sua ajuda. Há algo errado! - Harry tentou ignorar a voz e quis voltar a dormir. - Levante!
- Vá embora. - reclamou ele.
- Harry! - Um grito ressoou na caverna. Ele levantou-se de repente, tateando à procura de seu arco. Saphira estava curvada em cima de James, que tinha rolado para fora da laje e estava caído no chão da caverna. O rosto dele estava contorcido por causa da dor, seus punhos estavam cerrados. Harry foi correndo para perto dele, temendo o pior.
- Ajude-me a colocá-lo direito. Ele vai se machucar! - gritou para Draco, agarrando os braços de James. Ele sentiu uma forte dor no lado do corpo quando o ancião começou a espasmar. Juntos, contiveram James até que a convulsão dele passasse. Depois, voltaram a colocá-lo cuidadosamente na laje.
Harry tocou a testa de James. A pele estava tão quente que o calor podia ser sentido a quase três centímetros de distância.
- Traga água e panos. - disse ele preocupado. Draco trouxe o que ele pediu, e Harry, gentilmente, umedeceu o rosto de James, tentando baixar a temperatura. Quando a caverna ficou em silêncio novamente, ele notou que o sol brilhava do lado de fora.
- Quanto tempo nós dormimos? - Perguntou a Saphira.
- Um bocado. Fiquei observando James durante a maior parte do tempo que vocês dormiram. Ele estava bem até um minuto atrás quando começou a se debater. Acordei você assim que ele caiu no chão.
Ele esticou-se, estremecendo porque suas costelas causaram uma dor aguda. Uma mão, de repente, agarrou o ombro dele. Os olhos de James abriram-se de uma vez e ele fixou o olhar em Harry.
- Você! - suspirou ele. - Traga-me o odre de vinho!
- James? - exclamou Harry feliz por ouvi-lo falar. - Você não devia beber vinho, isso só vai fazer você piorar.
- Traga logo, rapaz... Apenas traga... - suspirou James. A mão dele caiu do ombro de Harry.
- Volto já, espere. - Harry foi correndo em direção aos alforjes e revirou-os freneticamente. - Não estou conseguindo achar! - gritou ele, olhando em volta desesperadamente.
- Aqui, tome o meu. - disse Draco, oferecendo uma bolsa de couro.
Harry pegou-a e voltou para James.
- Já estou com o vinho. - disse ele se ajoelhando. Draco retirou-se para a entrada da caverna para que eles pudessem ter privacidade.
As palavras seguintes de James foram fracas e vagas.
- Ótimo... - Ele moveu os braços fracamente. - Agora... Lave a minha mão direita com o vinho.
- O quê...? - Harry começou a perguntar.
- Sem perguntas! Não tenho tempo. - Intrigado, Harry abriu o odre e jogou o líquido na mão de James. Esfregou-o na pele do ancião, espalhando-o entre os dedos e nas costas da mão. – Mais. - resmungou James. Harry jogou mais vinho na mão dele. Esfregou vigorosamente até que um corante marrom começou a escorrer da palma da mão de James, então parou. Harry ficou boquiaberto devido à surpresa. Havia uma gedwey ignasia na palma de James.
- Você é um Cavaleiro? - perguntou incrédulo.
Um sorriso dolorido cintilou no rosto de James.
- Uma vez, isso foi verdade... Mas agora não é mais. Quando eu era jovem... Mais jovem do que você é agora, fui escolhido... Escolhido pelos Cavaleiros para entrar para a ordem deles. Enquanto eles me treinavam, me tornei amigo de outro aprendiz... Lucius, antes de ele virar um Renegado. - Harry suspirou, pois isso havia acontecido há mais de cem anos. - Mas depois, ele nos traiu com Voldemort... E na luta em Dorú Areaba, a cidade de Vroengard, meu jovem dragão foi morto. Também era uma fêmea, e o nome dela... Era Saphira.
- Por que você não me contou isso antes? - perguntou Harry docemente.
James riu.
- Porque... Não havia necessidade. - Ele parou. A respiração estava pesada, e suas mãos cerradas. - Eu sou velho, Harry... Muito velho. Embora meu dragão tenha sido morto, minha vida estendeu-se mais do que a da maioria das pessoas. Você não sabe como é chegar à minha idade, olhar para trás e perceber que não se lembra de muita coisa que passou. E, depois, olhar para a frente e saber que ainda lhe restam tantos anos... Depois de todo esse tempo, eu ainda choro a perda da minha Saphira... E odeio Voldemort pelo que ele tirou de mim. - Seus olhos febris perfuraram Harry quando ele disse furiosamente: - Não deixe que isso aconteça com você. Não deixe! Guarde Saphira com a sua vida, pois sem ela a vida não vale ser vivida.
- Você não devia falar desse jeito. Nada vai acontecer com ela. - disse Harry preocupado.
James virou sua cabeça para o lado.
- Talvez eu esteja divagando. - O olhar dele passou cegamente por Draco, depois se concentrou em Harry. A voz de James ficou mais forte. - Harry! Eu não vou durar muito tempo. Esta... Esta é uma ferida fatal, ela está drenando as minhas forças. Não tenho energia para combatê-la... Antes que eu parta, você quer a minha bênção?
- Tudo vai acabar bem. - disse Harry, com lágrimas nos olhos. - Você não precisa fazer isso.
- As coisas são assim... Eu devo. Você quer a minha bênção? - Harry abaixou a cabeça e fez um sinal de aceitação, sobrepujado. James encostou uma mão trêmula na testa do rapaz. - Então, eu a dou. Que os anos vindouros tragam-lhe muitas felicidades. - Ele fez um gesto para Harry chegar mais perto. Muito silenciosamente, sussurrou sete palavras da língua antiga e depois, ainda mais baixo, disse ao rapaz o que elas significavam. - Isso é tudo que eu posso dar a você... Use-as somente em grande necessidade. - James, cegamente, virou os olhos para o teto. - E agora... - murmurou - Para a maior aventura de todas...
Chorando, Harry segurou a mão dele, confortando-o da melhor maneira que podia. Sua vigília era resoluta e constante, não foi interrompida nem para comer ou beber. Conforme as horas passavam, uma palidez cinzenta avançava lentamente sobre o corpo de James, os olhos dele escureciam devagar. Suas mãos foram ficando geladas, e o ar em volta dele ganhou uma aparência sombria. Sem poder fazer nada para ajudar, Harry podia apenas ficar olhando a lesão produzida pelos ra'zac cobrando o seu preço.
A noite estava no começo e as sombras, compridas, quando o corpo de James, de repente, ficou rígido. Harry chamou o nome dele e gritou, pedindo a ajuda de Draco, mas eles não podiam fazer mais nada. Enquanto um silêncio sombrio sufocava a caverna, James fixou seus olhos firmemente nos de Harry. Depois, a satisfação encheu o rosto do ancião e um leve sussurro escapou de seus lábios. E foi assim que James, o contador de histórias, morreu.
Com dedos trêmulos, Harry fechou os olhos de James e pôs-se de pé. Saphira ergueu a cabeça atrás dele e rosnou de modo pesaroso para o alto, demonstrando seu lamento. As lágrimas rolavam no rosto de Harry ao mesmo tempo em que uma sensação horrível de perda tomava conta dele. Com muito esforço, ele disse:
- Nós temos de enterrá-lo.
- Podemos ser vistos. - alertou Draco.
- Não me importo!
Draco hesitou, mas depois carregou o corpo de James para fora da caverna, junto com a espada e o cajado dele. Saphira os seguiu.
- Para o topo. - disse Harry duramente, apontando para o cume da colina de arenito.
- Mas não podemos cavar na pedra sólida. - protestou Draco.
- Eu posso.
Harry subiu até o cume liso, fazendo um grande esforço por causa de suas costelas. Lá, Draco deitou James na pedra. Harry enxugou os olhos e fixou seu olhar na pedra de arenito.
Enquanto fazia gestos com uma das mãos, ele disse:
- Moi stenr!
A pedra formou pequenas ondas. Ela se mexia como água, formando uma depressão do comprimento de um corpo no topo da colina. Moldando o arenito como barro molhado, ele levantou paredes, que chegavam à altura da cintura, em volta da cova.
Colocaram James dentro do cofre de arenito inacabado, juntamente com seu cajado e sua espada. Dando um passo atrás, novamente Harry deu forma à pedra usando magia. Ela se fundiu sobre o rosto imóvel de James e fluiu para cima, formando um pináculo lapidado. Como tributo final, Harry escreveu runas na pedra:
AQUI JAZ James
Que era um dos Cavaleiros de Dragões
E como um pai para mim.
Que seu nome viva em glória.
Depois, abaixou a cabeça e chorou copiosamente. Ele ficou em pé como uma estátua viva até a noite, quando a luz deixou de iluminar a terra.
Naquela noite, sonhou com a mulher aprisionada novamente.
Ele sabia que havia algo errado com ela. A respiração era irregular, e ela tremia... mas ele não sabia se era de frio ou de dor. Na semi-escuridão da cela, a única coisa claramente iluminada era a mão dela, que pendia pela beira do catre. Um líquido escuro pingava da ponta dos dedos. Harry sabia que era sangue.
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