CAPITULO 31 – O MESTRE DA ESPA
CAPITULO 31 – O MESTRE DA ESPADA
O dia seguinte foi mais tranqüilo para os dois. Harry sentia-se melhor e conseguia responder corretamente às perguntas de James. Depois de um exercício particularmente difícil, Harry falou sobre a mulher que visualizou na água. James puxou a barba.
- Você disse que ela estava presa?
- Isso.
- E viu o rosto dela? - indagou Jámes de modo sério.
- Não muito claramente. A iluminação estava ruim, mas pude ver que ela era bonita. É estranho, não tive dificuldade para ver os olhos dela. E ela olhou para mim.
James balançou a cabeça.
- Pelo que sei, é impossível a pessoa saber que está sendo visualizada.
- Você sabe quem ela poderia ser? - perguntou Harry surpreso pela ansiedade em sua própria voz.
- Não. - admitiu James. - Se fizesse um esforço, poderia pensar em alguns nomes, mas nenhum deles seria plausível. Este seu sonho é muito peculiar. De alguma maneira, você conseguiu visualizar algo que nunca viu antes, sem dizer as palavras de poder. Os sonhos, de fato, ocasionalmente tocam no reino dos espíritos, mas isso é diferente.
- Talvez para entendermos isso, deveríamos procurar em todas as prisões e calabouços até acharmos a mulher. - brincou Harry. Realmente, ele achava que essa seria uma boa idéia.
James riu e continuou cavalgando.
O treinamento rígido de James preenchia todas as horas à medida que os dias lentamente se tornavam semanas. Por causa da tala, Harry foi forçado a usar a mão esquerda quando treinavam. Logo, ele podia duelar tão bem com a mão esquerda quanto com a direita.
Depois que atravessaram a Espinha e chegaram às planícies, a primavera tomou conta da Alagaésia, produzindo uma enorme variedade de flores. As árvores, antes temporariamente nuas, estavam repletas de brotos, enquanto novas folhas de grama começavam a surgir entre os ramos secos do ano passado. Os pássaros voltaram da sua ausência invernal para acasalarem e construírem ninhos.
Os viajantes seguiram o rio Toark rumo ao sudeste, acompanhando os limites da Espinha. O rio crescia gradualmente à medida que afluentes desaguavam nele, vindos de todos os lados, aumentando seu diâmetro. Quando o rio estava com mais de uma légua de largura, James apontou para as ilhas de assoreamento que pontilhavam a água.
- Estamos chegando perto do lago Leona agora. - disse. - Deve estar a uns dez quilômetros de distância.
- Será que chegaremos lá antes do anoitecer? - perguntou Harry.
- Podemos tentar.
O anoitecer logo tornou a trilha difícil de ser seguida, mas o som do rio ao lado os guiava. Quando a lua surgiu, o disco brilhante proveu luz suficiente para que pudessem ver o que estava à frente.
O lago Leona parecia uma folha fina de prata que havia sido batida em cima da terra. A água estava tão calma e lisa que nem parecia que era um líquido. Além de um feixe brilhante do luar que se refletia em sua superfície, quase não dava para distingui-lo do chão. Saphira estava na margem rochosa, batendo as asas para secá-las. Harry cumprimentou-a, e ela disse:
- A água está adorável: profunda, gelada e limpa.
- Talvez eu nade amanhã. - respondeu. Acamparam sob um grupo de árvores e logo caíram no sono.
De manhã, Harry correu ansioso para ver o lago à luz do dia. Pequenas cristas, com espuma, formavam-se na água onde o vento batia. Só o tamanho do lago já foi um deleite para ele. Harry gritou entusiasmado e correu para a água.
- Saphira, onde está você? Vamos nos divertir!
No instante em que Harry montou nela, Saphira pulou por cima da água. Subiram bem alto, circulando sobre o lago e mesmo àquela altura, a outra margem ainda não estava visível.
- Você gostaria de tomar um banho? - Perguntou Harry casualmente a Saphira.
Ela sorriu de maneira selvagem.
- Segure-se! - Fechou as asas e atirou-se para cima das ondas, cortando as cristas com suas garras. A água espirrava sob a luz do sol enquanto eles sobrevoavam o lago. Harry gritou de novo. Saphira fechou as asas e mergulhou, a cabeça e o pescoço entraram como uma lança.
A água atingiu Harry como uma parede gelada, deixando-o sem ar e quase tirando-o de cima de Saphira. Segurou-se firme enquanto ela nadava até a superfície. Com três golpes com os pés, saltou para fora do lago, jogando uma cortina de águas brilhantes para cima. Harry respirou fundo e sacudiu seus cabelos enquanto Saphira deslizava por cima do lago, usando sua cauda como leme.
- Pronto?
Harry concordou com a cabeça e respirou fundo, apertando os braços. Dessa vez, ela deslizou gentilmente para baixo d'água. Podiam ver metros à frente sob o líquido límpido. Saphira virou-se e deu voltas de formas incríveis, cortando a água como uma enguia. Harry sentiu como se estivesse montando em uma serpente marinha de uma das lendas que ouviu.
Assim que os pulmões dele começaram a pedir mais ar, Saphira arqueou as costas e apontou a cabeça para cima. Uma explosão de gotas os cercou quando ela voou para o alto, abrindo as asas completamente. Com duas batidas fortes, ganhou altitude.
- Uau! Isso foi fantástico! - Exclamou Harry.
- Foi. - disse Saphira feliz. - Mas é uma pena você não conseguir prender o fôlego por mais tempo.
- Não posso fazer nada quanto a isso. - disse, torcendo os cabelos para tirar o excesso de água. As roupas dele estavam ensopadas, e o vento das asas de Saphira o fez sentir frio. Puxou a tala, seu pulso coçava.
Assim que Harry estava seco, ele e James selaram os cavalos e, animados, começaram a contornar o lago Leona enquanto Saphira brincava, mergulhando e saindo da água.
Antes do jantar, Harry bloqueou a lâmina de Czar'roc ao se preparar para o seu combate diário. Nem ele nem James se mexeram, pois um esperava o outro atacar primeiro. Harry analisou o ambiente que o cercava, procurando alguma coisa que pudesse lhe dar vantagem. Um galho perto da fogueira chamou a sua atenção.
Harry jogou-se para baixo, agarrou o galho e o atirou para James. Mas a tala o atrapalhou, e James desviou-se facilmente do pedaço de madeira. O velho avançou depressa para a frente, lançando sua espada. Harry abaixou-se no momento em que a lâmina passou assoviando por cima de sua cabeça. Grunhiu e atacou James com ferocidade.
Caíram no chão, cada um lutando para ficar por cima. Harry rolou para o lado e deu um golpe com Czar'roc na direção das pernas de James. O velho aparou o golpe com o cabo da sua espada e, com um pulo, ficou em pé. Girando no mesmo lugar onde estava, Harry atacou novamente, fazendo movimentos complexos com Czar'roc. Fagulhas saíam das espadas quando se chocavam repetidamente. James bloqueou todos os golpes, o rosto dele estava sério devido à tamanha concentração. Mas Harry podia notar que James se cansava. Os golpes incessantes continuaram enquanto cada um procurava uma brecha na defesa do outro.
Então, Harry sentiu a batalha mudar. Golpe a golpe, ele ganhava vantagem, as defesas de James ficavam mais lentas e ele perdia terreno. Harry bloqueou facilmente um golpe direto de James. As veias pulsavam na testa do velho e os vasos do seu pescoço estavam dilatados devido ao grande esforço.
De repente, mais confiante, Harry golpeava com Czar'roc mais rápido do que nunca, tecendo uma teia de aço na espada de James. Aumentando sua velocidade, bateu com a parte chata de sua lâmina contra a guarda de James, jogando a espada dele no chão. Antes que James pudesse reagir, Harry tocou levemente a garganta de James com a espada.
Estavam em pé, ofegantes, com a ponta da espada vermelha tocando a clavícula de James. Harry, lentamente, abaixou o braço e se afastou. Foi a primeira vez que ele ganhou de James sem usar nenhum truque. James pegou sua espada e a colocou na bainha. Ainda com a respiração difícil, ele disse:
- Chega por hoje.
- Mas nós apenas começamos. - disse Harry surpreso.
James balançou a cabeça.
- Eu não posso lhe ensinar mais nada com relação à espada. De todos os guerreiros que conheci, só três deles poderiam ter me vencido dessa maneira, e duvido que algum deles conseguiria fazer isso usando a mão esquerda. - Ele sorriu com melancolia. - Posso não ser tão jovem quanto antes, mas posso afirmar que você é um espadachim de talento singular.
- Isso quer dizer que não vamos mais lutar todas as noites? - perguntou Harry.
- Oh, você não vai se livrar tão fácil disso. - riu James. - Mas iremos mais devagar a partir de agora. Não fará tanta falta se deixarmos de treinar uma noite de vez em quando. - Ele enxugou sua sobrancelha. - Mas lembre-se disso: se acontecer a infelicidade de lutar com um elfo, treinado ou não, macho ou fêmea, espere perder. Eles, juntamente com dragões e outras criaturas mágicas, são muitas vezes mais fortes do que a Natureza os concebeu. Até mesmo o mais fraco dos elfos poderá subjugá-lo facilmente. O mesmo vale para os ra'zac, eles não são humanos e se cansam muito mais lentamente do que nós.
- Há alguma maneira de ficar igual a eles? - indagou Harry. Ele sentou de pernas cruzadas perto de Saphira.
- Você lutou bem. - disse ela. Ele sorriu.
James sentou-se, dando de ombros.
- Há algumas, mas nenhuma está disponível para você agora. A magia pode fazer que você vença todos os seus inimigos, menos os mais fortes. Para esses, você precisará da ajuda de Saphira, além de uma boa dose de sorte. Lembre que criaturas mágicas usam magia, elas podem fazer coisas que matariam um humano devido às suas habilidades aprimoradas.
- Como se luta com magia? - quis saber Harry.
- Como assim?
- Bem... - disse ele apoiando-se em um cotovelo - Suponha que eu seja atacado por um Espectro. Como eu poderia bloquear a magia dele? A maioria dos encantos funciona instantaneamente, o que torna o tempo de reação praticamente nulo. E mesmo se eu pudesse reagir, como poderia anular a magia do meu inimigo? Parece que eu teria de saber a intenção do meu adversário antes que ele agisse. - Ele fez uma pausa. - Só não vejo como isso pode ser feito. Venceria quem atacasse primeiro.
James suspirou.
- Você está falando de um "duelo de magos", por assim dizer, e que é extremamente perigoso. Você nunca pensou em como Voldemort conseguiu vencer todos os Cavaleiros com a ajuda de apenas uns doze traidores?
- Eu nunca havia pensado nisso. - reconheceu Harry.
- Existem vários modos. Você aprenderá sobre alguns deles depois, mas o principal é que Voldemort era, e ainda é, mestre em invadir a mente das pessoas. Sabe, em um duelo de magos há regras rígidas que devem ser seguidas, caso contrário os dois oponentes morrerão. Para começar, ninguém usa magia até que um dos participantes ganhe acesso à mente do outro.
Saphira enrolou a sua cauda confortavelmente em volta de Harry e perguntou:
- Por que esperar? Quando o inimigo perceber que você atacou, será tarde demais para ele reagir.
Harry repetiu a pergunta em voz alta.
James balançou a cabeça.
- Não, não seria. Se eu fosse usar o meu poder, de repente, contra você, Harry, você provavelmente morreria, mas no instante antes de ser destruído, haveria tempo para um contra-ataque seu. Portanto, a não ser que um combatente tenha o desejo de morrer, nenhum dos lados atacará até que um deles tenha tido acesso às defesas do outro.
- E o que acontece depois? - perguntou Harry.
James deu de ombros e disse:
- Uma vez que você esteja dentro da mente do seu inimigo, é bem fácil antecipar o que ele fará e evitar sua ação. Mesmo com essa vantagem, ainda é possível perder se você não souber como contra-atacar os encantos.
Ele encheu o cachimbo e acendeu-o.
- E isso requer um raciocínio extremamente rápido. Antes de poder se defender, você deve entender a natureza das forças que vêm na sua direção. Se estiver sendo atacado com calor, terá de saber se virar em forma de vapor, fogo, luz ou por outros meios. Só depois de saber isso é que poderá combater a magia, por exemplo, esfriando o material aquecido.
- Parece ser difícil.
- Extremamente. - confirmou James. Uma nuvem de fumaça subiu do seu cachimbo. - Raramente uma pessoa sobrevive a um duelo como esse por mais de alguns segundos. A quantidade maciça de esforço e destreza condena qualquer um que não tenha o treinamento adequado a uma morte rápida. Assim que você for avançando, começarei a ensinar os métodos necessários. Enquanto isso, se você se achar travando um duelo de magos, sugiro que fuja o mais rápido possível.
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