O Ministério da Magia
Capítulo 1 – O Ministério da Magia
HARRY ACORDOU NAQUELA MANHÃ com o sentimento de que tudo havia sido resolvido, mas, ainda assim, lhe faltava alguma coisa.
Iria para o Ministério, pensou, e não pôde impedir que uma ponta de ego o animasse. Na noite anterior, ele, Rony e Hermione mal conseguiram dormir, tamanha a euforia que sentiam. Harry até sentia vergonha por agir assim, tão próximas que estavam as mortes dos seus amigos, mas até a outrora chorosa Sra. Wesley estava feliz , gritando feitiços para a máquina de costura, que produzia freneticamente um paletó turquesa para Rony. Ela havia tentado modificar os antigos, mas estava tão afobada que eles acabaram reduzidos a uma pilha de retalhos cintilantes em que Bichento se aninhava, nem se incomodando com o fato da sua dona se tornar membro da Primeira Classe da Ordem de Merlin.
Harry enfim levantou quando o relógio amassado de Fabiano apitou sete horas. Quando desceu para a cozinha, todos os membros da Ordem da Fênix estavam lá, bem como os Weasleys.
- Harry! Que bom ver você! – abraçou-o a Sra. Wesley, enquanto ele dirigia um cumprimento aos demais. – Coma os pães de mel, foi Gina quem os preparou. – só então Harry reparou nela, que estava radiante ao seu lado, mas que corou quando pôs os olhos em Harry, limitando-se a dizer “bom dia”.
Os pães de mel estavam deliciosos, mas o tempo era curto e a cozinha estava apertada demais para ele permanecer ali, então, subiu com Rony colocar suas vestes.
Rony vestia seu paletó turquesa, e Harry o seu azul marinho, Hermione, Gina e a Sra. Wesley usavam vestidos de seda verde oliva, rosa e laranja, respectivamente. O Sr. Wesley estava trajando seu terno marrom acetinado e Jorge, Percy e Gui, lustrosas jaquetas pretas.
Quando estavam todos prontos, desaparataram em frente à cabine telefônica que dava acesso ao Átrio do Ministério da Magia. Os nove entraram na cabine, que fora magicamente aumentada para oferecer maior conforto aos homenageados. Após o procedimento padrão, a voz metálica os levou ao subsolo.
Quando pousaram no Átrio, houve total alegria: bruxos e bruxas de todas as idades, nacionalidades e estilos, bem como toda a sorte de criaturas mágicas aplaudiam em pé a chegada dos visitantes que se encaminhavam até a fonte onde as estátuas, que haviam sido substituídas pelas originais, estavam excepcionalmente brilhantes.
Em frente à fonte, estava Olaf McMaville, Ministro Interino nomeado na semana anterior, Neville, Luna, Simas, Dino, Monstro, Grampo, o Sr. Olivaras, e o Sr Lovergood. Foi com imensa felicidade que Harry os abraçou.
Ficaram vários minutos abraçados, até que o Sr. Wesley e Rony interviram:
- Harry, o Ministro quer falar. – sussurrou o Sr. Wesley, enquanto Rony separava Harry dos demais, as lágrimas em seu rosto não o deixavam envergonhado, mas o silêncio da multidão era constrangedor.
Quando o Ministro falou (era a primeira vez que Harry o ouvia) sua voz saiu como a de uma gralha:
- Hoje, estamos aqui para homenagear aqueles que ajudaram a derrotar o Lord Voldemort! – a multidão irrompeu em uma longa onda de aplausos, mas foi interrompida quando o Ministro ergueu a mão magra, pedindo silêncio. Aliás, ele era todo magro, e seu rosto lembrava o de Tia Petúnia, embora fosse muito mais bondoso. Quando a multidão, que ocupava bem uns cento e cinqüenta metros dentro do Átrio, permitiu a fala do Ministro, ele continuou:
- Hoje, essas pessoas serão recompensadas com a Ordem de Merlin! – imediatamente, várias moças vestidas com esvoaçantes vestidos brancos saíram de dentro das lareiras, cada uma carregava uma pequena caixa de ébano adornada com um rubi olho-de-dragão, ao que Harry pôde perceber. Pelo que ouviu o Sr. Lovergood seria recompensado com a Ordem de Merlin Terceira Classe, os aplausos filtravam muita informação.
A moça que havia se posicionado em frente a Xenófilo, lhe entregou a caixa que continha uma pequena moeda de bronze.
A Ordem de Merlin Segunda Classe foi oferecida a Simas, a Luna, ao Dino, a Neville, a Gina e a Monstro. Tudo seguido de uma enorme onda de aplausos, enquanto o Ministro (tentava) enumerar as “sublimes qualidades” dos “bravos soldados na gigantesca batalha contra as Trevas”.
Quando as pessoas se calaram pela quarta ou quinta vez, Harry não sabia ao certo, o Ministro prosseguiu:
- E, finalmente, concedo ao Sr. Olivaras, ao duende Grampo, a Ronald Wesley, a Hermione Jane Granger e a Harry Tiago Potter, a Ordem de Merlin Primeira Classe! - desta vez o Ministro nem tentou enumerar as qualidades dos homenageados, tamanho era o ruído produzido pelos aplausos e assobios dos espectadores. Só então as moças de branco entregaram as últimas medalhas.
Harry aproveitou para admirar o artesanato da caixa de ébano antes de ver o conteúdo: ela era de um negro lustroso, polida à mão, no centro figurava um imenso rubi olho-de-dragão, circundado por dois dragões marchetados em marfim que se entrelaçavam formando uma espécie de “M” estilizado. Ao abrir o feixe de latão em formato de pata de águia, Harry viu o seu prêmio: uma medalha, de ouro, tão brilhante que era quase possível ver o seu reflexo nela. Nela havia o busto de um homem que aparentava ser muito mais velho do que Dumbledore, sob a inscrição: Intelligentia, bonitate, corage; inteligência, bondade e coragem, pensou Harry. Mal havia lido a citação e a medalha começou a flutuar, reluzindo em um ângulo de quarenta e cinco graus sobre o veludo cintilante que forrava a caixa. Mas a moeda tombou, no exato momento em que ele a fechou.
Quando Hermione se aproximou ele nem percebeu:
- Harry, eles querem que você conte – sussurrou a garota – a sua história.
Harry então, ainda meio tonto, se aproximou do Ministro, sentou-se em uma cadeira recém conjurada e contou toda a sua história.
Ele contou sobre os dias trancados no armário sob a escada do número quatro da Rua dos Alfeneiros, sobre como descobriu que era ofidioglota e como ajudou a salvar Hogwarts da ameaça do basilisco. Também contou sobre a luta contra os dementadores, e sobre o retorno daquele que-não-deve-ser-nomeado.
Passadas cerca de quatro horas, ele já estava mais rouco que um detonador chamariz com defeito, e os jornalistas do Profeta Diário só não estavam com dor nos pulsos graças às penas-de-repetição-rápida.
Ponderou a sua fala no que dizia respeito à localização das Horcruxes, deixando todos impressionados com a sua existência a menos, é claro, o Sr. Lovergood. O assassinato de Dumbledore foi esquecido pela maioria dos presentes, embora Harry houvesse omitido aquilo de propósito, já que se falasse de Dumbledore naquele momento, Rita Skitter iria causar o maior alvoroço.
Terminado o seu discurso, notou que Hermione não estava ao seu lado, e presumiu que ela estivesse com os outros. Pôs-se então a caminhar pela multidão que se dissipava, sendo periodicamente abordado por alguma autoridade de um determinado país da Ásia ou da Europa Oriental. Quando finalmente avistou os amigos, eles estavam em frente a uma das lareiras tentando contornar o que parecia um frenético questionamento de Xenófilo Lovergood sobre as Relíquias da Morte. Tentando evitar que o questionamento se estendesse a sua pessoa, ele procurou com o olhar uma rota de fuga em que ele não aparecesse no campo de visão de Xeno. Felizmente ele a encontrou:
- Hagrid! – Harry correu em sua direção e confiou que o tamanho do amigo o camuflasse – O que houve com você? – Harry sabia muito bem o que havia acontecido com Hagrid, não tivera tempo de conversar com ele em Hogwarts, mas logo após o enterro de Fred, o pai de Tonks lhe informou que ele estava na França, cuidando de Grope.
- Vou muito bem – disse alegre o meio-gigante – Desculpe não conversar com você depois da Batalha, mas alguns Comensais estavam atrás de mim, e Grope estava muito ferido, então passei todas essas semanas na França, cuidando dele.
- Ele está melhor? – prosseguiu Harry, ao ver que o Sr. Lovergood continuava dando atenção a Rony e Hermione.
- Sim, está muito melhor, e ficou feliz em voltar para casa. Eu fiquei sabendo que toda aquela agressividade dos gigantes era devida a uma Maldição Imperius lançada pelos Comensais, cujo efeito já passou. Eles agora estão muito pacíficos, e perfeitamente integrados aos vilarejos bruxos e trouxas da região, tanto que Grope até arranjou uma namorada! – Hagrid começou a rir forçadamente e, pelo que Harry percebeu, alguma coisa o preocupava.
Hagrid então parabenizou Harry e disse que iria voltar para Hogwarts em breve, ajudar na reconstrução do castelo, que deveria ser feita do jeito tradicional, uma vez que não se pode alterar magicamente o dano causado por um feitiço. Talvez devesse voltar para a França para estudar os gigantes, mas não havia nada definido.
Felizmente, o encerramento da conversa com Hagrid coincidiu com a saída de Xenófilo que pareceu ter ido socorrer sua filha, que estava querendo nadar na fonte com os sereianos presentes.
Quando enfim alcançou os dois, eles encabeçavam uma enorme discussão ao lado das mesas do coquetel, pois Rony havia lançado um olhar “muito incisivo” para uma veela presente, fazendo Hermione declarar que iria para a Austrália viver com os seus pais, ou melhor, com Wendel e Monica Wilkins:
- Mas de qualquer forma temos que ir para a Austrália para fazer os meus pais voltarem ao normal! – gritava uma Hermione coberta de cinzas. Rony a segurava pelo quadril a fim de impedi-la a entrar na lareira, ela projetava a parte superior do seu corpo, e seus braços abertos faziam ela parecer que iria levantar vôo a qualquer momento. Quando Harry se aproximou para ajudar, teve que desviar de uma boa porção de Pó de Flú que escapava da mão direita de Hermione.
- Você ficou louca? – berrou Harry, enquanto tentava afastar os braços da garota, que agora estavam agarrados ao console da lareira – não podemos ir! – e, diminuindo o tom da voz, acrescentou – não é seguro.
Ao som daquelas palavras a amiga desabou no chão, como uma expressão completamente pasma. A seguir, tudo o que Harry pôde ouvir foi um desfigurado “por que”.
A pergunta se dirigia a Harry, mas foi Rony quem respondeu. Aparentemente, ele já havia entendido o que Harry queria dizer com aquilo:
- Mas é claro! Nós liquidamos Voldemort, mas não prendemos todos os Comensais. Agora eles devem estar montando guarda em Godric’s Hollow, por exemplo, e em outros locais que esperam que Harry freqüente. Deve ser por isso que meu pai está tão preocupado.
- E Hagrid também, ele está muito estranho, não notaram? – Harry complementou.
- Mas ninguém sabe que os meus pais são Wendel e Monica Wilkins!!! – protestou Hermione, visivelmente furiosa
Aquilo era verdade, e Harry não poderia discutir, apesar dele ter contado que Hermione havia enfeitiçado os pais, ninguém sabia que eles estavam na Austrália, muito menos que estavam sob falsa identidade. Hermione se levantou triunfante, e se pôs a degustar alguns petiscos da mesa ao lado.
Por volta das sete, o Sr. Wesley anunciou que já era hora de ir. O Ministro, que estava ao seu lado, guiou-os até um espaço vazio entre duas lareiras, uma passagem secreta pela qual poderiam sair sem serem incomodados pela imprensa. Ele empurrou com a varinha uma série complexa e regular de ladrilhos verdes, até que surgiu uma nova lareira, eles entraram enquanto o Ministro trancava a passagem e os homenageados desapareciam em meio ao fogo verde-esmeralda.
Harry presumiu que eles voltariam para a Toca, mas a Sra. Wesley assegurou que ela havia lhes reservado uma surpresa. Harry não entendeu muito bem no início, mas quando ele se viu diante de um banquete completo, arrumado num salão privativo do Caldeirão Furado ele se calou: todos os membros da Ordem da Fênix estavam ali, incluindo os professores de Hogwarts e os outros homenageados naquele mesmo dia. Sentaram-se nos locais indicados pela Sra. Wesley, e antes de começarem a comer, o Sr. Wesley propôs um brinde:
- É um pouco difícil dizer o que agradecer depois de uma época tão sombria, tantas perdas e tantos sofrimentos, principalmente estando eles tão próximos. Será que devemos agradecer por estarmos vivos, ou será que devemos honrar os nossos mortos? Uma coisa é certa, devemos estar felizes por estarmos aqui, mesmo sem nossos entes queridos, mas nos lembrando de que eles morreram em vista de um bem maior, a nossa felicidade! Por isso brindemos: à felicidade!
- À FELICIDADE!- responderam todos em uníssono, e Harry não pôde impedir que uma lágrima escorresse pelo seu rosto, se era de tristeza ou de alegria, ele não sabia dizer ao certo.
Passados alguns segundos de silêncio, quebrado apenas pela respiração dos presentes, Jorge completou:
- VIVA O HARRY!!!- que foi seguido por outro “VIVA” e pela algazarra geral, Jorge sabia mesmo como quebrar o gelo.
Só então os presentes começaram a comer, Harry contou: havia cinco tipos de entradas, entre saladas e pratos quentes; três tipos de massa faziam o intermédio, juntamente com os seis de sopa, entre a entrada e os quatro tipos de prato principal, que incluíam faisão assado, leitão com legumes, e peru assado na abóbora. De sobremesa, havia bolinhos de caldeirão, pudim de ruibarbo, cascas de laranja caramelizadas e manjar branco, além dos sapos de chocolate e feijõezinhos de todos os sabores.
Após algumas horas, Tom chegou carregando uma bandeja com licores e suco de abóbora gelado, foi quando as conversas se animaram. A professora Minerva foi a primeira a parabenizar Harry, desfiando um longo discurso contando desde a época em que conheceu o garoto. Ela foi seguida por cada um dos professores presentes, e cada um dos membros da Ordem. Eram tantos comentários á seu respeito que Harry estava ficando tonto. Milagrosamente, Xenófilo Lovergood não o havia abordado sobre as Relíquias da Morte.
Harry estava feliz em rever os amigos e os professores, mas como muita coisa havia acontecido naquele dia, não teve muita disposição de conversar com os outros, e foi com alegria que recebeu de Rony a notícia de que estavam indo embora. Seus pensamentos estavam concentrados na cama quentinha que o esperava no último andar da Toca, enquanto se despedia dos demais.
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