A Última Viagem



Capítulo 30 – A Última Viagem


 


 


 


 


 


O QUE PASSOU EM SEGUIDA FOI em câmera lenta. Gui empurrando Harry e os outros para dentro do teatro, enquanto o Sr. Weasley e Jorge limpavam o corredor e levavam o corpo para longe.


Não havia o que ser feito. Harry repetia para si mesmo, como se tivesse alguma parcela de culpa. Não havia o que ser feito. Ele sentou-se numa das poltronas assim como diversos colegas seus. Todos estavam chocados pelo que haviam visto; cada um num canto do auditório, cercado por alguns amigos mais próximos.


Hermione sentou-se à sua esquerda, e Rony à sua direita.


- Acabou não é? – Rony perguntou.


- É, acabou – respondeu Hermione.


- Nunca pensei que aquela viagem à Romênia que todos tanto queriam fosse acabar dessa forma – disse Harry – tão brutal.


- Você mesmo disse – lembrou Hermione – ela falhou com si mesma.


- É - foi o que Harry limitou-se a dizer. As palavras da amiga eram apenas um eco do que passava em sua cabeça – Mesmo assim – ele olhava para os lados, vendo Gina distribuindo Essência de Ditamno aos feridos, e Jorge acordando os aurores estuporados, Neville cercado de admiradores, Luna abraçada com seu pai e os três Malfoys conversando num canto – não consigo deixar de me sentir um pouco culpado em relação a isso.


- O que? – Hermione estava indignada – Você acha que foi culpa sua?


- É claro! – protestou Harry – quem teve a idéia de viajar fui eu! Eu fui egoísta! Só porque eu não conseguia me acostumar com as perdas!


- Harry! – Hermione levantou-se – você não foi egoísta.


- E se tinha alguém com o direito de não acostumar-se com as perdas, esse alguém era você! – lembrou Rony – você viu muitas daquelas pessoas morrerem diante dos seus olhos!


- Harry, isso que aconteceu não foi culpa de ninguém! – Hermione tornou a se sentar – Simplesmente era pra ser assim!


Harry respirou fundo e sentiu boa parte do peso em suas costas aliviar depois daquilo.


- Ok então – ele virou de costas. Alguns membros da AD ajudavam a reconstruir a balaustrada, assim como outros consertavam os danos no palco. Foi quando o ministro entrou:


- O que aconteceu aqui? – Olaf McMaville fez uma pergunta que ele já sabia a resposta – eu vim logo que recebi sua coruja, Artur. Você disse que aurores foram... Artur?


- Oh sim, me desculpe ministro – Artur surgia de dentro do fosso, limpando as mãos com uma flanela – eu escrevi logo que pude. Alguns aurores estavam sob efeito da Maldição Imperius, mas, pelo que o senhor pode ver... – ele apontou na direção de Jorge, que distribuía os aurores recém-acordados nas poltronas.


- E o corpo? – o ministro perguntou, então o Sr. Weasley sussurrou algo que Harry não pôde ouvir, pois a Sra. Weasley quase derrubou a porta.


- Desculpem a demora, eu vim logo que pude – ela lançou um olhar fuzilador na direção do marido e continuou – Artur me lançou um Feitiço do Corpo Preso, e em Vera também – Vera vinha logo atrás – o que eu perdi? – ela perguntou na maior ingenuidade, e os três se entreolharam, como se calculando se era seguro contar aquilo para ela.


Os três caíram na gargalhada, seu olhar era cômico.


Vera foi ajudar Jorge, que estava dando os retoques finais nos consertos, e Molly foi falar com o ministro.


Gina se aproximou:


- Então – ela sentou-se na fileira da frente, e voltou-se para Harry – meio agitada essa nossa viagem?


- Com toda certeza! – disse Hermione, arregalando os olhos, no que os quatro recomeçaram a rir


Harry quis beijar Gina ali mesmo, seria uma forma muito apropriada de pedir desculpas, e apagar todas as imagens daquele dia antes que elas ficassem gravadas à fogo na sua mente. Foi se aproximando, cada vez mais, mais perto...


- Harry, acho melhor você ir falar com eles – Gina apontou para os Malfoys, que estavam conversando na galeria. Ela o agarrou pelo braço e levou-o até lá.


- Acho que agora eu devo minhas desculpas – ele aproximou-se – e meus agradecimentos.


- Não faça isso – Narcisa interveio – você sabe que não precisa.


- Você não faz idéia de como eu estou grato por você ter tirado aquele homem de dentro da minha casa! – Lúcio o abraçou, Harry não estava preparado para isso.


- Que...bom – ele respondeu, confuso.


- Falando nisso – continuou Narcisa, também o abraçando – ficaríamos felizes em receber você e seus amigos na nossa casa, quando quiserem – ela sorriu, fazendo um convite genuíno, mas Harry duvidou que aquilo fosse acontecer tão cedo.


- Com certeza – ele respondeu, retribuindo o sorriso – e não se preocupe, acho que Hermione parou com essa história de F. A. L. E. – Harry lembrou-se de Doby, isso não foi bom.


- Nós não temos mais elfos – disse Draco.


- Acho que a culpa é minha – Harry riu, e Draco também. Ele nunca havia tido uma conversa com Draco, apenas se xingavam nos intervalos entre as aulas ou duelavam sem motivo. Da última vez, havia sido no banheiro.


- Não tenho tanta certeza – disse Draco – eu fazia ordens exigentes demais para aquele elfo – Harry duvidou que Draco soubesse o nome de Doby – eu o fiz querer ser livre.


- Que seja – disse Harry – mas o que fez você vir até aqui?


- Quis mostrar que não sou covarde! Que sirvo pra alguma coisa afinal!


- Você conseguiu – disse Harry.


- Não acredito nisso – Draco balançou a cabeça – ainda falta muito. Preciso jogar xadrez de bruxo no lugar de uma peça, lutar contra um Basilisco e hordas de Dementadores, vencer o Torneio Tribruxo, destruir mais da metade de algum departamento do Ministério e salvar o mundo!


Os dois riram, antes que Harry falasse.


- Depois disso aqui – ele fez um gesto abrangendo os três Malfoys – você vai descobrir que falta bem pouco.


Draco suspirou.


- Sinto muito por seus pais – ele pôs a mão no ombro de Harry.


- Obrigado – ele sorriu. Os pais de Draco já iam descendo falar com o Ministro – boa sorte.


- Obrigado – agradeceu Draco.


- A gente se vê! – realmente não seria a última vez que eles se viam.


- Estou louca ou eu vi o que eu vi? – Gina se aproximou – Aquele era Draco Malfoy.


- Parece que sim – Harry deu de ombros.


- Ei Harry – disse Gina.


- O que?


- Você não estava querendo me beijar?


Gina não precisou dizer mais nada. Não tinham ficado juntos desde aquela tarde fria no Expresso Transiberiano. Harry aproveitou para colocar muitas coisas não ditas naquele beijo, foi uma forma de pedir desculpas por toda aquela confusão.


- Harry – Hermione chamou no andar debaixo. Mesmo com a aprovação de Rony, ele estava sendo distraído daquela cena por Hermione – acho que já está na hora de irmos!


Ele desceu as escadas de mãos dadas com Gina. Por mais que aquela viagem tivesse sido extremamente conturbada, era estranho ter que voltar para casa.


Harry encaminhou-se para o grupo, que estava reunido próximo da saída. Os feridos estavam recompostos e os ânimos refeitos. O ministro iria cuidar dos aurores enfeitiçados nas próximas semanas, mas eles não seriam presos. Ele estava agradecendo a todos pela ajuda, quando Lúcio se aproximou e disse ao pé do seu ouvido:


- Parece que o ministro vai revogar a nossa sentença e nos tirar do exílio. Obrigado Harry!


- Sou eu quem deve agradecer. Boa sorte – ele acrescentou, pois mesmo de volta à Inglaterra, talvez não tivesse seu emprego de volta.


- A propósito, Artur – Lúcio disse, conforme ia saindo com os aurores e o ministro – estacionei sua moto duas quadras a oeste daqui.


- O que? – interrompeu Molly – ele usou a sua moto? VOCÊ CONSERTOU AQUELA MALDITA MOTO?


- Aquela maldita moto de Sirius, a senhora quer dizer – brincou Harry.


- Sim, mas mesmo assim... – ela balbuciou.


- Ora, não há nenhum problema quanto a isso – disse o ministro – ela nos foi extremamente útil no fim das contas.


- Se é assim... – ela ficou de queixo caído.


- Parece que aqui está tudo resolvido – disse o ministro, olhando o teatro completamente reconstituído – devo dizer que fizeram um ótimo trabalho! – ele agradeceu, seguido por palmas e vivas – Pelo que me consta, o Comitê de Desculpas para Trouxas e o Quartel dos Obliviadores já deve ter ajeitado as coisas lá fora, em especial dos seus pais – ele apontou para Hermione.


- Obrigada – ela sorriu.


Nem bem ela agradeceu e seus pais já surgiram pela porta, deixando Rony incrivelmente desconfortável.


- Acho melhor você não contar para eles, pelo menos por enquanto – Rony sussurrou para Hermione.


- É claro – ela respondeu – eles devem estar muito confusos com isso tudo.


- Filha! Como você esteve? – os pais de Hermione a abraçaram os dois ao mesmo tempo.


- Muito bem – ela mentiu – ou melhor – ela olhou para seus amigos – bem o suficiente. E vocês?


- Bem, tirando essas últimas horas, até que foi divertido – respondeu o Sr. Granger.


- Divertido vai ser quando eles virem o saldo deles no banco – Artur sussurrou para Harry – ao que parece os lucros dos Wilkins foram transferidos para a conta dos Granger minutos atrás. Foi um pesadelo fazer isso, sério – ele suspirou – mas vamos falar que eles ganharam na loteria.


- Vamos pessoal! Antes que os trouxas desconfiem mais! – Jorge ia empurrando as pessoas para fora dali de um jeito nada sutil.


Então o ministro despediu-se dos demais, desaparatando com os aurores e com os Malfoys. Também fizeram o mesmo a maioria dos membros da Armada de Dumbledore. Restaram apenas os Weasleys, os Grangers, Harry, Neville, Vera e Luna com seu pai.


Quando saíram para o parque, Carlinhos, Gui, Jorge e Vera desaparataram, prometendo ir para a Toca no dia seguinte.


O resto do grupo caminhou até onde se encontrava a moto de Sirius, que tivera uma das rodas amassadas durante a aterrissagem.


- Bem, acho melhor eu levá-la primeiro, por segurança – disse o Sr. Weasley, desaparatando. Na verdade ele queria escondê-la melhor na Toca.


- Eu vou indo também! – disse a Sra. Weasley, indo atrás do marido – é claro que vocês vão passar a noite lá em casa, não é? – ela perguntou para Hermione e seus pais.


- Mas é claro! – confirmou a Sra. Granger.


- Ótimo! – e desaparatou.


- Fechem os olhos e prendam a respiração – Hermione aconselhou aos seus pais – me dêem as mãos.


E ela também desaparatou, seguida por Rony.


- Podem ir também – disse Gina para o Sr. Lovergood – vocês moram tão perto!


- É mesmo – ele concordou – até daqui a pouco!


- Obrigado – Harry agradeceu antes que ele desaparatasse com Luna e Neville.


- Você me acompanha? – Gina estendeu a mão para Harry.


- Seria uma honra – disse Harry, já imaginando como seria voltar ao conforto na Toca, quando foi engolido mais uma vez pela escuridão compressora

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