Distração



Capítulo 24 – Distração


 


 


 


AQUILO ERA DEMAIS para ser verdade. Não importava o que fizesse aquelas duas portas não abriam. O único consolo de Belatrix era o fato de que Harry também não poderia ir para lugar algum. E ela poderia aparatar. Se ao menos lhe viesse algum lugar na cabeça quando ela ouviu:


- EI! Essa porta aqui não abre! – o policial então atirou na maçaneta. O feitiço só protegia um dos lados da porta. A sorte dele, é que Belatrix estava muito fraca para atacá-lo quando ele a algemou.


 


*****


 


- A-ah – Harry exclamou, triunfante de cima daquela cadeira. Sabia que devia existir pelo menos um duto de ar condicionado passando por ali. Mas a sua alegria foi curta, ao perceber que se tratavam apenas de alguns canos estreitos.


- O que nós vamos fazer? – perguntou Neville, olhando para os “Sr. e Sra. Wilkins”, ainda adormecidos.


- Não sei – ele pulou da cadeira e quase caiu, havia se esquecido de que era giratória.


Foi então que Harry percebeu o silêncio. Os estampidos que haviam dominado o ar naqueles poucos minutos que Harry passara dentro do camarim haviam cessado. Será que Belatrix havia encontrado um jeito de escapar? Harry lembrou-se de que ela ainda podia aparatar do corredor para dentro do camarim, e para outros lugares. Esse último pensamento fez com que uma onda gelada descesse por sua espinha. Se ao menos ele estivesse dormindo como os pais de Hermione.


Como ele poderia saber?


Ao menos poderia olhar pelo buraco da fechadura.


Foi o que ele fez.


O corredor estava vazio. Será que ela estava escondida atrás de alguma caixa? Mas com a porta aberta Harry duvidou que ela ficasse escondida ali.


Harry destrancou a porta do camarim e seguiu pelo corredor sozinho. A varinha em punho e os ouvidos atentos.


Belatrix não estava ali – ele chegou à conclusão – e voltou para o camarim.


Então Neville ajudou Harry a carregar os pais de Hermione, que por mais que balançassem como bonecos de posto não acordavam, até que os dois encontraram um par de cadeiras de roda ali perto. Puseram um em cada cadeira e foram empurrando eles até o lado de fora.


Para onde quer que olhassem, podiam ver marcas de pneus na calçada e na grama. Além disso, havia faixas de “proibido passar – perímetro policial” espalhadas por toda a parte. Estava na cara que assim que o feitiço de Hermione foi anulado, e os policiais voltaram a si, eles se empenharam em encontrar os fugitivos.


Mas acabaram encontrando alguém mais.


 


*****


 


Teria sido a cena mais hilária de todos os tempos. Rony, Hermione, Gina, Xeno, Luna e Belatrix juntos num camburão.


Se não houvesse uma divisória de sete centímetros de espessura de aço maciço separando-a do grupo. Por que ela era claramente a mais perigosa de todos.


O camburão demorou um pouco mais para chegar à delegacia do que da primeira vez. Por ser um veículo maior, claro, mas também porque desta vez havia centenas de vans de diversos canais de televisão de várias partes do mundo realizando links ao vivo direto da mais nova cidade vítima do terrorismo biológico – devia ser como o Ministério abafou o caso - , em Sidney.


O movimento era tão intenso que parecia ecoar dentro dos próprios ocupantes do camburão. E para que essa impressão não se tornasse realidade, eles desembarcaram na porta dos fundos da delegacia, sob uma escolta quase geral.


É claro que os policiais não poderiam estar prendendo Belatrix. Ela era perigosa, sim, mas muito mais do que os guardas imaginavam. Além do mais, quem se atreveria a abrir a boca estando na mira de vinte fuzis?


 


*****


 


Os pais de Hermione estavam acordando. O que Harry iria dizer para eles? Seria melhor fazê-los voltar a dormir? Não, Harry teve uma idéia melhor. Eram quase nove e meia agora, e eles estavam numa das salas de espera do teatro bem....esperando.


- Tive uma idéia, volto num segundo – então Harry aparatou.


E desaparatou logo em seguida, ele trazia o baú de Memórias dos pais de Hermione.


- Onde estou? – perguntou a Sra. Granger, desorientada.


- Isso não importa – Harry baixou a cabeça dela no braço do sofá onde a deitou – você deve ter sonhado com alguma coisa?


Harry sabia que Belatrix não iria se dar ao trabalho de fazer os pais de Hermione beberem uma Poção para Dormir sem Sonhos. Isso com certeza os deixou bem mais desorientados do que num sono longo normal. Porque nos sonos induzidos por magia costumamos sonhar com coisas estranhas, é um efeito colateral – a voz do Prof° Slughorn ecoou na cabeça de Harry.


- Quem é você? – ela perguntou – Quem sou eu? – era disso o que Harry precisava. O baú havia aberto.


Então, como que por encanto – e era mesmo – o casal recém acordado fechou os olhos e suspirou, para abri-los em seguida.


- Oi Harry – disse o Sr. Granger – faz muito tempo que não o vejo.


- Que bom ver vocês! – ele respondeu, e achava mesmo.


Eles bocejaram.


- Escutem – ele fez tom sério – tem um monte de canais de televisão querendo entrevistar vocês – Harry deduziu que o feitiço de Hermione havia feito grande sucesso nos meios midiáticos – porque parece que vocês foram vitimas de um atentado terrorista – ele jogou mais uma vez na sorte.


- Acho que sim – a Sra. Granger fechou a cara, concentrada – acho que tive até umas pequenas alucinações.


- Bem, algumas nem tão pequenas assim – disse o Sr. Granger, que não se lembrava de nada que vivera como Wendel.


- Mas eu sempre quis dar uma entrevista a um canal de televisão! – a Sra. Granger levantou num pulo e olhou para Harry, como que perguntando onde os jornalistas estavam.


 


*****


 


Pronto – pensou o guarda – mais interrogatório – enquanto ele se se sentava à mesa de aço escovado e a principal suspeita entrava, escoltada, e assim permaneceu.


- Muito bem – ele tomou um gole d’água – nome?...


Mas antes que Belatrix pudesse responder, a porta se abriu. Um estagiário entrou e arregalou os olhos ao passar por Belatrix. Ele sussurrou para o chefe, mas a acústica perfeita da sala fez com que todos ouvissem:


- Senhor, tem algumas pessoas lá na frente...que estão causando um certo...estardalhaço.


- Mas eu disse que nós não íamos dar nenhum parecer até a visita do Ministro da Defesa!


- Senhor, é o Ministro da Defesa que está lá na frente, e parece muito interessado no que um casal está dizendo!


- Vocês dois! – ele apontou para os guardas que escoltavam Belatrix – levem-na de volta para a cela! E venham comigo! Esses jornalistas já passaram dos limites!


Quando ele chegou no portão, ,ouviu a senhora falando:


- ...eu estava tomando meu chá, a última coisa de que me lembro é o rosto da minha filha me falando que que era Mônica Wilkins! E eu não sou Mônica Wilkins e nem vi minha filha hoje!


- Senhora, eu peço que tenha calma! – o oficial se apressou, junto com todo o destacamento, a conter a multidão. Todos estavam tão agitados que nem notaram quando Harry entrou na delegacia e trancou todas as entradas com um aceno de varinha.


Aquela era a hora. A hora que ele vinha adiando há meses.


E que não poderia ser mais adiada.


A hora dele encarar Belatrix.

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