Detidos
Capítulo 22 – Detidos
HARRY TINHA QUE correr. Belatrix estava muito na sua frente, e ele não iria se perdoar se alguma coisa acontecesse aos pais de Hermione ou ao Neville.
Era quase meio dia, então eles tinham tempo de fazer uma visita à Opera House para bolar um plano. O problema é que não havia sobrado sequer uma gota de Poção Polissuco, além do que, o grupo havia crescido drasticamente: se á era difícil esconder três pessoas debaixo da Capa, cinco era impossível. Harry tinha duas opções: entrar sozinho ou entrar sem nenhuma proteção. As duas eram igualmente perigosas.
- Gente, tenho que entrar sozinho – como esperado, Hermione interveio. Devia ter ficado quieto.
- É claro que não! Nós vamos dar um jeito!
- Você acha que eu quero que vocês se arrisquem mais? Além disso, é tudo culpa minha.
- Cala a boca – Rony tinha um jeito sutil de pedir calma.
- É – sorriu Luna – nós podemos usar um...desfalque!
- É disfarce... – corrigiu Gina – mas acho que não vai adiantar – completou – ela deve ter colocado feitiços de alerta para o caso de nos aproximarmos.
- Além disso, se usarmos um disfarce trouxa vamos atrair a atenção da segurança – disse Hermione.
- Então vamos ficar atentos – Harry suspirou – vamos dar uma volta pelo parque, esse lugar só abre à uma da tarde.
Eles foram dar uma volta pelo parque, que àquela hora estava pululando de esportistas matinais, e a figura de Xenófilo chamava bastante atenção.
- Não tem outro jeito de entrar a não ser pela porta da frente – observou Hermione – as janelas são muito altas e as saídas de emergência só abrem por dentro.
- Além do que – completou Gina – este lugar é enorme, ela pode estar escondida em qualquer lugar lá dentro – ela apontou para o ponto mais alto do prédio em forma de caravela.
Andaram por mais alguns minutos e pararam para tomar um sorvete, depois foram para a entrada do teatro.
O movimento ainda era relativamente baixo, apenas mais um grupo de turistas brasileiros fazendo intercâmbio, alguns guardas fazendo a segurança e uma guia organizando o grupo na frente de um guichê.
Tudo parecia tranqüilo até que Harry notou algo que temia: os guardas estavam revistando as mochilas e até uma bolsinha de mão de uma das intercambistas.
- Luna, Xeno, Gina, prestem atenção: entrem depois de Rony, Hermione e de mim. Se alguma coisa acontecer, procurem um local seguro. Ok?
Sem entender muita coisa, eles assentiram e saíram do hall enquanto um dos guardas se aproximava a passos largos:
- Os três poderiam me acompanhar, por favor?
Uma estranha sensação de dejàvú percorreu o corpo de Harry. Mas desta vez o guarda não os levou para a sala de vigilância, e sim para uma outra, com uma mesa e duas cadeiras, uma máquina de café e um bebedouro. Uma escrivaninha e o emblema da polícia da Nova Gales do Sul.
- Queiram se sentar – ele indicou duas cadeiras em frente à escrivaninha e trouxe uma terceira, da mesinha, para Hermione – não precisa ficar preocupada Srta. Granger, ou, devo dizer, Srta. Wilkins?
Hermione arregalou os olhos.
- O que quer dizer com isso? – ela apertou a bolsinha de contas contra o peito.
- Talvez isto refresque a sua memória – ele virou o monitor sobre a escrivaninha na direção dos três. A tela exibia simultaneamente diversos vídeos deles andando ao redor do mundo. O guarda minimizou a tela e em seguida apareceu um página onde havia uma foto dos três e de Gina sob a mensagem em vermelho vivo:
“MAIS PROCURADOS – INTERPOL”
- Deve estar havendo algum engano – comentou Harry.
- De modo algum, Sr. Potter.
- Como sabe os nossos nomes? – perguntou Rony, que obviamente desconhecia os métodos da polícia trouxa, como registros digitais desde o dia em que você nasceu.
- Tive a ajuda de testemunhas francesas – ele sorriu – me acompanhem, por favor. Vou levá-los até a delegacia.
Ele abriu uma porta muito discreta na parede atrás de si e empurrou os três através dela, após algemá-los.
Harry ficou chocado quando viu a viatura de polícia estacionada depois da calçada. As coisas estavam ficando complicadas.
***
O trajeto até a delegacia foi cumprido em pouco mais de trinta minutos, e cada minuto que se passava era uma tortura para Harry. Ele tentava não pensar no que Belatrix poderia estar fazendo com Neville ou com os pais de Hermione àquela hora, mas era inevitável. O pior era que mesmo que conseguisse escapar, ele não poderia pôr um dedo em Belatrix, ou o plano de Voldemort estaria completo e ele teria um herdeiro igualmente cruel e completamente imune à Potter. Ao menos ele havia contado desse plano a Neville, e certamente ele não iria enfrentar Belatrix. A idéia de um ser maligno imune a você já é aterrorizante o suficiente.
Harry começou a pensar em explicações plausíveis para os objetos que eles encontrariam na bolsa de Hermione dentro de alguns minutos. Mas o tamanho da bolsa em relação á quantidade de objetos já os denunciaria. Ele podia sentir o cheiro dos pensamentos da amiga ao seu lado, tentando buscar uma solução para o problema. “Por Merlin, que ela consiga”
A viatura parou no pequeno estacionamento da delegacia e os quatro ocupantes desceram. Dois policiais escoltaram o trio pra dentro da delegacia até uma sala onde foram desfeitos de seus pertences e encaminhados individualmente para interrogatório.
- Sr. Potter, você primeiro – um policial apareceu na porta da sala onde Harry esperava com Rony e Hermione, sob vigilância constante de dois guardas armados. Não havia como trocarem informações ali.
- Sente-se – pediu o guarda, indicando uma cadeira no lado oposto duma imensa mesa de aço. O ambiente era bastante clichê: tinha até um grande vidro fumê numa das paredes negras, e toda a luz do ambiente vinha de uma única luminária com uma lâmpada incandescente, que refletia sobre o tampo da mesa de aço escovado. Harry sentou-se, procurou não cruzar os dedos sobre a mesa, como se rezasse, havia assistido muitos documentários policias enquanto os Dursleys iam fazer compras com Duda. Olhava o policial com firmeza, mas não com ousadia, e seu tom de voz seria firme, mas não arrogante.
- Como é seu nome?
- Harry Tiago Potter
- Seu verdadeiro nome?
- Sim.
- De onde você é?
- Inglaterra. Condado de Surrey, sul de Londres – o armário sob a escada – Rua dos Alfeneiros, 4 – era nauseante a velocidade como as informações passavam por sua cabeça. Harry torcia para não estar falando rápido demais.
- E sua infância?
- Fui criado por meus tios, meus pais morreram...num acidente de carro, eu tinha um ano.
- Sinto muito.
- Obrigado.
- E o que o traz a Sidney?
- Os pais da minha amiga estavam...estão precisando de ajuda.
- E o que eles têm?
- Uma mulher os incomoda.
- E eles resolveram pedir ajuda à filha e aos amigos dela na Inglaterra?
Harry estudava cada centímetro do rosto do policial. Pele negra e oleosa, alguns cravos, barba feita às pressas... poderia ter um ou dois anos a mais que Harry, não seria difícil de distrair e dar tempo para os outros pensarem no que falar....mas na certa havia gente mais experiente atrás do vidro fumê, anotando cada reação sua, cada deslize e informação a mais... PENSE, POTTER, PENSE!
- Harry?
- Sim, essa mulher tinha problemas com a minha amiga, e comigo também.
- Entendo. – ele fez uma pausa – devem ser problemas muito sérios. Então era dela que vocês estavam fugindo?
- Sim. Nós tínhamos que andar rápido, e não podíamos pegar nenhum avião, para ela não saber aonde estávamos indo.
- E como ela descobriu que vocês estavam vindo para cá?
- Certamente ela tem comparsas, como aqueles que nos encurralaram em Nova York.
- Ela deve ser muito perigosa, como é mesmo o nome dela?
Droga, não existe nenhuma Belatrix Leastrenge nos arquivos policiais, eles vão desconfiar.
- Na verdade, eu não sei o nome dela.
- E sabe por que ela age dessa forma? Sabe o motivo disso tudo?
Se estiver disposto a ouvir os últimos sete anos da minha vida antes de me internar num hospício...
- Acho que é inveja...algo assim. Algum tipo de richa familiar muito antiga. Por isso os dois nos quiseram aqui. Meus dois amigos são namorados.
- Entendo – outra pausa – deve haver muito a se invejar num casal de dentistas.
Merda!
- Acho que não se trata deles em si, mas da família como um todo.
- Ok, mas por que eles não pedem ajuda da polícia?
Aff.
- É pessoal demais para que a polícia se envolva, eu acho, coisa muito antiga, nem devem lembrar o motivo da briga.
O policial riu, seria um bom sinal?
- O senhor está liberado – ele apertou um botão e a porta se abriu com um silvo – obrigado.
Dois policiais entraram na sala e escoltaram Harry de volta para a sala de espera onde estava Rony. Hermione cruzou com Harry no corredor para o interrogatório. Foi quando Harry se acomodou no sofá que ele viu o seu mundo cair.
Ele não fez nenhuma pergunta sobre a bagagem.
Na certa estava guardando as perguntas mais complicadas para Rony, que dentre os três era visivelmente o mais desajeitado. Mérlin! Que Hermione consiga dar um jeito nisso!
Cada segundo parecia se dividir ao meio enquanto Harry esperava, ele e Rony evitavam trocar olhares. O seu interrogatório foi tão rápido! Por que o de Hermione estava demorando tanto?
Foi então que Harry viu uma das cenas mais bizarras de toda a sua vida: dezenas de policiais passaram correndo por eles, vindos da direção da sala de interrogatório e aparentemente aflitos em fazer alguma coisa muito longe dali que não podia ser adiada. Quase que imediatamente, Harry notou que os dois guardas armados reviraram de leve os olhos e também saíram correndo, antes mesmo de notar o grupo que vinha em suas direções.
Harry e Rony levantaram juntos e espiaram pela porta:os policiais guardavam apressados os papéis em suas mesas e também saíam em disparada para longe dali.
- Mas q p...
- Surpresos? – Hermione surgiu pelo corredor, a bagagem nos ombros e um molho de chaves rodando displicentemente na ponta do indicador.
- O que você fez? – perguntaram os rapazes em uníssono, enquanto recuperavam suas bagagens e retiravam as algemas.
- Feitiço Antitrouxa – respondeu ela com simplicidade – faz eles se lembrarem de compromissos inadiáveis bem longe daqui. Combinado habilmente com um Feitiço de Ampliação. Ele amplia o campo de atuação de um feitiço gradativamente durante certo tempo, ou até eu desfazê-lo – explicou ela aos dois – isso vai limpar o nosso caminho por uma hora, mais ou menos. Vamos!
- VOCÊ É BRILHANTE! – Rony a abraçou e ergue-a no ar, dando um demorado beijo.
- Rony, não temos tempo pra isso! – ela corou, e olhou para Harry, pedindo desculpas pelo inconveniente.
Eles saíram correndo da delegacia. Os pedestres dando subitamente meia-volta e andando rapidamente na direção oposta antes de notar os três fugitivos. Apressados, roubaram uma moto que estava com a chave na ignição, se equilibraram nela e saíram em disparada. Harry ainda ouviu o dono da moto gritar:
- MAS EU PRECISO VISITAR A MINHA TIA-AVÓ NA GRÉCIA
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