Capítulo Único
O dia estava nublado naquele fim de tarde. Quando James lhe mandou o aviso, ele ainda estava no escritório do ministério, resolvendo os problemas costumeiros. Agora corria a passos largos pelos brancos e escorregadios corredores do Sts Mungos.
Era hoje, onze de outubro de 1980, o dia que seu primeiro herdeiro nasceria. E como ele estava ansioso por aquele dia, conhecer o pequeno causador de todos aqueles nevos em sua mulher. Aqueles nove meses foram duros, mas o esperado fim chegou.
Sempre quisera um menino, mas ensinar a ser o batedor que foi na época da escola, para compartilhar seus truques com garotas e suas marotisses. Ensinar como descabelar a Profª McGonagall, azaram alguns sonserinos ou jogar fora os bolinhos pedregulhos que Hagrid oferecia a ele e a James quando o visitavam, mas sem que o gigantesco amigo percebesse.
Ou quem sabe uma pequena menina, que ele possa protegê-la e espantar os sem-vergonhas que ousassem se aproximar com segundas intenções. Precisará de muita ajuda se ela tiver a beleza da mãe. Agora compreendia o motivo do sogro detestá-lo tanto.
Continuou correndo, e xingando o fundador da regra que diz não poder aparatar em certas áreas hospitalares. Estava demorando muito para chegar à sala 13B, para falar a verdade, nunca gostara muito daquele número, sempre lhe dava azar. Talvez hoje fosse diferente, mas talvez não.
Aos poucos, foi avistando um borrão vermelho e logo viu quem era. Lily estava sentada no banco de espera, enquanto James andava de um lado para o outro, ele detestava hospitais desde que a mãe morrera em um. Os olhos castanho-esverdeados se encontraram com os azuis de Sirius, que foi diminuindo o passo. Os olhos de ambos os amigos ficaram mais vermelhos do que antes de Sirius chegar, e uma pequena lágrima teimou a escorrer pelo rosto pálido de James.
Aquilo deixou Sirius confuso e preocupado. Não era aquela recepção que ele esperava, parecia que não estavam felizes com o nascimento do seu filho.
James aproximou-se devagar, quase trêmulo. Pairou a mão direita sobre o ombro de Sirius, ainda sem encará-lo.
- Sirius...houve uma complicação... – ainda sem nenhum contado visual.
Complicação? Aquela era uma palavra a qual ele não gostava. Sempre que ouvia era bom se preparar para o pior; realmente, aquela vez fora a pior de todas.
- Por Merlin, James! Desembucha! – bradou Sirius.
- Tudo estava indo perfeitamente normal, mas logo depois que a menina nasceu, Elizabeth teve uma parada cardíaca. – nesse momento, James olhava lá no fundo dos olhos do amigo, parecia que enxergava a alma, e depois daquela notícia, ela se partira em duas partes.
- Me-menina? – Sirius gaguejou, lá no fundo já sabia disso.
James confirmou com um pequeno aceno com a cabeça. Deu um longo suspiro e continuou a falar.
- Elizabeth... morreu.
Aquelas últimas palavras soaram como facadas que atingiram em cheio o coração de Sirius. Não estava acreditando que ela se foi, juraram que morreriam velhinhos, depois de verem os filhos crescidos, os netos brincando, mas era apenas uma utopia, um sonho de dois jovens apaixonados.
Sirius sentiu seus joelhos fraquejarem e depois baterem no chão gelado. Lágrimas e mais lágrimas escorriam pelo seu rosto, começou com um pranto baixinho e foi crescendo até formar um choro de raiva e indignação. Ela nunca tinha feito algo a ninguém, ajudava a quem podia, sempre estava presente para o que der e vier, por quê tinha de ser logo ela a ir embora? Essa pergunta rodeava sua mente sem parar.
Levantou-se e foi até a parede, onde começou a dar socos. A cada soco, um berro de fúria ecoava pelo corredor. Milhões se sensações tomavam conta de seu corpo: raiva, tristeza, solidão, medo, indignação, sentia tudo ao mesmo tempo, mas a que prevalecia com mais força era a de solidão. Pensar que nunca mais acordaria com o beijo carinhoso de Elizabeth, seu perfume de rosas, seu olhar traquina e sério ao mesmo tempo, tudo causava um eterno vazio.
Antes de dar o último soco na parede, o qual, provavelmente, quebraria seu pulso, James o segurou. Sirius nem tentou reagir, sabia que não tinha mais forças. Escorregou as costas pela parede fria, até chegar ao chão; abraçou os joelhos como costumava fazer desde menino quando estava triste.
- Escute o que vou lhe dizer com muita atenção, Sirius. – agora era Lily quem falava. A ruiva encarou o amigo e acariciou seus negros cabelos delicadamente. – Elizabeth se foi, mas ela foi sozinha. Esse é o momento em que a pequena pessoa que está naquela sala precisa de você, e você dela.
Aquelas palavras despertaram Sirius. Ele tinha uma filha, e agora? O que seria daquele bebê sem uma mãe? Ele não sabia quase nada, sentia medo.
- Quero vê-la. – sua voz saiu mais baixo que um sussurro, quase inaudível.
- Claro. Fique aqui o tempo que quiser, depois vá para casa e tome um banho. Eu e Remus cuidaremos de tudo, pode deixar que nós avisaremos a todos. – James abraçou Sirius e desapareceu pelo corredor.
- Por aqui, Sirius. – Lily o pegou pela mão, levou-o até a sala 13B.
Era um quarto de hospital como outro qualquer, excerto pelo pequeno embrulho no berço. Não havia nenhum barulho, nenhum choro. Lily deu um leve beijo na bochecha de Sirius e saiu do quarto.
Ele foi se aproximando devagar do berço. Tinha medo de acordá-la, ela parecia dormir numa paz, e não tomava conhecimento do caos que estava do lado de fora.
Cuidadosamente, Sirius a pegou no colo, e a pequena abriu os olhinhos azuis, iguais aos dele.
- Pelo menos, você tem algo meu. – sorriu, pela primeira vez depois da trágica notícia.
Não podia negar, ela era Elizabeth dos pés a cabeça. Os cabelos, o rosto, até o mindinho meio torto, ela era a miniatura de Elizabeth.
- Queria chamá-la de Elizabeth, como sua mãe, mas não posso. Ela não iria gostar disse, sei muito bem que não ia. Que tal Lyra? É um belo nome, não?Assim continua a velha tradição da família Black: os nomes do céu.
A pequena abriu um lindo sorriso, ela parecia gostar de ouvir a voz de Sirius. Não era à toa, durante toda a gestação de Lizzi, Sirius cantava, lia histórias, sempre falava com o bebê.
- Então será esse seu nome: Lyra Elizabeth White Black. – sorriu Sirius. – Um pouco longo, mas não tem problema, ficou um belo nome.
Ela segurava o indicador de Sirius com força, apesar de parecer sonolenta. E estava mesmo, passaram-se poucos minutos e Lyra tornou a dormir, aconchegada pelos braços do pai, que acariciava sua cabecinha docemente.
- Você parece ter muita força, irá ser a melhor batedora que Hogwarts já viu. Será como nos velhos tempos: um Potter apanhador e um Black batedor. Mas dessa vez, o capitão será um Black. – sussurrou ele baixinho, para não acordá-la.
- Eles diziam que eu era muito cabeça quente para o cargo de capitão, mas seu padrinho também estava no mesmo barco. Espero que Malfoy ainda tenha aquela cicatriz do soco que James lhe deu. – era bom lembrar da velha época de escola, recordar como conquistou a cabeça-dura que era Elizabeth, das confusões em que se metia, de tudo. Era bom, porém doloroso.
O tempo poderia parar, que Sirius não perceberia. Estava petrificado com a pequena, só olhá-la já o fazia sentir saudades de sua amada. Não sabia ao certo quanto tempo ficou ali, mas tinha certeza que foram horas, pois Remus entrou no quarto, dizendo para descansar para o enterro, que seria em poucas horas.
O dia amanheceu nublado, e uma chuva fina caía no povoado se Hogsmead. Sirius estava em pé ao lado de James, Lily e Remus, recebendo todos os amigos e pessoas que apareciam. Elizabeth era a pessoa mais meiga e amigável que conhecia, praticamente todos com quem convivia gostavam dela, tanto no trabalho quanto na escola.
Via pessoas que não encontravam há muito tempo, antigos professores, velhos amigos. Alice soltava longos soluços, assim como a Profª Mcgonagall. Todos tinham expressões chorosas e tristes.
Sirius não chorava, mantinha-se forte por fora, mas por dentro estava preste a desabar. Não se importava com a chuva que o deixava ensopado, ou a lama que se aglomerava em seu sobretudo e em suas botas. Só mantinha o olhar fixo no caixão, que descia lentamente até tocar no fundo. Sirius segurava uma rosa branca, a favorita de Lizzi, e antes de começar a cobrir a cova com terra, ele jogou a rosa. Aquele gesto significou um último adeus, um adeus que Sirius nunca imaginou que chegaria tão rápido e de forma tão inesperada.
Depois de se despedir de todos, Sirius voltou ao hospital para ficar com Lyra. Mandou James e Lily para casa, afinal, também tinha um filho pequeno; Remus foi despachado também para casa, estava esgoto, a noite anterior tinha sido lua cheia. O amigo estava coberto de arranhões e machucados, alguns ainda abertos.
Aquele dia transcorreu daquela maneira: calmo, triste e chuvoso. Parecia ser um dia normal, como outro dia de chuva qualquer, mas não era, ninguém estava pronto para aquele adeus, muito menos Sirius. Ele passara o dia no hospital, ou zelando a filha ou olhando a foto da esposa. Não tinha vontade de trabalhar ou de fazer qualquer outra coisa, e Lily ia todos os dias em sua casa para dar uma geral, principalmente, limpar o quarto do bebê, que não demoraria muito para ir para casa.
Realmente não demorou. Três dias depois, Sirius abriu a porta principal, carregando a mais nova integrante da família Black.
A casa estava impecavelmente limpa. Lily era muito rigorosa em matéria de limpeza, às vezes até demais. Deixou a mala da filha sobre uma mesinha no hall e sentou-se no sofá, ainda com Lyra no colo. Era estranho voltar àquela casa novamente, quando Lyra estava no hospital, ele entrava na casa somente para tomar banho e pegar mais roupas para a filha, agora que voltaria a morar lá, se sentia um completo estranho naquele casarão. Ela parecia maior agora do que quando Liz estava com ele.
- É, pequena, parece que vai ser só nós dois. – suspirou Sirius.
Ele sentia medo naquele momento, sentia medo de falhar. Agora tudo estava em suas mãos, inclusive sua filha. Prepará-la para o mundo, ensinar-lhe o que é certo e o que é errado, guiá-la para o melhor caminho, nunca imaginou que teria de fazer tudo isso sozinho. Falharia em muitas coisas, mas não em ser um bom pai.
Muitos dizem que o melhor remédio para curar dores do coração é o tempo, mas Sirius Black não acreditava muito nisso. Para ele, o tempo apenas amenizava a dor, jamais a curava. E era verdade, dezessete anos se passaram, e ele continuava sentindo aquela ferida aberta em seu peito, mas não ardia tanto como antigamente.
Aqueles dezessete anos mudaram muita coisa, como sua moradia, por exemplo. Havia vendido seu apartamento no centro de Londres e comprado uma casa nos arredores da cidade. Era verdade que estava morando na mansão com Elizabeth, antes de Lyra nascer, mas não gostava de lá, por isso, comprou outra casa, e deixou a mansão para Bellatrix, o que significou um choque para Andrômeda. O único motivo para Sirius não ter passado a mansão para Andrômeda era que a prima detestava aquele lugar tanto quanto ele. Era mais fácil passá-la para a prima mais velha, ainda mais quando se tinha algumas surpresas esperando por ela.
Fora promovido duas vezes, por ter ajudado com alguns serviços úteis para o pessoal do ministério. Outra coisa que não costumava fazer era ler o Profeta Diário, mas pegou o costume de uns tempos para cá de ler o maldito jornal matinal. Sempre detestou aquele pedaço de papel cinzento, talvez por este só trazer fofocas e desgraças. Mas, realmente, o que mais mudara em Sirius Black era o fato dele não cuidar somente dele mesmo, mas também de uma mocinha um tanto difícil.
Avaliar Lyra Black não era uma tarefa fácil. Não se tratava de uma daquelas adolescentes rebeldes ou complicadas, porém, era uma jovem um tanto diferente. Possuía um juízo enorme para sua idade, claro, só quando precisava, e um conhecimento bastante favorável também, entretanto, o que realmente a diferenciava dos outros era sua habilidade de viajar pela mente das pessoas, herança da mãe. Ao se concentrar, é claro, se a pessoa em questão abrisse sua mente, Lyra conseguia invadi-la, descobrir segredos que nunca sairiam pela boca de quem os guarda. Isso era muito útil quando se estudava em uma escola como Hogwarts.
Ser pai não era uma tarefa fácil, tinha horas que desejava ter dado Lyra de presente para os Potter, mas também havia seus momentos recompensadores. O mais difícil desse trabalho era a enorme semelhança que Lyra tinha com Sirius, não fisicamente, ela era a cara da mãe, mas os gostos, os gestos, as manias e os defeitos eram os mesmos do pai, o que não é nada bom. Certamente, um dos maiores defeitos da garota era a pequena dificuldade de se levantar de manhã cedo.
- Lyra Elizabeth Black! Por Merlin, levante-se dessa cama agora! – bradou Sirius, batendo na porta ferozmente. Tentava fazer o maior barulho possível, na esperança dela acordar mais rápido.
- Pai, só mais cinco minutinhos. – sua voz saiu abafada por causa do travesseiro, que não deixava a luz do sol encontrar com seus olhos azuis.
Sirius conhecia muito bem aqueles famosos “cinco minutinhos”. De cinco minutinhos virava uma hora, de uma hora viravam três horas, e isso seria tempo suficiente para perder Expresso Hogwarts novamente.
- Vamos, apresse-se, ou irá perder o trem DE NOVO! – ele fez questão de salientar as duas últimas palavras.
Era verdade, uma única vez, Lyra não chegou a tempo de embarcar no trem, tudo por causa daqueles malditos cinco minutinhos. Para resolver o problema foi uma tamanha correria. Sirius escreveu uma carta às pressas à Dumbledore, que mandou enviá-la via pó-de-flú. Em questão de segundos, a menina estava de pé em frente ao bom velhinho, naquele conhecido escritório circular. Os dois jogaram xadrez e passearam pelo castelo até os outros alunos chegarem.
- Ora, pai, foi bastante educativo. Aprendi muitas jogadas de xadrez, droga, como o tio Dumby é bom! Fiquei devendo uma revanche, esse é o dia perfeito para pagar essa dívida. – Lyra ainda continuava com os olhos fechados.
- Você terá muito tempo para pagar essa dívida, mas hoje não. – Sirius respirou fundo e entrou no quarto. O quarto se encontrava em um completo caos, roupas no chão, livros espalhados, o tinteiro caído sobre a mesa, derramando tinta no carpete. – Bem, responda-me uma perguntinha: fomos assaltados e eu não fiquei sabendo?
- Não achava minha correntinha ontem, aí tive que procurar. Não se preocupe, já achei, estava na dentro da gaveta.
Sirius rolou os olhos. Já estava esperando algo do gênero.
- Certo. Agora, levanta!
- Daqui a pouco eu vou.
- Não tem nada de daqui a pouco. – ele aproximou-se da cama e puxou as cobertas, fazendo-as cair no chão. Não deu muita importância para a cara de indignação da filha, apenas sorriu e voltou até à porta. – Vá lavar o rosto, enquanto eu arrumo essa baderna.
Lyra suspirou, dando-se por vencida. Conhecendo Sirius Black com conhecia, ele não iria sair daquele quarto até que ela descesse as escadas, indo na direção ao hall de entrada, para irem à estação. Não havia como enrolar mais, o jeito era dormir no trem.
Ela espreguiçou-se e levantou da cama, ainda sentia as pernas fraquejarem, devido ao cansaço. Sabia que não devia ter ido dormir tão tarde na noite anterior. Beijou o pai na bochecha esquerda, como sempre fazia de manhã e pegou as roupas que havia deixado separadas no outro dia, em seguida, caminhou lentamente até o banheiro.
- Ainda dá tempo de tomar banho? – perguntou ela, abrindo o chuveiro.
- Se for rápida, sim. – ele pegou a varinha e com pequenos acenos, as coisas espalhadas pelo chão começaram a voltar para seus devidos lugares. A maioria voava para dentro do enorme malão da escola, mas algumas Sirius tinha certeza que ficariam em casa naquele ano. – Quanto as roupas, levará quais?
- Apenas as da parte esquerda do guarda-roupa, acho que esse será um ano bastante frio.
O guarda-roupa, ao contrário do resto do quarto, estava até organizado. Nenhuma roupa estava amassada ou jogada no fundo, e alguns objetos que ela guardava ali estavam em seus devidos lugares. Não foi muito difícil encontrar as roupas as quais ela falou.
Cerca de vinte minutos depois, o quarto estava impecavelmente limpo e arrumado, o malão se encontrava perto da porta, e Sirius matava tempo folheando uma revista. A porta destrancou-se e Lyra voltou ao quarto. O cansaço de seu rosto havia sumido, junto com algumas olheiras, ela vestia um jeans comum com uma blusa azul de mangas brancas e um par de tênis. Achava que não havia muita necessidade de se arrumar demais no primeiro de setembro, já que mais tarde teria de trocar-se novamente.
- Está boa a roupa, pai? – ela deu uma pequena girada.
- Ly, você fica linda de qualquer jeito. Agora, vamos.
- Espera, onde está Alioth? – ela estranhou não ver a coruja negra dentro da gaiola.
- Está lá embaixo. Eu a coloquei na gaiola de Heres. – ele tirou uma pequena maçã do bolso. – Tome, aqui está o seu café da manhã.
- Só isso!?
- Não fui eu que enrolei a manhã inteira na cama. Pegou tudo? – perguntou Sirius, olhando ao redor, checando se não esquecera nada. – Não está esquecendo de nada?
- Nadinha, tudo em ordem. Pai, o senhor pode minimizar essa bolsa? – ela apontou com o dedo indicador para uma mochila no canto do quarto. - Detestava ter de levá-la, mas era mais fácil, pois não teria de abrir o malão para pegar o uniforme. – Detesto andar com bolsa.
Os dois saíram do quarto e desceram as escadas, observando tudo cuidadosamente para ver se não esqueceram de nada. Estava tudo em ordem, nada faltava, isso foi motivo suficiente para se apressarem para pegar a coruja e entrarem no táxi parado na frente da casa.
Ben, o costumeiro motorista de táxi que sempre os levavam aonde fosse preciso, pôs a bagagem de Lyra no porta-malas com um pouco de dificuldade. Realmente, Sirius exagerara na quantidade de coisas.
- Então, Srta. Black, feliz pela volta às aulas? – perguntou o bom velhinho.
- Na maior parte do tempo, sim. – sorriu ela. Adorava a escola, a convivência prolongada com os amigos, mas sentia falta de casa também. Apesar de não aturar muito as marotices do pai, sentia saudades.
- Mas aproveite seu tempo de escola, menina, porque quando ele acaba, os verdadeiros problemas começam a surgir.
Isso ela já imaginava. Era engraçado, porque à medida que ia crescendo, as coisas ficavam mais complicadas. Quando se é criança não tem de se preocupar com nada além se não quebrar as coisas.
O trânsito estava bom naquele dia, o que era um milagre, por isso, em quinze minutos já estavam parando em frente à estação. As pessoas corriam de um lado para o outro, apressadas, umas estavam atrasadas para pegar o trem, outras corriam apenas porque queriam chegar logo ao seu destino.
Lyra desceu do carro e foi pegar um carrinho para carregar a enorme mala, enquanto o pai ajudava Ben a tirar a bagagem do porta-malas.
- O senhor quer que eu lhe espere? – perguntou Ben a Sirius.
- Ahh, não. Obrigado, vou para o trabalho a pé mesmo. – Sirius entregou algumas libras ao motorista. – Fique com o troco. Até a próxima.
- Vamos? – e abraçou Lyra, enquanto esta empurrava o carrinho.
Estava realmente difícil de achar alguém conhecido naquela multidão. Crianças corriam de um lado para o outro e os pais gritando atrás. Os trouxas nem reparavam que haviam bruxos ali, a correria não os deixava perceber, e alguns dos feitiços impostos pelo ministério também ajudavam bastante.
- Pode ir na frente. – disse Sirius, pegando o carrinho.
Lyra assentiu e atravessou a barreira. Do outro lado estava tão cheio quanto o trouxa, talvez até pior. Eram quase onze horas, ela sabia que tinha de acabar com a mania de chegar em cima da hora em todos os lugares.
Logo em seguida, Sirius apareceu, trazendo o carrinho. Ele esticava o pescoço à procura do amigo de óculos, isso o distraiu por alguns segundos e por descuido, colidiu o carrinho ao de outra pessoa, uma mulher de longos cabelos negros, olhos cor de mel, a qual ele conhecia muito bem.
Rachel Davis estava parada diante dele, com a cara fechada. Sirius já a conhecia do ministério. Rachel era auror, com especialização em feitiços, trabalhara com Sirius durante uns meses, mas logo foi transferida para outro departamento.
Sirius estava surpreso em ver aquela mulher, já fazia um bom tempo desde que a última vez que a viu. Ela estava exatamente igual, o mesmo cabelo, o mesmo pavio curto e o mesmo olhar de fúria que sempre lhe lançava desde que o conheceu.
- Mas que surpresa agradável, Rachel! – sorriu ele marotamente, apoiando-se no carrinho.
- Céus! Acho que Merlin está me fazendo pagar pelos os erros das minhas vidas passadas. – Rachel abriu um sorriso sarcástico. – Lyra! Como está crescida! – sua feição mudou completamente ao se virar para a garota ao lado do ex-colega de trabalho. Apesar de não simpatizar muito com o pai, adorava aquela menina.
- Olá, Sra. Davis. – cumprimentou Lyra. Se houvesse uma candidata ideal para ser sua madrasta, aquela seria Rachel. Às vezes a encontrava no ministério ou até mesmo nas festas promovidas pelo ministro da magia, nunca chegaram a conversar bastante, mas a considerava uma boa pessoa, além de ser uma das poucos que conseguia lidar com Sirius Black. Lyra torcia para que um dia os dois acabassem juntos, mas isso era mais uma utopia, vendo as reais circunstâncias.
Atrás da mulher, estavam dois garotos. Um era alto, cabelos loiros acastanhados, com os olhos mais azuis que Lyra já viu. Ryan Davis era do sexto ano da Corvinal e era o sonho de consumo da maioria da tropa feminina de Hogwarts. Timidez, beleza e educação eram suas principais qualidades. Ele era um dos motivos por Lyra querer tanto que Rachel fosse sua madrasta, assim veria aquele encanto de garoto todos os dias, e se bobear, até sem camisa. O outro garoto Lyra nunca vira, era baixo para sua idade, muito pequenino, os cabelos negros caíam sobre seus olhos azuis, dando a impressão que não enxergava muito bem. Os traços eram os mesmo dos de Ryan, o mesmo olhar distraído, o mesmo sorriso, apenas com alguns dentes a menos.
- Hey, Lyra. – Ryan acenou discretamente. – Thatcher estava atrás de você.
- Valeu. Bem, esta é minha deixa, pai. – deu um beijo estalado na bochecha esquerda do pai. – Até o Natal. Vou sentir saudades.
- Tente não arrumar encrencas, moça. - Sirius abriu um pequeno sorriso.
- Olha só quem fala.
Ela já estava se afastando, quando se virou e começou a abrir a boca para completar o que faltava.
- Eu despacho a bagagem. – e com um último aceno, ela sumiu na multidão. Depois de observá-la sumir, virou-se para Rachel novamente. – Mandando o caçula?
- Bem, não se pode segurá-los para sempre, não é mesmo? – sorriu ela. – Ryan, fique de olho no Charlie. Vou tentar achar Dana e seu tio Taylor. – Rachel soltou o carrinho por alguns instantes enquanto pousava um beijo na bochecha de cada um dos meninos. – Escreverei em breve.
Agora eram os dois que se perdiam na multidão. Rachel olhou-os da mesma maneira que Sirius olhava onde Lyra havia sumido.
- É difícil, não acha? – Sirius encarou a mulher, um tanto tristonho.
- Ás vezes até demais. Vou indo Black, tenho trabalho a fazer. – apontou para o carrinho com as malas. – Até outra hora.
- Até.
Sem muitos rodeios, Sirius despachou o malão. Não foi uma tarefa muito fácil, estava muito cheio, e ele tinha a pequena impressão de que todos, inclusive ele, deixaram a bagagem por último.
Quando estava quase aparatando, ouviu alguém chamar seu nome e, logo, algo pulou sobre seus ombros. Era uma pessoa pequenina, com cabelos negros e profundos olhos cinzentos.
- Sirius! – bradou Nathaniel Potter alegremente. – Estava lhe procurando.
- Verdade? – sorriu Sirius ao caçula dos Potter. – E para que essa alegria toda?
O menino abriu um sorriso maroto e respondeu:
- Estamos em plena temporada de quadribol, então preciso de um acompanhante. Papai não tem tempo e mamãe não saí do hospital.
- Veremos essa possibilidade. Por onde anda seu pai?
- Está logo ali na frente, com mamãe.
Ele pegou o menino de seis anos e o colocou sentado sobre seus ombros, sabia que Nathan adorava ficar nas alturas, depois foi procurar James.
Andou um pouco até conseguir ver duas cabeleiras ruivas muito conhecidas. Junto delas, estavam um homem de óculos e com rebeldes cabelos negros, ao seu lado, um rapaz moreno se distraía com um pomo de brinquedo. Lá estava o resto da família Potter.
- Por onde andou, Almofadinhas? – perguntou James, enquanto pegava o filho mais novo no colo.
- Trombei com Rachel agora a pouco.
- E ela não te azarou dessa vez?
Sirius o olhou de viés. Não deu muita importância ao comentário do amigo e foi cumprimentar as duas ruivas.
- Você precisa dar um jeito na boca de seu marido, Lily. Ninguém agüenta mais. – comentou ele sarcástico.
- E você acha que eu já não tentei? – Lily abraçou o amigo. – Esse aí é um caso perdido.
- Vicky, está mais bonita do que o normal. – Sirius deu uma piscadela para a menina. – É, amigos, agora vão sentir na pele o que é ficar espantando trasgos.
- Bom revê-lo também, Sirius. Uma pena não ter ido conosco para a casa no lago.
- É, deixa para o próximo verão. Então, como anda o meu afilhado cabeça de vento? – abraçou o rapaz.
Uma expressão de dor tomou conta do rosto do rapaz quando o padrinho o abraçou. Ainda não contara para a mãe que machucou as costelas no dia anterior enquanto jogava quadribol com os vizinhos, coisa que ela o tinha proibido de fazer para cuidar do irmão mais novo. Deixou o irmão brincado com uma espécie de vídeo game portátil e foi jogar. Com apenas vinte minutos de jogo, um dos vizinhos mandou-lhe um balaço, que acertou em cheio as costelas e o fez cair no chão. Felizmente, ninguém descobriu, então achou melhor deixar a enfermeira da escola tratar do ferimento, sorte que ela nunca perguntava como aconteceu, ao contrário da mãe, que fazia um interrogatório pior que de polícia.
- Até um abraço não quer mais? – brincou Sirius, ainda observando o garoto atentamente. – Não me diga que voltou para aquela fase rebelde de novo?
Harry revirou os olhos. Sirius adorava provocá-lo com recordações de seus doze ou treze anos, tempo que ainda definia sua personalidade.
- Caí da cama – a mãe já ia abrir a boca quando ele completou: - Não foi nada.
Eles tiveram mais alguns minutos antes do trem dar o último apito. Nesse meio tempo, Sirius não viu nem sinal da filha, com certeza já estava a bordo.
Victoria e Harry subiram a bordo do trem logo após se despedirem dos demais. Mas antes que Harry o fizesse, Sirius o segurou por alguns segundos.
- Quadribol, e fica de bico fechado. – Harry respondeu num sussurro quase inaudível e Sirius meneava a cabeça em sinal negativo.
As portas do expresso vermelho se fecharam e com um último apito, o trem começou a locomover-se. Os pais fitavam a locomotiva vermelha desaparecer na última curva com um olhar de saudade, as férias passavam tão rápido, mal dava tempo de matar as saudades. Sirius sentia isso, não viajara naquele verão, teve de trabalhar, por sorte, conseguiu passar um bom tempo com Lyra, mas parecia não ter sido suficiente. Sentia falta de quando ela era pequena, dos tempos que não freqüentava a escola e estava lá, todos os dias, esperando-o chegar do trabalho. Bons tempos, uma pena que se foram.
O trem desapareceu, junto com vários dos presentes ali, até chegar a um ponto de sobrarem apenas quatro pessoas.
- O tempo passou rápido, é difícil de acreditar que no ano que vem não terei de trazê-lo aqui. – Lily sorriu fracamente.
- A situação de vocês ainda é melhor do que a minha, ainda têm Nathan para salvar a pátria, a única coisa que me resta é rezar para que Lyra não entre na onda do Remus. – disse Sirius.
- Que onda do Remus, está doido Sirius? – perguntou James, descendo Nathan até o chão.
- Ahh, não te contei? – Sirius abriu um sorriso forçado. – Ela está indo na conversa do Aluado, de ir viajar com ele atrás daquelas pesquisas doidas. Sabem aonde ela está pensando em morar? Nova York, Estados Unidos, céus! O que lá tem que aqui não tem?
Os dois amigos riram da cara mal-humorada de Sirius. Soltar um filho no mundo nunca era fácil, mas soltar Lyra no mundo, para Sirius, aquilo era o fim.
Lily olhou no relógio duas vezes antes de pegar Nathan no colo. Decerto, estava atrasada novamente para o hospital. Nos últimos meses, ela tivera alguns problemas por causa do filho mais novo, não havia ninguém que pudesse olhá-lo enquanto ela trabalhava. Tentou babás, mas nenhuma ficava muito tempo, os poderes mágicos de Nathan estavam começando a aparecer, e ele adorava testá-los nas babás. A solução era levá-lo para o hospital e rezar para que não causasse muitos estragos.
- Vamos, querido, temos que ir para o hospital. Certeza mesmo que nenhum dos dois pode olhá-lo hoje? – Sirius e James menearam a cabeça, negando, para o desgosto da ruiva. – Certo, mas amanhã é você quem vai levá-lo para o trabalho. – e no segundo seguinte ela havia sumido.
- Esse menino foi o mais parecido conosco, não é mesmo? – Sirius virou-se para o amigo, sorrindo.
- Pode apostar que sim. Agora estou sentindo na pele o que minha mãe falava.
Sirius olhou para o céu, eram onze horas da manhã, e o sol nem apareceu, só havia uma cor acinzentada e várias nuvens, dando a impressão de chuva. Aquilo era incomum para aquela época do ano, estavam no final do verão, mas não era tempo de chuvas.
- Então, já contou para a Lily? – Sirius encarou a James, seriamente. Aquele era um daqueles assuntos que não gostava de tocar, mas era inevitável, porque no final sempre acabavam falando nele.
- Não, estava esperando os meninos voltaram para a escola. Você sabe como a Lily fica com esses assuntos. Nathan não repara, mas Victoria e Harry é outra história. – James suspirou profundamente. Tentou adiar o máximo possível, mas terá de ser hoje à noite.
- É complicado. O que Dumbledore diz disso tudo?
- Não sei, não tenho falado com o barbudo. Fiquei lá na casa de campo sem saber de nada do que estava acontecendo aqui. E você conversou com a Lyra?
- Vou adiar essa conversa mais um pouco, no Natal eu conto. Mas tenho certeza de que ela já sabe que algo está errado. – Sirius voltou a fitar o horizonte, as montanhas em especial, por onde o trem logo passaria.
- Eles sempre sabem. Venha jantar lá em casa, acho que Dumbledore vai nos acompanhar está noite.
- Humm, se eu conseguir me livrar, vou sim. Você vai para o escritório agora?
- É o jeito, Fuller já está uma fera comigo. Essa crise toda por aí e eu de férias. – James sorriu ao lembrar da cara avermelhada do chefe quando o encontrar mais tarde. – Vou indo, depois tomamos uns drinques mais tarde. – e no segundo seguinte, James não estava mais ali.
Era engraçado como ali se esvaziava rápido. Minutos se passaram e não havia mais ninguém, claro, além dele mesmo. Não estava reclamando, era até bom ficar sozinho, mas era estranho pensar como tanto a plataforma quanto muitos outros lugares se esvaziavam facilmente, apesar das pessoas ainda não saberem de nada.
Suspirou. Aquele sentimento se saudade estava batendo em seu peito novamente. Adorava quando a garota voltava para casa, ela dava uma certa vida ao casarão. Teria que ir se acostumando, conhecendo-a como ele conhecia, Lyra não iria apagar suas idéia de mudança tão facilmente.
- Então, vai comigo ou prefere ficar zanzando por aí? – indagou Harry á irmã caçula.
- Tenho mais o que fazer, meu querido mano. Se vir Robert, diga que estou na cabine de sempre, com os meninos. – ela beijou-o rapidamente no rosto e seguiu para o lado esquerdo do trem.
Harry olhou em volta, procurando por Lyra, mas não havia nem sinal dela. Ela tinha o dom de desaparecer quando alguém a procurava. Vendo que não tinha mais que fazer ali, seguiu para o lado oposto ao da irmã. Precisava encontrar uma cabine para descansar, as costelas quebradas estavam matando-o de dor.
A cada cabine que passava, corria os olhos rapidamente dentro dela, mas não havia sinal algum da garota. Já estava começado a se cansar daquela brincadeira de esconde-esconde.
Entrou na última cabine daquele vagão, estava completamente vazio. Seria bom ficar naquela cabine, com sorte, se sentasse um pouco, a dor cessaria. Mas lembrou-se que precisava encontrar Austin, prometera antes do verão que jogariam junto com os outros garotos, uma partida de pôquer.“Maldita promessa”, pensou ele.
Suspirou em seguida começou a andar lentamente até a saída. Mas assim que atravessou a porta, sentiu algo colidir com seu corpo. Talvez fosse pela dor que sentia, porque de repente, viu-se no chão e olhando fixamente para o causador da queda.
- Mil vezes, desculpa, Harry.
Aquela era Isabelle Wine, do sétimo ano da Corvinal e capitã do time de quadribol da casa. Era exagero falar que ela era a mais bela de toda Hogwarts, mas estava entre as primeiras. Tinhas os cabelos castanho-claro, profundos olhos azuis, não era uma daquelas magricelas, igual à metade das garotas de sua casa, talvez fosse isso que a destacasse mais, ela não era como as outras.
Ela ajoelhou-se até Harry, com o olhar um tanto preocupado. Sempre ficava com um pouco de pena quando machucava alguém, o que muitas vezes acontecia, por viver sempre mergulhada em seus pensamentos.
Harry meneou a cabeça. Já conhecia aquele olhar muito bem, por ser batedora, quase sempre acertava um balaço no apanhador da Grifinória. Ele apoiou a mão esquerda no chão e fez força para levantar, mas a queda pareceu piorar a situação das costelas.
- Céus, não me diga que eu quebrei algum osso seu!
- Não, não, acho que quebrei as costelas – os olhos de Isabelle arregalaram-se e Harry apressou-se para completar a frase. – jogando quadribol ontem.
- Você está desde ontem com as costelas quebradas? Porque não pediu para sua mãe ajeitá-las? Sei muito bem que ela é uma curandeira.
- Bem, eu até contaria para ela, mas como era para eu ficar vigiando meu irmão, e não ficar jogando quadribol, então, não me parece uma boa idéia. – ele sorriu.
- Bem feito! Seu irmão é uma graça. – ela levantou-se e estendeu a mão para ajudar o moreno a sair do chão. – Vamos, eu conserto isso. Você vai pirar se continuar desse jeito o resto da viagem, ainda mais depois dessa queda.
Ela o ajudou a andar até a cabine vazia. Harry se sentou em um dos assentos, enquanto Isabelle pegava a varinha no bolso.
- Você tem certeza do que está fazendo? Isso não me parece...
- Shii! – ela o interrompeu sorrindo. Meneou a cabeça, não dando atenção a cara de indignação do grifinório.
Ela fez uma cara pensativa, parecia tentar encontrar o feitiço mais eficaz. Harry engoliu em seco quando a garota deu uma estalada nos dedos e apontou-lhe a varinha.
Harry não ouviu o nome do feitiço, apenas viu uma luz alaranjada sair da ponta da varinha. A dor não passou, além do que, uma repentina queimação começou na região onde doía. Por um momento, ele pensou ter entrado numa fria, tinha a pequena impressão que aquilo não iria curar suas costelas e, sim, piorar sua situação.
- É normal sentir essa queimação. Logo, logo, a dor vai começar a cessar. – ela deu uma piscadela. – Ou não confia em mim?
- Do jeito que está, acho que fico com a segunda opção. – Harry comentou quase num sussurro.
- Eu ouvi isso, Sr. Potter. – ela olhou no relógio do pulso, depois voltou-se para Harry novamente. – Me diga agora como está.
Harry calou-se por um momento. Ela parecia estar certa, a queimação começara a passar, junto com a dor. Aquela sensação era de um imenso alívio, ao menos não ficaria doído o resto da viagem.
- Como está agora? – Isabelle perguntou.
- Quase não sinto mais nada. Obrigado. – ele a encarou agradecido. – Você já pensou em ser curandeira?
- Já, mas esses pacientes de hoje em dia dão muito trabalho. – Isabelle sorriu marota. – Acho que isso não é para mim, eu só sei algumas coisas porque um dia Filch me pegou passeando pelo castelo depois do toque de recolher, e me deu uma detenção. Tive de ajudar a limpar a ala hospitalar á noite durante dias. Assim, aprendi algumas coisinhas.
- Essa detenção me parece melhor do que as que eu pego com aquele doido varrido do Schmid. - comentou Harry, fingindo uma pequena indignação.
- Você devia ter mais respeito pelo professor de Feitiços. Não é a toa que o homem vive querendo te dar uma detenção. – falou ela. – Fique de olhos abertos, qualquer dia ele te dá de almoço para o polvo do lago.
Desde o terceiro ano, quando Harry, acidentalmente, derramou uma poção no professor de Feitiços, enquanto se dirigia para o dormitório, o homem não fazia nada além de querer ver o rapaz mais lascado do que qualquer outro aluno da escola. O problema não era Harry ter jogado a poção, mas, sim, que Schmid era alérgico àquela poção, então, uma reação alérgica se apossou de seu rosto e de seu braço direito. O homem teve que passar quatro dias na ala hospitalar para as bolhas de sangue pararem de crescer.
Harry revirou os olhos, mas riu do comentário.
- Hum, você viu Lyra por ai? – ele perguntou.
- Eu a vi no vagão anterior. Ele tava fula da vida, procurando o Thatcher.
- E você? O que estava fazendo, vagando por aqui? Não vi nenhuma das meninas do sétimo ano.
- Estava atrás do...
- Richard?
Ela baixou os olhos por alguns momentos, depois voltou a encará-lo. Já não estava mais com um sorriso no rosto e Harry desejou não ter feito aquela última pergunta. Mas como ele ia saber que aquilo ia deixá-la chateada? Afinal, o Lufa-Lufa era seu namorado até antes do verão.
- Err, não, não. Não estou procurando o Richard, não. Não o vejo desde que terminamos. – Isabelle sorriu fracamente. – Queria saber aonde se meteu a Joane. Ela ficou me businando o verão inteiro porque queria contar seus rolos das férias.
- Entendo.
- Bem, já vou indo. Daqui a pouco ela passa histérica por aqui. – ela levantou-se e foi até a porta. – Se cuida. E não pense que eu vou facilitar as coisas para você nesse ano, Sr. Potter.
- E quem disse que eu preciso de vantagens? – ele a encarou, matreiro. – Não precisei de nenhuma vantagem no ano passado e também não precisarei nesse.
Pouco segundos se passaram e ele ouviu um conhecido grito histérico vindo do corredor. É, parecia que Isabelle havia encontrado Joane.
Continuou sentando, observando a paisagem verde passar rapidamente. Não estava com ânimo para procurar por Lyra ou qualquer pessoa. Estava cansado de brincar de esconde-esconde, agora era a vez deles o procurarem.
Há uma cabine de onde Harry estava, Lyra andava rapidamente por entre cada cabine. Naquele momento ela tinha vontade de matar Thatcher, primeiro ele manda avisar que queria encontrá-la, mas não se lembrou de falar onde.
Deixou um pouco de lado suas idéia de torturar o namorado quando viu um pouco á frente seus dois monitores favoritos. O loiro de olhos acinzentados estava encostado na parede, conversando com um rapaz moreno, alto, de olhos claros também. Lá estavam Draco Malfoy e Tristan Grey, ambos sonserinos, ambos monitores e ambos Lyra adorava tirar-lhes a paciência.
Ela foi se aproximando, como se não quisesse nada. Os dois garotos nem a notaram, continuaram conversando com um certo entusiasmo sobre algo que Lyra não tinha muita certeza, mas era evidente que atraiu a atenção dos dois.
- Olha só o quem eu encontro aqui. – ela sorriu e abraçou o loiro, que pareceu não apreciar muito a idéia. – Meus dois monitores favoritos aqui juntos, era tudo o que eu queria.
Tristan revirou os olhos, mas sorriu em seguida, ao ver a cara de desgosto de Malfoy.
- Vejo que você chegou ao ponto que até seus amiguinhos grifinórios estão fugindo de você – disse Malfoy, tentando se livrar sos braços de Lyra.
- Bem lembrado! Vocês viram Thatcher passar por aqui?
- E você acha que eu ia reparar se seu namoradinho passasse por aqui?
- Você está muito rabugento hoje, Draco.
- Ok, Black. Se eu responder a pergunta, você dá o fora?
- Evidentemente, meu caro Tristan. – ela deu as costas para o loiro e encarou o outro rapaz.
- Eu o vi agora a pouco no vagão da frente, na cabine do Baldwin. Está o maior estardalhaço lá, não entendi direito o que estava acontecendo, mas parece ter algo haver com o jogo de sábado. – Tristan olhou de viés a porta do vagão, dando a deixa para Lyra sumir dali.
- Obrigada, meu querido. – ela agradeceu a Tristan, em seguida, virou-se para Draco com um olhar de indiferença. – Mal educado.
O loiro não deu atenção ao comentário e voltou á conversar com o colega de casa. Lyra sabia que não havia mais o que fazer ali, ambos os garotos não queriam papo com ela naquele momento. Em certas horas, ela até conseguia uma conversa sem àquela arrogância dos dois, mas, na maioria das vezes, o assunto sempre acabava falando mal de alguém. Ou dos jogadores do outros times, ou dos outros alunos, sempre havia os outros. E essas conversas só aconteciam durante as detenções, não se falavam muito em outras ocasiões.
Ela foi embora, deixando os dois sonserinos para trás. Draco continuava olhando para a porta pela qual Lyra havia saído. Ela continuava igual, não mudara nada desde o último dia de aula. Continuava intrometida e pentelha, mas foi bom revê-la, ainda mais quando Lyra Black era considerada a maior perdedora de pontos da Grifinória. Ela simplesmente tinha o dom de estar no lugar errado e na hora errada, então, sempre acabava em detenção, e era justamente ele quem tinha de monitorá-la durante os castigos.
- Então, Malfoy, vai aceitar a oferta de Knox?
Draco encarou Tristan seriamente, depois, voltou seu olhar para as árvores que passavam rapidamente do lado de fora. Aquele não era um assunto fácil a ser tratado. Era nessas horas que tinha vontade de voltar a ser menino, ao menos, naquela época, não tinha que encarar situações como aquela.
- Ainda não sei. – respondeu ele. – E você?
- Jamais! Nem que me paguem um mil galeões eu me meto em coisa desse tipo. É como meu pai sempre diz “Antes ser um morto livre, do que um vivo escravizado.”
- Eles me deram até a formatura para decidir. Ainda tenho muito o que pensar.
Aquela última frase de Tristan tinha um fundo verdadeiro. Se Draco desse às costas, mandasse aquilo para os infernos, seria um homem morto, mas se aceitasse, todos os seus planos, os poucos que tinha, iriam por água abaixo. Aquele tipo de trabalho tinha de se dedicar inteiramente, entrar de corpo e alma. Bem, ao menos teria mais alguns meses para pensar, alguns longos meses.
Lyra entrou em uma das cabines do vagão o qual Tristan mencionara. Estava o maior estardalhaço ali dentro, vários meninos, tanto do sétimo quanto do primeiro ano, conversavam alto, quase gritando, e quando um pedaço de papel passava por suas mãos, a bagunça piorava.
Ela correu os olhos rapidamente, procurando pelo namorado. Ele não estava naquela cabine, e mesmo que estivesse, ela não conseguia vê-lo. Sendo assim, não havia o que fazer ali. Deu meia volta e saiu pela porta afora xingando-o baixinho, detestava ter de ficar procurando os outros, preferia mil vez que os outros que a achassem.
O que não sabia é que quando menos se espera, o que está procurando acaba aparecendo, e isso realmente aconteceu. No momento em que pisou fora da cabine, alguém colidiu com Lyra, e se esse alguém não a tivesse segurado, era certeza que teria ido parar no chão.
- Lyra! Até que enfim! – Thatcher sorriu ao ver a garota.
Ela abriu um pequeno sorriso, e em seguida acertou o braço de Thatcher com o punho direito. O rapaz a fitou com um olhar de desentendido enquanto massageava o lugar da batida. Ela tinha mais força do que aparentava.
- O que foi isso, mulher?! Está doida? Quase três meses sem nos vermos e você ainda me recebe assim?
- Primeiro você manda me chamar, depois eu fico igual a uma barata tonta te procurando, e você ainda pergunta se eu enlouqueci? – ela fechou a cara e ficou de costas para o namorado. Adorava fazer um doce quando passavam muito tempo sem se verem.
- Hey, hey, desculpa, ok? Eu estava vendo o autógrafo do novo apanhado da seleção...
- Sei, sei, porque homem gosta tanto de esportes? – ela o interrompeu.
- Por que as mulheres gostam tanto de revista de fofoca? – rebateu ele, rindo.
- Pelo simples fato de nos deixarem informadas, além do mais, como eu iria saber o que está acontecendo com “The Princely”?.
Ele revirou os olhos. Era melhor parar por ali mesmo, não adiantaria nada continuar com aquilo. O melhor jeito de acalmar com a fera era agradando-a, e era exatamente o que iria fazer. Tirou do bolso um pequeno embrulho e o entregou á Lyra.
No instante em que viu o pequeno embrulho, Lyra sorriu. Não que fosse interesseira, mas presentes para garotas era sempre bem vindos. Ela pegou o pequeno embrulho e começou a rasgar o papel vermelho, logo, só restava apenas uma caixinha preta em suas mãos. Uma pitada de curiosidade bateu em Lyra; ela não havia comentado com Thatcher que queria algo, e ele só comprava presentes os quais ela já havia tocado no assunto.
- Vamos! Senão eu que vou abrir isso. – ele sorriu.
Lyra abriu a pequena caixinha, depois encarou o namorado em um olhar terno. Aquilo era sinal que ele já estava perdoado. Dentro da caixinha, havia um pingente, um estrela de ouro muito pequenina. Ele acertou em cheio, ela adorava estrelas.
- Bem, eu não sabia o que trazer para você da Rússia, ainda mais porque você não comentou nada, mas achei que esse pingente você fosse gostar. Pode usar na mesma corrente em que usa a sua medalhinha.
Lyra o beijou ternamente, não somente pelo fato que ela adorou o presente, mas por ele a conhecer tão bem. Em seus outros relacionamentos anteriores, a maioria dos garotos não sabiam nada sobre ela, na verdade, era mais atração corporal.
Thatcher a ajudou a colocar o pingente na corrente em que ela usava. Realmente, não ficou nada mal.
- Então? Ficou bom? – ela virou-se para ele, perguntando.
- Modéstia a parte, eu sou muito bom para escolher presentes. – ele riu, e Lyra revirou os olhos. – Então, conte-me, como foi o verão. Algo novo?
Ela o puxou pela mão, queria achar uma cabine, na verdade, uma cabine vazia. Encontrar Harry podia esperar mais um pouco.
- Acho que tem algo para fazermos bem melhor do que conversar. – ela sorriu matreira e deu uma piscadela para o rapaz.
Harry continuou naquela mesma cabine durante um tempo, até ouvir uma voz conhecida vinda do corredor. No final do corredor estavam três garotos da sua casa, um sétimo ano e dois do quinto. O do sétimo ano era exatamente quem ele estava procurando: Austin Williams. O amigo estava um pouco mais corado do que o normal, em seu braço esquerdo estava enfaixado, fora isso, nada mudara no rapaz, continuava alto, com os mesmos cabelos loiros e os mesmos olhos azuis esverdeados. Harry não se lembrava muito bem dos outros dois garotos, eram um pouco menores que Austin, que já era enorme, não somente pelo fato de ser alto, mas este adorava esportes trouxas, de preferência os mais perigosos, isso acabou rendendo-lhe um físico de dar inveja. Harry até se conformara com seu corpo magricela, mas não iria querer estar perto de Austin quando dava uma surra em alguém.
- Olha só quem resolveu aparecer! – Austin sorriu. – O pessoal está te esperando, a Lyra quase pulou no meu pescoço quando eu disse que não sabia nada de você.
- Então? Aquela partida de Pôquer ainda está de pé? – perguntou Harry ao rapaz loiro.
- Você vai perder muito dinheiro hoje, meu caro Potter. – Austin estava um pouco confiante demais para aquela partida de pôquer.
- Austin, entenda, ninguém vai querer jogar Stripe Pôquer! – Harry revirou os olhos e o amigo fingiu uma cara de decepção.
- Nem se a A.A jogar conosco?
A.A era a abreviação de Amanda Ames, simplesmente a garota mais bonita de toda a escola. Harry tinha de admitir, a garota era linda. Tinha um corpo do tipo modelo italiana, profundos olhos claros, cabelos castanho avermelhados batendo no quadril, seu rosto era uma mistura cândida com malícia. Podia bancar a ingênua quando queria, mas isso não fazia seu tipo, ela realmente era um pouco má, na verdade, muito má, especialmente quando alguém se metia em seu caminho. Bem, boa ou má, não fazia muito diferença, pois aquela corvinal era o sonho de consumo de metade Hogwarts.
Harry sorriu. Precisava trazer o amigo de volta á realidade.
- Austin, primeiro: Amanda Ames nunca jogaria pôquer conosco. Segundo: Stripe Pôquer? Cara, aonde você se enfiou nesse verão para voltar com essa mente?
- Bem, se você pedisse, acho que ela até jogaria uma partida. – Austin começou a empurrar Harry na direção da porta do vagão. – Essas férias eu passei no paraíso. – seus olhos até brilharam quando tocou falou aquilo. – E esse paraíso se chama Nova Zelândia. Surf, snowboard, motocross e mulher bonita, tem coisa melhor?
E novamente, Harry tornou a revirar os olhos. Realmente, Austin Williams não mudara nada.
Austin abriu a porta para passar para o vagão da frente, e olhou para trás, encarando os dois garotos que estavam ao seu lado alguns minutos atrás.
- Verei o que posso fazer sobre a questão da vaga de artilheiro, mas não prometo nada. – Austin respondeu a pergunta que o estava deixando-o louco o verão inteiro. Todos queriam aquela última vaga no time, e os pedidos iam e vinham em cartas direto para a casa dele. Era verdade, ser capitão do time de quadribol não era uma tarefa fácil.
Harry foi seguindo Austin até onde o resto do pessoal estava. Enquanto não chegavam lá, Austin contou sobre suas férias, como a Nova Zelândia era maravilhosa, e que ele iria morar lá algum dia e que o surf, o sol, em suma, que se existisse um paraíso na Terra, com certeza era lá.
Talvez esse entusiasmo tudo pelos esportes trouxas tenha a ver com o fato de Austin ter um pai sem uma gota sequer de sangue mágico. Todos na escola já deveriam ter ouvido falar de sua mão. Regina Williams era simplesmente uma das melhores curandeiras de parte estética da Grã Bretanha. Caso as pessoas não gostem de seus rostos, do nariz, das suas orelhas, até do seu dedão do pé, era só marcar uma consulta, e saíam como novos. Mulheres com muito dinheiro iam até ela, principalmente, com a finalidade do um tratamento para o envelhecimento, e não era apenas uma poção com o efeito de poucas horas, mas algo que fazia as rugas desaparecerem. Porém, eram pouquíssimos que já ouvido falar do pai de Austin: Alexander Williams. Ele era um homem como outro qualquer, trabalhava em um escritório de advocacia no leste de Londres, perto da residência onde a família morava. Essa era a família de Austin, nada associado á surf ou motocross. Harry ainda não tinha a menor idéia de onde o amigo tinha tirado essas idéias de pular do penhasco com uma corda amarrada nos pés, ou voar de asadelta.
As férias não foi o único assunto no qual Austin falava. Ele descobriu através de algumas garotas da Corvinal que Dumbledore promoverá o famoso baile de máscaras na noite de Halloween. Esse era um baile tradicional na escola, todo ano tinha um baile na noite de Halloween, geralmente, era a fantasia, mas aquele seria veste de gala com máscaras. Harry achou até melhor, no ano anterior Lyra quase o forçara a ir de ovelha, para complementar sua fantasia de pastora. No último momento, arranjou uma fantasia de cavaleiro com os outros meninos do sexto ano. Lyra não agradou muito com a idéia, mas acabou cedendo e transformou seu travesseiro em um cordeirinho.
- Então, como eu estava lhe falando, esse baile vai ser o melhor. Parece que... – Austin foi interrompido um grito bastante conhecido.
Lyra correu até o moreno, e o abraçou com força. Sua sutileza era de tal tamanho que saiu atropelando Austin, este estava andando á frente de Harry, e quase foi derrubado. Ela estava com saudade, e não era pouca, não. Geralmente passavam os verões juntos, mas àquele complicou-se devido ao trabalho de Sirius.
Ele sorriu para a amiga. Era bom vê-la de novo, em dias comuns, os dois se encontravam todos os dias, até mesmo nas férias. Ele sentiu falta das saídas ao Centro que sempre davam nas férias. Costumavam ir ao cinema, teatro, feiras, coisas de trouxas. No último verão, foram à um show acústico num bar na zona leste da cidade. A música era muito boa, o problema foi que ela queria porque queria experimentar tequila, e Lyra é muito fraca para bebida. Em poucos goles, ela já estava chamando todos ali de John. Nem seus pais, tampouco Sirius, ficaram satisfeitos com aquilo, mas era uma boa lembrança, seria interessante repeti-la outro dia, fora que era cômico quando a amiga ficava embriagada.
- Quanta delicadeza. – Austin comentou sarcástico, enquanto se acomodava no assento, ao lado da prima, Reese Sedley.
Reese revirou os olhos, já conhecia aquela cena. Ela abraçou-o, tentando fazer com que ele esquecesse o assunto.
- Fresco. – Lyra respondeu com desdém.
Antes que Austin começasse a falar novamente, Reese tapou sua boca com a mãe esquerda, e com a direita, pedia para que o restante dos que estavam na cabine, continuasse a jogar.
Ela era do sexto ano, mas aparentava ser mais velha. Seus cabelos eram loiros, iguais aos do primo, mas cacheados, combinavam com os olhos esverdeados. Tinha um físico bonito, pernas longas, busto que irritava ao primo e ao irmão, já formado, quando usava blusas justas, e lábios muito finos. Não era a garota mais bonita da escola, mas tinha-se de admitir que ela tinha algo especial.
- Onde estão Rony e Hermione? – perguntou Harry, olhando em volta da cabine.
- Estão em reunião, aquelas coisas de monitores. É um saco, agora a Hermione só fica no pé da Stuart, ninguém merece aquela gralha. – comentou Austin, maldosamente. Ele simplesmente odiava Leslie Stuart, e até hoje ninguém sabia o porquê disso. Tubo bem que, caso alguém contasse alguma coisa para ela, viraria fofoca no dia seguinte, mas isso não era motivo, senão Harry já teria esganado a irmã e Lyra há muito tempo.
- Até hoje eu nunca entendi como a McGonagall escolher o Rony para ser monitor.
- Simples, minha cara Lyra: não tinha mais ninguém no mercado. – falou Austin, livrando-se das mãos da prima.
- Céus! Austin, você está impossível hoje. – Reese o encarou com um olhar repreendedor
- Harry, o que acha de um passeio? – sussurrou Lyra ao pé do ouvido do amigo. Ela aproveitou que Austin estava distraído para levar Harry, queria conversar com o amigo à sós, sem aquela confusão toda. E ela sabia muito bem que, se Harry sentasse lá e começasse a jogar com o resto dos rapazes, eles só sairiam dali quando o trem chegasse na escola.
Os dois saíram de fininho, apenas Reese viu, que deu uma piscadela para eles. Começaram a andar pelo corredor barulhento, até chegar em um ponto onde o barulho foi cessando e a exaltação vinda das cabines também. Ali poderiam conversar com mais tranqüilidade.
- Então, onde está Thatcher? – perguntou Harry, pondo um chiclete na boca. – Quer?
- Não, obrigada. – ela abriu um pequeno sorriso. – Ele está lá com os amigos. Você sabe como ele fica deslocado perto dos rapazes. Mas antes dele ir para o outro vagão, nós matamos a saudade. – seu sorriso tornou-se totalmente maroto.
- É bom que você dê a liberdade para ficar com os amigos. Ás vezes, até eu acho que Austin vai muito além da conta com as brincadeiras, são engraçadas para a gente, mas pode ser que ele tenha uma opinião diferente.
- É justamente isso que eu penso. Eu gosto dele, ele é uma graça, mas não sei, acho que estamos perdendo a química. – Lyra soltou um longo suspiro.
- Quer saber a verdade? Acho que vocês dois nunca tiveram química nenhuma. Parecem mais dois amigos, a diferença é que tem benefícios essa amizade de vocês.
- Ahh, tenha dó, Harry! Nem é assim! – aquele assunto sempre acabava enfurecendo-a. – Eu e o Thatcher temos um ótimo relacionamento, só não ficamos nos agarrando em público.
Ele revirou os olhos, era sempre a mesma desculpa. Desde o início, Harry nunca achara que aquilo iria durar por muito tempo, e ele tinha certeza que estava certo disso.
- Mudando de assunto. Você ficou fazendo o que as férias inteiras? – perguntou Harry.
- Fiquei com meu pai. Coitado, ele tinha que casar. Se ele não tiver outra mulher, sabe no pé de quem ele fica? Eu! Isso mesmo, era toda santa manhã me tirando da cama às oito. – ela bufou irritada, detestava acordar cedo, especialmente em férias. – Claro que, quando ele saía para trabalhar, eu voltava para a cama. .
Harry gargalhou.
- Sério, eu não estou brincando, não. Sabe aquela Rachel do ministério? – perguntou.
- Sei. Ela trabalhou com meu pai e o teu por um tempo, não foi?
- Essa mesmo. Cara, como eu queria que ele casasse com ela. Nossa, ela é o máximo. Bonita, bem sucedida, sabe xingar em espanhol e, o melhor, tem a réplica de um deus grego como filho.
- E ainda diz que ama o namorado que tem.
- Eu amo o Thatcher, mas aquele Ryan é só sonho. – ela olhou para o teto, sonhadora. – Já até sonhei entrando de branco em Notre Dame, e aquela coisa linda me esperando no altar.
- Sem comentários. Agora chega de fofoca...
- Mas foi você quem começou o assunto – ela o interrompeu.
- Não importa. – Harry ficou sério de repente. – Você tem lido os jornais?
- Claro.
- Não acha estranho aqueles aurores terem sumido do mapa? – indagou ele, com a sobrancelha erguida. Seu pai sempre dizia que ele era muito desconfiado, mas sempre tinha uma boa razão para tal feito. Sete homens desaparecerem misteriosamente do mapa é algo muito incomum, ainda mais sendo aurores.
- Demais. Eu tentei até falar com papai sobre isso, mas ele ficava mudando de assunto. Tem algo nisso aí que eles não querem que a gente descubra.
- É, e deve ser algo muito grande. – disse Harry, olhando através da janela a chuva fina que caía.
Lyra e Harry ficaram ali conversando por pelo menos uma hora, depois voltaram á cabine para aproveitar o resto da viagem com o resto do pessoal.
Aquela tarde passou rápida, era difícil de acreditar que aquela seria a última vez que estaria viajando a bordo daquele expresso vermelho. Só de pensarem nisso, já batia a saudade. Dali há um ano, estariam cada um para cada canto, seguindo os caminhos que escolheram para o futuro.
Foi uma viagem agradável, gastaram o tempo conversando, jogando, falando besteira, coisas de adolescente. Nem haviam se dado conta que chegaram à escola, só começaram a se organizar quando o trem parou. Os que tinham de se trocar o fizeram rapidamente, e logo a multidão de alunos começou a descer do trem.
Lá estava Hogwarts mais uma vez. Ela não parecia ter mudado em nada, mas nenhum aluno ali, em especial os do sétimo ano, sabia o quanto aquele ano iria ser diferente. Um ano pode fazer muito mais diferença do que eles imaginam.
Eram onze da noite quando Sirius aparatou na casa de James. Caminhou pelo corredor do hall até à sala de estar, aonde estavam todos. Dumbledore já estava lá, juntamente com Rachel, Remus, Nicholas Chase, Christopher e Anabeth Wine, e, por fim, Gabriel Crawley. Todos rostos conhecidos.
- Noite. – Sirius fez um pequeno aceno com a cabeça e sentou-se ao lado de Rachel. – Muito atrasado?
- Não, Sirius. Você chegou bem na hora. – Dumbledore levantou-se da poltrona em que estava sentado, e tirou a varinha de dentro do bolso. – Estamos com um assunto de grande importância para tratar, creio eu. O desaparecimento de sete aurores não é algo muito discreto. Christopher, por favor.
Um homem alto, de cabelos castanhos com manchas grisalhas e profundos olhos azuis levantou-se. Ele mantinha o semblante sério, mas não escondia o seu costumeiro sorriso tranqüilo. Aquele era o pai de Isabelle Wine, e a mulher ao lado dele era sua mãe. Ela tinha traços parecidos com os da filha e olhos eram quase da mesma cor, apenas mudava a cor dos cabelos, que eram ruivos, não tão vermelhos como os de Lily, mas um ruivo acastanhado.
- Sim, claro. – ele limpou a garganta, depois retornou à falar. – É uma situação delicada, o ministério não quer alarmar as pessoas, mas muitas já estão começando a se queixar quanto à segurança.
- Você pensou na proposta que eu lhe fiz, Christopher? – perguntou Dumbledore.
O homem assentiu e respondeu:
- Claro, podemos ir, sim, para os Estados Unidos. Até já conhecemos Washington.
- Excelente. Isso nós ajudará bastante à manter a ordem no continente americano. Há alguns dos nossos lá, e está se tornando cada vez mais complicado viajar para lá. – disse o velho diretor. E era verdade, viajar com freqüência poderia botar a escola em segundo plano, e isso nunca poderia acontecer. Há alunos que estão muito patentes em relação ao que está acontecendo.
- Mas o senhor acha que a situação pode se agravar em um período de quanto tempo?
- Vou ser franco com você, Rachel. A cada dia que passa, o poder aumenta. E o mínimo que podemos fazer é estarmos preparados para o que quer que seja. – um sorriso apareceu por entre a longa barba prateada. – Uma maneira de fazer isso, é cuidarmos dos jovens de Hogwarts. Muitos deles já estão começando a optar pelas escolhas erradas.
- Você já tem algum suspeito?
- Não, receio que não, Sirius. Só vi os estudantes hoje, durante o jantar. No entanto, há alguns que podem começar a se meter em encrencas.
- Tenho certeza que esses vêm da mesa dos verdinhos. – comentou Sirius, ríspido.
Agora, foi a vez de um homem jovem, com os cabelos loiros e olhos azul-escuro falar. Aquele era Nicholas Chase, professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Mais os menos no dia em que completaria vinte e oito anos, completaria dois que trabalhava naquela escola.
- Calma lá, Sirius. Isso é preconceito. Tem muito garoto bom naquela casa. – ele revirou os olhos. – Certo, sempre há aqueles que a gente quer matar, mas não é a casa inteira.
Lily olhou em volta, todos estavam com caras preocupadas e pareciam bastantes estressados. Ela não estava assim, na verdade, ela ainda estava em estado de choque, a informação parecia ainda não ter sido digerida. Nem acreditou quando o marido contou o que estava acontecendo, e que iria ter a reunião naquela noite, ali na casa. De início ela ficou brava, esperava que o marido tivesse contado há mais tempo, porem, não havia mais o que fazer. Ela já estava envolvida de um jeito ou de outro.
Por um momento, pensou ter visto um par de olhos acinzentados perto da escada. Sorriu, e cutucou o marido de leve.
- Nathan! Apareça. – ela falou, com a voz firme.
Foi uma questão de segundos até o garotinho descer as escadas correndo e parar em frente à porta para o corredor. Ele vestia um pijama azul de foguetes e escorregava por causa das meias.
James foi até o filho e o pegou no colo.
- Papai, estou sem sono. – ele disse, depois de um bocejo.
- Sei. – James riu. – Agora dê boa noite aos amigos da mamãe e do papai, e eu vou para o quarto com você.
- Boa noite. – sua voz de criança saiu fininha, ele estava cansado, mas não queria dormir, não com tanta gente em casa.
James subiu com Nathan para o andar dos quartos, deixando os outros conversando.
- Ele está tão crescido, Lily. – comentou Anabeth. – Quantos anos?
- Seis. Fez no mês passado. – a ruiva sorriu.
- Voltando ao assunto, o que faremos em relação ao seqüestro? – perguntou Crawley. Ele parecia estar impaciente, mais do que de costume. – Pode haver mais, não acha Dumbledore?
- Creio que sim, Gabriel. Mas somente se necessário, ele não quer mostrar o que planeja nesse momento. – disse Dumbledore.
- E esse “ele”? É uma pessoa? – perguntou Rachel.
- É isso que queremos descobrir. Eu já tenho minhas suspeitas, mas só irei mostrá-las aos senhores quando estas forem mais concretas.
- E pode demorar? – questionou Remus.
- Isso depende de Andrômeda agora. – ele voltou-se para Sirius. – Não teve notícias de sua prima, Sirius?
- Não, senhor. Ela e a filha não fazem contato comigo há algum tempo. Acho que será em breve.
- Ótimo. Mais algum assunto a tratar essa noite? – perguntou Dumbledore aos presentes na sala. Todos negaram com a cabeça. – Bem, então os vejo na próxima reunião, que será na escola, em duas semanas.
- Mas tão próximas?
- É, Ana. Até lá já devo ter algo a passar para à todos. – ele voltou-se para a ruiva, sentada perto dele. – Obrigado pela hospitalidade, Lily. Mas devo retornar à escola agora.
Dumbledore saiu em direção ao corredor, somente no hall que se pode aparatar, e ele ainda tinha que passar no vilarejo. Após Dumbledore sair da sala, o restante saiu, deixando Sirius, Rachel, Lily e Remus na sala, sozinhos.
- Lily, eu também deveria ir andando. Amanhã é noite de lua-cheia, e ainda não peguei a poção da casa do Jones. – ela abraçou a amiga, e acabou de se despedir dos outros, depois sumiu na escuridão do corredor, como os outros fizeram.
- Será que o James ainda demora? – perguntou Sirius.
- Acho que não. Nathan aparentava estar com sono, é certeza que ele vai dormir em poucos minutos. Esperem um pouco antes de irem. – ela olhou o amigo. – Sirius, eu te conheço, e sei que você está com fome. Vamos até a cozinha, deixei seu prato no fogão.
- Você leu meus pensamentos, ruiva. – ele sorriu, e começou a seguí-la até a cozinha. – Você não vem? – perguntou à Rachel, que ainda continuava sentada no sofá. – Sei que você não comeu também, pois saiu quase na mesma hora que eu. Te vi passar pela meu escritório.
- Daqui a pouco eu vou. Pode ir na frente, Black. – ela respondeu.
Agora só restava ela ali na sala. Milhares de pensamentos invadiam a sua cabeça naquele momento. Não parava de se perguntar o que fazer, qual decisão era a melhor. Ela sabia que eles acabariam descobrindo de um jeito ou de outro, afinal, eram a lendária Ordem da Fênix. Mas será que sabia daquilo? Será se sabiam algo sobre o que estava escrito naquele pedaço de papel tão velho, escrito com a letra de Gary?
Havia certas vantagens de se estar no sétimo ano, como ter mais horários vagos e poder escolher as matérias, de acordo com a profissão que designou no quinto ano, mas sempre há aquele “porém”.
- Eu não acredito! Como assim os horários são separados? – Lyra olhou incrédula para o pedaço de papel em sua mão. – Agora, sem a Hermione, de quem que eu vou colar nos deveres de Poções?
- O Harry não está na mesma classe que você? – indagou o ruivo antes de encher a boca de bolo de abóbora.
- Que beleza. – respondeu ela com uma pitada de desdém.
- Quanta consideração. – Harry meneou a cabeça, mas ele nem se importava com aquele comentário. Em parte era verdade, Poções não era sua melhor matéria, muito menos a de Lyra.
- Mas aqui tem uma vantagem, tem dois horários vagos no período da tarde. – comentou Rony.
- Só se for para você, a minha tarde vai ser do cão. – Lyra soltou um muxoxo. Certo, estudos não era seu forte, mas horário duplo de Herbologia era de matar. Ela queria mexer com Defesa Contra as Artes das Trevas, ou algo relacionado à isso, não ficar tirando e botando planta na jarra. A sorte era que os horários de Harry eram parecidos com os dela.
- Lyra, vamos andando, a primeira aula é nas masmorras. – disse Harry, levantando-se do banco.
- Bem que podia ter uma passagem secreta aqui, aí ela levaria a gente exatamente para a sala de poções.
- Menos, Lyra, menos. – riu Harry. – E aonde estão Austin e Hermione?
- Hermione, vocês conhecem, torrando a McGonagall. E Austin... não o vejo desde ontem.
- Valeu, Ron. Então, a madame já terminou o desjejum? – ele voltou-se para Lyra, que ainda passava manteiga na torrada. – Cuidado, senão daqui a pouco o banco quebra.
Lyra arregalou os olhos, depois o encarou com uma pequena fúria nos olhos. Era maldade falar aquilo, ainda mais depois das férias, as quais ela passou a maioria do tempo comendo e dormindo.
- Por acaso você está me chamando de gorda?
- Não, estou dizendo que você pode ficar. Por isso, deixa isso para lá e vamos! – ele pegou sua mochila e a dela.
Lyra despediu do resto do pessoal e começou a seguir Harry, que já estava no meio do salão. Ela andava devagar, mas seus olhos corriam rapidamente por entre as mesas, procurando por Thatcher, não o encontrou, mas seus olhos acabaram se encontrando com um par de olhos acinzentados que ela conhecia muito bem.
Ele aparentava ter tido uma noite muito mal dormida. Havia algumas olheiras abaixo dos olhos, e o cabelo que, por um milagre, estava bagunçado. O mais estranho nele era seu olhar, ele observava o salão com um olhar vago, não havia um sinal de preocupação ou qualquer coisa, estava apenas vago. Isso era anormal para Draco Malfoy, que sempre chegava impecável todas as manhãs e atento à tudo a sua volta.
- Lyra, é para hoje, sabe? – Harry já estava parado do lado de fora do Salão Principal.
Balançou a cabeça, tirando tanto Draco quanto Thatcher da cabeça, e começou a acelerar o passo na direção da porta principal.
Harry a estava apressando, apesar de terem ainda algum tempo antes do sinal tocar. Queria contar sobre a carta que recebera na noite anterior, de Julian, filho do Vice-Ministro da Magia italiano. Conhecera o rapaz em um dos jantares do Ministério, há alguns anos atrás, e apesar do amigo italiano não ter retornado à Inglaterra desde então, os dois se comunicavam com freqüência através de cartas.
A carta tratava de um assunto delicado, e aquela não era a hora de mostrar aos outros, somente à Lyra, que já estava a par da situação. Ele conhecia muito bem as reações dos amigos, Hermione ficaria a beira de um ataque, Ron passaria alguns minutos falando sem parar sobre o assunto, sem chegar ao ponto da conversa; e Austin, embora entendesse do assunto, não mantinha sua boca calada, e o conteúdo da carta poderia, “acidentalmente”, se espalhar por todo o castelo como um epidemia de gripe. Por fim, Lyra era a que mais podia contar, além do que, conhecia Julian também.
Ao entrar na sala número quatro, e ver que não havia sequer um aluno ali, Lyra viu o quanto estavam adiantados. Somente naquele momento, depois de meses, percebeu que foi uma má idéia ter dado seu relógio para Nathan brincar. O resultado foi o que esperava, o relógio ficou despedaçado, e faltando peças. Ao menos aprendeu uma lição com aquilo: nunca emprestar algo à Nathan para brincar de mágico. Poderia ter comprado outro, mas nunca fora muito fãs de coisas presas ao seu pulso, mas, definitivamente, precisava comprar outro, caso contrário, Harry continuaria a manipular seus horários.
- Muito bem, qual é a razão para você não me deixar acabar meu café da manhã, e chegar exatamente – ela pegou o pulso de Harry e olhou que horas eram. – vinte minutos mais cedo?
- Dá uma olhada nisso. – Harry tirou o envelope amarelado de dentro do bolso e o entregou a Lyra.
Ela correu os olhos rapidamente pela letra garranchosa de Julian. Quando acabou de ler a última palavra da carta, encarou Harry, pasma.
- Isso é encrenca. – ela disse.
- Pois é, mas eu queria saber como que o filho do Ministro da Magia da Itália some da face da Terra, e nada saiu no jornal.
- Também gostaria de descobrir isso, pois quando a mulher dele quebra uma unha já vira notícia de primeira página. Eles sabem e não contam nada. – Lyra lembrou de algo que ouviu o pai conversando nas férias com um homem, o qual era nunca vira, no hall de sua casa às onze e meia da noite. – Meu pai sabe, e tenho certeza que o seu também. Mas por que exatamente eles não nos contam nada, e porquê ninguém sabe nada á respeito?
- Como eu queria ter a resposta para isso, não faz sentido, meu pai conta sobre tudo que está acontecendo no Ministério, e...
Harry não teve a chance de terminar a frase porque alguém havia entrado na sala. Era Austin que chegava e sua cara não era das mais animadoras. Os dois foram rápidos e mudaram de assunto quando o loiro se aproximou da mesa onde estavam sentados.
- Hey, que cara é essa? – Lyra perguntou, fitando o amigo, que sentou ao seu lado.
Ele suspirou e encarou o teto, parecia estar procurando a melhor resposta para aquela pergunta.
- Recebi uma carta dos meus pais hoje, parece que eles estão querendo me transferir para aquela escola que eu te falei, na França.
Quando ele deu a notícia, tanto Harry quanto Lyra ficaram calados. Talvez porque a ficha não tivesse caído, ou porque não sabiam o que dizer. Eram tantas perguntas naquele momento que eles não sabiam qual escolher primeiro.
- Mas por que? – Harry quebrou o gelo.
- Eles estão achando que a Inglaterra não é um bom lugar para se viver, essas coisas, e acham que Paris é melhor. – ele repousou a cabeça sobre os braços.
- Ora! – Lyra elevou a voz, aquilo realmente a irritou, não tinha lógica tirar Austin de Hogwarts, ainda mais faltando um ano para ele se formar. – Eu tenho certeza que há lugares melhores do a Inglaterra, mas não neste momento. Agora, isso aqui é sua casa, falta um ano para nos formarmos, você tem que ficar.
- Eu sei. Já falei com eles, mas nenhum dos dois me escuta. Já estão tratando minha transferência. Querem que eu parta antes de outubro.
- Austin, você não é assim, você não aceita as coisas tão facilmente. – Harry pôs a mão sobre o ombro do amigo, queria transmitir alguma forma ou algo do gênero, para ele pelos menos não aceitar o que os pais estavam fazendo.
- Eu sei, mas com eles é diferente. Posso contrariar a todos, menos eles.
- Escuta, legalmente, pelas leis bruxas, você já é de maior, já tem dezessete anos. Claro que você pode contrariá-los, não somos exatamente adultos ainda, mas temos um certo poder de oratória.
- É verdade Austin, fale isso com eles. Lyra, peça para Sirius falar com o senhor Williams , e eu falo com meus pais. Você não pode ir embora assim.
Austin sorriu fracamente. Aquele apoio dos amigos era justamente o que ele precisava naquele momento. Sempre bancava uma pessoa forte, que confrontava os outros sem medo, mas quando se tratava de família, tudo mudava. As aparências enganam quando se trata da família Williams, ele era a prova disso naquele momento. Apesar de demonstrarem não terem qualquer tipo de problema, além do fato do pai trouxa ser casado com uma das bruxas mais prestigiadas da Grã Bretanha, na casa aonde Austin crescera era um verdadeiro caos. O Sr. Williams sempre passava longas noites trabalhando em casos complicados de seus clientes, e a Sra. Williams ocupada com o trabalho no hospital, ambos sempre se confrontando quando o assunto era o único filho. Como não passavam muito tempo em casa, tentavam ao máximo educar de Austin, cada um a sua maneira, e, muitas vezes, isso afetava ao rapaz, pois ele não tinha sua opinião. Para uma criança crescer em uma casa como aquela não era fácil, ainda mais quando se tem dezessete anos.
Ninguém sabia do problema de Austin, nem mesmo Harry, que era seu melhor amigo. Todos não entendiam a fascinação de Austin pelos esportes trouxas, mas isso havia começado por causa da situação em casa. Quando estava saltando de um penhasco com uma corda amarrada nos pés, sentia-se livre, com se fosse o dono do mundo. Tinha aquela sensação de liberdade, a sensação que ele mais desejava em todo o mundo.
- Vamos ver se isso se resolve logo, não é mesmo? – o loiro sorriu fracamente. – É melhor não comentarmos isso com ninguém, pelo menos não ainda.
A garota encarou a Harry, com um olhar que ele conhecia muitíssimo bem. Ela queria fazer alguma coisa, e iria, disso tinha certeza. Iria ajudar Austin de alguma maneira, e bem rápido.
- Austin, se seus pais querem ir para a França, deixa eles irem. – Lyra levantou e começou a andar de um lado para o outro. Isso era sinal de alguma idéia a caminho. – Você pode ficar na casa do Harry, que aliás, eu sei que meus padrinhos vão adorar.
- Isso. Fala isso com seus pais, cara. Eles podem aprovar a sugestão de Lyra. – disse Harry.
- Gente, valeu mesmo pela força, mas vocês se esqueceram de um pequeno detalhe: eles querem se mudar por minha causa. – Austin voltou a encarar Harry e Lyra. – Olha, vamos esquecer esse assunto, depois eu resolvo isso.
Os dois assentiram, a contra gosto. Aquele assunto não estava encerrado, não ainda.
Alguns minutos se passaram e a sala começou a encher-se de gente, e logo depois que o sinal tocou, a professora Lennox adentrou pela sala. Ela sorriu como sempre para a classe e desejou boas vindas. Não havia mudado nada, continuava com os cabelos negros presos num rabo de cava miúdo, os olhos turquesa brilhantes, e a pele muito branca. Aparentava ser mais nova que o Prof. Chase, apesar de ser quatro anos mais velha.
- Então, meninos? Espero que as férias tenham sido boas, porque esse ano vai ser tumultuado, por isso tratem de pegar seu Manual Avançado de Poções nº 2 e vamos ao trabalho. – ela tirou um livro muito grosso da prateleira perto da escrivaninha e o abriu. – Esse ano será especial, sabem? Não porque será o último ano de vocês, mas sim porque vou dividi-los em duplas, da maneira que eu quiser.
Aquela notificação gerou um certo pânico entre os ali presentes. Apesar de estarem estudando juntos à sete anos, alguns ali na sala tinham algumas velhas desavenças, as quais se mantinham sobre controle desde que não tenham tanto contato.
- Bem, Potter, vá sentar-se à mesa de Malfoy.
Aquela pequena frase era o que faltava para calar a sala. Tanto Harry quanto Draco encaravam a professora, indignados.
- Grey, vá e sente-se ao lado da Srta. Black. Williams faça o mesmo que Grey, mas sente-se com Wine. Newman com Sawyer, Knox com Lamontagne e Milles com Shawn. Vamos! Não temos o dia inteiro! – ela falou, escondendo um riso dos alunos. Aquela realmente era uma situação engraçada.
Os garotos começaram se dirigir aos lugares denominados pela professora, e logo estavam todos sentados com os livros abertos sobre a mesa.
- Se eu soubesse que o resultado era esse, teria feito isso há mais tempo, ao invés se ficar gastando minha voz chamando por silencio. – riu ela.
Harry olhava a professora com uma certa fúria. Aquilo não era justo, tantas pessoas ali e era logo com Draco Malfoy que faria parceria naquela matéria até o final do ano. Pensava até estar pagando pelos seus pecados, era exatamente naquele momento que sua consciência pesara por ter deixado Nathan sozinho enquanto jogava quadribol.
A professora passou um leve resumo sobre a poção que iriam fazer, e logo todos estavam pegando os ingredientes e caldeirões.
- Olha aqui, Potter. Sei muito bem da sua deficiência mental para Poções, mas se estragar isso aqui, juro que eu mesmo enfio o resultado pela sua garganta. – o loiro lançou um olhar ameaçador ao grifinório, que retribuiu com um pequeno gesto obsceno quando o outro se abaixou para pegar a pena que caíra no chão.
Harry pegou uma faca e uma tábua para começar a picar raiz de aviráz. Enquanto cortava aquela raiz em minúsculos pedaços, desejava que aquela raiz fosse ou a cabeça da professora ou a de Malfoy. Só de pensar, sentiu até uma alegria. Certo, aquilo era maldade, mas nada comparado a ser deixado com um Malfoy por um ano inteiro, tinha certeza que isso era castigo.
- Potter! Acorda! Pica isso direito, em pedaços longo e finos, não em triângulos. Já sabia que era cego, mas não sabia que chegava a tanto. – disse Draco, ríspido.
- Oras, Malfoy. Já que se acha tão bom, porque não o faz você mesmo? – Harry largou a faca e a colocou na frente de Draco.
- Não seja burro, Potter. Se eu pudesse fazer essa poção sozinho, pode ter certeza que eu faria, mas um horário é pouco tempo, então pare de chorar e comece logo! – ele mandou a faca novamente à Harry.
- Potter e Malfoy! Por acaso os senhores querem começar esse ano com detenção? – perguntou a professora, com a sobrancelha direita erguida.
Harry bufou e voltou a picar as raízes, enquanto Draco preparava a balança e outros ingredientes.
No ouro extremo da sala, Lyra xingava baixinho. Detestava cortar aquelas coisas, na verdade, detestava qualquer coisa relacionada a Poções.
- Se continuar assim, daqui a pouco nem desinfetante limpa a sua boca. – disse Tristan, com um sorriso de meia boca.
- Eu odeio isso aqui. – ela choramingou.
- Foi você quem escolheu isso. Ou a raiz ou as tripas de besouro.
- Eu odeio Poções!
- Você acha que todos aqui nessa sala gostam de mexer com tripas de besouro? – ele riu da cara desiludida que Lyra fez. – Pense nos resultados, na poção que terá em mãos.
- Terá em mãos vírgula, ela sempre fica com todas as poções. – Lyra lançou um olhar feio à mulher que transitava por entre as mesas. – A única pessoa que parece estar gostando dessa meleca é Draco. Olha a cara de satisfeito dele mexendo naquelas tripas. Eca!
Tristan visualizou o companheiro de casa. Era verdade, ali na sala, ele parecia ser o único que não xingava a senhorita Lennox por causa das tripas de besouro.
- Nós temos gostos diferentes.
- Certo, claro que as pessoas tem gostos diferentes, mas mexer com tripa de besouro, só louco para gostar disso. – Lyra fez uma careta.
- Não é a questão dos ingredientes, Malfoy gosta é do poder que as poções possuem. Com tão diversas substâncias, pode-se se criar algo útil.
- Eu resumo isso em uma palavra: louco. – ela comentou, com uma voz de simplicidade.
- Black, eu desisto. Estava tentando lhe ensinar a relaxar em uma aula de Poção, mas pode continuar a sujar a sua boca. – ele não disse mais nada depois daquilo.
Os minutos foram se passando, os ponteiros do relógio se movendo. Alguns pareciam ter apreciado a troca, como Austin e Isabelle, por exemplo, ou Andrea Sawyer e Peter Newman. Outros apenas aceitavam sem pestanejar, mas havia aqueles que tinham certeza que aquele seria um longo ano para Poções.
- Cala boca, Malfoy! Vá jogar suas pragas em outro, ok? – disse Harry, com os nervos a flor da pele. Se continuasse com aquilo por mais tempo, iria enlouquecer. Sua sorte era que o sinal já estava para bater e a poção pronta.
- Potter, se eu ficasse calado durante esta aula, era certeza que você explodiria esse caldeirão. – Draco riu com desdém. Apesar de não aprovar 100% a escolha da professora, até achou engraçado aquela aula, irritar Harry Potter em seu ponto fraco não era nada mal.
Harry não teve tempo de responder, pois o barulho do sinal eclodiu pela sala.
- Graças a Deus. – ele levantou-se, pegando a mochila e indo na direção da mesa de Lyra.
- Ótimo, pessoal, larguem tudo que estiverem em mãos e andem para a próxima aula. – disse a Prof. Lennox. – De tarefa, tragam só um relatório mesmo, mas que ele esteja muito completo, e nada de cópias, ouviram?
Ela sabia perfeitamente que dizer aquela última frase era a mesma coisa que falar para o vento parar de soprar. Não aprovava cópias, mas também não tinha como evitar. Tinha pena de dar zero aos meninos, mas isso não queria dizer que não podia dar uma nota um tanto baixa também.
- Muito bem Black, agora, por último tampe o pó de kricle. – Tristan disse a garota pacientemente, apesar de já estar sem um pingo de paciência. Sabia que Poções não era seu forte, mas não sabia que ela era tão ruim naquilo.
- Certo. – ela assentiu e pegou o pequeno pote sobre a mesa e começou a procurar pela tampa.
Muitas vezes, acidentes acontecem, por mais que pareçam ser de propósito. Quando Lyra conseguiu achar a tampa do pote, acabou derramando um poço do pó do caldeirão, que logo começou a tomar uma cor roxa, e era para ficar alaranjada. A espuma começou a subir, quase derramando do caldeirão.
- Black! – gritaram Tristan e a professora ao mesmo tempo.
O resto da turma abaixou-se bem a tempo do caldeirão explodir. Era exatamente aquele tipo de cuidado que Tristan falara para Lyra ter.
Quando a substancia roxa parou de borbulhar, todos ali na sala saíram para sua próxima aula, menos Tristan e Lyra, os únicos que a Profª Lennox segurara.
- Santo Merlin! Black! – ela andava de um lado para o outro, vendo a bagunça espalhada pela sala inteira. – Não há uma aula em que você não cause confusão?
A garota continuava com o olhar no sapato. Certo, aquilo foi sua culpa, mas ela já explicou milhares de vezes que não dava conta de Poções, mas aquela era uma matéria que não tinha como ser descartada.
- Você também, Sr. Grey. Eu resolvi mudar de estratégia esse ano para ver se há alguma melhora. É para vocês se ajudarem e tomarem conta um do outro.
- Mas professora, eu não tenho cara de babá. – disse o garoto, olhando de viés a Lyra.
- Calado, eu estou falando. – ela o interrompeu. – O segredo das boas parcerias não é serem bons amigos nem nada, mas é pensar no que estão fazendo a cima de tudo, deixando suas diferenças de lado, um ajudando o outro.
A professora encarou o quadro negro a sua frente e depois voltou o olhar aos dois alunos. Respirou fundo, precisava recuperar a paciência, e depressa.
- Detenção para os dois. – ela falou por fim.
- O que!? – Tristan encarou a mulher, incrédulo. Aquilo não era justo, a garota aprontava e ele teria que cumprir pena junto?
- Você me ouviu, Grey. Ela fez o erro, mas você não ficou de olho para impedi-la, então, detenção para ambos. Você cumprirá na sexta à noite e Black no sábado. Arranjaremos algo para vocês, agora sumam daqui antes que lhes dê mais um dia de castigo.
Os dois recolheram o material e correram para fora da sala, sabiam muito bem que a professora não estava brincando quando disse que aumentaria o número de noites de detenção.
- Black, como você consegue colar nos testes? – Tristan virou-se para ela, de cara fechada. Ainda não estava acreditando que ganhara uma detenção.
- O que? Está louco, é? – ela o encarou, sem entender.
- Bem, para você ter passado em poções até hoje, só pode ter colado.
- Ah, pára de reclamar.
Eles continuaram caminhando até o saguão de entrada. Lyra parou de andar e encarou o garoto, que ainda continuava enfurecido.
- Olha, não foi por querer, agora pára com isso! Você está começando a me irritar.
- Jura? Então funcionou? – ele abriu um pequeno sorriso sarcástico.
- Vou ignorar isso. Eu tenho Trato de Criaturas Mágicas, vou descer. E você vai subir? – ela apontou para as escadas.
- Acho que eu nunca fiquei tão feliz em ter aula de Feitiços. – ele fingiu estar aliviado. – Bem, a gente se vê por aí. Veja se não explode nenhum animal. – e depois começou a subir as escadas rapidamente, estava atrasada e o professor Schmid não era tão compreensivo quanto o professor de Trato de Criaturas Mágicas.
Lyra jogou um último olhar as escadas e começou a correr para os jardins. O dia estava nublado, mas bonito também. Hagrid cuidava daquele jardim como ninguém. Apesar de estarem entrando no outono, quando não restaria uma folha nas árvores, o jardim ainda estava com uma aparência bonita.
Ela atravessou o gramado correndo, tanto que chegou ao local da aula bastante ofegante. A turma já havia começado a trabalhar e o professor Stevens apenas observava de longe o resultando de cada grupo.
Aquele era o professor preferido de Lyra. Era um senhor de pouco mais de sessenta anos, com os cabelos grisalhos e a barba bem feita. Ela adorava seus olhos, eram um azul esverdeado belíssimo, que sempre estavam a espreita com a maior tranqüilidade do mundo. Ele sempre estava usando um chapéu trouxa meio surrado e poderia dizer-se que era da década de cinqüenta pelo modelo.Geralmente era com aquele professor que Lyra conversava e pedia conselhos quando fazia seus passeios noturnos pelos jardins, sempre o encontrava no meio do caminho.
Discretamente, caminhou até onde o professor estava. Quando ela abriu a boca para explicar o ocorrido, o professor ainda sem se virar para trás, falou calmamente:
- Tente não explodir nenhum de meus animais, certo, moça?
- Engraçado, Tristan disse a mesma coisa. Hum, então o senhor já soube do meu pequeno incidente da aula de Poções. – ela disse, um pouco sem-graça.
- As notícias correm rápido por aqui. Vá até aquele grupo de Corvinais ali, eles são apenas dois. – com a mão um pouco trêmula, apontou para um canto onde havia apenas dois garotos, apenas um, Lamontagne, estava na aula de Poções, e o outro era McLachlan. – Primeira aula, então resolvi ser bondoso. São worklafes.
Lyra não pôde deixar de sorrir. Estava feliz por não ser um verme, como foi na primeira aula do ano anterior. Caminhou por entre as árvores até onde os dois garotos estava com o animal.
- Hey. – ela acenou. – Como estão indo as coisas por aqui?
- Oi, Lyra. – Blake Lamontagne disse, ele tentava a muito custo esconder o riso. – Quantos dias de detenção?
- Acho que foi só um mesmo. Sábado. – ela respondeu.
- Hum, a Lennox foi boa demais com você. – agora era Cameron McLachlan quem falou. – Geralmente você ganha uns quatro.
- Verdade, acho que ela está começando a sentir pena de mim. – Lyra riu ao lembrar da cara furiosa da professora de Poções. – O Grey acabou pegando um dia também, só que a detenção dele é na sexta. Coitado, mas pelo menos eu não fui para o buraco sozinha.
Lyra simpatizava bastante com aqueles dois. Não falavam-se muito, mas os achava ótimos. Blake era muito alto, com os cabelos negros e arrepiados, não tanto como os de Harry, olhos da mesma coisa dos cabelos, e uma pequena cicatriz em cima da sobrancelha direita, ganha numa briga no ano passado. Ele era exatamente como os outros dois irmãos, ela se lembrava muito bem disso no jantar que teve durante as férias, para comemorar o aniversário do senhor Lamontgne, avô dele. Sirius conhecia bastante a família do garoto, estudara com o pai de Blake.
Já Cameron, não o conhecia tão bem como Blake. Ele continuava o mesmo de sempre, os cabelos acaju, com corte de tigela, os olhos verde escuro meio puxados e o nariz que mais parecia uma batata. O que mudara naquele ano foi que havia uma pequena argola presa à orelha direita do rapaz.
- Cameron, isso é um brinco? – Lyra aproximou-se um pouco, para ver melhor a argola.
- Ahan. Fiz nas férias, ia colocar na sobrancelha, mas minha mãe não deixou. – ele dizia aquilo com uma simplicidade assombrosa. Certo, era nascido trouxa, mas ainda era incomum para os padrões de Hogwarts.
O pequeno worklafe chegou mais perto de Lyra e com o focinho rosado, cheirava e procurava ao mesmo tempo comida na mão de Lyra. Aquele era um animal engraçadinho, traiçoeiro, mas engraçadinho. Parecia uma raposa do ártico, mas tinha os olhos muito grandes para confundir com uma raposa, e sua cauda era bem menor. Aquela cara indefesa enganava qualquer um, mas se deixasse aquela coisinha dentro de casa, ela cavava até a madeira.
- Uma pequena pergunta: É para fazer o que com isso? – Blake apontou para o animalzinho.
- Sorte de vocês que eu estou aqui.- Lyra riu quando os dois garotos reviraram os olhos.
Aquela não era uma turma muito grande, talvez fosse a menor de todas do sétimo ano. Poucos precisavam cursar Trato de Criaturas Mágicas, e o número caía ainda mais quando se tratava dos que queriam fazer a matéria porque gostavam. Daquela pequena turma, Lyra pertencia ao segundo grupo, ela amava mexer com os animais, não todos, porém a maioria. Simplesmente, adorava as aulas do professor Stevens, o melhor era que ele dava pouco dever de casa, então não prejudicava muito na hora de juntar com as tarefas das outras matérias.
Como o que é divertido passa logo, aquela aula passou numa piscar de olhos, assim como aquele dia. Era apenas Poções que não suportava, quanto ao resto, Lyra gostava de todas, umas mais, outras menos.
Ela estava espantava com a velocidade com que aquele dia transcorreu, parecia que só porque era seu último ano, tudo estava indo mais rápido. Não era á toa que seu pai falava para aproveitar ao máximo aquele ano, pois ele não voltaria mais, e só restaria a saudade e as boas lembranças de consolo.
Já era tarde quando acabaram de fazer os deveres. Austin, como sempre, fez mais rápido do que qualquer um, ninguém sabia como; Ron dormia sobre alguns livros, Hermione, desesperada como sempre para acabar duas redações que eram para semana que vem; e Harry, que tentava a todo custo acabar o relatório de Poções. Como só teria aula de Poções mais para o fim da semana, Lyra preferiu adiar um pouco mais aquele suplício.
- Austin, você falou com Reese hoje? Nem a vi sequer não almoço. – disse Lyra, que continuava a escrever uma carta ao pai. Sempre, desde o primeiro ano, ela escrevia ao pai contando como fora o primeiro dia de aula. Bem, ele teria uma pequena surpresa esse ano ao saber da detenção ganha na primeira aula.
O loiro bufou e fechou a cara. Lyra olhou para os outros, confusa, não entendeu aquela reação do amigo.
- Ele está bravo porque pegou a Reese beijando um garoto da Lufa-Lufa em um corredor qualquer. – disse Ron, que morria de rir. Ele até que entendia a situação de Austin, afinal, tinha Ginny Weasley como irmã caçula.
- Vai rindo, Rony. Ano que vem você não vai estar aqui para salva a pequena Ginny dos urubus que a rondam, apesar de não valer muita coisa os ataques que você dá cada vez que ela chega perto de um cara. – Austin abriu um pequeno sorriso sarcástico, e não deu a mínima ao gesto obsceno que Ron fez.
- E quem é o felizardo? – agora era a vez de Harry entrar na conversa. – Nós conhecemos?
- Não. É um paspalho qualquer. – ele fez uma careta.
- Aust, você tem que relaxar, cara. Quanto mais você se mete, mais brava ela fica. Deixe-a cometer seus próprios erros. – Harry deu umas palmadinhas nas costas do amigo, sabia o quanto ele se preocupava com a prima caçula.
- Jura? E vai me dizer que você faz o mesmo com a Victoria?
- Em parte, sim. Primeiro, Reese pensa antes de fazer burrada, Vick nem nas conseqüências ela esquenta a cabeça. E eu já entreguei a Deus as encrencas da minha irmã, aquilo criava muita confusão para o meu lado. Só entro na jogada quando a situação foge do controle.
Lyra ria daquele papo. Não tinha irmão mais velho, mas sofria o tanto que Reese, Ginny ou Vick sofriam por conta disso. Harry e Austin ficavam em seu pé também, tanto é que foi um transtorno até aceitarem Thatcher e pararem de implicar com o garoto.
- Gente, eu vou até a torre, despachar uma carta. Alguém vêm? – ela deu uma boa espreguiçada e levantou da cadeira.
- Desculpa, mas tenho que acabar isso, Lyra. – Hermione nem a encarou, seu olho continuava vidrado no pedaço de pergaminho.
Ron também negou, ainda tinha tarefas para finalizar. Então restou Harry e Austin.
- Vamos, Austin, você está á toa. – ela pegou o enorme braço o garoto e começou a puxá-lo, sem nenhum resultado.
- Nem. Subir aquele tanto de escada? – ele abriu a boca para dar um longo bocejo.
- Imprestável. – ela revirou os olhos, já conhecia aquela voz de preguiça. Vendo que Austin não iria nem amarrado, virou-se para Harry com um sorriso inocente. – Que tal dar um passeio, Harry?
Por alguns segundos, parecia que ele nem ouvira, mas logo levantou a cabeça e fechou o livro. Pegou um pedaço de papel na mochila e pôs-se ao lado de Lyra.
- É, eu também tenho que despachar uma carta também. – disse ele.
- Oh, que gracinha. – Austin falou com voz de deboche. – Uma carta de amor para sua amada secreta.
Harry lançou um olhar mortal à Austin e puxou Lyra pelo braça, indo na direção da saída.
- Amada secreta? – ela parou quando estavam do lado de fora da entrada, em frente ao quadro da mulher gorda.
- Invenção do Austin, você conhece ele. Agora vamos!
Ele meneou a cabeça. Iria matar o amigo quando voltasse. Austin e sua boca grande que nunca ficava fechada. Harry não tinha nenhuma amada secreta, mas tivera um sonho com uma garota que ele não sabia identificar na noite anterior. Não se lembrava de nada, mas, segundo Austin, o sonho estava indo muito bem, pois Harry não parou de sorrir até o loiro jogar um copo de água gelada para despertá-lo para a aula.
Os dois correram o mais rápido que suas pernas agüentavam, e bastante discretos também. Tinham de ter cuidado com Filch, Lyra já pegou uma detenção naquele dia, não ia pegar outra nem morta.
Os corredores estavam desertos, não havia nenhum aluno passando por ali. Certo, já dera o toque de recolher, mas sempre havia algum engraçadinho perambulando por aí tarde da noite. Harry sempre saía para pegar um ar, os jardins podiam ser mais acolhedores do que aparentavam, mesmo à noite. Era bom tirar um tempo para pensar, sem ninguém por perto, isso era algo que não fazia há algum tempo.
O corujal estava silencioso. Lyra correu até onde Alioth estava. A coruja estava toda encolhida num cantinho, parecia estar com frio, mas Lyra sabia muito bem que aquilo era para chamar atenção. Não sabia como o pai lhe conseguira arrumar uma coruja tão carente.
Quando cutucou a coruja, ela não pareceu estar muito satisfeita em voar naquela hora, ainda mais com o vento que estava soprando do lado de fora.
- Vamos, Ali. Preciso que entregue isso ao papai. – ela amarrou o papel à perna da ave e a pegou no colo. – Terá uma surpresa quando voltar, agora vá.
A coruja preta deu um pequeno pio de levantou vôo. Saiu por uma das grandes janelas e logo desapareceu na escuridão.
Harry caminhava lentamente, olhando vago para as aves. Lyra já devia saber que ele estava mentindo quando disse que ia mandar uma carta também, sempre soube detectar quando o garoto estava mentindo, entretanto, aquela vez parecia ter passado ilesa.
- Então? O que exatamente você veio fazer aqui? - ela perguntou com a sobrancelha direita erguida.
- Não terminamos de falar sobre o que Julian contou na carta.
- Harry, eu também acho estranho, mas não tem muito o que fazer, sabe? Meu pai virá aqui dentro de três semanas, para falar com Dumbledore sobre sei lá o que, então eu vejo se consigo arrancar alguma coisa dele.
- Eu não me conformo, não tem sentido isso. Não sair nada no jornal...
E mais uma vez, eles foram interrompidos por alguém. Só que dessa vez não era Austin, era uma pessoa mais baixa, de cabelos castanho-claro e com profundos olhos azuis.
- Err, oi. – a garota acenou discretamente. – Desculpa, interrompi algo, não é?
- Que nada, Isabelle, eu só estava contando para o Harry da minha mais nova detenção. – Lyra sorriu para a corvinal. – Bem, tchau para vocês.
Lyra deu uma piscadela para Harry e começou a descer as escadas, sem dar chance para o amigo dizer qualquer coisa.
- Bem, deixa-me enviar logo isso. – ela pegou o pedaço de pergaminho no bolso.
Harry deu passagem para ela chegar ao outro estremo do local. Aquela torre era um pouco apertada, sorte que não eram muitos que gostavam de subir até ali, as corujas que costumavam ir até o dono.
- Como foi o primeiro dia de aula? – ele perguntou, como quem não queria nada.
- Normal, apesar de que eu acho que matei umas das plantas da professora de Herbologia. – ela deu de ombros. – E você?
- Também, é difícil de acreditar que ano que vem não estaremos aqui. – Harry suspirou, e Isabelle fez o mesmo. Aquilo deixaria saudade.
- E quando vocês vão começar os treinos de quadribol? – ela começou a se dirigir à saída, e Harry a seguiu.
- Acho que semana que vem, Austin tem que escolher o novo batedor.
- Verdade, Jack não fará muita falta para mim, mas com certeza para vocês ele vai. – Jack Wallace era o batedor do time da Grifinória até o último jogo da última temporada, mas ele se formou e agora precisavam achar outro batedor. Ele sempre ficava na cola de Isabelle, os dois disputavam quem nocauteava mais jogadores por jogo.
Eles passaram a caminhar silenciosos pelos corredores. Ambos estavam longe das duas salas comunais, e teriam um longo caminho até os dormitórios. Tinham de atravessar o castelo, e ainda por cima, sem serem vistos por Filch.
- Você parece calma demais. – sussurrou Harry.
Ela riu. E realmente estava calma, não havia porquê se preocupar.
- Filch está tirando um cochilo em sua sala. - ela comentou, com simplicidade.
- Apenas uma pequena pergunta: Foi você quem fez ele tirar esse cochilo? – o garoto parou de andar e a encarou com um olhar divertido.
- Não, não. – ela negou. – Só sei que foi com especiarias dos irmãos do seu amigo ruivo.
Agora Harry se lembrara que Fred e George estavam trabalhando com os utensílios que criavam. Aquilo era bom para eles, os dois tinham talento para a coisa, e era ótimo para os compradores, pois a mercadoria era de primeira.
- Mas não tem nenhum professor fazendo a ronda, não? – ele estava decidido a não pegar uma detenção naquela noite, não na primeira noite na escola.
- Acho que não. A maioria deles está bolando aulas ou algo parecido.
O silencio voltou a pairar ali. Harry não era muito íntimo da garota, não sabia muita coisa de sua vida, apesar de conhecê-la bem. Ele conhecia a maioria dos filhos dos que trabalhavam no Ministério. O pai de Isabelle foi colega no departamento de seu pai. Ele sabia que ela tinha três irmãs mais velhas: Juliet, Violet e Nicollet. Harry só chegou a conhecer Juliet, ela era um ano mais velha que Isabelle, estudou em Hogwarts até antes do verão. Não se lembrava muito bem das outras duas, tinha memórias vagas de Nicollet, mas de Violet não se recordava, só sabia que ela estava casada e morava na Itália.
- Hum, acho que você vai achar estranho, mas agora que eu me toquei de uma coisa. – Harry enrugou a testa. E era verdade, só juntou as peças naquele momento. – Por que os nomes das suas irmãs tem as mesmas terminações e o seu é diferente?
A garota riu. Todos faziam aquela pergunta. Certa vez, apesar das enormes semelhanças que tem com as três irmãs, alguém chegou a perguntar se era adotada. Tudo por causa do nome diferente.
- Meus pais fizeram um trato, minha mãe escolheria o nome se nascesse menina e meu pai se nascesse menino. – ela riu, ao se lembrar do pai explicando aquilo para ela, quando era pequena. – Bem, isso não deu muito certo, não? Quando eu nasci, minha mãe ficou com dó e deixou meu pai escolher o nome. Mas já estava prontinho na cabeça de mamãe, ela queria me chamar de Margaret.
- E você preferia Margaret ou Isabelle?
- Por Merlin, Isabelle. Graças a Morgana que consegui escapar dessa. – ela murchou. – Não totalmente, meu nome do meio é Margaret.
Harry riu da cara de desânimo que Isabelle fez. Ela parecia realmente detestar aquele nome. Certo, não era a coisa mais bonito do mundo, mas também não era tão feio.
- Vai rindo, pode rir que eu não estou nem aí. E o seu? Qual é o seu nome do meio?
- James.
- Igual ao seu pai. Bonito.
- Meu pai queria pôr como primeiro nome, mas minha mãe não deixou. Disse que James Jr era muito cafona, mas que como nome do meio até que dava para o gasto.
- Credo, essas coisas de nome são complicadas demais. Para eu dar um nome para a minha coruja já foi uma coisa de louco.
- A maioria das meninas pensam em nomes para os filhos quando estão namorando, pelo menos as que eu convivo são assim. Você não?
- Não mesmo. Melhor não adiantar o problema, deixa para confrontá-lo quando ele chegar. E filhos? Eu mal dou conta dos meus primos.
- Mas você vive dizendo que meu irmão é uma gracinha e tudo o mais.
- E ele é. Meus primos que são uns capetas. Sabe porquê que minha coruja está com um tom meio rosado? Isso mesmo! Eles tacaram tinta na pobrezinha! – ela exclamou indignada. Ainda lembrava do trabalhão que deu para tirar aquela tinta, já que ela não saía com magia. Agora tinha certeza, em suas próximas férias iria passar bem longe daqueles dois pestinhas.
O silencio voltou mais uma vez. Aquilo já estava irritando Harry. Detestava ficar sem assunto, era uma pena que estava acontecendo com tanta freqüência.
- Hum, certo. Melhor ir direto ao assunto. – Isabelle parou de caminhar novamente.
Harry a encarou, confuso.
- Você também recebeu uma carta do Julian, não é?
A ficha demorou um pouco a cair. Como exatamente ela sabia do Julian e da carta? Mas entendeu que quando ela acrescentou o “também” a frase, parecia que não era somente ele quem recebera notícias do amigo estrangeiro.
A reação de Harry foi a resposta que ela esperava para a pergunta que não saía de sua cabeça desde que recebeu a carta, naquela manhã.
- Como isso não saiu no jornal? – ela indagou, fazendo a pose que sempre fazia quando tinha algo martelando em sua cabeça. Tinha a testa enrugada e os braços cruzados.
- Eu sei, também achei isso estranho. – disse Harry. – Não sabia que você conhecia o Julian.
- Ele é um velho amigo. Eu o conheço desde pequena. Alguém mais sabe dessa história do desaparecimento desse rapaz?
- Apenas Lyra.
- Ótimo! – ela sabia muito bem como as coisas funcionavam em Hogwarts, em menos de um dia, todos no castelo ficavam sabendo o que saiu da boca de apenas uma pessoa. – É melhor continuar assim. – olhou rapidamente no relógio em seu pulso, depois voltou a atenção ao garoto ao seu lado. – Melhor eu ir andando, você tem que subir e eu ir para a direita.
- Certo, avise-me de qualquer coisa. Isso me deixou realmente muito intrigado.
- O que mais tem acontecido nesse mundo louco é estranheza. – ela riu. Os jornais não mostravam muita coisa, mas ela sabia do que acontecia. Era útil ter uma irmã trabalhando no Profeta Diário. – Olha, minha irmã vai me fazer uma visita no primeiro fim de semana em Hogsmead, venha com Lyra. Nicky tem algumas cartas na manga que não pode mostrar ao público, mas isso não significa que nós não podemos ficar sabendo o que é.
Harry assentiu. Então estava marcado, na primeira visita ao vilarejo eles iriam se reunir. Quando estiver mais perto do encontro, iria especificar o lugar e a hora.
- Bem, então a gente se vê por aí. – ela abriu um pequeno sorriso e postou um leve beijo na bochecha de Harry, e depois desceu as escadas. Sua sala comunal ficava um andar abaixo.
Harry fez o possível para não corar, mas não funcionou, sentiu se rosto ficar quente. Oras, o que era aquilo? Não era mais um menino, por quê estava encabulado? Nunca foi assim. Sorte que estava escuro e que Isabelle havia ido embora logo depois.
Esquecendo aquela embaraçosa despedida, pôs-se a pensar no que a garota havia dito. Seria muito útil aquele encontro. Ás vezes poderia dar até alguma pista daquele mistério que não tinha nem pé nem cabeça.
O que mais deixou Harry intrigado foi o fato dela ser amiga de Julian. Muitos em Hogwarts o conheciam, mas não eram íntimos para compartilhar aquele tipo de segredo. Ele pensava que conhecia um pouco sobre aquela corvinal, mas a verdade era que sabia tanto como qualquer um da escola. Agora entendia o que o pai sempre falava sobre as aparências, elas realmente enganam. Nunca poderia imaginar que Julian havia mandado uma carta à Isabelle. Agora se perguntava se havia mais alguém que tinha conhecimento daquele assunto.
Voltou rapidamente á torre. Ao passar pela porta, viu que a sala estava totalmente vazia, exceto por uma certa pessoa sentada em um dos sofás, alguém que Harry queria esganar. Ela o encarava com um sorriso divertido.
- Primeiro: o que foi aquilo lá em cima? – ele perguntou, sentando ao lado de Lyra.
- Nada. Achei que você quisesse apreciar uma outra companhia feminina. – Lyra disse, com um ar cândido.
- Certo. – Harry ignorou a falsidade daquela última frase e foi direto ao assunto. – Você não vai acreditar no que aconteceu.
- Já sei! – ela pulou para o tapete, com os olhos brilhantes. – Vocês deram uns malhos em alguma sala.
Ele ignorou a última frase e explicou com todos os detalhes o que Isabelle tinha lhe falado naquela noite. Quando acabou de falar, Lyra estava mais ou menos com a mesma expressão quando Harry recebera a notícia alguns minutos atrás.
- Puta que... – ela o encarou. – Desculpa, mas isso merece um palavrão. Por essa eu não esperava.
- Também não.
- Então, agora temos compromisso quando formos à Hogsmead?
- Isso mesmo.
Ela levantou-se do chão e sentou ao lado de Harry novamente.
- E quando vai ser isso mais ou menos? – ela levou a unha à boca, como sempre fazia quando estava pensativa.
- Tira o dedo da boca! – Harry riu e puxou o braço dela para baixo, deixando-a um pouco brava. – Em duas semanas, creio eu.
- Melhor eu começar a pensar numa boa desculpa para dispensar o Thatcher. – disse ela, fitando a escuridão lá fora.
Sirius acordou cedo naquele sábado de manhã. Era um verdadeiro milagre, e a contra gosto estava de pé às sete da manhã em um final de semana. Mas tinha compromisso, não deixaria o garoto na mão, e caso o fizesse, arcaria com as com as conseqüências depois.
Estava cansado. Aquela semana foi pesada, Lyra longe, o Ministério em pleno caos com os repentinos desaparecimentos que estavam acontecendo, e a partida de Christopher Wine que já fora anunciada. Ele tinha de admitir que aquele lugar não seria o mesmo sem ele.
Olhou pelo quarto, a procura da camisa sem manga que estava vestindo na noite anterior. Não conseguiu encontrá-la, então se abaixou e lá estava. A pegou a camisa que estava de baixo da cama e a vestiu. Não tinha a menor idéia de como tinha ido para ali. Pelo que se lembrava, a tinha deixado sobre a cadeira.
Saiu do quarto descalço, apesar do tempo estar fechado e o chão frio. Ficou a semana inteira com aquele sapato apertado, agora queria um pouco de paz.
Bateu uma tristeza quando passou pelo quarto de Lyra. Estava totalmente vazio. Sentia falta de tê-la em casa. Eram boas as lembranças de quando a menina ficava em casa por tempo integral, antes de ir para Hogwarts.
A cozinha estava uma bagunça. Esqueceu-se de arrumar tudo depois do jantar. Agora estava numa preguiça maior do que estava de noite. Ia arrumar quando voltasse.
Rapidamente, pegou um par de tênis no armário, uma calça jeans e uma camiseta branca, para pôr por cima da outra, no armário. Não estava nem aí se ia parecendo um trouxa, ao menos não estava usando a roupa que usava todo santo dia para ir trabalhar.
Depois de pronto, deu uma rápida checada na casa, para ver se tudo estava certo, e em fim aparatou no hall e entrada daquela conhecida casa.
- Sirius! – exclamou alguém atrás dele, que logo pulo sobre os ombros de Sirius.
- Então, garoto, pronto para um grande dia? – perguntou ao garotinho pendurado em suas costas.
- Sim! A principal liga inglesa contra a principal liga francesa, essa será uma grande partida! – ele estava excitado com aquilo. Esperava por aquele jogo desde o início do verão. Adorava os jogadores franceses, apesar de torcer pela Inglaterra, claro.
- Ótimo, só vou tomar café que vamos. – disse Sirius pondo Nathan no chão.
Na cozinha estava um cheiro bom, algo acabara de sair do forno e logo Sirius sentiu o estômago roncar.
- Como sempre chego na boa hora. – ele atravessou a cozinha e cumprimentou Lily.
A ruiva estava com um ar de preocupação. Não era para menos, eram muitos problemas acontecendo ao mesmo tempo. As confusões do ministério e ainda o excesso de trabalho no hospital, fora que ainda não resolveu a questão de onde deixar Nathan quando estivesse no trabalho. Aquilo de levá-lo para o St.Mungos não estava funcionando, ele irritava a maioria dos pacientes com suas traquinagens e tinha o risco de contrair alguma doença. A última coisa que Lily precisava era de ter mais um doente para cuidar, e este dentro de casa.
Ela não sabia como agradecer a Sirius por ficar com o menino naquele sábado. Tinha de dar um plantão de última hora e James, por causa das férias, estava cumprindo hora extra, para deixar tudo em dia.
- Lil, licença, mas eu estou com fome. - ele sentou-se à mesa, acompanhado por Nathan, que ainda não acabara de comer.
- Fique a vontade, Sirius. E, mais uma vez, obrigada. – ela o beijou rapidamente na bochecha e depois foi se despedir do filho. Passou rapidamente as regras de sempre, para se comportar e não fazer bagunça e não desgrudar de Sirius nem por um minuto se quer.
Quando Sirius acabou de comer, Nathan já o esperava, impaciente. Não queria se atrasar, apesar de que o jogo não estaria muito cheio, pois a temporada de férias já havia terminado. Ele deu um alô rápido ao elfo da casa e foi até o jardim, seguido por Nathan, que saltitava atrás. Tinha colocado a chave e portal ali, para facilitar a locomoção até o campo.
O jardim era enorme e ele não estava se lembrando de onde havia deixado a chave de portal. Só sabia que era uma ferramenta trouxa de molhar as plantas. Isso, mangueira era o nome!
Sorte que a tal mangueira era algo chamativo, um vermelho berrante. Segurou firme na mão do menino antes de tocar na mangueira, tinha de certificar-se de que nada iria acontecer a Nathan, caso contrário, Lily comeria seus rins.
Ao tocar no objeto vermelho, sentiu como se estivesse saído do chão e logo aquele mal estar voltou ao seu estômago. Agora estava arrependido de ter comido tanto no café da manhã.
Em questão de segundos, os dois estavam diante de um gigantesco estádio de quadribol, todo decorado com as cores dos times que iam jogar, ou seja, França e Inglaterra. Conforme Sirius já previa, o lugar não estava cheio, havia aqueles fanáticos por quadribol, mas não tinha tantas outras pessoas.
Sirius procurou, mas não achou nenhum conhecido, a maioria estava trabalhando ou descansando em casa. Aquilo era bom, sempre que encontrava alguém do ministério, significava que tinham mais trabalho e que teria de voltar ao escritório. Talvez em qualquer outro dia, Sirius não se importaria, mas hoje era diferente, hoje Nathan era sua prioridade, igual quando Lyra era pequena. Agora grande, ela tinha sua própria vida, pesar dele não gostar muito disso.
- Você já tem os ingressos, Sirius? – perguntou Nathan.
- Tenho. – ele sorriu para o pequeno. – Agora só temos de começar a subir e procurar nossos lugares. – respirou fundo, ia ser uma longa subida. Pegara os melhores lugares de todo o estádio.
Sirius começou a subir os degraus, com Nathan pulando à sua frente. Tentou fazer o menino andar ao seu lado, mas ele não queria de jeito nenhum, queria andar na frente, na verdade, o que Nathan queria mesmo era chegar ao topo o mais rápido possível. Naquelas horas, Sirius desejava ter uma daquelas coleiras ou coletes que chamavam para prender na criança, impedindo que esta fosse muito longe.
- Calma, Nate. – Sirius gritou, quando começou a perder Nathan de vista. Ele acelerou o passo, mas parecia que o menino estava muito longe.
A primeira coisa que sentiu ao ver que não achava o garoto foi a decepção de Lily. Ela confiou nele para cuidar de uma criança de seis anos somente durante um dia. Depois que o desespero veio.
- Bosta, bosta, bosta, BOSTA! – ele passava a mão na testa, tirando a franja do olho. Aquilo nunca aconteceu com ele, Lyra era uma criança agitada, mas ele punha uma espécie de colete com um cordão amarrado quando saíam para lugares tumultuados. Como foi deixar aquilo acontecer?
Tentou agir rápido, tirou a carteira do bolso e pegou uma foto onde estavam Lyra e Nathan na casa de Andrômeda e começou a mostrar para as pessoas à sua volta, perguntando se viram aquela criança. A cada pessoa, a casa sinal de negação, foi ficando cada vez mais aflito.
Continuou subindo. Sabia que Nathan era esperto, tinha certeza que ele já achara o lugar e estava lá, sentado, esperando por ele, ao menos, era o que Sirius queria acreditar naquele momento.
Dava para ver o campo inteiro dali, milhares de pessoas, a única coisa que não conseguia ver era o menino de seis anos que procurava. Sabia aqueles tempos não eram bons para se descuidar de uma criança, ainda mais este sendo filho de James Potter.
Estava tão desorientado que conseguia até ouvir a voz de Nathan. Parou por um instante, correu os olhos rapidamente à sua volta, olhando atentamente para os que desciam e os que subiam. Nada de Nathan.
- SIRIUS!
Ele levantou mais uma vez a cabeça, agora tinha certeza que alguém havia falado seu nome. Apertou os olhos na direção de onde tinha vindo a voz, no fundo, atrás de um tanto de torcedores franceses, estava Nathan, em cima da cadeira, acenando. O que o deixou intrigado era a pessoa que estava ao seu lado.
Correu rapidamente até onde o garoto estava em pé. Quando chegou perto, Nathan pulou sobre Sirius, quase levando os dois para o chão. É, ele parecia bem, sem nenhum arranhão ou hematoma. Sirius Black verificando arranhões? Céus, ele estava virando Lily.
- Rachel? O que está fazendo aqui? Em horário de trabalho ainda por cima. – ele indagou, pondo Nathan de volta sobre a cadeira.
Ela abriu um sorriso sarcástico quando Sirius sentou-se ao seu lado, e meneou a cabeça, em sinal negativo.
Nathan levantou-se da cadeira novamente, e parecia que iria começar a correr novamente, quando Sirius o apreendeu.
- Epa, rapaz, aonde é o incêndio? – indagou Sirius, rindo.
- Ali – Nathan apontou com sua pequena mão para algumas cadeiras dali onde estavam. Lá estava uma garotinha de cabelos acaju, ao lado de um rapaz moreno, com a barba mal feita. – Jenny veio ao jogo com o irmão, Michael. Vou rapidinho, juro.
Sirius olhou para o céu, não podia olhar para aqueles olhos acinzentados, senão iria ceder sem pensar. Tarde demais, ele baixou o olhar, encontrando com os de Nathan.
- Certo, mas não saia de lá. – Sirius o soltou e o menino correu até onde a amiga estava.
Que coisa, aquele menino realmente tinha o poder de encarar. Não fazia idéia do quanto aquilo iria ser útil mais tarde.
Ele voltou-se a sentar no lugar, ao lado de Rachel. Ela assobiava, como quem não queria nada, mas não tardou a fitá-lo com aquele olhar maroto.
- Isso não é bom. – disse Sirius, ainda com sem encará-la. – Minha beleza cansa, sabe?
- Estou vivendo um dilema, sabe, Black? – ela deu pequenos tapinhas nas costas de Sirius. – Será se conto ou não para a Lily que o querido amigo dela quase perdeu seu caçula numa multidão de quanto? Ah, dez mil pessoas!
- Ei! Mas ele está bem!
- Claro, porque eu o chamei para sentar aqui comigo, já sabia que o Sr. Irresponsabilidade ia trazê-lo.
- Irresponsável? – Sirius a encarou, com um pingo de raiva na voz. – Tenha dó! Sinceramente, Rachel, o que eu te fiz, mulher? Você é louca, sabe? L-O-U-C-A!
- Sirius, eu conheço muito bem o seu tipo. Apesar que não fomos do mesmo ano na escola, eu me lembro de você perfeitamente.
- Céus, já faz mais de vinte anos que eu me formei. As pessoas mudam. Eu admito, não era o cara mais sensível ou coisa do tipo aos dezessete, mas...
- E você é agora esse cara? – ela o cortou.
- Bem, não. Mas...
- Era exatamente nesse ponto que eu queria chegar. – e mais uma vez Sirius foi cortado.
- Mas...
- Entenda, não da para enrolar. Aceita. – e novamente aconteceu.
- Quer fazer o favor de parar de falar? – ele perguntou, sem paciência.
- Não, e...
Agora foi a vez Sirus interrompê-la, ao modo ele. A puxou para perto de seu corpo, até o momento em que estavam cara a cara, e quando isso aconteceu, Rachel não teve tempo de fazer mais nada, pois Sirius já a estava beijando.
Não era a primeira vez que isso acontecia. Há alguns anos, que ele havia descoberto aquele truque para calar Rachel. E funcionava perfeitamente.
Por algum tempo, ela se rebelou, mas logo cedeu. Sirius tinha certeza que ela estava gostando. E até que ele também, aquela mulher realmente sabia como beijar alguém. Feliz foi o marido dela, pensava Sirius.
Eles não reagiam a nada à sua volta, nem aquela gritaria ou os empurrões que as pessoas davam quando passavam pela fileira estreita, mas quando alguém coçou a garganta à frente deles, aquilo foi a deixa para se separarem.
Nathan estava ali, parado, de braços cruzados, com a sobrancelha erguida, e parecia estar prendendo o riso.
- Papai disse que isso poderia acontecer, e que, Sirius, você não pode dar tequila para a Rachel, porque isso pode resultar num irmãozinho para a Lyra. – o menino coçou a cabeça, com uma cara confusa. – Eu não entendi muito bem o que isso que dizer, mas, enfim, não é para dar tequila para a Rachel.
Sirius e Rachel olhavam para o menino com olhares muito semelhantes, meio chocados, e ambos queriam matar James naquele momento.
- Olha o respeito, seu pestinha. – Sirius puxou Nathan para seu colo, e começou a fazer cócegas em sua barriga.
- Vou ali, despedir da Jenny e já volto. – ele desvencilhou dos braços de Sirius e saiu correndo novamente, sem esperar uma resposta dos adultos.
- Você é um homem morto, Black. – Rachel disse, entre os dentes, enquanto tentava arrumar o batom vermelho que ficou todo borrando.
- Admita, você estava no céu.
- Céu? – ela riu, sarcástica. – No inferno, só se for. Toma. – tirou um lenço da bolsa. – Tire essa mancha de batom da boca antes que alguém veja e pense o que não deve.
Ele pegou o lenço esverdeado e passou pela boca. E não era pouco batom, não.
Aquela foi uma boa manhã. Sirius estava entre duas pessoas que realmente gostavam de quadribol, gritavam tanto que ele não fazia idéia como ainda não tinha perdido a voz. Teve que repreender os dois algumas vez, Rachel xingava os jogadores e Nathan deixou escapar alguns palavrões. Aquela realmente foi uma boa manhã. Fazia tempo que não se divertia daquela maneira.
O jogo não foi muito longo nem muito curto, o apanhador da França agarrou o pomo com duas horas de jogo, mas o time inglês fez trinta pontos a mais, dando-lhe a vitória. Um jogo bastante árduo aquele.
Eles deixaram esvaziar um pouco as arquibancadas para saírem com mais facilidade. Enquanto isso, Nathan pulava de um lado para o outro. Sirius não entendia o porquê, mas o garoto adorava os time francês..
Quando já estavam para descer, um senhor de cabelos grisalhos, um pouco calvo, vestido com uma capa negra vinha se aproximando deles. Sirius jogou um olhar para Rachel, que tocou na varinha dentro do bolso, como ele estava fazendo.
O velho parecia ter percebido que os dois adultos estavam armados, mas ao invés de fugir abriu um cargo sorriso e disse:
- Ora, guardem essas varinhas, por Merlin! – ele deu um pequeno aceno a Rachel e Sirius, mas focou sua atenção em Nathan, quando se ajoelhou, para ficar mais ou menos da altura do menino. – Nathan Potter, você tem um bom olho, menino.
- Obrigado. – ele abriu um sorriso orgulhoso.
O homem tirou uma bolsinha de moedas e entregou ao menino, depois apertou sua mão.
- Foi bom fazer negócio com você, garoto. – e logo e desapareceu.
Sirius continuou sem dizer nada, queria ver no que aquilo ia dar, assim como Rachel.
Nathan abriu a bolsinha e contou cinco galeões, e encarou os acompanhantes, ainda sem entender aquelas caras de espanto.
- Que foi? – ele perguntou, ingenuamente.
- O que exatamente foi isso, senhor Nathan?
- Bem, nos jogos, eu dou as dicas para o velho Rubens e ele me dá dez por cento dos lucros, quando as apostas são ganhas.
Rachel e Sirius se entreolhavam surpresos.
- Seu pai sabe que você se mete nessas coisas? – indagou Rachel.
- Não, por isso que eu peço ao Sirius para me trazer nos jogos.
- Black! E você ainda está metido nisso.
- Eu?! Eu nem sabia de nada.
- Gente, isso não é nada de mais, e está dando muito certo. – ele se pôs entre os dois e deu uma mão para cada. – Eu pago o almoço.
- Não sei de quem ele puxou isso, James era tão burrinho na idade dele. – Sirius cochichou ao pé do ouvido de Rachel.
- Black, como você é mal.
Eles passearam por Londres e antes do almoço, deram uma passada rápido no Gringotes, para Nathan trocar um pouco do dinheiro por libras. Sirius não entendia porque ele gostava de ter dinheiro trouxa nos bolsos. Depois que saíram do Beco Diagonal, dirigiram-se a uma lanchonete trouxa, preferência de Nathan, e conforme havia dito, ele pagara o almoço, apesar de Rachel e Sirius insistirem para ele guardar o dinheiro para outras coisas.
- Guardar? Eu geralmente uso isso quando saio com Vick ou Harry por Londres. O mundo bruxo pode ser muito chato às vezes, e o trouxa impressionante.
- Estou começando a achar que esse menino é adotado. – Sirius cochichou novamente para Rachel, recebendo um leve tapa de volta.
- Nathan, aproveite sua infância. – Rachel afagou o cabelo do menino, carinhosamente. – Deixe para mexer com essas coisas quando estiver mais velho. Ter seis anos é só uma vez na vida, ser criança é só uma vez na vida.
- Mas se ser criança é só uma vez, então, o que o Sirius é? – ele abraçou o moreno, que abriu um largo sorriso.
- Black? Esse é um caso perdido. – Rachel deu uma piscadela, só não sabendo se era para Sirius ou Nathan.
- Humm, ok, vamos? – Nathan levantou da cadeira, correndo para fora da lanchonete.
- Como ele gosta de correr, para que tanta pressa? – comentou Sirius, aquilo lembrava um pouco Lyra, ela foi uma criança do estilo de Nathan, muito ativa, extremamente ativa, na verdade.
Continuaram ali, pelo centro de Londres, e no final da tarde, Sirius levou Nathan para o parque, onde ele ficou brincando por um bom tempo num PlayGround, enquanto ele e Rachel ficaram sentados em um banco, observando-o saudosos aquele época que pareceu passar tão rápido nos seus filhos.
Nathan, depois de pular e brincar com outras crianças, voltou suado e vermelho para perto de Sirius.
- Cansou? – perguntou Sirius, observando o estado de sujeira do menino. Como Lily iria matá-lo, ele sabia disso.
- Não. – tirou o casaco e o entregou a Sirius. – Só vim tirar o casaco.
- Céus. – Sirius riu, aquela pequena bateria parecia não acabar mais.
- Bem, Nathan, você não cansou, mas eu sim. – Rachel se levantou e o beijou de leve na bochecha rosada do menino.
- Mas, já? Ainda está cedo. – ele ia começar a fazer aquele olhar que Sirius conhecia muito bem.
- Não, não está. Me diverti bastante hoje, depois repetimos a dose, sim?
- Eu vou cobrar isso. – disse Nathan, sorrindo.
- Até outra hora, Black. – ela acenou e começou a tomar distância dali.
- Humm, Sirius?
- Diga, Nate.
- Por que você não casa com a Rachel? – ele sentou no colo de Sirius.
- Pergunte isso a sua mãe, sim? E por falar nela, já deve estar com saudades de você. – Sirius pegou o casaco de Nathan e o pôs no menino, novamente.
- Certeza? – um pequeno beicinho formou nos lábios de Nathan.
- Sim, senhor! – Sirius o pegou no colo e pôs sobre os ombros, como o menino gostava. – Está na hora de ir para casa.
Naquela noite estava ventando bastante em Hogwarts. Era uma daquelas noites que Lyra adorava deitar cedo, ficar debaixo das cobertas, quentinha, mas ao invés disso, iria para uma sala fria cumprir a detenção da professora de Poções com Deus lá sabe quem, só rezava para não ser Filch.
Pegou seu casaco que estava sobre a cama e saiu do dormitório às pressas, estava atrasada, como de costume. Lá embaixo, Austin jogava xadrez com Ginny e Hermione dava uma breve explicação de Herbologia a Harry e Ron. Eram dez horas e alguns deles davam pequenos bocejos, aquela semana havia sido árdua.
Hermione parou de falar quando Lyra aproximou-se deles, e, curiosa por vê-la pronta para sair, perguntou:
- Aonde vai, Lyra? Já passou do toque de recolher.
- Detenção, minha cara. – Lyra suspirou fundo e deu um pequeno aceno com a mão. – Vejo vocês amanhã. Tchau.
Quando já estava fora da torre da Grifinória, abriu o papel que a professora lhe entregara. O local da detenção seria no quarto andar, na sala onde a professora Lennox fez sua própria biblioteca particular, ou seja, alunos não chegavam nem perto, a não ser no caso de punições, como o dela.
Foi descendo as escadas, e xingando-as também. Já estava atrasada e as escadas pareciam estar brincando com ela, não paravam de trocar de lugar. Lyra demorou um pouco para chegar ao quarto andar, mas depois que estava nele foi fácil achar a sala. Era a último daquele corredor.
A porta estava aberta, naturalmente, mas parecia não haver mais ninguém na sala. Lyra adentrou um pouco mais e o desânimo tomou conta dela, havia uma pilha enorme de livros sobre a mesa e todos estavam bastante sujos.
- Você tem que aprender a chegar na hora marcada. – uma voz disse logo atrás dela, fazendo Lyra pular de susto.
- Draco Malfoy! – ela falou, tentando se recompor, mas ainda respirando com dificuldade. – E você tem que parar de me dar sustos desse jeito!
O loiro meneou a cabeça e apontou com o indicador a um balde e um pano que estavam perto da porta.
- A professora Lennox disse para você passar um pano nas capas dos livros, tirando a poeira e algumas teias de aranha. E com BASTANTE cuidado para não cair água nas páginas dos livros. – ele fez questão de enfatizar o “bastante”.
- Ok, ok. – ela tirou o casaco e o pôs sobre uma cadeira logo ali. Deu uma pequena alongada na coluna, depois pegou o balde e o trouxe mais para perto da mesa.
Ela arregaçou as mangas da blusa preta que estava usando e meteu o pano dentro do balde, iniciando aquela detenção maldita.
Draco pegou um dos livros na estante e começou a correr os olhos por aquela leitura complicada. Aqueles eram livros de Poções extremamente avançadas, poções que só se aprendiam depois de formados e com especialização na área. Ele levantou a cabeça e passou a observar Lyra trabalhando e xingando também. Após alguns segundos focando sua atenção nela, foi até onde a garota estava sentada com um enorme livro no colo, enquanto passava o pano úmido na capa deste. Ele foi se aproximando devagar, até estarem muito próximos, podia até sentir o perfume vindo dos cabelos dela, era um cheiro interessante, de alguma flor que não sabia identificar, ajoelhou-se perto dela, ficando lado a lado.
Ela continuava olhando para o livro, embora Draco estivesse olhando fixamente para ela.
- Por Merlin, você é estranho. – ela comentou, ainda sem olhá-lo nos olhos.
- Jura?
Discretamente, aproximou sua mão direita do corpo dela, até estar muito perto da coxa da garota.
- Isso fica comigo. – disse ele, puxando a varinha do bolso da calça de Lyra.
- Droga! – Lyra passou a xingar Draco e não mais a professora.
- Eu te conheço, garota. Você não me engana. – levantou-se do chão gelado e fechou a porta, o vento parecia estar vindo lá de fora. . – Anda, levanta do chão.
- Eu posso saber o por quê? – ela baixou a mão segurava o pano até o chão e o encarou, segurando o riso.
- Simples, o chão está frio, e se você adoecer, a professora vai pensar que eu azarei você. – ele gesticulava com a mão direita, como sempre fazia quando estava enrolando alguém. – Em suma, vai sobrar para mim.
- Hum, entendo. – ela olhou para o teto por alguns segundos, mas logo pouso o olhar novamente nele, exibindo aquele seu famoso sorriso matreiro. – Você está preocupado comigo, que gracinha.
Ele parou de andar um instante. Passou a mão pelo maxilar liso, como um ar de pensador.
- Boca fechada, Black.
Ela tirou o livro do colo e o pôs ao lado da pilha à sua frente, depois levantou do chão também e passou a encarar o rapaz com os braços cruzados. Somente agora ela observara, ele parecia não estar vestido com roupas de bruxos, não as que ela costumava ver, sempre aquelas capas grossas e sobretudo. Ele usava uma calça azul marinho, com uma camisa negra por baixo de outra, também negra, só que de tecido mais fino e com finas listras verde-musgo. Ela não costumava vê-lo assim, talvez seja porque não reparava muito, mas tinha certeza que era a primeira que o via vestido daquela maneira.
- Agora eu sou Black, ao invés de Lyra? – ela indagou, fazendo uma cara ingênua.
- Vá trabalhar, porque eu, não sei quanto a você, quero dormir essa noite.
- Hum, pensando bem, - ela começou a se aproximar do garoto, fazendo-o revirar os olhos. – eu também queria estar na cama nesse momento. Aquela cama vazia, fria.
Ele coçou rapidamente a cabeça. Já conhecia aquele jogo, e também sabia como jogá-lo.
- Vazia, fria? – ele não moveu um dedo, foi deixando ela se aproximar. – Mas são tantas pessoas lá no seu dormitório, ninguém para lhe fazer companhia?
- Bem, - enfim, ela estava encarando-o frente a frente, estavam realmente próximos. – ninguém interessante, sabe?
- Entendo. – ele balançou a cabeça, fingindo uma certa compreensão. – E o que seria exatamente interessante?
Ela deu mais alguns passos, rodeando ele. Atrás, estava a porta e á sua frente as costas de Draco. Ela meneou a cabeça, aquela era uma visão de dar inveja a qualquer um.
- Por que você não tenta adivinhar?
- Não tenho a menor idéia, é melhor você mesma me contar. – Draco baixou o tom de voz, enquanto virou-se e voltou a encará-la.
- Assim não e divertido.
- Não tem problema. – ele se aproximou-se mais um pouco. – Há outras coisas que também são divertidas.
- Verdade? Como o que, por exemplo?
- Não sei... – ele fez uma pequena pausa, como se realmente estivesse em dúvida, a questão era que não estava nem um pouco.
Atrás de da porta, Lyra começou a ouvir vozes se aproximando. Prestou um pouco mais de atenção e viu que elas pertenciam ao diretor e à professora McGonagall. Draco notou que ela focava sua atenção na porta, e não nele, como nos últimos instantes.
- Que coisa feia, ouvindo atrás da porta.
Lyra lhe lançou um olhar mortífero e o puxou para mais perto, a fim de que ouvisse quilo.
- Calado! Escuta isso. – disse, num sussurro que Draco mal ouviu.
Ele encostou a orelha esquerda sobre a porta, como ela estava fazendo.
- É, a coisa está feia.
- Jura, Draco? – as vozes no corredor de repente pararam. – Droga! Eles estão indo!
Draco olhou rapidamente a sala e avistou um armário perto da porta. Ele a segurou pelo braço e a puxou com uma certa violência, mas não se importou muito com aquilo, seria muito pior se os pegassem ouvindo atrás da porta.
- Rápido! Ali, naquele armário. – ele abriu a porta e entrou, puxando-a novamente, só que para dentro do armário.
Foi uma questão de segundos para Dumbledore e a professora de Transfiguração entrassem pela porta da sala.
- Oras. – o velho diretor riu. – Pensei ter ouvido alguma coisa.
- Não é melhor vasculhar a sala, Albus? – disse a mulher, em tom apreensivo.
- Não, acho que não será necessário. Deve ter sido algum rato, essa sala é cheia deles. Não iria me espantar se Anne aparecesse um dia desses com um desses debaixo do braço. – ele riu novamente, depois tossiu um pouco. – Vamos, Minerva, não há nada aqui. Preciso lhe passar aqueles documentos, e eles estão no meu gabinete. Por que não me acompanha?
- Como quiser. – a professora falou em uma voz desconfiada, não parecia estar totalmente convencida.
Os dois saíram da sala logo em seguida, deixando Lyra e Draco sozinhos na sala novamente. O armário era bastante apertado, Lyra se segurava firmemente em Draco para não cair para fora. Nunca, desde que se conheceram, estiveram tão próximos um do outro. Lyra, que mantinha a cabeça imóvel sobre o peito do rapaz, podia ouvir o coração dele tão acelerado quanto o seu.
Draco estava atento, ainda conseguia ouvir as vozes do lado de fora, eles estavam parados em frente a porta. Ainda não poderiam sair do esconderijo, o que não o deixava na melhor das situações. O móvel era um pouco menor que ele, então tinha que manter sua cabeça abaixada, tocando na de Lyra. Ele sentia a respiração ofegante dela em seu peito, e o inspirar e expirar do ar nos pulmões dela tão rápidos quanto o seu.
Continuaram naquela posição por mais um tempo, até terem certeza absoluta que estavam sozinhos. Lyra abriu a porta, depois desvencilhou-se do corpo do sonserino e saiu de lá de dentro. Depois foi a vez de Draco.
Eles continuaram sem falar nada por alguns instantes. Estavam se recuperando do susto. Draco olhou a sua volta, ainda havia muitos livros a serem limpos, muito trabalho pela frente. Ele tirou a varinha dela do bolso esquerdo e entregou para Lyra.
- Você terá muitas outras noites para fazer isso, disso eu tenho certeza. – ele ia se recompondo, aos poucos.
Deu um passo à frente, com sua varinha entre os dedos. Pronunciou algumas palavras muito baixo, e os livros estavam impecáveis de limpos, depois falou novamente, mas outras palavras, e num piscar de olhos, todos os livros espalhados pela sala agora estavam em seus devidos lugares nas prateleiras.
Lyra sorria por dentro. Aquela detenção estava sendo realmente boa.
- Mas isso não seria anti-ético da sua parte? – ela perguntou, já sabendo da resposta.
- Está reclamando? Eu posso voltar tudo ao que era antes. – ele negou com a cabeça e foi até a porta e a abriu cuidadosamente, não havia mais ninguém ali, somente eles. – Vamos, vamos dar o fora daqui.
Ela pegou o casaco sobre a cadeira e o seguiu. Ele andava a passos largos, estava ficando difícil de acompanhá-lo.
- Essa é nova para mim. Dumbledore reforçando a segurança da escola. – comentou Lyra, que refletia sobre o que tinham acabado de ouvir.
- É muita gente questionando sobre a escola. Alguns dizem que a Inglaterra não é mais segura.
- Por que?
Draco parou de repente.
- E por acaso eu tenho cara de guru? – ele riu, nervoso.
- Se eu disser que sim, você responde a minha pergunta? – ela o tocou no ombro, fazendo-o encará-la novamente.
- Eu não tenho a menor idéia disso. Não sai nada no Profeta Diário sobre o assunto, então, não tenho nem como saber de nada.
Lyra pareceu não estar totalmente certa daquilo, mas acabou aceitando.
- Por que a professora McGonagall achou ser uma má idéia essa do esquadro alemão? É muito melhor do que dementadores.
- Há alguns anos, ouve um pequeno conflito entre a Inglaterra e a Alemanha, alguns dizem que teve haver com a 2ª Guerra Mundial Trouxa, outros dizem que não, mas os paises são aliados por causa da União Européia, essas coisas de comércio, entretanto, nunca mais voltaram a ser aliadas como costumavam ser. É complicado para esse esquadrão entrar na Inglaterra, o Ministério não acharia a melhor das idéias.
- Entendi. – ela continuava absorvendo as informações. – Como você sabe disso?
Ele riu baixinho, depois respondeu:
- Abrir um livro de vez eu quando faz bem, e não vale apenas ver as figuras. Olha, é melhor ficar entre nós o que aconteceu hoje.
- Concordo. – Lyra assentiu.
- Você tem que subir para a torre e eu descer para as masmorras. – ele olhou para cima, novamente. – É hora de nos separarmos.
- É. – ela encarava o chão, e ele o teto. Como detestava aquele tipo de situação, não haviam mais palavras em sua boca, muito menos na dele.
- Sei que não vai demorar muito para você fazer besteira novamente, então, até a próxima. – Draco deu alguns passos para trás, indo na direção da escada. – Boa noite, Lyra. – depois que disse aquilo, começou a descer as escadas, até se perder na escuridão.
- Adeus, Draco. – ela disse baixinho, ainda fitando por onde ele havia ido embora. Deu de ombros e suspirou, ainda estava um pouco longe da Torre.
Draco disse a senha e entrou na sala comunal. Estava vazia, quase, na verdade. Tinha apenas mais uma pessoa naquela sala, e justamente a última pessoa que ele queria encontrar naquele momento.
- Malfoy? – o rapaz moreno levantou do sofá onde estava sentado e encarava Draco fixamente com seus olhos negros. – Aonde você estava?
- Aplicando detenção, Knox. – respondeu Draco, seco.
O moreno deu pequenas voltas perto de Draco, sem deixar de encará-lo. Draco detestava aquilo.
- E posso saber em quem? – Noah Knox abriu um sorriso sarcástico e parou de andar, agora estava à frente de Draco. – Deixe-me adivinhar... Black, como de costume.
Draco não respondeu, apenas o encarava, sério.
- Bingo. E como vai sua adorada priminha? – seus olhos faiscavam, mas não faziam efeito algum em Draco.
- Bem, muito bem. Agora, me dê licença que já está tarde. – Draco passou tão próximo de Knox que quase trombaram.
- Não tem nada que queira me contar não, Malfoy? – Knox continuava com o olhar fixo em Draco, irritando-o um pouco.
- Não, Knox, não hoje. – e continuou subindo até chegar à porta de seu dormitório, por onde entrou, deixando o colega de casa sozinho na sala.
Draco atravessou o dormitório, sua cama era a última, ao lado da de Tristan. Todos estavam dormindo, podia-se ouvir os altos roncos de Goyle. Ele começou a desabotoar a camisa, deixando-a sobre a cama, logo depois foi a de baixo. Repousou as costas nuas na coberta macia. Não ia pegar no sono tão facilmente, sabia disso, então, apenas ficaria ali deitado com os braços apoiando a cabeça, fitando o teto.
Tristan mexeu um pouco e não tardou a abrir os olhos. Draco já sabia que ele não estava dormindo.
- Então? – Tristan sentou-se na cama, ainda enrola nas cobertas. – Como foi a detenção? Você voltou cedo.
Draco suspirou, mas continuou deitado. Mesmo com a luz fraca Tristan conseguiu ver um pequeno sorriso estampado nos lábios do loiro.
- Digamos que foi interessante. – era exatamente aquela palavra que ele procurava para descrever o que foi aquela noite.
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