Olhos na escuridão
Quase Invisível
Nome da fic: Quase invisível
Autor: Magalud
Par: Severo/Personagem Original
Censura: PG-13
Alerta: Angst, depressão e baixo astral
Gênero: Drama, Romance, AU
Spoilers: Eu costumo usar spoilers de todos os livros, mas essa fic é pós-Voldemort.
Resumo: Snape arranja um bichinho de estimação. Mas nada é tão doce quanto aparenta.
Nota 1: Esse Snape começa mais sombrio e irritadiço do que eu costumo fazer. Mas faz parte da história, não desistam dele!
Nota 2: Você não vai precisar consultar o livro Animais Fantásticos e Onde Eles Habitam, mas é de lá que vieram as informações.
Agradecimentos: Jana betou, Thá ajudou, Cris e Janny sempre moraram no meu coração, Snape inspirou. Josan deu uma força
Disclaimer: Todos esses personagens são de J.K. Rowling, mas Tessa é minha. Não estou levando grana nenhuma, só satisfação.
Capítulo 1 - Olhos na escuridão
De novo, a sensação. Naquelas horas sombrias da noite, ela ficava ainda mais aguda, muito embora ela o acompanhasse o dia inteiro.
Ser observado.
Vigiado.
Severo Snape nunca fora um espírito tranqüilo, mas os acontecimentos que culminaram com a derrota de Voldemort, o Lord das Trevas, tinham-no deixado seriamente perturbado. Para muitos, ele tinha se tornado mais irritadiço, taciturno e sombrio. Talvez até sinistro.
Claro que a sensação de ser constantemente vigiado não ajudava nem um pouco.
Ele não descartou a possibilidade de ser uma questão meramente psicológica, a culpa que lhe vinha roer o íntimo depois dos terríveis acontecimentos na Escola de Hogwarts de Magia e Bruxaria. Todos os fantasmas poderiam estar atrás dele, pedindo-lhe contas de suas atitudes, de seus atos e decisões, e das repercussões e conseqüências deles.
E eles podiam estar mesmo próximos, pois tudo acontecera em Hogwarts...
Snape deixou mais um gole de uísque de fogo descer-lhe pela garganta, queimando lentamente por todo o caminho até aquecer seu interior. Era disso que ele vivia nos últimos tempos: de um calor efêmero, emprestado do álcool e da lareira, insatisfatório nos dois casos. Em breve, ele se deixaria levar para um sono breve e ineficiente, assaltado por pesadelos como tinham sido as últimas duas semanas.
O problema era que as aulas estavam para recomeçar. E ele teria que enfrentar os alunos e sua falha.
Uma aluna não estaria retornando.
De algum modo, aquilo parecia a ele ser uma ferida aberta, exposta, dolorida como poucas coisas na vida.
- Silêncio - disse ele quando o sinal bateu - Apaguem seus caldeirões, tampem uma amostra da poção e não se esqueçam de colocar um rótulo no frasco com seu nome. Isso inclui o senhor, Sr. Longbottom. Já que quebrou o seu frasco, pegue um do estoque. Cinco pontos a menos para Grifinória.
Os alunos do sétimo ano começaram a se mexer, e isso sempre era um momento tenso. Afinal, essa era a turma dupla Grifinória/Sonserina, incluindo o trio de ouro de Dumbledore, e não menos importante, Harry Potter, o salvador do mundo bruxo e flagelo da existência de Snape.
Pois foi justamente o moleque que ficou para trás quando os demais deixaram a sala de aula. Ele estava sozinho, sem seus dois inseparáveis parceiros Granger e Weasley.
- Professor Snape?
Snape continuou arrumando os cadernos sem sequer olhá-lo:
- O que você quer, Potter?
- Senhor, eu gostaria de falar com o senhor sobre... o que aconteceu.
- E que bem isso traria a qualquer um?
O rapaz quase o interrompeu:
- Professor, não foi sua culpa. Eles eram muitos. O senhor tentou salvá-la -
Harry Potter foi interrompido por um caderno sendo jogado na mesa com violência e o olhar mais feroz que Snape já lhe lançara em todos aqueles anos de Hogwarts, e a voz mais carregada de ódio e desprezo:
- Com o que então o Sr. Harry Potter pretende me absolver de meus pecados? Harry Potter, salvador de todos, advoga sua autoridade indiscutível para me eximir de minhas faltas?! Eu pensei que sua arrogância tivesse limites, garoto, mas vejo que eu estava errado! Você é, mesmo, filho de seu pai!
- Mas professor, eu -
Snape rosnou:
- Suma-se daqui antes que eu lance uma azaração no santo protetor Harry Potter! Fora! Fora da minha sala!
Harry catou seus livros e saiu apressadamente, correndo para o corredor antes que virasse alvo concreto da formidável cólera de Snape. Mal controlando seu acesso de raiva - ele não sofria de um tão agudo desde as aulas de Oclumência -, Snape foi até a porta e viu as capas de Potter se tornando menores e menores. Naquele momento, ele estava à beira de lançar um feitiço para que elas - e seu dono, claro - desaparecessem totalmente, para sempre.
Pouca chance, ele pensou. Se nem Voldemort, poderoso como ficara nas horas finais, conseguira, como ele, um simples Mestre de Poções poderia deter a soberba e arrogância do onipotente Harry Potter?
- Vejo que eles estão mais inquietos esse ano - disse uma voz atrás de Snape, fazendo-o virar-se - Alunos nunca mudam.
Snape assentiu:
- Tem razão, Barão. Alguns, infelizmente, trazem isso no sangue.
O fantasma da casa Sonserina, o Barão Sangrento, flutuava pelo corredor das masmorras. Ele não se deteve e disse, olhando para Snape:
- Oh, vejo que optou por ter um companheiro para aliviar sua carga - fez um floreado meneio de cabeça - Bom para você, meu rapaz. Continue assim.
Enquanto o fantasma de Sonserina flutuava para longe dele, Snape ficou confuso. Será que o Barão estava ficando caduco finalmente? Mas fantasmas não envelheciam. Por que, então, teria ele dito que Potter seria seu companheiro para aliviar a carga? Não fazia o menor sentido. Qualquer um que tivesse visto a cena saberia que os dois eram tudo, menos companheiros.
Nem em um milhão de anos.
Ele suspirou e voltou para dentro da sala de aula, tentando dispersar os últimos resquícios de sua cólera.
Agora, para a próxima turma, ele se dedicaria a fazer o que sabia fazer de melhor: sarcasmo e desprezo.
Eles mal tinham saído da mesa de jantar. Mas ele conhecia o ritual.
Primeiro o chá, depois os docinhos. Ele já sabia o que vinha depois.
- Severo, eu tenho notado que você anda um pouco nervoso.
Snape conhecia aquela conversa mais do que a receita da Poção do Morto-Vivo.
- Diretor, eu garanto que não há nada comigo que esteja no campo do extraordinário.
O Prof. Dumbledore fez um gesto com as mãos:
- Não, não, meu querido Severo, eu noto um ar em você que não condiz com nosso momento pós-Voldemort. Você não está feliz por termos nos livrado dele?
- Claro que sim.
- As duas semanas sem aulas foram um tempo a ser empregado em comemoração e contemplação do porvir. Você não gostaria de ter ido até a mansão de sua família? Ou viajado para um lugar longe de Hogwarts?
Ele deu de ombros.
- A mansão está interditada por ordem do Ministério da Magia há quase 20 anos, como bem sabe, devido à suspeita de minhas atividades de Comensal da Morte. Quanto a viagens, eu - ele falseou - eu tinha coisas a arrumar aqui.
Dumbledore apontou com um sorriso:
- Ainda assim, pouco movimento de arrumação foi visto nas masmorras. Sua casa estará livre da burocracia do Ministério assim que seu nome for liberado das acusações. É apenas questão de tempo. Logo você estará livre, Severo. Será saudado como um herói.
- Livre? - A palavra parecia uma piada para Snape - Herói?
- Livre para prosseguir com sua vida. Poderá deixar Hogwarts, se quiser. No fim do ano, é claro.
- Ainda não tomei qualquer decisão a esse respeito.
- Um passarinho muito tempo engaiolado pode não se dar conta de que a porta da gaiola está aberta. Tome o tempo que quiser com sua decisão. Mas deixe as pessoas que amam você se aproximarem.
"Tarde demais", pensou ele. "Ninguém me ama. Não sobrou ninguém".
Azedo, Snape se levantou, carrancudo:
- Pensarei sobre o assunto. Agradeço o chá.
Saiu do escritório do diretor e foi direto para as masmorras. Ele precisava de uma boa dose de uísque de fogo. Mas não para esquecer.
Ele nunca poderia esquecer.
Durante umas duas horas, Snape distribuiu correções e palavras ásperas em vermelho sobre os cadernos de poções de duas turmas. Quando já não podia mais agüentar ver outra redação, virou-se para localizar a garrafa de uísque de fogo.
Então ele viu.
Dois olhos negros na escuridão.
Foi uma fração de segundo, talvez menos, se isso fosse possível, num canto escuro do escritório, atrás da escrivaninha - o local perfeito para alguém se posicionar se quisesse observá-lo. Ele ficou paralisado, o coração acelerado, a tentar imaginar o que tinha acontecido.
Num movimento brusco, pegou a varinha e dirigiu-se ao local:
- Lumos!
A ponta da varinha iluminou fracamente o canto escuro, e ele supervisionou com cuidado o local. Certificou-se de que a porta para seus aposentos estava fechada, e pôs-se a vasculhar cada centímetro do escritório, a sensação de ser observado fazendo o cabelo de sua nuca arrepiar-se.
Nada.
Após duas horas, ele nada encontrou e convenceu-se de que tudo aquilo tinha sido apenas sua imaginação. Ou talvez um fantasma dos acontecimentos terríveis, perturbando-lhe as raras horas de descanso.
Descanso.
Isso lhe era negado por seus demônios pessoais que escolhiam as horas da noite para aborrecê-lo.
Mas a sensação de ser observado não passara.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!