Máscaras, perguntas e mais pen
MÁSCARAS, PERGUNTAS E MAIS PENSEIRAS
Era uma vassoura toda nova, brilhante. Custou caríssimo, disse seu pai. Nott ficou dias “brigado” com ele porque não largava do brinquedo.
Não fazia nada mais do que flutuar alguns metros do chão e tremer um pouco mas foi o orgulho de Draco... Até quebrar.
Chorou, chorou sem parar. Levou sua mãe a loucura, a ponto de chamar sua avó paterna (as duas não se davam nada bem) para tentar alegrá–lo. Mas nada funcionava.
Ele queria aquela vassoura, só ela. Não ligava para doces, guloseimas nem elfos–domésticos fazendo piruetas e levando surras. Chorava, berrava e chutava os pedaços de madeira que foram os únicos vestígios que sobram da pobre vassourinha.
Por algum motivo só conseguia lembrar dessa parte da história. Sabia que havia mais e que envolvia algo de bom acontecendo mas não parecia importante. A tristeza que sentiu naquele dia era o que realmente relevante, o resto não possuía sentido.
Sua vida era uma infinita bosta de dragão. Nunca seria feliz de novo, não cercado de dementadores e pedras. Não precisava de memórias infelizes para se sentir mais miserável ainda!
Tentando escapar do sentimento de amargura que o tomava, olhou à sua volta, buscando algo para se distrair. Mas, é claro, em uma cela suja e medieval não há muito que observar.
As paredes ao seu redor eram formadas por pedras (o arquiteto de Azkaban não era um dos mais criativos), o ar era abafado pela falta de espaço para se movimentar. A primeira (e última) fonte de luz era um pequeno buraco (chamar de janela seria um elogio exagerado) inalcançável perto do teto onde nem o barulho do mar conseguia chegar. A única quebra naquela paisagem cinza monótona era a incrivelmente, surpreendentemente... Porta de madeira. Agora sim poderia se distrair, sua vida de prisioneiro não seria mais um castigo, na verdade alegria seguida de alegria!
Ou não.
A madeira da porta estava corroída pelo tempo e por mordidas de rato. Havia nela uma particularmente grande, como uma portinhola para o rato ir e vir como bem entendesse, que o fazia se arrepender de não ter se tornado um animago.
Claro, que se fosse um animago teria uma forma grandiosa, como a de um dragão ou serpente, que não caberia naquele buraco, mas isso não vinha ao caso.
Fora de sua cela havia ainda menos chances de entretenimento saudável. Nenhum dos vizinhos tinha se mostrado interessando em uma conversa amigável sobre os velhos tempos. E Nott tinha cumprido sua palavra, o pai do carcereiro estava na cela ao lado murmurando incoerências desde que Draco chegara. Enquanto o outro vizinho, cuja identidade Draco não sabia e nem pretendia saber, respirava uma ou duas vezes a cada duas horas.
O chão de pedra gelado e a corrente de ar fria que passava pelo buraco de rato na porta o lembraram do dia em que sua avó morrera.
Uma senhora rigorosa e, para um Draco de seis anos, sem graça. Ela lhe trazia doces, brinquedos e outros dotes que o interessavam por cinco minutos, mas depois vinham os comentários: “Ande com as costas eretas”, “Você vai herdar tudo isso, limpe os pés antes de pisar no tapete”, “Não fale de boca cheia!”, “Lave as mãos”. Talvez isso piorava com o fato que sua mãe sempre lhe dizia: “Respeite sua avó, ela é uma víbora de talento irritante e seu pai beija os pés dela, o frangote. Quando ela morrer o ar vai ficar mais limpo, mas por enquanto vá aprendendo a agradar quem interessa”.
Enfim, sua avó nunca foi mais nada do que bons presentes e comentários chatos. Mas quando ela morreu a mansão parecia ter ganhado uma nova camada de frieza. A casa sempre havia sido silenciosa mas de alguma forma naquele dia foi diferente.
Foi a primeira vez que Draco conheceu um lado de seu pai que só despertaria novamente anos mais tarde.
Draco gostava de se mostrar e se havia uma coisa que odiava quando criança era não ter uma platéia para aplaudir seu novo truque, brincadeira ou presente. Coisas de uma família tradicional onde ser filho único e homem significava ter o mundo girando ao seu redor. Naquele dia não foi exceção.
Não lembrava o que tinha sido mas por algum motivo ficara animado com algo e saíra correndo para dentro da mansão, atrás de sua mãe e pai. Sabia que devia ter fingido tristeza ou respeito pela morte da avó mas sempre se colocava em primeiro lugar e os outros em quarto (depois de “eu”, “eu” e “eu”).
Encontrou sua mãe no átrio, lendo um livro enquanto cantarolava, e se assustou. Narcissa Malfoy nunca cantava. Uma coisa não combinava com a outra. Pensou que ela estivesse doente ou enlouquecida. O susto foi tão grande que deu dois passos para trás e saiu correndo para longe.
Decepcionado, foi procurar seu pai no lugar de sempre: seu escritório.
Ah, sim. O escritório de Lúcio Malfoy. O santuário. Não havia lugar mais sagrado para seu pai, era lá que buscava refúgio ou alguma besteira do feitio. Tudo ali só podia ser tocado apenas por ele e somente ele.
Na época, Draco ainda não sabia disso.
Entrou no escritório mas o encontrou vazio. Não havia nada de especial naquele quarto a não ser duas coisas.
Pendurado na parede oposta à escrivaninha havia um quadro. O que o diferenciava de todos os outros quadros na mansão era o fato de que estava vazio. Não havia nada além de o fundo, onde estava pintado os mesmos jardins da casa.
Mas o que lhe chamou mais atenção foi outra coisa.
Em cima da mesa do pai havia uma máscara de madeira que inexplicavelmente o hipnotizou. Observou primeiro de longe, com cautela. Era algo tão fora do padrão do resto da casa e havia de alguma forma uma áurea negra emanando de onde se encontrava.
Chegou mais perto, ficou na ponta dos pés e, esquecendo–se o que o trazia ali, pegou o objeto, encarando–o fixamente.
A expressão da máscara era aterrorizante mas, ao mesmo tempo, familiar. Havia algo nela que o encantava. Estava tão concentrado que não percebeu a entrada de seu pai.
– Largue isso Draco – a voz fria de seu pai mandou.
Ainda sem ação pela entrada repentina, não se mexeu.
– Largue! – gritou o pai, perdendo a compostura.
Como se tivesse levado um choque, largou a máscara. O pedaço de madeira bateu contra o chão, uma lasca caindo longe.
O rosto do pai se contorceu em raiva.
– Olha o que você fez! – gritou, pegando o objeto lascado. – O que está fazendo aqui? Já falei que ninguém entra no meu escritório sem minha autorização! Será que não consegue entender uma única ordem!
Assustado pela atitude estranha do pai, correu para a porta do escritório.
– Venha, Draco! Você precisa aprender a não mexer nas coisas que não deve! – gritou seu pai, levantando sua mão ameaçadoramente.
Seu pai nunca havia batido nele. Jamais sequer levantara sua mão. Aquilo o aterrorizou tanto que saiu correndo sem olhar para trás. Ouvi um estrondo, como algo grande caindo no chão, mas estava com medo demais para voltar.
Foi parado por sua mãe.
– O que foi, querido? Por que a cara assustada? – sorriu, abaixando–se e colocando a mão na bochecha do filho.
– Papai... Ele... Tinha uma máscara... – soluçou, não conseguindo completar a frase.
O rosto feliz tão raro da mãe se tornou grave e ela se levantou.
– Fique aqui, querido. Vou falar com seu pai.
Apesar da ordem, seguiu sua mãe. Se aproximou da porta do escritório mas não entrou.
– Isso é ridículo, Lúcio. Está agindo de uma forma abominável, assustando Draco desse jeito! Está louco?
– Saia, Narcissa, antes que eu perca meu controle de vez!
– Não sairei. Você precisa se explicar para o seu filho.
– Explicar o quê, exatamente? Isso? – gritou, mostrando a máscara de madeira. Depois apontou para o quadro vazio. – Aquilo?
– É só uma máscara. E é só um quadro. Você que os torna em um símbolo de suas falhas – comentou como se apenas estivesse falando do tempo. – Se lhe incomoda tanto, jogue–os fora.
– Jogar fora? – riu, amargo. – Jogar fora? Tudo é tão simples para a herdeira dos Black.
– Você está fora de si – criticou, dando–lhe um olhar reprovador. – E eu não vou gastar meu tempo com você nesse estado. Controle–se e depois desculpe–se com seu único filho e herdeiro, Lúcio.
Irritada, Narcissa fechou a porta do escritório atrás de si. Quando viu Draco abriu um sorriso forçado.
– Não se preocupe, querido. Seu pai era muito ligado à mãe. A morte dela o deixou assim. Venha à cozinha que os criados acabaram de assar uma bandeja dos seus doces preferidos.
Demorou alguns dias até que a casa voltasse a uma certa normalidade. Seu pai não dirigia a palavra a Draco, orgulhoso demais para admitir que perdera o controle, preferindo esperar que o assuntou morresse. E ambos, esposa e filho, deixaram que isso acontecesse.
O quadro vazio foi retirado do escritório e deixado longe das vistas de todos no sótão da casa. Em lugar dele foi colocado uma pintura de Lúcio quando jovem. Muito tempo depois Draco descobriu que aquele que fora retirado retratava sua avó e algumas coisas fizeram mais sentido.
Quanto à máscara...
A máscara que lembrava seu pai de suas falhas e da decepção de sua mãe com ele, agora representava a mesma coisa para Draco. Suas falhas e seu pai.
E sempre que se lembrava do seu pai as coisas não terminavam bem.
O que um homem precisava fazer para arranjar um cobertor ali?
Os trapos cinzas que os aurores tinham dado eram piores que o casaco de bolsos furados. Trocara o calor assassino do Egito pelo frio acusador de Azkaban. E sem álcool para distrair sua cabeça.
Engoliu seco, mais uma vez querendo espantar pensamentos que o lembrassem daquele assunto.
Sentia–se cada vez mais fraco e cansado.
Quem sabe se dormisse conseguisse parar de pensar asneiras?
– A senhorita quer o quê?
– Interrogar os prisioneiros.
– Essa parte eu compreendi, Weasley. O que me intriga é exatamente para que você quer fazer tal coisa.
– Inspeção. Tenho ordens de checar se estão sendo tratados bem. Você sabe... Todo aquele protocolo e leis que foram aprovadas contra maus tratos... Preciso ver se estão sendo cumpridos.
– E os papéis oficiais para provar? Gostaria de vê–los.
Impaciente, Gina tirou um envelope do bolso e deu para Nott. A cara de insatisfação que fez mostrou que Quim, mais uma vez, não brincara em serviço.
– Está bem – grunhiu Nott. – Mas já lhe aviso que não gosto nada disso. É arriscado demais e suspeito também. Minha opinião não vai mudar tão cedo.
– Não estou aqui para impedir o sol de nascer. Ache o que preferir, Nott. Pode me indicar onde está a cela de Rodolphus Lestrange?
– Lestrange? Você não conseguirá uma única frase coerente do infeliz.
– Não preciso de frases coerentes. Se ele não estiver em condições de ser interrogado vou verificar se não tem machucados, se passa fome... Assim por diante.
– Eu sei disso, Weasley. Já passei por outras inspeções – depois abaixou sua voz. – E sei muito bem que não é sua função aqui fazer isso.
– O que disse? – fingiu não escutar.
– Nada. Perks, acompanhe a Srta. Weasley.
Uma moça pálida e com sombras profundas debaixo dos olhos se aproximou. Gina estava acostumada com aquela aparência, todos em Azkaban, principalmente aqueles com muito tempo de serviço, possuíam aquele ar de doença. Não havia pior trabalho no mundo do que aquele. Mesmo com todos os feitiços de alegria, os efeitos das criaturas acabavam por dominar todos os guardas.
A cela de Rodolphus não era diferente de nenhuma outra da prisão. O ocupante tão insano quanto o resto. E, como o regulamento mandava, dois dementadores vigiando a porta.
– Ele não é violento – informou em uma voz morna Perks. – Mas gosta de cheirar cabelos... E de imaginar que todas as mulheres que vê são a esposa, então se prepare. A sorte nossa é que ele perdeu a vista. Então não consegue chegar muito perto.
– Está cego? Como?
– Não te contaram?
– Não.
– Melhor mesmo... Você não vai querer saber – avisou a moça, indicando que a história não era bonita.
Infelizmente Gina tinha que manter o disfarce de inspetora e faria parte de seu “trabalho” saber uma coisa daquelas.
– Eu quero. Me conte.
– Tem certeza? – tentou mais uma vez mas Gina assentiu. – Ele arrancou os próprios olhos.
Arregalou os olhos, chocada.
– Como deixaram isso acontecer?
– Ninguém pensou que fosse capaz. Agora o deixam preso – contou enquanto abria as engrenagens da porta. – Qualquer coisa estou aqui, do lado de fora.
Provavelmente os dementadores é que a estavam deixando com medo. Não havia relação nenhuma com o fato que estava entrando na cela de um assassino insano e que a porta estava sendo trancada atrás de si. Imagine.
Encontrou um homem magro e sujo estava agachado no canto mais escuro e úmido da cela. Murmurava algo enquanto balançava o corpo para frente e para trás. Havia um mau cheiro no ar e Gina preferiu não tentar desvendar sua origem.
– Rodolphus Lestrange?
Não houve mudança. Aproximou–se alguns centímetros.
– Bella, Bella, Bella, Bella...
“Pelo menos ele lembra dela. Quem sabe isso pode me ajudar de alguma forma.”
– Rodolphus?
Dessa vez ele levantou o rosto, procurando quem o chamara. Uma faixa preta cobria seus olhos e suas mãos estavam presas com cordas prateadas.
– Onde está Bellatrix Lestrange, Rodolphus? Onde você a viu pela última vez?
– Bella...
– Sim, Bella. Onde ela está?
– Esperei por você. Falhei, Bella. Eles me pegaram. Você nunca veio... Não... Não, não.
– Veio onde?
Por algum tempo o prisioneiro apenas repetiu o apelido de Bellatrix mas Gina não perdeu o ânimo.
– Você quer Bella de volta? Quer que ela fique com você?
O único sinal de entendimento que o Comensal mostrou foi virar o rosto da direção de Gina.
– Quer? Então me diga onde você acha que ela está.
– Seus cabelos ainda tem perfume de rosas, Bella? Me perdoe, falhei. Eles venceram... Mas aqui... Aqui não vão me pegar – resmungou, apontando com o dedo esquelético sua cabeça. – Vou resistir aos dementadores... Como você me ensinou. Como na primeira vez. Isso. E depois fugir...
– Fugir para onde?
– Longe. Muito longe, Bella – de repente soltou um gemido agoniado. – Me pegaram... Você nunca veio. Ah, Bella... Eu falhei com você. E você me olha desse jeito! Você odeia quem é fraco! Sinto muito, Bella, querida! Não me odeie! Não agüento esse olhar que você me dá! Não consigo mais te ver me odiando! Pare! Não faça isso! Pare!
Com um grito se levantou rapidamente, indo na direção de Gina. Reagindo rápido, ela se afastou e bateu na porta. Não importava se ele tinha as mãos atadas, ela não ficaria para descobrir o que poderia fazer mesmo preso daquela maneira.
– Perks, tire–me daqui!
A porta se abriu e ela correu para fora, ofegante.
– Você disse que ele não era violento! – disse, ainda perturbada, para a auror do seu lado.
– Ele só quer tocar no seu cabelo, eu te avisei. Conseguiu o que queria?
– Sim – mentiu. – Estou satisfeita com o que eu vi.
– E quem é o próximo? Minhas ordens são acompanhar você o resto do dia.
– Em que condições está Rabastan?
– O irmão do Lestrange? Acho que em melhores.
– Será que ele é capaz de responder alguma pergunta?
– Duvido.
– Algum deles consegue manter algo tipo de conversa normal? – suspirou Gina.
Sabia que seria assim mas até aquele encontro com Rodolphus nutria esperanças que os loucos murmurassem informações confusas... Mas úteis. Agora via que não seria nem próximo disso.
– Acho que o único capaz disso é o prisioneiro que acabou de chegar.
“Você só pode estar brincando comigo...”
– Não me diga – suspirou de novo. – Draco Malfoy.
– Ele mesmo. Quer falar com ele?
– Não se eu puder evitar. Me mostre a cela de Rabastan.
Gina não procuraria ajuda de Malfoy nunca. “Nunca” na verdade querendo dizer “apenas quando estivesse completamente desesperada”.
O que não estava muito distante.
– Você não pode ir sozinho, Harry!
– Não vai nos deixar para trás! Vamos com você!
– Não! Vocês não entendem! Só eu posso matar Voldemort! Ninguém mais! Se vocês forem... Não posso perder vocês! Voltem e avisem a Ordem! Se eu não voltar... Vocês precisam estar preparados...
– Não, Harry! Tem que ter outro jeito!
– Por favor, vão! Antes que seja tarde!
Draco observou enquanto Potter saiu correndo, deixando seus dois capachos para trás. Granger soluçava e Weasel a abraçava (tentando fazê–la calar a boca provavelmente).
Esperou até que os dois também saíssem correndo na outra direção para sair das sombras. Caminhou entre os destroços espalhados pelo chão. Devagar encontrou um corpo estirado embaixo de uma coluna caída.
Era impossível não reconhecer o cabelo loiro esbranquiçado, não havia dúvidas.
Abaixou–se, aproximando do rosto pálido de seu pai.
Não havia respiração.
Sua máscara jazia quebrada em duas ao seu lado.
Não havia expressão em seu rosto. O escárnio e o ar superior tinham sumido.
O que seria dele? Não havia mais nada.
Draco levantou, fechando seu punho em uma tentativa de segurar o sentimento de raiva e desespero que o consumia.
Retirou sua própria máscara e a jogou no chão violentamente.
Estava cansado de perder.
Voltou para as sombras e nelas buscou refúgio.
Draco acordou com os punhos fechados e os olhos lacrimejando de tanto serem espremidos.
Dormir em Azkaban... Péssima idéia. A pior entre todas na história de idéias idiotas.
Bateu a mão contra a parede e ignorou a dor do impacto. Encolheu–se no canto da cela, buscando se aquecer. Devagar seus olhos começaram a fechar sucumbindo ao cansaço.
– Draco! Mexa–se!
Virou o rosto para a direção da voz, assustado, mas não havia ninguém na cela.
– O que está esperando? Venha!
Olhou novamente e obteve o mesmo resultado. Era algum tipo de delírio porque o dono da voz não podia estar ali, mesmo que pudesse haver alguém ali.
Já ouvira aquelas palavras antes. Sabia que estava sozinho na cela, a voz era apenas efeito dos dementadores e não cairia na deles, não estava louco o suficiente para isso... Ainda.
– Ponha a máscara e venha, Draco!
“Não vou responder. Não é ele. Não tem ninguém aqui.”
– Ande! Eles se aproximam! – gritou a voz de seu pai cada vez mais próxima.
Não era real!
Estava confuso. Perdido... Tudo lhe parecia tão falso...
– Draco! Mexa–se! O que está esperando? Venha! Eles se aproximam!
Não conseguia... Simplesmente não conseguia. Estava parado, covarde e inútil. Não conseguiria, não depois do que tinha acontecido... A raiva ainda estava lá.
– Ponha a máscara e venha, Draco!
Olhou para o objeto, depois para seu pai. Ainda doía, ainda sentia...
– Ponha, Draco!
Ele colocou.
– Chega! Me deixe em paz, seus dementadores malditos!
Respirou fundo, buscando calma.
Pensamentos felizes...
Chocolate... Doces da sua mãe... Jogar Quadribol em dia ensolarado... Preparar uma poção... Sonserina... Virar o elfo–doméstico idiota de ponta cabeça... Vencer Potter...
Crucio... Estupefaça... Crucio... Desviar... Estupefaça...
Estavam perdendo... Não conseguiriam. Potter chegaria ao Lorde das Trevas...
Parou. Por que estava fazendo aquilo? Valia a pena morrer?
Olhou à sua volta, notando que seus companheiros estavam cada vez mais encurralados. De repente seu pai lhe encarou e por alguns segundos ambos mantiveram o olhar firme.
Naqueles segundos buscou ter de volta aquilo que perdera... Mas seu pai não lhe devolveria, escolheu desviar o olhar.
Foi então que Draco tomou sua decisão.
Se afastaria da luta. Não lhe restava nada ali.
Uma explosão fez que perdesse o equilíbrio e batesse a cabeça contra uma parede gelada. Ouviu um grito de raiva e depois de agonia de seu pai ao longe e soube que tudo estava terminado para os dois.
Colocou as mãos na cabeça, tentando parar as lembranças de surgirem. Mas não haveria misericórdia.
Era com muito pesar que se preparava para entrar na cela de Draco Malfoy. Também com orgulho ferido e extrema má vontade que tentaria retirar alguma gota de informação do filho de Comensal.
A visita à cela de Rabastan, que apesar de estar consideravelmente mais limpo que o irmão, se mostrou mais inútil ainda. Ele era tão egocêntrico que não deu sinal de lembrar da cunhada ou de Voldemort.
Passara mais três dias inteiros depois de ver Rodolphus, buscando alguma pista de Bellatrix, qualquer coisa que pudesse ajudá–la seria bem–vinda, no entanto em todos aqueles dias visitou cada prisioneiro Comensal preso até o momento sem resultados.
Avery tentava escalar as paredes de Azkaban com um medo terrível de uma cobra invisível, Antonin Dolohov apenas riu quando Gina perguntou de Bellatrix e depois tentou jogá–la no chão, Goyle estava completamente mudo e estranhamente magro e, assim como o restante, se provou igualmente incomunicável.
E agora só lhe restava o desatável Malfoy. O que aumentava ainda mais seu desespero. Falhar ali significaria o fim de seus dias na Ordem.
Tinha que correr ou Quim decidiria terminar a missão. Além disso, quanto mais tempo Malfoy ficava em Azkaban menos chances ser capaz de responder perguntas.
Encontrou Malfoy dormindo e murmurando durante o sono.
Respirando fundo, Gina tomou coragem para acordá–lo. Cutucou–lhe forte no ombro e rapidamente se afastou de novo.
Um sinal de que os dementadores surtiram efeito foi o modo como ele acordou, parecia que alguma coisa estava para atacá–lo. Um animal encurralado.
– Malfoy... Vou ser curta e breve. Me fale tudo que sabe sobre Bellatrix.
A principio ele a olhou como se não estivesse lá. Tinha um ar desconfiando e esperou que repetisse para resolver responder, talvez em uma tentativa de confirmar se Gina era real.
– O que você está fazendo aqui, Weasel? Achei que tinha me livrado de você de uma vez por todas.
– Encurte minha estada aqui. Me diga o que você sabe sobre Bellatrix.
– Eu ouvi na primeira vez, estou louco, não surdo.
– Então responda.
Houve um silêncio breve em que Malfoy se acomodou, tentando de forma precária parecer digno mas se a aparência dele já estava ruim quando Gina o prendeu no Egito agora estava dez vezes pior. Quatro dias ali foram capazes de adicionar um ou dois anos no rosto dele.
– Por que você quer saber sobre minha tia querida? Você e Potter parecem interessados demais nela.
Gina refletiu se deveria ou não responder. No fim concluiu que não haveria problema em falar a verdade. Afinal, não que seria capaz de fazer algum estrago preso em Azkaban.
– Queremos prendê–la. Está matando aurores e só sabemos que se esconde na Inglaterra, de resto estamos no escuro.
Malfoy pareceu genuinamente surpreso quando notou sua sinceridade, porém obviamente não tinha intenção de diminuir sua desconfiança e antipatia.
– Não estão conseguindo achar ela, é? – abriu um sorriso satisfeito.
Se segurou para não responder com um belo comentário sarcástico, não estava ali para trocar insultos e resistiria à provocação de Malfoy feita apenas para desviar do assunto.
Era difícil se controlar porque odiava deixar que tivesse a última palavra mas tentou manter em mente que teria sua vitória assim que conseguisse tudo que ele soubesse sobre Bellatrix.
– Se você tem algo para me dizer sobre ela diga.
– O que eu ganho com isso?
“Eu não bato a sua cabeça contra a parede.”
– O que você quer? – disse, ao invés, entre dentes.
A simples idéia que Malfoy tinha algum tipo de vantagem fez com que a sombra de Azkaban sumisse de seu rosto imediatamente e fosse trocada pelo costumeiro sorrisinho arrogante.
– Quero sair daqui, claro.
Gina soltou uma gargalhada sincera. Não existia nem uma remota chance de isso acontecer.
– Eu sou uma auror, não a fada madrinha, Malfoy. Seja realista.
– Então não posso ajudar. Se achar Bellatrix é tão importante assim vocês têm que me soltar. Sou o único que conheço ela que não está completamente pirado.
– Tente ser mais esperto. Essa é a única oportunidade que vai ter de conseguir algo aqui dentro. Podemos achar Bellatrix sem você, vai demorar mais, verdade... Mas eventualmente vamos pegá–la. E você vai ficar de mãos vazias.
– Talvez. Mas aposto que não. Tem que estar muito desesperada para bater na porta de Azkaban. Deve ser triste ser incompetente.
– Acho melhor você pensar antes de falar besteira, Malfoy. Quem está apodrecendo em uma cela, quem perdeu a guerra, quem fugiu que nem um rato, não fui eu.
O sorriso desapareceu lentamente, trazendo–o de volta à realidade.
– Se é só isso que você quer acho que está na hora de você ir embora – ofereceu, indicando a porta atrás dela.
Gina estava começando a ficar muito frustrada. Era impossível atender aquela exigência ridícula e a atitude irritante dele estava impedindo que tivesse sucesso em sua missão. Blefar era sua única alternativa, mais uma vez. Teria que convencer Malfoy que não precisava dele, deixá–lo refletir sobre isso por algum tempo e depois voltar para coletar o prêmio.
– Era só isso mesmo. Quando eu capturar Bellatrix vou fazer questão que você fique sabendo.
– Vou esperar sentado – depois abriu um sorriso irônico. – Não que tenha muita opção. Uma pena que você é do grupo dos mocinhos. Eu já teria usando a Maldição Império e tirado tudo que quisesse da cabeça de cada um deles. Para você ver que lado é mais inteligente.
O comentário foi uma tentativa fraca de mostrar superioridade mas apenas acabou passando tristeza.
– Realmente – respondeu Gina. – Posso ver claramente qual é.
Fechou a porta de si e logo que fez isso foi como se sua mente estalasse.
O que Malfoy havia tido a fez lembrar de algo: tudo que precisava estava fechado na mente dos Comensais, era só uma questão de conseguir entrar lá. E não havia melhor modo que usando uma penseira.
O fato era que Azkaban tinha sua própria biblioteca delas, usadas para guardar as piores memórias dos prisioneiros. Com sorte talvez elas tivessem Bellatrix. Por alguma razão, Gina não duvidava que teriam.
Era uma medida um tanto desesperada mas era melhor que lidar com Draco Malfoy.
N/A: Demora, demora... Odeio demora! 49 dias para HBP e eu estou sem inspiração! É frustrante. Espero que tenham gostado do capítulo. (Thanks Pichi por betar mesmo com seus problemas e sem tempo!)
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