Capítulo único




Nagini já havia fincado seus dentes gelados no pescoço de Snape quando ele caiu ao chão. Estava mais fraco que nunca, mais vulnerável que nunca e pela primeira vez aparentava estar realmente indefeso. Harry chegou com passos apressados mas não apressados o suficiente. A respiração do homem já falhava demais e, se é que era possível, sua pele estava ainda mais branca. Mas ainda vivia. Estava vivo e demonstrava uma aflição fora do normal. Aflição inimaginável de ser sentida por Severo Snape. A boca quase que tremia tentando pronunciar palavras incompreensíveis e sua mão puxou a blusa de Harry pela provável última vez. O garoto tinha os olhos muito agitados enquanto Snape, contraditoriamente, mantinha um olhar calmo. Olhar sonolento e pacífico, mais pacífico do que Harry havia visto durante todos esses anos. O homem, com um último esforço, tirou a lembrança de si e a entregou a Harry. Já não sentia o corpo com muita precisão e a mão que segurava a camisa do garoto ia perdendo a força nos dedos. Mas não podia ir, queria explicar. Queria explicar a ele o porquê de tudo, queria falar de Lílian. Queria dar a Harry as palavras que negou durante sete anos. E agora, no entanto, elas não pareciam possíveis. Qualquer coisa que conseguisse dizer pareceria pouco diante da complexidade do que tinha pra ser dito.
“Harry...” – e o menino estremeceu diante de Snape o chamando pelo nome. – “Olhe pra mim, eu... Eu... mato-me a cada dia... dentro... da sua mente.” – cada palavra parecia exigir um esforço brutal dele embora Harry não parecesse ter entendido. – “Mas eu...” – deu um suspiro em uma mistura de alívio e fraqueza. – “Eu sinto muito.” – E os olhos negros não piscaram mais.

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