O Outro Lado da Colina
Biloxi – EUA
2O de julho de 192O
A morena abriu os olhos, ainda desorientada, os pingos de chuva batiam em seu rosto frio e escorregavam até o chão. Ela estava deitada no chão, de bruços, num terreno baldio. Sentia muita sede, há quanto tempo teria ficado ali? Um aroma doce invadiu sua mente, foi aí que ela percebeu que estava sobre uma poça de sangue. Seria seu?
Ela tentou lembrar o que estava fazendo ali, mas quase nada veio à sua mente, apenas uma voz, uma linda voz, mas que de alguma maneira a fez sentir arrepios.
17 de janeiro de 192O
Alice estava sob a sombra de uma árvore, no imenso jardim, desfrutando de um belo livro, quando caiu bem no meio de suas páginas um pequeno brinquedo. A morena pegou o pequeno objeto nas mãos e olhou ao redor, não tinha ninguém à vista. Mas de onde teria vindo?
Ela fechou o livro e examinou o objeto, nunca tinha visto algo assim, parecia que tinha... asas? Sim, certamente eram asas, isso explicava o fato de não ter ninguém por perto. Alice levantou e logo viu um rapaz moreno, de cabelos bagunçados, com seu cachorro, logo embaixo da colina que estava. Certamente procuravam o tal brinquedo...
- Ei, você! – A morena gritou ao menino, ficando nas pontas dos pés, como se isso fosse fazer o grito ficar mais alto.
O garoto olhou para Alice e depois ao seu redor, como se duvidasse que a garota falava com ele.
- Está falando comigo?
- Certamente... Acho que ainda não sei falar com cachorros. – Alice riu da pergunta do garoto.
O moreno sorriu e passou as mãos nos cabelos, e Alice achou que ele estava espantado, e com razão, pois damas não costumavam falar assim.
- Bem, isso... – Alice mostrou o brinquedo – Essa coisa é sua?
- Ah! Você achou meu aeroplano! – O moreno correu na direção de Alice, sendo seguido pelo cachorro.
- Onde ele caiu? – Ele disse ao parar na frente dela.
- Essa coisa não é bem educada, ele atrapalhou minha leitura! – A morena riu, entregou o brinquedo ao menino e se abaixou para brincar com o cachorro – Ele é lindo!
- Sinto muito por atrapalhar, não era minha intenção. Você acha? Eu que fiz, ainda não aprendi a fazer como meu pai, mas vou chegar lá! – Ele sorriu.
-Er... Sabe, eu estava falando do seu cachorro... Não que seu brinquedo seja feio, claro!
- Oh, ele se chama Bento, o cachorro. – Ele respondeu confuso – Você mora aqui?
- Bento, o cachorro, é uma graça! – Alice riu – Moro sim, naquela casa branca. – A menina apontou para uma casa média que se erguia ao lado de grandes árvores – Você deve ser o filho de Dr. Foster?
- Sou sim. Josh Richard Foster, prazer.
- Mary Alice Brandon – A morena levantou e cumprimentou o rapaz com um enorme sorriso, ela notou um breve encantamento na expressão dele.
- Você tem quantos anos? – Josh perguntou com grande interesse.
- 18, farei 19 próximo mês, e você?
- 19 – Ele respondeu rápido e sorriu, como se fosse uma coisa maravilhosa eles terem quase a mesma idade.
Alice percebeu e sorriu pra disfarçar.
- Então... Você já veio antes aqui na vila?
- Sim, minha tia mora na cidade, então eu sempre passo por aqui... Mas nunca tinha visto você antes, se é isso que quer saber.
- Oh, não, só perguntei por curiosidade mesmo. É que eu nunca fui na sua vila.
- NUNCA? Ora, então vamos lá hoje mesmo, o que acha?
- Sério? – Alice estava encantada, seria maravilhoso conhecer novos lugares sem sua mãe ou seu pai por perto, mas ela não tinha muita certeza de que eles iriam ter a mesma impressão que ela.
- Claro, podemos ir depois do almoço, eu te encontro aqui. – Ele sorriu – Mas, Alice, como você sabia que eu era filho do Dr. Foster, se você nunca foi à vila?
- Certo, eu vou falar com a minha mãe, de qualquer forma eu venho aqui para te dar a resposta. – A morena retribuiu o sorriso – Ah, isso. Seu pai já foi em minha casa, minha irmã é muito frágil, fica doente fácil, fácil. Te achei parecido com ele, apenas. Não se preocupe, Josh, não sou cigana. – Alice e Josh riram imaginando tal situação. Alice caminhou até a sombra da árvore e se sentou. Josh fez o mesmo.
- Você é diferente das outras garotas da sua idade. – O moreno falou, segurando o livro que Alice estava lendo antes de ser incomodada. – Elas não costumam ler sobre Astrologia.
- Eu sei que sou diferente, tenho orgulho disso. – Alice sorriu e pegou o livro das mãos do rapaz – Astrologia é uma coisa encantadora, meu pai trabalha com isso, ele nem sabe que eu leio os livros dele, ficaria muito bravo se soubesse!
- Seria normal se fosse só isso. Você também tem modos...diferentes.
- Pode dizer ‘anormais para uma dama’, eu não me importo.
- Tudo bem, seus modos são muito anormais para uma dama.
Alice e Josh riram mais uma vez.
- As outras garotas da minha idade não vivem, por isso que sou diferente.
Josh concordou com a cabeça e antes que pudesse falar alguma coisa, uma garota chegou correndo e parou subitamente ao ver o moreno sentado ao lado de Alice.
- Cinthia, não arregale tanto os olhos, eles podem pular fora, sabia? – Alice fingiu seriedade e riu ao ver a irmã colocar as mãos nos olhos, visivelmente apavorada.
- É brincadeira dela, pequena, não se preocupe!
Cinthia tirou as mãos dos olhos, mas continuou parada e muda, olhando curiosamente para Josh.
- Essa é minha irmã Cinthia, ela costumava falar normalmente, não sei o que aconteceu. – Alice falou, ainda rindo da irmã - Esse é Josh, Cinthia, filho do Dr. Foster, mostre seus bons modos!
- Encantada. – Cinthia falou assim que ouviu as palavras ‘bons modos’, e agora a garota parecia que estava com vergonha de ter agido daquele jeito.
- Encantado – Josh respondeu com um sorriso.
- O que você veio fazer aqui, Cinthia?
- Ah, Mary, mamãe está chamando para almoçar!
- Oh, certo, eu vou com você, espere.
- Nossa, meu pai deve estar me procurando também, perdi a noção do tempo.
Alice e Josh se levantaram, Cinthia ainda olhava o garoto com curiosidade, Alice sabia que a irmã só estava esperando ficar sozinha com ela para começar as perguntas.
- Te vejo à tarde? – Josh falou, segurando uma das mãos de Alice, Cinthia não perdeu o movimento.
- Claro, só não tenha muita certeza que poderei ir com você à vila. – Alice sorriu, torcendo pra que Cinthia olhasse para outro lugar, o que não aconteceu.
- Tudo bem, até mais então. – Josh beijou a mão de Alice delicadamente, e Cinthia finalmente achou o cachorro um tanto interessante. Alice sentiu as bochechas corarem.
- Até, Josh. – Alice sorriu, tentando disfarçar a vergonha, e seguiu para casa com a irmã ao lado. Bastou Josh desaparecer atrás da colina que Cinthia começou com as perguntas.
- Namorando, Srta. Alice?
- Não, Srta. Cinthia, ele é meu amigo.
- Mas ele gosta de você não é?
- Ora, Cinthia, eu o conheci hoje, não sei por que você acha que ele gosta de mim. - Alice virou os olhos
- Você não percebeu o jeito que ele olha pra você? - Cinthia respondeu simplesmente.
Alice lembrou o jeito que Josh olhava pra ela, parecia encantado. ‘Bem, Cinthia pode ter alguma razão, afinal’, ela pensou, e decidiu usar a curiosidade da irmã a seu favor.
- Não seja boba, Cinthia! E não fale nada disso à mamãe, senão não levo você para um passeio hoje.
- Passeio? Aonde? Eu não conto a ninguém, juro!
Fácil. Alice conseguiu o que queria.
Alice chegou em casa com a irmã, sua cabeça estava borbulhando, não conseguia achar uma razão pra sair com Cinthia sem precisar falar à mãe que iria com um menino. A morena decidiu esperar o almoço passar, sua mãe talvez estivesse mais relaxada depois dele. E estava.
- Mãe, você está linda hoje, queria estar assim... – Alice disse com um tom de voz carinhoso e sentou ao lado da mãe.
- Mary, o que você quer?
- Nossa, eu só elogio você quando quero alguma coisa? – A morena fingiu que estava chocada, mas não convenceu a mãe.
- Geralmente, sim.
- Virgínia Brandon, você está insinuando que sua filha é interesseira? – A garota continuou com o fingimento.
- Vamos, Mary, diga logo.
- Certo – Alice cedeu – Então... Eu tava pensando em passear com a Cinthia hoje, quero comprar alguns enfeites de cabelo, nós podemos?
- Hum... – Virgínia pensou um pouco e logo deu a resposta à filha – Certo, mas você tem que comprar pra sua irmã também!
Alice bateu palmas e levantou rápido. Ela nunca pensou que seria tão fácil enganar a mãe, só ficava triste de ter que fazer isso.
- Claro, mamãe, obrigada! Vou chamar Cinthia e nós vamos!
- Aproveite e vá ao barbeiro cortar as pontas de seus cabelos, está enorme!
- Vou pensar no assunto!
As irmãs se arrumaram e encontraram Josh aonde tinham combinado. Alice só percebeu o quanto o garoto era bonito naquele instante. Josh estava com uma camisa formal de manga comprida, mas como o dia estava agradável, ele tinha dobrado as mangas da camisa até os cotovelos. Usava calças e sapatos pretos. Seus cabelos estavam estranhamente no lugar, mas lindos. Josh lembrava muito o pai, mas era bem mais jovem e bonito. Seus olhos verdes eram como esmeraldas e tinham um brilho tão fascinante quanto as mesmas. Alice lembrou do que Cinthia tinha falado e teve a impressão de que Josh se arrumou assim só porque ia sair com ela, se fosse verdade, tinha dado certo, a morena estava com uma grande vontade de abraçar o garoto e sentir seu perfume, uma atitude anormal demais pra uma dama, não que isso fosse novidade para Alice.
- Você está linda! – Ele disse, se levantando da sombra da árvore em que estivera sentado.
- Você também, Josh, obrigada. – Alice e Josh sorriram e Cinthia revirou os olhos.
- Vamos? – A pequena disse, ansiosa pelo passeio.
- Ah, a Cinthia tem que ir conosco, eu disse à mamãe que ia comprar enfeites com ela, algum problema?
- Claro que não! Vamos, Mademoiselles? - As meninas riram.
Os três desceram a colina e seguiram para a vila. Alice nem imaginava o que esse passeio iria lhe proporcionar, a descoberta de um novo mundo e de poderes inesplicáveis que iriam mudar pra sempre a sua vida.
N/A: WEEEE *O*
Gente, desculpem a demora pra postar, ontem tive um imprevisto x.x
Mas enfim, aqui está o capítulo, não teve nada demais ainda, mas espero que gostem *-*
E sim, quem percebeu, as visões da Alice começam no próximo capítulo
AH! '-'
Próximo FDS posto e respondo os coments!
Obrigada gente!
Beijinhos :*
Gica Santos
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