O JANTAR
Grimmauld Place era um bairro perto de Londres, onde as casas estavam em péssima conservação, janelas partidas, tinta das porta a descascar e lixo em todos os cantos que se avistavam, mas o mais curioso era o número das portas das casas, pois do número onze passava para o número treze.
Ao anoitecer uma estranha figura alta e esguia com um manto comprido e preto apareceu e pronunciou para si mesmo “A casa dos Black localiza-se em Grimmauld Place, número 12, em Londres” e assim que proferiu estas palavras, uma porta delapidada surgiu do nada, espremendo-se entre os números onze e treze, logo seguida das paredes sujas e das janelas cheias de fuligem. Era como se uma outra casa acabasse de se encher de ar, empurrando as que se encontravam de um lado e do outro. Ao que parecia os muggles que lá viviam não se apercebiam de nada. O homem avançou para os degraus de pedra gasta da casa que acabava de se materializar. A tinta preta estava esfolada e corroída e a maçaneta prateada da porta tinha a forma de uma serpente enroscada. Não existia nem caixa do correio nem fechadura. O homem entrou, fechou a porta e com um gesto de varinha o hall de entrada iluminou-se, espalhados ao longo das paredes, diversos candeeiros a gás antiquados ganharam vida, iluminando com uma tremeluzente e insubstancial luz o papel de parede e a passadeira de um corredor longo e soturno. Das paredes, pendiam, tortos, vários retratos sob o brilho de um lustre de cristal. Tanto o lustre como os candelabros que enfeitiçavam uma mesinha instável tinham a forma de uma serpente. O homem avançou por entre o hall, passando por uma porta, e ao fundo pendurou o seu manto num bengaleiro, talhado, em forma de uma perna de troll, voltando a avançar em direcção à porta anterior. Atravessou a porta, desceu umas escadas íngremes até uma porta que dava para a cozinha, situada na cave. A divisão parecia uma caverna com ásperas paredes de pedra, ligeiramente menos sombria que o hall do andar de cima. Grande parte da luz provinha de uma grande lareira que ardia ao fundo, esta era enorme e do interior provinha um lume de variadas cores uma visão maravilhosa mas ao mesmo tempo inquietante e interessante, pois quando menos se esperava lá surgia uma cara do meio de todas aquelas chamas. O homem pegou num cachimbo que estava pousado em cima de uma grande mesa de madeira e sentou-se numa das muitas cadeiras que lá se encontravam. Por entre a neblina de fumo distinguiam-se os contornos ameaçadores dos tachos e das panelas de ferro que pendiam do tecto escuro. Do outro lado da cozinha a porta abriu-se e entrou uma feiticeira alta, magra de cabelos negros compridos atados num carrapito de uma cara levemente esbranquiçada.
- Sebastian, importas-te de pousar esse cachimbo? - perguntou ela.
- Ainda agora o acendi! Só mais um pouco, MaryAnn - exclamou Mr. Black, um feiticeiro alto de cabelos curtos, castanhos-escuros com uma cara, também, um pouco esbranquiçada.
- Quando eu chamar pelos miúdos para jantar apagas isso, e nada de desculpas! - avisou Mrs. Black, e o marido assentiu com um gesto de cabeça.
Pouco tempo depois Mrs. Black chamou pelos filhos.
- SIRIUS, REGULUS, O JANTAR ESTÁ PRONTO, VENHAM PARA BAIXO!
Sirius era o filho mais velho, com dez anos, era um rapaz alto de longos cabelos negros emaranhados e rosto rosado, e Regulus era um miúdo magro, um pouco mais baixo que Sirius, cabelos curtos castanhos-escuros e como todos os outros com uma cara um pouco esbranquiçada, tinha sete anos de idade. Regulus e Sirius estavam no seu quarto, uma divisão um pouco ampla, de paredes negras e com um quadro totalmente vazio, existiam duas camas de madeira e cada uma tinha esculpida uma serpente na parte superior, existia também uma janela com cortinados de veludo verde-musgo e a única fonte de iluminação era um candelabro a gás que estava pendurado no alto tecto negro. Sirius e Regulos estavam a jogar xadrez mágico, um jogo muito interessante parecido com o que os muggles jogam mas este mais especial pois movia-se sozinho seguindo apenas as ordens de cada jogador.
- SÓ UM BOCADINHO MÃE, ESTAMOS A ACABAR UM JOGO DE XADREZ! - gritou Regulus.
- NÃO QUERO SABER! OU VÊM JÁ PARA BAIXO OU LANÇO-VOS UMA MALDIÇÃO TÃO GRANDE QUE ATÉ DESAPARECEM - ameaçou a Mrs. Black.
- Ok, já vamos - resmungou Sirius.
Regulus e Sirius saíram do quarto e desceram a lúgubre escada em direcção ao hall, em cujas paredes se podia ver uma fila de cabeças mirradas que haviam pertencido a elfos domésticos, pois todas elas tinham o mesmo narizinho pontiagudo e estavam dispostas sobre placas decorativas. Dirigiram-se à cozinha onde encontraram a mesa enorme cheia de diversos pratos e talheres com o brasão da família Black em seu redor.
- Mãe, vem cá alguém jantar? - perguntou Regulus.
- Vem cá a minha prima Araminta e o marido, Vincent, a vossa tia Elladora, o vosso tio Theophilus, e as vossa primas Andromeda, Narcissa e Bellatrix.
- A prima Araminta? E a tia Elladora, a Narcissa e a Bellatrix? Oh não! - queixou-se Sirius.
- Não sei de que te queixas! Elas até são fixes - resmungou Regulus.
- O teu irmão tem razão. Não me interessa se gostas delas ou não, vens jantar connosco e nada de mas! - avisou-o Mrs. Black.
- A Andromeda é bem fixe mas as outras! - queixou-se Sirius para si mesmo.
Foi então que um som longe e grave se fez ouvir anunciado a chegada das visitas esperadas.
- Eu vou abrir a porta e quando cá chegar quero que estejam todos aqui para os receber, e não te ponhas com essa cara, Sirius! - avisou Mrs. Black.
Mrs. Black avançou para a porta da cozinha e subiu as escadas até ao hall fechando a porta atrás de si. Pouco depois voltou com sete pessoas atrás. Uma mulher baixa, gorda, de cabelos negros soltos, cara esbranquiçada e com um manto verde-escuro era a prima Araminta com o seu marido Vincent, um homem alto, magro, de cabelos escuro, curtos e de cara também esbranquiçada com um manto negro asa-de-corvo. Em seguida vinha a tia Elladora, uma senhora alta, esguia, cabelos louros compridos atados num rabo de cavalo, cara um pouco branca e um manto púrpura, e o tio Theophilus, um cavalheiro alto, magro cabelos negros compridos emaranhados, de cara um pouco rosada e manto também negro, com as três filhas atrás, Andromeda, uma rapariga alta, elegante, muito bonita, cabelos louros platinados caiam-lhe até aos ombros. Tinha olhos grandes, de um azul-forte e dentes muito brancos e certinhos, transportava um manto leve de um azul-pervinca a condizer com a cor dos olhos. Narcissa tinha igualmente cabelos louros atados num elegante nó atrás da cabeça, tinha olhos igualmente grandes de um verde-profundo e com dentes de um branco ofuscante, transportava um gracioso manto verde-esmeralda de seda, e Bellatrix, uma rapariga também de cabelos louros compridos atados num rabo de cavalo atrás da cabeça, olhos pequenos igualmente de um verde-profundo. Era alta, magra e tinha um sorriso esplendoroso. Esta trajava um manto negro muito elegante.
Sirius cumprimentou cada convidado seguido por Regulus, Mr. Black e Mrs. Black.
- Sejam todos bem vindos - cumprimentou Mrs. Black - Espero que todos tenhamos uma noite agradável e obrigado por terem vindo. Alguém sabe porque motivo convidei-vos a todos?
Todos murmuraram que não acenando com a cabeça e Mrs. Black prosseguiu.
- Bem como todos sabem os nossos filhos já têm idade suficiente para começarem a estudar e amanhã de manhã todos receberão uma carta com o convite para estudar e certamente que todos iram para Hogwarts. Pretendo então com este jantar desejar-lhes uma boa estadia em Hogwarts e esperando vê-los em breve.
Todos os familiares bateram palmas em concordância com Mrs. Black e felicitaram-na pelo belo discurso. Sentaram-se à mesa e com um gesto de varinha de Mrs. Black várias travessas de prata com um belíssimo e apetitoso jantar levitou suavemente no ar e pousou com a mesma graciosidade na mesa. Bife, frango assado, costeletas de porco e de carneiro, salsichas, bacon, batas fritas e assadas, ervilhas, cenouras e ketchup. Sirius esfregou os olhos num gesto de tentar acordar de um belíssimo sonho, o que não aconteceu. Regulus também ficou surpreendido com tamanhas delicias, só pouco depois é que se serviu, seguido de Sirius. Todos conversavam alegremente, até que todos acabaram de jantar e Mrs. Black se levantou.
- Agora que já todos estamos satisfeitos gostaria de desejar a melhores felicitações para os futuros estudantes esperando que sejam todos escolhidos para a equipa adequada - discursou Mrs. Black - ou seja, os Slytherin, onde encontraram certamente gente de boas famílias e espero também que conheçam alguém especial também de boas famílias.
- Outra vez essa história sobre o sangue-puro! Vocês nunca se cansam? - queixou-se Sirius.
- O que é que disseste? - perguntou chocada a tia Elladora.
- Ele não disse nada, pois não Sirius? - perguntou sarcasticamente Mrs. Black.
- Disse que odeio ter que ouvir essas tretas sobre o sangue-puro, e que se pudesse escolher nunca iria para os Slytherin e nunca me casaria com alguém como vocês! - ripostou Sirius furioso.
- Concordo com o Sirius! - assentiu Andromeda - Ele tem razão. Gostava de saber o que é que vocês têm contra os feiticeiros filhos de muggles!
- A minha filha, a minha própria filha, contra os de sangue-puro - ficou chocada a tia Elladora e começou a chora nos braço do marido.
- Olha o que fizeste à tua mãe! - culpou-a Theophilus.
- Mãe! Mãe desculpa, mas é isto que eu penso. Eu não pretendia magoar-te! - tentou desculpar-se Andromeda.
- E TU, SIRIUS, COMO TE ATREVES A DIZER ISSO? - questionou irritada Mrs. Black - SERÁ QUE NÃO TENS ORGULHO NA TUA FAMÍLIA? UMA FAMÍLIA QUE NUNCA TEVE DESCENDENTES MUGGLES, QUE NUNCA ACEITOU UM ÚNICO MUGGLES COMO MEMBRO DESTA FAMÍLIA.
- NÃO, NÃO TENHO ORGULHO NESTA FAMÍLIA E TODOS OS QUE SÓ ACEITAM O SANGUE-PURO SÃO UNS IDIOTAS! - berrou Sirius
Levantando-se da cadeira e correndo em direcção ao seu quarto dois andares acima. Sirius deitou-se na sua cama.
- Estúpidos é o que ele são. Estúpidos. - murmurou de si para consigo. - Reles, escumalha. Pelo menos a Andromeda entende-me. Só espero que quando eu for para Hogwarts fique-mos na mesma equipa. Isto se for para Hogwarts, porque depois disto vai ser difícil que a mãe me deixe ir.
Foi então que a porta do quarto se abriu e Regulus entrou.
- Ficaste louco? Viste o que fizeste? - perguntou ele - A mãe está furiosa contigo. Se não tivesses vindo para o quarto aposto que te matava.
- Quero lá saber! - exclamou Sirius.
- Não me admirava nada se a mãe não te deixa-se ir para Hogwarts - disse Regulus.
- Pois isso tenho que ver amanhã, ao receber a carta! - exclamou Sirius - Tenho que tentar convencer a mãe.
- Isso vai ser difícil. - avisou Regulus.
- Acho que estou a ter uma grande ideia - disse Sirius olhando para Regulus a sorrir.
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