A PONTE
A PONTE
Harry, Rony e Jasmine caminhavam. A manhã estava fresca e luminosa: o céu era azul-claro, o sol se insinuava entre as árvores e iluminava com faixas douradas a trilha sinuosa que percorriam. Os sombrios perigos das florestas do silêncio haviam ficado para trás.
"Num dia lindo como este", Harry pensou, caminhando ao lado de Rony, "seria fácil acreditar que tudo estava bem em Deltora". Longe da cidade devastada e apinhada de Del, longe da patrulha dos Comensais e do sofrimento do povo que vivia faminto e aterrorizado, era mesmo quase possível esquecer que o reino era dominado pelo Voldemort.
Mas esquecer seria tolice. O interior era magnífico, mas o perigo rondava toda a estrada que conduzia ao Lago das Lágrimas.
Harry espiou para trás e encontrou o olhar de Jasmine. Ela não queria vir por esse caminho e o criticara com todas as forças.
Agora, caminhava tão leve e silenciosamente como sempre fazia, mas seu corpo estava rígido e a boca apertada numa linha reta e dura. Naquela manhã, prendera os cabelos para trás com uma tira de tecido que arrancara das roupas esfarrapadas. Sem a moldura habitual de cachos castanhos, o rosto parecia muito pequeno e pálido, e os olhos verdes davam a impressão de ser enormes.
A pequena criatura peluda que chamava de Filli segurava-se ao ombro dela e guinchava nervosamente. Kree, o corvo, batia as asas desajeitadamente em meio às árvores que os rodeavam, como se não quisesse ficar no solo nem se afastar muito.
Naquele momento, Harry percebeu, assustado, o quanto estavam receosos.
"Jasmine, porém, foi tão corajosa nas Florestas", ele lembrou, virando rapidamente para a frente. "Ela arriscou a vida para nos salvar". De fato, aquela parte de Deltora era perigosa; mas, por outro lado, naqueles dias de Voldemort, havia perigo por toda parte. O que aquele lugar tinha de tão especial? Haveria algo que ela não lhes contara?
Ele se lembrou da discussão que ocorrera quando os três companheiros decidiam para onde iriam após deixar as Florestas do Silêncio.
— É loucura ir para o norte por aqui — Jasmine insistiu, os olhos faiscando. — A feiticeira Belatriz domina essa região.
— Essa sempre foi a fortaleza dela, Jasmine — Rony salientou, paciente. — No entanto, muitos viajantes atravessaram essas terras no passado e viveram para contar a história.
— Hoje, Belatriz é dez vezes mais poderosa do que antes! — Jasmine exclamou. — O mal atrai o mal, e Voldemort aumentou a força dela. Agora ela está inflada pela vaidade e também pela perversidade. Se viajarmos para o norte por aqui, estaremos condenados.
Harry e Rony fitaram-se. Ambos haviam ficado satisfeitos quando Jasmine decidira deixar as Florestas do Silêncio e unir-se a eles na busca pelas pedras perdidas do Cinturão de Deltora. Fora graças a ela que não tinham sucumbido nas Florestas. Fora graças a ela que a primeira pedra, o topázio dourado, estava agora preso ao Cinturão que Harry usava escondido debaixo da camisa. Eles sabiam que os talentos de Jasmine seriam extremamente úteis à medida que avançassem na busca das seis pedras restantes.
Contudo, Jasmine havia vivido de acordo com os recursos que tinha à mão sem precisar agradar a ninguém além de si mesma. Ela não estava acostumada a seguir os planos de terceiros e não tinha receio de expressar seus sentimentos abertamente. Agora, Harry percebia, um tanto aborrecido, que haveria momentos em que Jasmine seria uma companheira desagradável e indisciplinada.
— Temos certeza de que uma das pedras está escondida no Lago das Lágrimas, Jasmine — ele disparou, ríspido. — Portanto, precisamos ir até lá.
— Claro! — ela exclamou, batendo o pé, impaciente. — Mas não precisamos passar por todo o território de Belatriz. Por que você é tão tolo e teimoso, Harry? O lago fica na extremidade das terras da feiticeira. Se fizermos uma volta grande e chegarmos até lá pelo sul, poderemos evitar que ela sinta a nossa presença até o fim.
— Esse trajeto nos obrigaria a cruzar as colinas Osmine, o que levaria cinco vezes mais tempo — resmungou Rony antes que Harry pudesse responder. — E quem sabe que perigos nos esperam nas colinas? Não. Acho que devemos seguir conforme planejamos.
— Também concordo — Harry acrescentou. — Portanto, são dois contra um.
— Não! — Jasmine contestou. — Kree e Filli votam comigo.
— Kree e Filli não têm direito a voto — retrucou Rony, finalmente perdendo a paciência. — Jasmine, ou você nos acompanha, ou volta para as Florestas. A decisão é sua.
Dizendo isso, ele se afastou acompanhado de perto por Harry. Jasmine, após um longo minuto, caminhou devagar atrás deles. Mas sua expressão estava carregada e, nos dias que se seguiram, ela ficou cada vez mais séria e silenciosa.
Harry estava de tal modo imerso em pensamentos que quase se chocou contra Rony, que parara abruptamente numa curva da trilha. Ele começou a se desculpar, mas Rony pediu-lhe silêncio com um gesto e apontou.
Eles haviam chegado ao final do caminho ladeado por árvores e, diretamente à sua frente, abria-se um enorme abismo em que rochedos íngremes e áridos exibiam um brilho rosado sob a luz do Sol. Sobre o precipício assustador, pairava uma ponte estreita feita de corda e tábuas. Em frente à ponte, via-se um homem enorme de olhos dourados e pele escura que segurava uma espada perversamente curva.
Como uma ferida aberta na terra, o abismo se estendia à direita e à esquerda até onde a vista podia alcançar. O vento soprava através dele emitindo um som suave e sinistro, e enormes pássaros marrons com asas muito abertas investiam sobre as rajadas como se fossem imensas pipas.
Não havia como atravessar a não ser pela ponte oscilante. Contudo, o gigante de olhos dourados que permanecia em guarda, imóvel e sem piscar, barrava-lhes o caminho.
N/A: Continuação de Deltora Quest - as florestas do silêncio...
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