Capítulo 1



Capítulo I

No dia posterior à minha chegada acordei bem cedo, me arrumei e fui tomar café na cozinha. Quando entrei encontrei os outros empregados sentados à mesa, conversando. A governanta Sophia, a senhora que tinha me atendido no dia anterior puxou uma cadeira e mandou que sentasse.
“Bom dia, querida. Dormiu bem?”- ela perguntou
“Sim, obrigada.”- falei me servindo de alguns pães, suco e um pedaço de bolo de chocolate delicioso.
Eles ficaram me olhando impressionados com minha fome, mas eu não tinha culpa.A fome ainda era uma novidade para mim, porque tipo, no céu, os anjos não se alimentam do jeito que os seres humanos fazem, por isso, enquanto eu estiver neste corpinho humano tenho que provar dessas delícias.
Depois que comi e conversei bastante, fui para o quarto de Will, mas ele ainda dormia. Preferi não acordá-lo e fui direto para o jardim.
O lugar era sombrio, cheio de galhos e folhas caídos, por esse motivo decidi limpar o ambiente, nada melhor que tirar aquele aspecto assustador do recinto.
Pedi à Sophia uma vassoura, um facão e uma escada, além de uma sacola bem grande. Ela ficou meio assustada, talvez pensasse que fosse matar alguém, mas acabou me cedendo todo o material.
Para mim aquele trabalho era fácil, afinal eu era o anjo encarregado de limpar os jardins lá de cima. Comecei arrancando os galhos quebrados, mas quando já estava no final, em um galho mais complicado acabei me desequilibrando e caindo.
Claro que se estivesse com minhas asas seria bem nais fácil, mas a verdade é que caí em cima de um rapaz loiro e carrancudo, que logo mais reconheceria como sendo meu patrão, Draco Malfoy.
Eu levantei depressa e disse:
“Desculpe, Sr.”
“Mas quem é você, algum tipo de maluca?”- ele gritou ao mesmo tempo em que se levantava.
“Meu nome é Ginevra Weasley, sou a nova babá do seu filho.”
“Muito bem. Agora não tenho tempo para apresentações. Depois conversaremos.”- ele falou rispidamente saindo no mesmo instante.
Por Deus, que homem grosso!
Bem que Gabriel me disse para ter cuidado, mas fazer o que se logo quando eu estava caindo ele foi passar?
Preferi não dar importância a ele e continuei com meu trabalho.
Algumas horas depois o jardim parecia realmente um jardim, sem galhos e folhas no chão, quem quisesse poderia até rolar na grama aparada.
Depois de me trocar subi para ver Will e o encontrei sentado na cama lendo um livro.
“Bom dia, Will? Você dormiu bem?”- perguntei
Silêncio total.
“Qual livro você está lendo?”- tentei de novo
Nada.
E assim fiz durante os dias seguintes.
Nada acontecia, o menino nem olhava para mim.
E tudo bem, eu sou um anjo alegre, feliz e saltitante, mas aquela situação já estava começando a me irritar.
Em um belo dia, entrei no quarto e disse:
“Bom dia, Sr. William.”
Nada, o menino era tão mal educado quanto o pai.
Sem esperar respostas, fui até as janelas e comecei a abri-las e como se estivesse sozinha no quarto comecei a falar:
“Que dia lindo! O sol brilha forte, os passarinhos cantam e pulam de galho em galho nas árvores, o vento traz o perfume suave das flores. Obrigada, Senhor, por este dia maravilhoso!”
Ele se manteve em silêncio e eu, que não desistia nunca, disse:
“Venha, Sr. William, olhe que dia bonito está lá fora.”- falei segurando o braço dele, mas na mesma hora ele afastou minha mão com um tapa forte.
“O que foi isso? Você não sabe que é feio bater nas pessoas? Papai do Céu não gosta disso.”
“Eu não acredito Nele.”- o menino falou e juro por Ele que eu me assustei.
Primeiro: como alguém pode não acreditar na pessoa que criou esse mundo inteiro?
E Segundo: o menino falou? Ou eu já estava começando a ter alucinações?
“Por que você diz isso?”
“Porque se ele existisse minha mãe não teria morrido.”
“A culpa não é Dele, querido. A vida tem começo, meio e fim, um dia todo mundo terá que partir. Sua mãe fez uma viagem, mas agora ela está lá em cima, olhando por você.”
“Mas eu queria que ela estivesse aqui comigo.”- ele falou com os olhos azuis cheios de lágrimas.
“Querido, um dia você vai entender que quando chega a hora de viajar, não tem como adiar. E também daqui a alguns anos, tipo, muitos anos, vocês vão se encontrar novamente, essa separação é momentânea.”
“Eu sinto tanta saudade.”- ele falou chorando e soluçando, como se guardasse aquela dor há muito tempo.
Abracei-o e dexei que o pranto lavasse seu coração tão novo, mas tão sofrido.
Depois de algum tempo o menino se acalmou e disse:
“Desculpe, Srta. Weasley.”
“Ah que nada, Will! Quer dizer, Sr. William.”
“Pode me chamar de Will.”- ele falou sorrindo
“Então pode me chamar de Ginny.”
Ele sorriu e eu completei:
“Agora vamos para o jardim, você precisa de um pouco de sol.
Ele concordou e descemos, no caminho os empregados olhavam para nós como se estivessem vendo uma assombração.
Fomos para o jardim e brincamos de tudo. Eu adorava brincar e não era à toa que meu apelido lá em cima era Moleca, o que realmente é uma falta de respeito, mas tudo bem.
No fim do dia mandei Will subir e tomar banho para esperar seu pai, ele meio que disfarçou, mas eu sabia que o pai era um assunto bem delicado.
Depois que o menino se arrumou descemos para a cozinha e ajudamos Liz (a cozinheira) e Sophia (a governanta) a prepararem o jantar. Depois de prepararmos tudo, inclusive a mesa, esperamos pelo patrão, mas as horas passaram e ele não chegou. Will acabou dormindo no sofá e decidi levá-lo para cama.
Olhei o menino dormindo e juro que tive pena daquela criança, apesar das diferenças iniciais, agora eu sabia o quanto aquele garoto era maravilhoso, esperto e engraçado, não merecia ter um pai tão ausente.
O problema de Will tinha sido fichinha na frente do Sr. Draco Malfoy, o problema de verdade ainda demorava a ser solucionado.

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