●๋• Capítulo Único



Doença


Não sei quando isso,essa doença -se é que pode ser chamada assim- começou a tomar conta de meu ser.Quando vi,ela já havia chegado sem nem pedir licença.Eu realmente não sei como isso pôde acontecer,eu fui sempre tão cuidadosa comigo mesma!

Ah,eu ainda não me apresentei,não é mesmo?!Bem,meu nome é Hermione Jane Granger,tenho 18 anos e estou no meu sétimo ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

E sabe qual é a minha doença?

Amor.


É,o amor.Uma palavra de quatro letras,com um significado infinito.Uma palavra doce que inspira tantos poetas apaixonados a escreverem poesias de amor às suas musas!Palavra que cujo significado habita em nossos corações.


Você deve estar se perguntando o porquê de eu achar um sentimento tão belo uma doença,certo?!

O que torna essa palavra tão devastadoramente prejudicial para mim não é o sentimento em si,e sim por quem eu fui sentir esse sentimento.


Tudo começou em uma tarde chuvosa.A aula de Trato das Criaturas Mágicas havia sido cancelada pela chuva ensurdecedora que açoitava as janelas das torres da escola.Eu decidi ir passar um tempo na Biblioteca,adiantar um pouco os deveres de casa.

Chegando lá,sentei num local bem ao fundo da Biblioteca,para não ser incomodada.Mas já havia alguém lá.

Ele não percebeu que eu estava ali.Então ignorei-o por completo como sempre,mesmo estranhando o seu comportamento,não falei nada e dirigi-me à mesa desejada,do lado oposto da dele.

Tentei me concentrar,mas alguma coisa me impedia.Algo estava seriamente errado.Olhei para os lados irritada,nem sabia com o quê.E então o vi novamente.E dessa vez minha raiva se transformou em confusão.


Eu me aproximei.Era impressão minha ou ele estava chorando?

Ele estava mesmo chorando.Eu cheguei mais perto e,arranjando coragem,fiz a pergunta que martelava em minha mente:

-Ei,o que houve?Você está bem?

Ele não me respondeu.Mas olhou para mim com um olhar surpreso.Pelo jeito,nunca tinham perguntado isso à ele antes.

-O que houve?-eu insisti.

-Por que você me pergunta isso?É da sua conta por acaso?-questionou ele,tentando secar as lágrimas.

Eu não falei nada imediatamente,procurando as palavras certas para responder.E,no fundo,eu sabia que eu não tinha uma resposta,até porque eu nem sabia o que havia me impulsionado para me aproximar e perguntar isso.

Decidi-me pela verdade.

-Escute,nem eu sei o porquê estou aqui,mas o que realmente importa é que eu estou,e que quero saber o que houve com você neste momento.

Eu estava determinada a saber o que estava errado com ele,e nem pensava no que as conseqüências desse ato poderiam ME causar.

Ele ficou quieto por alguns minutos.Mas eu esperei,pois eu havia feito uma pergunta e queria uma resposta.Como já disse,estava determinada.E eu devo ter transparecido isso na minha expressão facial,pois,após uma longa pausa,ele falou:

-Eu estou assim porque o mundo é injusto.

Eu não soube o que dizer.Então,confusa, apenas perguntei:

-Como assim,”injusto”?

Ele olhou para mim de um jeito único,que só ele poderia ter olhado,como se estivesse usando Legilimência ou algo assim.Aquele tipo de olhar que parece que estão fazendo uma raio-X em você,sabe?!Como se apenas com um contato visual,ele pudesse desvendar todos os meus segredos.

-Injusto.Rotula as pesssoas desde cedo,sem dar oportunidades pra elas mudarem.Tira as pessoas que nós mais amamos de nós,e não dá perdão.É como uma maldição.Você nasce sendo uma coisa por fora,e vai ter que ser essa pessoa pelo resto de sua vida.

Mais uma vez,eu não sabia o que dizer.Mas,pelo menos,de um jeito estranho,eu sabia do que ele estava falando.

-Mas,você sempre pareceu feliz com quem você é!Por que pensar sobre isso agora?-eu perguntei.

-Granger,eu sempre fingi!Eu nunca quis ser como eu sou hoje!Mas você acha realmente que eu seria mais apreciado se eu fosse do jeito que eu sempre quis ser e não do jeito que as pessoas querem que eu seja?Você acha que meu pai iria me perdoar?Você acha que eu teria algum amigo se eu não fosse digno de meu sobrenome?



Eu nem percebi quando respondi:

-Acho sim que você seria mais apreciado,e ter um certo sobrenome não significa ter uma certa personalidade!E,além disso,se você mudasse,você teria muitos amigos que gostariam de você pelo que você é,e não pelo que você tem!Você teria a mim!

Eu estava chocada com o que respondi.E ainda mais assustada porque eu sabia que tudo que eu tinha acabado de falar era absolutamente verdade!

-Você acha?-ele perguntou,olhando-me fixamente.

-Eu tenho certeza.-eu respondi.

Ficamos em silêncio por algum tempo,um encarando o outro,sem piscar.

Então,ele falou:

-Como eu queria que fosse fácil assim.

-Fácil assim o quê?-eu perguntei.

-Ser eu mesmo.-ele respondeu num suspiro cansado.

Eu não sabia exatamente o que dizer,então,perguntei:

-Ei,o que realmente aconteceu para você ficar assim de repente?

Ele me deu mais um de seus misteriosos olhares,como se estivesse me analisando.Finalmente,ele perguntou::

-Quer mesmo saber?

-Sim.-eu respondi com aquela mesma expressão determinada.

Para minha surpresa,ele tirou uma carta do bolso e me entregou.E então eu soube o que
havia causado essa “crise existencial” nele.

A mãe dele havia acabado de falecer.

Eu estava chocada,sem saber como agir,ou o que dizer.Mas ele me poupou disso e logo
falou:

-Por favor,não sinta pena de mim e nem diga aquele típico “sinto muito”.Eu não agüentaria mais alguém olhando para mim como se eu estivesse no meu leito de morte.

Com a voz um tanto falha,eu perguntei:

-Foi por isso que você se escondeu aqui?

-Eu não me escondi Granger,eu simplesmente estava cansado de escutar as pessoas tentando me consolar mas só fazendo eu me sentir pior.

Eu não sei por qual razão eu fiz aquilo,e eu ainda penso que se eu não o tivesse feito,bem,eu não teria me metido nessa sinuca de bico.

Eu me aproximei sem falar nada e o abracei.Eu o abracei!!

Ele levou um susto quando eu fiz isso,mas não me afastou.Eu estava tão surpresa quanto ele,acredite.

Mas aquilo,naquela hora,parecia o certo.Não porque a mãe dele havia falecido,não porque ele havia se aberto comigo.Simplesmente era o certo.Pelo menos,foi isso que eu senti,e eu não tenho certeza,mas eu acho que ele sentiu isso também.

Não dissemos uma palavra.Não nos olhamos nos olhos.Não nos movemos.Nós só ficamos ali,eu abraçando ele e,depois do choque,para minha surpresa,ele retribuiu o abraço.

Não sei quanto tempo ficamos daquele jeito.Talvez minutos,talvez horas.Quando eu vi,já era noite,mas eu não estava nem um pouco a fim de deixá-lo ali sozinho.

Teve uma hora que eu percebi que ele estava chorando silenciosamente.Mas,em respeito à ele,fingi que não havia visto.


Após algum tempo,finalmente,ele se desvencilhou de mim,e se levantou,ficando de costas para mim.Eu sabia que era para esconder as lágrimas,pois quando ele falou,sua voz estava um pouco embargada:

-Há uma coisa que eu ainda não entendo.

-O quê?-eu perguntei gentilmente.

-Por que você fez isso?-ele perguntou.

-Isso o quê?-perguntei confusa.Mas,no fundo,claro que eu sabia do ele estava falando.

-Isso.Ser legal comigo,deixar eu me abrir com você.Eu a atormentei por tantos anos!Era pra você me odiar!!

-E eu odeio.Mas eu odeio a pessoa que você aparenta ser.E agora odeio mais ainda o fato de você esconder quem você realmente é.-eu respondi.

Ele se virou para mim,se aproximando até ficarmos a um palmo de distância um do outro.E então,olhando-me nos olhos,perguntou:

-Mas e a parte verdadeira de mim?O que você sente pelo meu eu oculto?

Eu pensei um pouco.Eu realmente não havia pensado nisso.Após algum tempo,suspirei e respondi:

-Sinceramente,eu não sei.Mas ódio não é,com certeza.

Eu não sei como o que aconteceu depois ocorreu.Ele falou algo que eu não escutei,e então,ele simplesmente,como se fosse a coisa mais natural do mundo,me beijou.

Nós nos perdemos no tempo e no espaço.Eu não queria voltar à realidade.Aquilo parecia tão certo e tão errado ao mesmo tempo!Mas eu não consegui parar.Beijei-o de volta intensamente,como se não houvesse o amanhã.

E então,para o meu choque,ele parou o beijo e disse:

-Isto não está certo.Me desculpe.

E saiu correndo da Biblioteca.Eu fiquei parada ali,olhando para o nada,embasbacada com o que acabara de acontecer.

No dia seguinte,ele passou por mim,como se nada tivesse acontecido,no seu jeito empertigado e arrogante de sempre.

E desde então eu estou doente.Doente de uma doença incurável.Doente de amor.Desde que vi a verdadeira face de Draco Malfoy.

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