Bem que se quis
De: Pino Daniele
Versão: Nelson Motta
Gravação: Marisa Monte
Os olhos arregalados, seu corpo estático, gélido, mórbido.
Um baque surto e a queda. Estava morto...
Um grito que misturava fúria, desespero e frustração. Seu amigo, seu melhor amigo, havia morrido, por culpa dele, nem que fosse indiretamente. Ela, Bela (para os mais íntimos) por vingança, o matou. Harry chorava sobre o corpo de Rony.
-Quando isso vai parar? – Ele estava com ódio.
-Harry... – Hermione se aproximava dele lentamente, nunca tinha visto Harry naquele estado. Ela, estranhamente, não chorava.
-Vá embora, Hermione! -Ele gritou, já de pé (como ele se agüentou de pé é um mistério). – Não se aproxime de mim. – Diss – Gr olhos inchados.
-Mas Harry...
-Vá embora! Eu já disse! Não quero que tenha o mesmo fim... O fim de Rony. Eu sou perigoso pra você.
-Não, não é! – Ela falou tremula. – Não vê? Isso não vai acontecer de novo. Voldemort foi derrotado!
-Saia já daqui! – Gritou Furioso.
-Você nunca mandou em Mim, Potter. – Ela disse secando algumas lágrimas que persistiam em cair. – Não vai ser agora que vou lhe obedecer.
-Se você não vai, eu vou. – Mas não saiu do lugar, já não tinha forças.
Ela foi se aproximando lentamente e o abraçou, forte. Ele resistiu, mas logo estava “arreado” nos braços da amiga.
Bem que se quis
Depois de tudo
Ainda ser feliz
Mas já não há
Caminhos pra voltar
O que é que a vida fez
Da nossa vida?
Ficaram abraçados por muitos segundos, minutos, talvez horas. Algum tempo depois, Dumbledore como de costume, chegou ao local. Hermione, que estava ainda mais controlada, contou tudo para o professor, Harry não tinha condições, estava muito abalado para reviver tudo o que havia acontecido àquela noite.
-Vamos. – Disse ela acariciando os cabelos ainda mais rebeldes do rapaz. – Você precisa ir ver madame Pomfrey.
-Mas e o... ?
-Eu cuidarei de tudo. – Disse Dumbledore. – Vá descansar. - Harry assentiu.
-Você consegue andar?
-Consigo. – Disse andando com tanto esforço que Mione foi ajudá-lo.
-Sabe, pedir ajuda às vezes, não dói. – Disse num pequeno sorriso, passando a mão por seu ombro para ajudá-lo a se sustentar. Foi muito difícil, porque Harry quase dava dois de Hermione, além de ser mais forte e pesado.
****
-Ele precisa ficar esta noite aqui. Tem que descansar. – Dizia Pomfrey para Hermione, que, graças a Merlin - pensamento de Harry, só teve algumas escoriações. – Sr. Potter. Aqui, beba isso, poção sonífera. – Harry pegou e bebeu de um gole só. Logo, seus olhos pesavam e ele lentamente os fechou, caindo enfim no sono dos justos. Hermione tirou seus óculos.
-Posso ficar aqui, só esta noite? – Perguntou Hermione, que em nenhum momento saiu de perto dele, Er... Quero dizer, quase em nenhum momento, não ficou só quando ele foi pôr o pijama...
-Acho melhor a Srta. ir descansar. – Disse severa como sempre. Hermione fez sua melhor cara de “deixa, por favor”. Madame Pomfrey suspirou. – Tudo bem. – Mione deu um sorriso radiante.
-Obrigada. – Murmurou.
-Fique com aquela cama ali. – Disse apontando para uma cama que estava do lado direito da de Harry.
-Certo. – Mas continuou na cadeira totalmente desconfortável, porém mais próxima do garoto. A mulher se retirou.
O que é que a gente não faz
Por amor?
-Ok. – Disse ela. – Você está aqui sozinha com ele e ainda tá acordada há essa hora. – Disse se aproximando mais de Harry. - E falando sozinha, com medo que alguém descubra... Certo, é melhor não... – Sentou na cadeira novamente. Aproximou -se novamente e acariciou o rosto familiar dele, que parecia tão tranqüilo.
Franzia a testa.
Quando foi que começou a sentir algo diferente por seu melhor amigo?
Ah! –Ela pegou-se pensando.
Talvez naquela vez que ele estava de sunga em minha piscina, nas férias do sexto ano para o sétimo. Que corpo!
Não, não foi...
Ah! Sim, como pode esquecer?! Quando ele disse que ficou preocupado no quinto ano!
Ainda não.
No mesmo quinto ano quando ele me disse que não me achava feia?
An An... Mas uma chance:
No dia em que ele me salvou dos dementadores?
Não...
Ela engasgou:
-Oh! Merlin! Não pode ser! –Disse chocada. – Terceiro ano, em uma das visitas para Hogsmead onde ele não pôde ir. Ele, mesmo assim, foi com a capa de invisibilidade, Jorge e Fred lhe mostraram aquela maldita passagem. Ele me perguntou com um sorriso se eu ia dedurá-lo, eu corei e respondi que não. – Disse ainda estado de choque. – Eu corei não porque ele achou que eu ia dedurá-lo, como eu pensei. Mas, sim por causa daquele sorriso maroto! – Ela pôs a mão na boca. Como ela se lembrou disso? Naquela época nem deu importância. E agora veio tão nítido que não tinha o que discutir.
-Harry. Eu... – Ela parou e pensou. - Eu sei, estou ridícula, falando com alguém que esta dormindo e com toda certeza não está ouvindo... – Suspirou. Ela tinha que dizer, mesmo ele sem ouvir, talvez fosse até melhor assim... Tentou novamente:
Mas tanto faz
Já me esqueci
De te esquecer porque
O teu desejo
É o meu melhor prazer
E o meu destino é querer
Sempre mais
A minha estrada corre
Pro seu mar
Acho que estou te amando... – Disse baixinho. – Na verdade, tenho certeza, mas você não precisa saber, ou precisa... Eu não sei. – Disse segurando levemente o rosto dele. – A verdade é que eu estava a negar pra mim mesma deste que você me contou da profecia. – Ela olhou nervosamente pra ele. Tinha plena consciência do que falava e isto, bem, isto a assustava. – Não queria me apaixonar por alguém que tinha certeza que ia morrer, estava com medo de te perder, – Ela baixou os olhos. – muito medo. Passei noites em claro depois daquele dia. Pesquisava, buscava, lia livros e mais livros, para tentar te ajudar. E hoje, eu respiro aliviada, e posso dormir sem esse peso, sem precisar me preocupar com o próximo plano mirabolante que Voldemort vai criar pra tentar te matar... Porque você o derrotou. Talvez esteja parecendo egoísta, mas eu fiquei muito aliviada de te ver vivo. Claro que eu me sinto mal por perder o Rony, mas acho que se fosse você eu não conseguiria me controlar como fiz esta noite... – Disse voltando a olhá-lo. Ela se aproximou pela milésima vez naquele dia dele e desta vez lhe beijou os lábios levemente.
Agora vem
Pra perto vem,
Vem depressa vem sem fim
Dentro de mim
E ela desejou, desejou com intensidade que ele fosse feliz, sento com ela ou... Não.
Harry podia não sentir, mas aquele leve e rápido beijo pra ela, significou toda e mais um pouco da alegria do mundo. Claro que não se compararia se ele sentisse o mesmo.
Hermione, intimamente, queria que ele estivesse acordado e que tivesse ouvido toda a sua declaração.
Deitou-se, finalmente, em sua cama e dormiu.
Que eu quero sentir
O teu corpo pesando
Sobre o meu
Vem meu amor
Vem pra mim me abraça devagar
Me beija e me faz
Esquecer
Harry acordou pela manhã normalmente, não tão normal assim, ele se lembrou que perdeu seu amigo...
Colocou seus óculos, que estavam no criado mudo, ao lado da cama. E viu, uma Hermione coberta com uma colcha colorida, toda encolhida. Ele deu um fraco sorriso, se levantou e foi na direção daquela bela moça.
-Mione? – Ele se sentou na cama dela.
-Harry? Já está acordado?! – Ela se sentou na cama.
-Acho que o efeito do sonífero passou. – Disse com aparência meio cansada.
-Acho que você deveria se deitar. – Disse em repreensão. – Você não está com uma cara muito boa...
-Eu nunca tive uma cara muito boa. – Ela o olhou, indignação estampada em seu rosto. Ele sorriu.
-Não seja ridículo. Estou falando sério, você precisa descansar.
-Já descansei demais. – Disse simplesmente.
-Mas...
-Você só me leva pr’aquela cama, amarrado, Hermione. – Disse sério.
-Você é que vai ficar doente mesmo! – Disse virando a cara.
-E você vai cuidar de mim, não é? – Ela ainda se recusava a olhá-lo “Como ela pode ser tão cabeça dura? Ok, não mais do que eu”. Então ele a abraçou e ela ficou sem reação. – Para com isso, Mione. Eu quero te agradecer, se não fosse por você, ontem acho que faria uma grande besteira.
-Não precisa. Faria isso por qualquer um.
-Mesmo?
-Claro.
-Vamos? Eu quero ir pra aula hoje. – Disse com um olhar pequeno.
-O que? Nem pensar! Você não vai sair daqui. E eu juro, - Disse quase a subir em seu pescoço. – Se for preciso eu te amarro nessa cama!
-Você também fazia isso com os outros? – Ele perguntou sorrindo. Ela corou um pouco.
-Por que você brinca quando estou falando sério? – ela cortou.
-Só pra te irritar. – Disse casualmente.
-Besta! – Ela bateu nele.
-Ai. Sabia que eu ainda tô debilitado? Vai ficar uma marca que nunca mais vai sumir. – Disse fazendo drama. – Igual minha cicatriz. E quando eu tiver meus filhos vou dizer que a mã... Madrinha deles que fez isso. – Ele disse a sorrir e ela ficou meio chateada e uma palavra martelava sua cabeça “madrinha”... – Mione?
-Hã? – Estava imersa em pensamentos, em seus pensamentos.
-Essa era a parte que você ria. Entende? Rir, sorrir, gargalhar. – Ela deu um sorriso amarelo. – Não era isso que eu tinha em mente, mas por enquanto serve. – Disse estranhando.
Bem que se quis
Depois de tudo
Ainda ser feliz
Mas já não há
Caminhos pra voltar
O que é que a vida fez
Da nossa vida?
O que é que a gente não faz
Por amor?
– Oh! Harry, querido, como está? – Perguntou a Sra. Weasley horas depois da conversa meio estranha com Hermione.
-Estou indo... E a senhora, como está?
Ela deu um sorriso nervoso.
-Alvo quer falar comigo, só dei uma passada rápida aqui, pra ver você.
Harry a olhou como se não a conhecesse. “Ela ainda não sabe”
-Obrigada senhora Weasley. – Ele deu um pequeno e sincero sorriso. Ele a abraçou forte. – Conte sempre comigo, certo?
-Certo. – Ela estranhou. – Eu que digo isso pra você, querido. Você sempre é bem-vindo na nossa casa.
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“Madrinha”
Isso ecoou no ouvido de Hermione o dia inteiro.
-Srta Granger. Srta Granger.
-Quê? – Ela perguntou e depois percebeu que ela a professora Minerva que lhe chamava, ela era a única aluna na sala. – Quero dizer, sim professora?
-Você está bem, Hermione? Não estava atenta a aula. Não respondeu nenhuma de minhas perguntas. – Hermione corou.
-Desculpe... É, é que... Que estava pensando em tudo que aconteceu... – Ela olhou incerta a profª, que estava a fitá-la. – Ontem e...
-Certo. Eu entendo. Não sei como a srta. veio a aula. – Disse com seu típico olhar.- Estou lhe dando o dia de descanso. Agora vá.
-Sim. E obrigado. – Minerva deu um sorriso triste para menina.
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Mas tanto faz
Já me esqueci
De te esquecer porque
O teu desejo
É o meu melhor prazer
E o meu destino é querer
Sempre mais
A minha estrada corre
Pro seu mar
Harry estava achando que estava ficando meio doido, ele agora estava indo pro dormitório feminino com sua famosa capa, no meio da noite! O que ele estava fazendo ali?
Mas agora era diferente ele decidiu contar, contar tudo o que estava o deixando sem dormir a algum tempo, ou tento “sonhos nada aconselháveis com a sua amiga” como falava antes de entender.
Viu o corredor vazio. Então ainda com a capa bateu na porta dela.
Hermione que estava pensando em como a vida era injusta e tal, se perguntou quem seria àquela hora. Colocou seu roupão e entreabriu a porta, não tinha ninguém mais para seu espanto:
-Mione. Sou eu, Harry. Deixa eu entrar.
-Harry! O que você tá fazendo aqui?! – Perguntou alarmada. – Esse é o dormitório feminino, sabia?! - Sussurrava
-É, eu sei, eu sei. Mas eu quero falar com você.
-E não pode ser amanhã, não?
-Você vai me deixar entrar ou não? – Perguntou impaciente. Ela suspirou.
-Entra. – abriu a porta. “Isso não vai dar certo! E se você tentar agarrar ele?” sua mente gritava em reprovação.
_____________
-Eu, eu queria... – Ele tentava falar. – Eu queria...
-Tá. Você quer o que? – Ela perguntou sentando do lado dele em sua cama. “Isso não é bom...”.
-Eu queria saber o que te deu esta tarde.
-Em mim? Nada. – Ela franziu a testa. – Por quê?
-Eu não sei. Você ficou estranha depois da brincadeira. Se você não gostou, era só falar...
-Ah! Nada a ver. Eu só estava pensando em outra coisa. E nem prestei atenção na piada. Você pode repetir? – Como era uma boa atriz, seria fácil fingir. Já Harry achou uma ótima oportunidade:
-Certo. Foi assim, você me bateu. – Ela assentiu e o bateu. Ele olhou pra ela e ela sorriu maldosa.
-Pra ficar igual. – Ele balançou a cabeça.
-Então eu disse:
-Ai. Sabia que eu ainda tô debilitado? Vai ficar uma marca que nunca mais vai sumir. Igual minha cicatriz. E quando tivermos nossos filhos, vou dizer que a mãe deles que fez isso.
Ela arregalou os olhos, ela com certeza não ouviu isso. Harry analisava sua reação cuidadosamente:
-Você não riu de novo. – Ela agora estava perdida, ela... O que ela queria falar?
-É que... É que eu acho que entendi errado. – Ela disse balançando a cabeça.
-Não. Foi isso mesmo que você ouviu. – ele a fitava. – E o que acha?
-Haha. – forçou um riso. - Ótima piada. Quase que eu cai.
-Hermione.
-Oi? – Perguntou distraída. Ela estava ouvindo ele diversas e diversas vezes falar a “tal piada” em sua mente, como um gravador. E seu coração acelerava cada vez mais.
-Você não gostou da piada não é mesmo? – Ele perguntou quase num sussurro.
-Gostei! Claro que gostei. – Disse sentindo um cheiro apimentado e quente, de onde vinha aquele cheiro?
-Mas eu acho que não. – Disse no ouvido dela. – E na vida real você gostaria?
-Ã?! – Ela o olhou e logo percebeu que o cheiro apimentado vinha de Harry e também que ele estava a poucos centímetros de seu rosto.
Ela sem quer ou querendo, não sabia mais de nada, qual era o seu nome? Isso importa mesmo agora?! Inclinou a cabeça para o lado, quando ele se aproximou mais dela.
Agora vem
Pra perto vem,
Vem depressa vem sem fim
Dentro de mim
Seus lábios se tocaram, conheceram, exploraram. Em pouco tempo as mãos de Harry trilhavam pelo corpo da moça. E ela, ela nunca tinha sentido uma coisa tão surpreendente. As unhas de Hermione travavam nas costas dele, pedindo, exigindo que ele continuasse. Ela sentiu que se parasse poderia morrer...
Que eu quero sentir
O teu corpo pesando
Sobre o meu
Vem meu amor
Vem pra mim me abraça devagar
Me beija e me faz
Esquecer
-Eu te amo, Hermione Granger. – Disse olhando nos olhos dela com tão intensidade que ela só pôde sorrir de felicidade e puxá-lo para mais um beijo.
-Eu também te amo, Harry. – Ela disse segurando seu rosto e dando um beijo em sua testa. – Muito.
Bem que se quis...
*Fim*
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