'falando com os mortos
Bem... Harry supunha que talvez ter as coisas assim às claras fosse mais fácil de suportar que a tensão que havia entre os três ultimamente. Isso porque obviamente ele não contara com o fato de que a notícia se espalharia tão rápido assim pelo colégio. – pensou ele novamente ainda apertando o pedaço de percaminho na sua mão enquanto caminhava pelos corredores em passos largos.
Harry não falara com Hermione durante o dia inteiro, (ou talvez fosse o contrário), e quanto a Rony, nem ao menos o vira... Com a sensação de que o amigo não faria muita questão mesmo, Harry olhou o relógio pendurado na parede ao seu lado para descobrir que estava atrasado. Conferindo o horário no bilhete, ele virou em direção a um lance de escadas seguindo para a biblioteca.
Não tinha exata certeza do porque recebera o recado da amiga. Ela apareceu extremamente irritada após a última conversa que os dois haviam tido, pelo menos fora essa a impressão que Harry tivera. Se bem que o fato do bilhete ter sido entregue por uma das corujas da escola fazia jus às suas suspeitas...
Ligeiramente irritado pelo fato da amiga nem ao menos ter tido a decência de entregar-lhe o bilhete pessoalmente, lê abriu o pedaço de papel novamente, pela quinta vez. Lendo o conteúdo que já fora lido várias e várias vezes, Harry não demorou muito tempo para perceber que estava nervoso... De novo.
O que ela queria de qualquer forma? Afinal, fora ela quem o largara sozimnho na torre de astronomia na noite anterior certo? De fato ainda havia uma vozinha em sua mente que lhe dizia que ele nem ao menos deveria estar se fazendo essa pergunta, que nem ao menos deveria estar ali... Mas ainda sim... Havia algo, algo que o motivava...
E nesse ponto ela estava certa. Ele sentia sim algo, que as coisas entre eles haviam mudado... O quanto, ou porque ele não sabia. Bem... ele sabia. Mas ainda sim, existe um grande abismo entre saber e admitir algo para si mesmo... Especialmente quando tal ato implica em magoar seu melhor amigo...
Harry abriu a porta da biblioteca ainda imaginando o que diabos ele estava fazendo ali. Correndo os olhos rapidamente pelo local encontrou a bilioteca completamente vazia. Estava tarde, e exceto por alguns alunos do quinto ano, o resto dos estudantes estariam provavelmente em suas respectivas comunais. Talvez falando sobre eles... – pensou Harry amargamente em seguida, não demorando em localizar Hermione sentada em uma das mesas no canto do salão. Seguindo e direção
à amiga, Harry avistou Rony em pé encostado em uma das estantes. E pelo olhar do garoto, ele também parecia surpreso e não muito feliz em encontra-lo ali.
Se levantando da cadeira à chegada de Harry, Hermione que pareceu farejar outra discursão entre os dois, se tornou ainda mais mal-humorada ao ouvir o incômodo estampado na feição de Rony. E ainda que com oum sussurro urgente, foi clara a revolta dela:
- Oh Rony, pare! – sibilou ela, enquanto ele a fitava indignado. Pelo menos ele não era o único com o qual ela estava irritada, pensou Harry inevitavelmente satisfeito. – Agora ouçam. Vocês dois querem se matar de pancada, ótimo! Por que eu não ligo mais! – sibilou ela. Rony pareceu prestes a responder, mas foi logo interrompido por ela – Mas caso vocês não tenham percebido, nós temos um problema imenso nas nossas mãos. E eu espero honestamente que vocês sejam maduros o suficiente para deixar esse machismo idiota de lado e resolver isso de uma vez! Eu só... – e aqui ela pareceu amolecer um pouco.- Eu só queria que vocês pelo menos se lembrassem de que são amigos por mais de cinco anos... Não vale à pena jogar isso fora por uma besteira... – um silêncio se passou onde Harry observou o amigo lhe lançar olhares, ligeiramente inseguros. Disposto a colocar as diferenças de lado para resolver aquilo, esmo que temporariamente, Harry foi o primeiro a concordar com a amiga:
- Ok... –murmurou ele.
- Que seja... – retrucou Rony segundos depois.
- Bom. – concluiu Hermione parecendo um pouco mais calma. – Agora... Eu não tenho muita certeza de com que estamos lidando exatamente...
- Poderia ser um fantasma...- sugeriu Harry se lembrando do ataque falho da noite anterior.
- Então agente descarta qualquer possibilidade de ser uma pessoa?- retrucou Rony.
- A única forma de uma pessoa ter feito aquilo seria aparatando, e ninguém...
- Ninguém aparata nos terrenos da escola... Certo Hermione... Esquece. –completou Rony com uma conotação ligeiramente ácida... Que foi ignorada pela garota.
- Então não pode ser uma pessoa... Poderia ser um poltergist. –insistiu Harry.
- Ou algo pior... - acrescentou Hermione.
-Bem... Isso é reconfortante...- sibilou Rony.
-Não... Não faz sentido... –continuou Hermione, com o olhar vago, obviamente com a mente a mil. – Poltergists são geralmente associados a locais, não pessoas... Além do mais, não tem como ele saber tanto sobre agente... Sendo um poltergist, eu quero dizer... – ainda presa em raciocínio ela perguntou fazendo pouco sentido - Que dia é hoje?
- Quarta... – respondeu Rony, olhando a amiga com estranheza.
- Do mês.
- Dois, porque? – perguntou Harry em seguida, também observando a amiga, que pareceu despertar de um tranze.
-Não, por nada... – desconversou ela.
- Como ele sabia tanto sobre agente, pra começo de conversa? – questionou Rony.
- Eu não sei... – respondeu Harry, também intrigado. – Mas aumenta ainda mais o risco de sermos atingidos, certo?
- Pelo menos ele não pode nos atingir fisicamente... – comentou Rony parecendo aliviado. Se voltando para a amiga curioso ele perguntou, quase como se lesse os pensamentos de Harry. – Como você sabia disso de qualquer forma?
- Eu... Um palpite, eu acho... – retrucou Hermione desviando os olhos. – Bem. Já que nós não temos muita noção de com que estamos lidando, eu sugiro que agente cubra toda a sessão até encontrarmos algo que bata com o que procuramos...
- Isso vai levar dias! – reclamou Harry.
- Semanas! – apoiou Rony em seguida.
- Bom, quem tiver uma sugestão melhor eu sou toda ouvidos... – ambos se calaram. – Foi o que eu pensei... – concluiu ela, e continuou metodicamente - Seria bom se começássemos isso hoje, afinal nós temos muitos livros à frente.
Dito e feito. Harry conhecia a amiga por tempo suficiente para saber que não deveria argumentar em determinadas ocasiões, tais como aquela. Às exatas onze e meia, os três se encontraram em frente ao retrato da mulher gorda, seguindo logo em direção à biblioteca sem uma palavra sequer.
- Ok... –começou Hermione. – Rony, você fica com as três primeiras prateleiras. – disse ela apontando à direita dos garotos. –Harry, você fica com as três logo em seguida, e eu pego as outras três... Quando acabarmos, nós seguimos para as próximas...
A última frase não foi exatamente o que se poderia chamar de animadora... Havia ainda muito livro para checar, e o fato de não se ter muita noção do que procurava, não era necessariamente o que Harry chamaria de positivo...
Meia hora havia se passado, e Harry ainda não achara nada. O suspiro de frustração vindo do outro lado da estante significava que Hermione estava tendo a mesma sorte que ele. E Rony não era muito diferente:
- Pode ser uma maldição... – sugeriu ele duas estantes atrás de Harry. – Eu tirei cinqüenta pontos de Smith semana passada... Poderia ser isso.
Harry sentiu um relutante sorriso surgir no seu rosto, à sugestão do amigo. Seguido de uma pontada ao lembrar que talvez o termo já não se aplicasse mais à situação em que os dois se encontravam...
Pegando o primeiro livro à sua frente, Harry seguiu para a mesa mais próxima e abriu-o na primeira página:
- Hermione... – ele pode ouvir a voz de Rony ao se aproximar de onde a garota estava.
Pelo canto do olho , Harry pode observar o amigo se aproximar dela, que ainda tinha os olhos fixos no livro à sua mão. Apurando os ouvidos mais do que nunca, e prestes a largar o livro e seguir em direção aos amigos como quem não quer nada, Harry parou de ler e se concentrou discretamente na conversa entre os dois:
- Hermione eu...
- Rony. – disse ela se virando e fechando o livro nas mãos, e mesmo de longe, Harry pode perceber que a garota evitava os olhos dele. – Olhe...
- Tem algo que eu qu... – começou ele. E Harry sentiu uma extrema inquietação.
- Não.
- O que?- retrucou ele.
- Eu sei o que você quer dizer... Não diga. – pediu ela, ainda de cabeça baixa.
- Mas...
- Olhe, eu... Eu não posso fazer isso agora certo? Eu não posso...
- Herm...
- Não. Eu não posso lidar com isso agora. Nem com você, nem com ele... – cortou ela, com a voz trêmula. – Eu sinto muito... Mas eu não posso...- disse ela, se virando novamente e seguindo para a mesa onde Harry estava.
Mais uma hora de silêncio se seguiu após Rony se juntar aos dois na mesa. A cabeça de Harry fervilhava conjecturando a conversa tida entre os dois amigos. O que ela quis dizer com aquilo? E o que diabos Rony achava que ia falar para ela? –pensou Harry novamente sentindo uma irritação característica.
- O que foi isso? – murmuou Rony, arrancando de seus pensamentos.
- O que? – perguntou ele. Se voltando para a amiga, mas Hermione também pareceu ter ouvido algo.
- Espere... – murmurou ela, com um franzido na testa.
O silêncio tomou conta do local novamente para ser quebrado por um fraco murmúrio.
- O qu...
- Shsh! –cortou Hermione agora se levantando e olhando ao redor. Seguindo o gesto da amiga, Harry também se levantoupuxando a varinha do cós do jeans, sendo logo acompanhado por Rony.
- Talvez seja uma coruja... – sugeriu Rony, visivelmente desejando tal.
- Não...
- Hermione está certa... – murmurou Harry, olhando ao redor lentamente. – Parece mais...
-Uma risada... – completou a garota.
Ela estava certa. – pensou Harry agora parando para prestar mais atenção. Mas não era qualquer risada, era quase como se fosse, uma risada... Uma risada de criança...
- De onde isso está vindo?- sussurrou Rony, e tão logo ele concluiu sua fala, eles obtiveram a resposta.
- Ali! – apontou Harry sentindo o ar faltar nos pulmões. Uma garotinha acabara de passar por trás deles, sumindo entre as prateleiras.
O primeiro pensamento que Harry teve foi de que estava delirando, o que uma garotinha estaria fazendo aqui? Em Horgwarts? Afinal pelo que ele vira, ela não parecia ter mais que sete anos...
- Onde? – perguntou Rony se virando.
- Ali. – respondeu Hermione com a voz trêmula, seguindo em direção ao local onde a menina aparecera em disparada, passando pelos corredores de livros na biblioteca escura.
- Hermione... – chamou Harry. Mas foi inutíl.
- Não... Eu vi, ela... Eu... – murmurou ela ainda percorrendo pelos corredores.
- Oi... – uma voz fina e delicada se fez ouvir no local, rapidamente as três varinhas apontaram para o mesmo ponto, a entrada da biblioteca. E lá estava ela, em pé, com um pequeno ursinho branco nas mãos, com um vestido lilás e sapatos brancos. Ela sorria. Harry pode ver os longos cabelos castanhos encaracolados caindo pelos ombros da garota de olhos negros. Que observava os três de forma ligeiramente familiar... Com a sensação de que já vira aquela menina antes, Harry se voltou para o amigo. Parecendo tão atônito quanto o próprio Harry, Rony observou a garotinha, calado. Enquanto Hermione tremia absurdamente, adquirindo um tom de pele cada vez mais pálido.
O baque surdo se fez ouvir quando a varinha de Hermione caiu no chão aos pés de Harry:
- Não... – começou ela num soluço. – Voc...
- Qual o problema? Você não gosta mais de mim? – falou a garotinha chorosa.- Por que você fez aquilo?Eu gostava de você...
- Pare... – murmurou Hermione entre soluços. – Eu... Foi um acidente...
- Foi?- instigou a menina. Subtamente a sua suave voz foi logo substituída por outra, grave e gutural. – Assim como Rabicho não? Um acidente...
- Hermione, o qu... – começou Rony.
- Você não contou a eles, contou? O que você fez? O que você é?
- Eu não fiz nada...
- Você a matou. Você não passa de uma aberração... E até mesmo aqui, você não é nada mais que uma sangue-ruim. Você acha mesmo que eles seriam seus amigos se soubessem? O que você fez, de onde você vem... Não... Você não contou...
- PARE!!! – um estrondo encheu a biblioteca, e Harry pode ouvir a vidraça inteira de uma das janelas se quebrar do seu lado esquerdo. Obviamente a amiga havia perdido o controle novamente. Vendo a amiga passando ao seu lado e seguindo em direção à saída Harry chamou confuso e desconcertado:
- Hermione...! Ouch! – gritou ele. Acabava de bater com uma das mesas da biblioteca. – Rony!
- Lumus! – respondeu o garoto. Mas não adiantara muito, a amiga já fora. Deixando pra trás ambos em meio a uma imensa bagunça, de todas as formas que se poderia deixar...
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