Capítulo Único.
Nenhum destes personagens são de minha autoria, e eu não lucro com isso.
Boa Leitura!
Iludida.
Dúvidas que foram deixadas de lado, enquanto eu imaginava que ele me amava.
Porque eu tinha uma certeza tão concreta de que ele me amava.
Entro no banheiro e tranco a porta, sem me dar ao trabalho de acender a luz. Não me quero ver chorando, seria patético demais, idiota demais. Já bastava a minha razão rindo dos meus esforços.
Reflexões que foram impedidas, pelo meu coração que apreciava ser iludido.
Deixo-me cair ao chão gelado e encosto-me a parede de azulejos. Tento chorar baixinho para Alice não me ouvir. Não quero envolvê-la em tal situação, não quero envolver ninguém em tal situação.
Todo o meu mundo, construído com tanto esmero e com tanta dificuldade, parecia ter sido abalado por um simples olhar, simples e significativo. Como eu não pude perceber antes?
Sinto as lágrimas rolarem e mancharem meu rosto semi-maquiado, bagunço meus cabelos em uma forma de expulsar toda a raiva que se apossa de meu corpo. Termino por chorar ainda mais, quase soluçando.
E como é descobrir que você foi enganada?
Uma dor quase palpável assola meu tórax, e eu realmente penso que vou morrer ali, sem ar e sem razão. A imagem daquele olhar não sai da minha retina, não importa o quanto eu me esforce.
Não tinha dado certo até agora? Eu não estava me enganando até aquele momento? Por que eu tive de raciocinar, por que não olhei para outro lugar?
Ele fala algo, ela ergue a cabeça rapidamente. Talvez só o som daquela voz grave e segura a fez erguer a cabeça, talvez ela nem tenha escutado o que ele disse. Eles se olham, e a descoberta me arrebate de maneira tão dolorosa que invento uma desculpa qualquer. Precisava ficar sozinha, conversar comigo mesma, encarar meus demônios.
Porque meus demônios têm nomes. Nomes de gente. E eles sempre se apoiaram às minhas costas, mas eu nunca percebi.
Erguer a cabeça, olhá-lo nos olhos.
Aquele ato destruiu-me por dentro. Se ela o olhasse daquela maneira, e não fosse correspondida, eu aceitaria, ficaria até feliz por ser casada com um homem tão admirado.
Só havia admiração naquele olhar?
Mas ele havia correspondido. E eu notei tanta intensidade no olhar que eles trocaram que me senti mal, senti como se estivesse atrapalhando, porque eu estou os atrapalhando. O caráter que ele possui não o deixa me trair.
Não é mesmo?
Eu sempre fora segura do que ele sentia por mim, talvez ainda seja. E eu o amo com tanto ardor, dedico-me a ele com tanta vontade. Entreguei meu coração a esta empreitada, ele não pode sair dela e me deixar sozinha com meus cacos.
Preciso dele, mas acho que ele precisa dela.
Agora me pego a pensar em como fui tola em acreditar em tudo que ele me dizia, e em como serei tola todas as vezes que ele disser que me ama, mesmo que eu saiba que não é uma verdade pura, que há resquícios de mentiras na voz que soa em meus tímpanos suavemente e me encanta como música.
As lágrimas cessam por um momento e eu suspiro, tentando colocar as idéias no lugar, tentando sair da realidade que aquele banheiro escuro passa. Eu gostava de viver iludida, não havia reflexões de como ele sorri quando está com ela, ou de como ela parece mais leve quando ele está por perto.
Ela fica mais leve quando meu marido está por perto.
Mas me prometi que não a odiaria, porque ela não estava tentando roubá-lo de mim, porque aquilo era uma forma de demonstrar como eles eram bons amigos.
Enganei-me profundamente. Ela não só queria, como ainda quer tirá-lo de mim, ela o quer com todas as forças, ela o ama com todas as forças. Assim como eu.
Sinto pena de seu marido por um fugaz momento, e perguntou-me se ele sabe da essência daquele olhar trocado ainda mais cedo.
Levanto-me e ligo a torneira, escutando o som que a água forte faz ao tocar o fundo da pia. Lavo o rosto com força e observo o pouco de meu rosto que a escuridão deixa transparecer.
Não possuo a mesma beleza que ela, nem a mesma leveza. Mas não sou tão menos bonita. Penso que ele a observa antes mesmo de conhecer-me.
Então por que casastes comigo?
Porque ela estava com outro, trouxa. Simplesmente porque ele não conseguia aquilo que realmente queria; aquilo que seu coração desejava mais que a própria sobrevivência.
O pensamento me faz sentir ânsias de chorar novamente, mas seguro o choro. Não o farei, não serei fraca. Lutarei por aquilo que tentavam me roubar e se fosse preciso, declararei guerra a minha suposta rival.
Alguém bate na porta e acendo a luz imediatamente, para disfarçar. A claridade me cega.
– Hannah, você está bem? – aquela voz suave me inebria por um momento, ele estava preocupado. – Alice disse que você chegou e foi direto ao banheiro. E você disse que não estava se sentindo muito bem na casa do Ron...
– Estou bem, Neville. Não se preocupe. – murmuro para a porta, ouvindo-o suspirar, aliviado. Oh, como é bom saber que ele se preocupa comigo!
– Vamos voltar? – ele pergunta, e eu considero ir para lá e enfrentar mais uma sessão de troca de olhares. Meu estômago revira-se por desconforto. Abro a porta.
Ele me encara de maneira assustada, talvez alguns fios de cabelo ainda estejam desarrumados, mas não me importo. Ao vê-lo ali, sinto uma vontade de provar que ele é real, e que ela ainda não o tirou de mim. Ele me aperta com a mesma vontade que eu o faço, mesmo que hesite por um momento.
– Você tem certeza de que 'tá tudo bem, Hannah? – ele pergunta, nervoso, enquanto eu encosto minha testa em seu ombro e inspiro seu cheiro.Real.
– Tenho. – eu posso ficar aqui pelo resto da minha vida, só sentindo seu cheiro e ouvindo sua voz perguntar-me se está tudo bem. Longe dela e de todos, mas tão perto de mim.
– Vamos voltar? – pergunta novamente e eu o encaro nos olhos. Tão castanhos que me sinto perdida por um momento. Ele é sincero, eu sei que é.
– Você me ama? – a pergunta sai quase sem querer, e me sinto como se fosse uma adolescente de quinze anos. Mas ele sorri, e tudo parece ser esquecido por um momento.
– Amo. – simples, uma simples palavra monossílaba e todos os meus problemas são solucionados e todos os meus demônios são extintos.
Não havia escuridão, ou olhares significativos e intensos, só havia eu e o amor que ele sentia por mim. Que, mesmo que fosse menor que o que ele sentia por ela, existia.
E isso era suficiente.
N.a: Sim, o P.O.V é da Hannah. E é a primeira vez que eu faço isso. \õ, estou, sinceramente, exultante. A idéia inicial era fazer uma short mostrando a culpa que a Luna sentia de estar casada com Rolf, mas apaixonada pelo Neville. Mas a Hannah descobrindo que eles se gostavam pareceu bem mais difícil. *sorri radiante* OK, explicações, certo? Ficou meio estranho o fato de ela estar completamente raivosa e obscura no princípio, decidida a acabar com toda aquela ilusão; e, no final, ela fica calminha e aceita que ele ame outra pessoa. Ora, por quê?, Porque ela o ama, gente. Ela aceita, mesmo que involuntariamente, ter só um pedacinho dele, o pedacinho que retribui o que ela sente. E eu tentei deixar bem claro que não é a primeira vez que ela descobre isso, mas ela sempre esquece, quase que inconscientemente. Mas acho que não deixei tão claro, sorry. Hm... Acho que é só isso. Agora me deixem ir, porque a inspiração, quando bate na testa, não escolhe horário, e amanhã eu tenho aula. (só pra constar, são quase uma da manhã, o.Õ)
Cuidem-se,
Pollita.
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