Capítulo Único.




Todos estes personagens aqui retratados são da J.K. Estou aqui apenas me divertindo, não lucrando.


Boa Leitura.





 


Então chore.


Faz um dia nublado quando o baque do caixão encostando-se ao fundo da terra ecoa, juntamente com um soluço mais forte de Molly Weasley, que é amparada pelo marido.


Olho ao redor para me certificar, olhando nos olhos de cada pessoa que estava ali, o que está estampado nos meus: a dor. Sem nenhum conceito ou nenhum derivado. A mais pura e infeliz dor.


Como um véu negro que entra em meu corpo e se instala em meu coração, fazendo-o murchar, a dor se expande, atingindo meu cérebro, meus olhos, impedindo-me de ver.


O silêncio reina na rodinha que se instalara ao redor da pequena e lustrosa lápide, silêncio quebrado pelos soluços intermináveis de Molly, Ginny e Alicia Spinnet.


Sinto inveja delas por um fugaz momento. Quero, e não sei porque não consigo, chorar como elas choram; quero me jogar ao chão e pedir a sabe se lá quem para trazê-lo de volta; quero ressuscitar Roockwood para matá-lo de novo; quero que aquele maldito caixão se abra com um estrondo e Fred Weasley saía de lá com um sorriso de troça no rosto; quero-o de volta, principalmente.


Abano a cabeça com tais pensamentos e meu olhar recai a George Weasley. Impossível não me assustar com a visão, por um momento da mais pura ilusão, imagino que fosse ele. Mas George não está a chorar, assim como eu. Ele possui uma expressão dura no rosto, mas não aquela de quem segura o choro. E sim a expressão de quem faz força para chorar.


Estranho, segundo Ronald Weasley, George estava trancado em seu quarto desde o dia dois; chorando, soluçando, quebrando tudo. O garoto havia me dito que George só saiu hoje, dia quatro, para o enterro de Fred. E eu tenho quase certeza de que ele voltará para lá quando o enterro terminar.


Vou até ele e lhe toco o braço de leve. O rapaz ruivo ergue os olhos e eu aponto para o grande gramado que se estende ao horizonte. George assente com a cabeça e nós começamos nossa caminhada por entre as lápides de desconhecidos.


– Percebi que você não chorou durante todo o enterro. – falo, e minha voz sai estranha, mais dura e amarga que antes.


– Nem você. – George rebate, admirando a pequena parte do rio Exe, que percorre o cemitério de Ottery.


– Não consigo derramar uma lágrima. – respondo e ele vira na minha direção, intrigado.


– Tenho chorado há dois dias, então, quando chego aqui e aparece o momento certo para debulhar-me em lágrimas, não sai nada. – conclui com um aceno frustrado dos braços.


– Sabe que faz um mal danado segurar o choro? – pergunto, esquecendo-me da dor por meros segundos.


– Não estou segurando o choro, Angelina. – viro-me para ele e o encaro com as sobrancelhas arqueadas.


– Então chore.


– Por quê? – George pergunta, desafiando-me.


– Porque, quem sabe, se você chorar, talvez eu chore também. – percebo como estou desesperada. O nó em minha garganta está a sufocar-me e o aperto em meu coração pode fazê-lo parar a qualquer momento. Eu preciso colocar aquilo para fora.


Então, inesperadamente, George me abraça e encosta sua cabeça em meu ombro. E a avalanche que aquele ato acarreta dentro de mim é devastadora. Sorrisos, brincadeiras, sorrisos, beijos, sorrisos, abraços, sorrisos, toques, sorrisos, Fred.


Sinto como se uma onda fosse de meu tórax até meu rosto, e este se contrai em uma careta triste. As lágrimas passam a cair em cascata de meus olhos, e um soluço sai de meus lábios.


Choro, como, talvez, nunca tenha chorado na vida. Sinto as lágrimas mornas de George nos meus ombros e fecho os olhos, deixando meu rosto molhar e os soluços saírem sem medo ou sem restrição.


O mundo parece ter se focado em uma única imagem, pelo menos naquele momento. Somos só eu e George, tentando reparar a mesma dor, tentando apoiar-se um no outro. E aquilo me reconforta de uma maneira tão suave que o ritmo de meus soluços aumenta.


Todo aquele véu negro que a morte de Fred pôs sob meu corpo, vai saindo com as lágrimas que deixo rolar pelo meu rosto, caindo nos ombros de George e lhe molhando a blusa social.


Nós dois superaremos aquela perda. Claro que nunca esqueceremos a presença marcante de Fred Weasley, mas superaremos e pararemos de chorar com tanto desespero. Derramaremos somente poucas lágrimas, lágrimas de saudade. E não estas que agora tento enxugar, que são do mais profundo aperto no coração.


Olho para George, novamente, enquanto voltamos, aparentemente mais leves, para a rodinha de familiares e amigos, e o vejo sorrir de maneira sincera. Lábios finos, dentes à mostra, olhos brilhando de esperança. E, ao ver aquele sorriso, tive certeza de George não voltaria ao quarto quando chegasse em casa. Ele iria sentar-se com sua família e deixaria que aquele mesmo sorriso brotasse em seus lábios, assim como eu o faria.


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.