Capítulo Único
- Ingrato! Traidor do próprio sangue! – Gritava Walburga Black do alto da escadaria de madeira da Mui Antiga e Nobre Casa dos Black, enquanto o filho mais velho, Sirius, descia as escadas apressadamente, o malão batendo nos degraus na medida em que ele os descia. – Nós o alimentamos! O criamos! Você é sangue do nosso sangue! Como pode fazer isso? – Continuava a gritar a mulher. O garoto, Sirius, possuía cabelos negros que lhe caíam com displicência pela testa, com um charme natural, os olhos profundamente acinzentados contrastando com a pele muito branca, como a do resto da família dos Black. – Você é meu filho!
- Ora, Walburga... – Um sorriso irônico tomou conta de seus lábios. Depois de muito ignorá-la, ele finalmente lhe dava alguma atenção. – Sejamos sinceros. Você nunca foi exatamente a melhor mãe do mundo comigo. Sempre preferiu o seu querido Regulus. – Ele riu. Mas a risada de Sirius era sem alegria. O olhar vagou por toda a extensão da sala de estar. – Aqui não é minha casa. Nunca foi e nunca será, mas não se preocupe. Agora vou para a minha casa, minha verdadeira casa. Adeus, mamãe. – Curvou-se rapidamente para a mulher, que parecia atordoada e totalmente desgostosa com a situação. Os lábios dele curvaram-se em outro sorriso irônico, antes de ele sair pela porta da casa de sua família, a casa que ele jamais pôde dizer que era dele. Mas, não... Aquilo não era família. O lugar para onde ia agora, aquilo sim era família.
Although loneliness has always been a friend of mine
I'm leaving my life in your hands
People say I'm crazy and that I am blind
Risking it all in a glance
(Embora a solidão sempre tenha sido minha amiga
Estou deixando minha vida em suas mãos
As pessoas dizem que sou louco e cego
Arriscando tudo num piscar de olhos)
Ele percorria a rua escura do Largo Grimmauld sem saber direito para onde estava indo, o malão sendo arrastado pelo chão sem muito esforço da parte dele. Mas ele sabia para onde deveria ir. Já havia combinado absolutamente cada passo daquele plano com James, por anos e anos, repetidamente. Sim, Sirius Black iria viver com o melhor amigo e os pais na Mansão Potter, o lugar onde sempre fora tão bem recebido, o lugar aonde tinha um família.
Agora ele só precisava chegar lá. Qual era o plano mesmo? Ah sim, lembrou Sirius. O Nôitibus Andante. O transporte para bruxos perdidos. Como ele deveria chamá-lo? Sirius não tinha muita certeza. Soltou um longo suspiro, e tirou a varinha da velha calça jeans trouxa surrada, estendendo-a em direção à lua. Droga, aquilo precisava funcionar, ou estaria completamente perdido. O que ele faria... Passaria a noite deitado que nem um vagabundo trouxa num banco de praça, até que alguém tivesse vontade de ser caridoso e o levasse para casa. Ele passou o canto dos olhos na rua mal iluminada e deserta, e em um segundo muito rápido, onde nem ele soube direito o que aconteceu, um ônibus roxo de aparência bastante estranha materializou-se em sua frente. Um homem de cabelos ruivos e pele bastante sardenta pulou do estranho automóvel, já uniformizado, e declarou em voz alta, lendo em um pedaço de pergaminho pequeno:
- O Nôitibus Andante, socorro para bruxos e bruxas perdidos, tem o prazer de ter sua companhia esta noite. Eu sou Elion Kips, seu condutor da noite. - O homem, Elion, parecia bastante entediado com seu serviço. Soltou um longo bocejo, e lançou um olhar ainda mais entediado para Sirius, que se mantinha firme em pé, com a varinha ainda empunhada em mãos.
- E aí, vai subir ou não? Nós não temos a noite inteira, sabe. – Comentou amarrando a cara e cruzando os braços, erguendo a sobrancelha como se o indagasse sobre alguma coisa realmente embaraçosa, os lábios curvando-se em um sorriso maldoso. Sirius realmente não gostou dele. O garoto revirou os olhos e subiu, deixando seu malão para que o tal de Elion o carregasse. Agora o destino era a casa dos Potter, pensou ele, deitado na cama em que havia alugado e bebericando o chocolate quente recém adquirido com o dinheiro que ele carregava. Ele deitou a cabeça no travesseiro, reparando finalmente o quanto estava cansado, e adormeceu rapidamente, virando-se para o lado, completamente desmaiado.
- Vicarage, Watford! – Anunciou uma voz ao longe, longas horas depois, fazendo Sirius despertar de seu sono e pular da cama com agilidade. Depois de retirar seu malão do Nôitibus, e deixá-lo desaparecer nas sombras, ele se encontrou novamente solitário, numa rua aparentemente deserta, como a do Largo Grimmauld, o lugar para onde ele não pretendia voltar. O único pensamento que rondava a cabeça de Sirius era, agora, achar a direção correta para a casa de James. Sabia que era naquela rua, mas as casas pareciam todas tão incrivelmente iguais. Ele começou a andar, passando por um estádio de futebol trouxa, bastante silencioso, o que significava que nenhum jogo estava ocorrendo naquela data. Os passos ficavam cada vez mais pesados à medida que ele subia a rua, os olhos quase se fechando por completo. Sirius não sabia dizer o quanto tinha caminhado, mas parecia muito para ele, mas ele chegou, enfim. A Mansão Potter tinha uma aparência nobre, realmente, que nenhuma das outras casas, além de uma mais ao longe, que tinha as luzes acesas, possuía. As paredes eram altas e brancas, colunas gregas postas em cada lado da porta maciça de um material que se aproximava do marfim. Uma grande felicidade invadiu o peito de Sirius, que atravessou o caminho do jardim até a porta e bateu uma vez, esperando ser atendido de braços abertos por James, que devia estar com os cabelos despenteados e já de pijama, só esperando o amigo. Ah, é claro que ele estava enganado. Sirius bateu mais uma vez, e mais outra, e mais outra depois daquela, mas nenhuma das quatro batidas foi atendida, por nenhuma alma viva ali por perto. Droga, como aquilo podia estar acontecendo? Ele não tinha combinado com James que iria embora da casa dos Black naquele dia? Que merda era aquela, por que os Potter não estavam em casa? E o que ele iria fazer agora? A idéia de deitar-se como um vagabundo agora não lhe parecia má, se fosse para ser sincero.
Ele mordeu o próprio lábio, bagunçando o cabelo com a mão direita, de um jeito frenético. Ele estava totalmente ferrado agora, aquilo era a verdade. Como James pudera esquecer-se totalmente dele, aquele veado? O que ele achava? Que Sirius viraria um cachorro e dormiria no encalço da porta até ele decidir que o amigo, que amigo, merecia algum tipo de consideração da parte dele? Ah, é claro.
- Sirius? – Indagou uma voz feminina, muito conhecida dele. Não, ele devia estar escutando mal, não tinha como ser ela, não ela. Ele ergueu o rosto com o cenho franzido, encarando uma garota de longos cabelos negros e olhos de um estranho dourado, que caminhava alegremente na direção dele, parando em pé na frente do mesmo. Os olhos dela brilharam ao vê-lo, e ao encará-la nos olhos, o coração dele bateu mais rápido.
- Lene! – Exclamou ele, abrindo um largo sorriso e erguendo-se do chão para dar um abraço na amiga, a melhor amiga. Chegou mais perto dela, a tomando nos braços e abraçando-a com tanta empolgação que chegou a erguer Marlene do chão. – Droga, garota, o que você está fazendo aqui? – Perguntou em meio às risadas dela, colocando-a no chão.
- Eu moro aqui, seu babaca. Nós nos mudamos neste verão. – Explicou, retirando os braços do pescoço dele. Aquilo surtiu um efeito bastante incômodo nele, aliás, mais incômodo do que deveria. Não era o fato do frio da noite tomar posse do peito dele assim que Marlene afastou-se, mas o fato de ela ter se afastado em si. – Deixe-me adivinhar. Você finalmente colocou seu brilhante plano de fugir da casa da sua mãe em prática, e iria ficar no James, mas o problema é que ele viajou e você não faz idéia do que fazer da vida, porque, bem... Você não tem onde ficar. – A garota sorriu, mordendo o lábio levemente e dando-lhe uma piscadela de leve. Sirius arregalou os olhos, olhando para os lados, meio desorientado. Como ela poderia saber daquilo tudo? – É, como eu sei disso tudo, não é? – Droga, desde quando ela lia pensamentos? – Não, Sirius, eu não leio pensamentos. – Ele realmente discordava dela. – James me contou. – Ah, agora estava explicado... O traíra veado que mentia para os amigos sobre estar em casa e receber os tais amigos nas horas de dificuldade havia contado para ela. Ele realmente pensara que Marlene lia mentes por um momento. Mas aquilo não deveria ser mais uma surpresa para ele. Se havia alguém que conhecia Sirius tão bem quanto James, Remus e Peter, essa pessoa com certeza era Marlene McKinnon. Ele ainda podia lembrar de quando os dois costumavam passear pelo parquinho do Largo Grimmauld quando eram bastante crianças, quando os McKinnon ainda residiam no Largo. Eles já haviam se mudado tantas vezes que não era nada de mais quando a morena os avisava de seu novo endereço, ano após ano. Não adiantava negar de forma alguma, Marlene era a melhor amiga de Sirius, por mais que passassem tempos separados, brigados por algum motivo idiota – fosse pelos “namorados idiotas que não servem para você” de Marlene, ou pelas constantes brincadeiras de Sirius com relação a estes mesmos namorados. Não era totalmente culpa dele, todo mundo tinha ciúmes da melhor amiga, aquilo era completamente natural, não era? – Ele e os pais foram para as Bahamas. – E aquele desgraçado não havia o avisado? Que belo amigo era James. Ótimo, agora ele morreria de frio e fome naquele inverno – verão - frio e hostil na rua fechada e sem luzes. James não havia pensado que ele podia realmente ter cumprido seus planos daquela vez? E se ele fosse assaltado, sozinho, solitário para sempre... Sirius Anthony Black, pare de agir como uma bicha doida, você é um bruxo ou uma formiga? – Como saíram logo de manhã, ele não teve tempo de mandar uma coruja para você avisando, então me pediu para avisá-lo. – Marlene soltou um longo suspiro e deu de ombros, pousando as mãos com leveza na própria cintura, um sorriso deliciado brotando no canto dos lábios da garota. Conhecia bem aquela expressão de confusão do amigo, já era bastante típica. Não que ele fosse um completo retardado que sempre estava sempre com a mente vagando em tudo, mas ela o conhecia há tempo suficiente para já ter visto aquela expressão muitas vezes.
- Ótimo! E como é que eu fico? – Exclamou ele exasperado, franzindo o cenho novamente com desaprovação. – Ele simplesmente não pensou que eu dormiria no banco da praça, não é? – Conhecendo James como conhecia, Sirius tinha certeza de que ele pensara naquilo.
- Bem, na verdade... – O sorriso nos lábios dela aumentou, enquanto a mesma dava alguns pulinhos na direção dele, agarrando o braço do moreno para não tropeçar e ficando meio caída nos braços do mesmo.
- Desajeitada. – Murmurou baixinho, soltando uma risada leve. Ela revirou os olhos, dando um tapinha no rosto dele. – Ei!
- Você quer, por favor, calar a boca, Black? – Gritou ela, ficando em pé na frente dele, muito perto, pousando as mãos com força nas bochechas brancas dele e apertando seu rosto contra o dele, conseguindo sentir o hálito quente dele em seu rosto. O corpo dela enrijeceu com o contato tão próximo, mas ela continuou mesmo assim, agora um pouco mais baixo. – Quer me ouvir?
- Como quiser McKinnon. – Ele ergueu a sobrancelha, a encarando nos olhos e colocando as mãos ao redor da cintura dela, colando mais ambos os corpos. Ela sorriu abertamente, empurrando-o para trás e caminhando em direção à porta da mansão dos Potter, o dedo erguido no ar como se estivesse pronta a colocar uma teoria brilhante em ação.
- James pediu para você – Ela virou-se para ele, apontando o dedo direto para o peitoral de Sirius. – ficar lá em casa, pelo menos até ele voltar das Bahamas. Isto não deve demorar muito. – De repente, ela ficou pensativa, erguendo os olhos para o céu, murmurando algo baixinho para si mesma.
- Ótimo, então vamos. – Ele sorriu satisfeito, indo prontamente até sua mala e a arrastando na direção onde Marlene se encontrava, agarrando a garota pela cintura e a arrastando com ele. – Vamos ter uma ótima noite, querida. – Sorriu maliciosamente, segurando o riso e piscando sedutoramente para ela.
- Claro, meu doce. – Ela puxou-o pela gola da camisa para mais perto dela, aproximando os lábios dos dele perigosamente, sussurrando baixinho no ouvido dele em seguida, entrando na brincadeira. – Uma noite cheia de loucuras e sexo selvagem. – Mordeu o lábio, acariciando os cabelos negros do garoto e descendo a mão livre até a bunda dele, dando-lhe um aperto de leve.
- Você provoca, garota. – Ele finalmente riu, dando um beijo na bochecha dela e revirando os olhos divertidamente. – Vamos logo, eu estou morto.
And how you got me blind is still a mystery
I can't get you out of my head
Don't care what is written in your history
As long as you're here with me
(Como você me cegou ainda é um mistério
Eu não consigo tirar você da minha cabeça
Não me importa o que está escrito na sua história
Desde que você esteja aqui comigo)
A mansão da família McKinnon erguia-se majestosa aos olhos de qualquer um que passasse por aquela parte do bairro luxuoso. A construção do século passado ainda exibia uma imagem conservada, em um lugar que já deveria estar, há muito, abatido pelo tempo. É claro que as reformas e os truques dos bruxos que ali residiam também deviam ajudar muito. Os pais de Marlene, Adam e Rachel McKinnon, eram dois dos aurores mais respeitados do mundo bruxo, aquilo era um fato já bastante divulgado. Podia-se atribuir as mudanças de casa constantes à esse detalhe da vida deles também, além da Sra. McKinnon ser uma mulher bastante refinada que tinha pretensão à enjoar das coisas rapidamente. No final, as moradias em que eles se instalavam apenas demonstravam a tamanha riqueza escondida dentro do cofre do banco dos bruxos, o Gringotes.
- Sua família. Onde estão todos? – Perguntou quando os dois pararam na grande porta branca da entrada do local, para a garota conseguir achar as chaves certas no breu que os cercava por todos os lados. – Cara, não poder usar magia é um saco.
- Veja pelo lado bom. Falta apenas um ano para completarmos dezessete, logo poderemos ficar por nossa conta própria. – Desvencilhou-se dos braços do garoto, dando um cutucão nele com o cotovelo para que ele lhe desse espaço, conseguindo, por fim, achar o que procurava. Enfiou a chave e girou-a, a porta abriu-se. – Meus pais estão trabalhando até tarde hoje. Eles têm tido muito trabalho ultimamente. – Ela soltou um longo suspiro, dando de ombros e adentrando o hall, deixando o amigo para trás com as malas. – Vamos, entre logo. Meus pais não querem a porta aberta assim, de noite. Muita segurança de uns tempos para cá, não sei o que está havendo... – Murmurou para si mesma, perdendo-se em seus próprios pensamentos. Sirius acenou positivamente com a cabeça, a mala ainda estava segura em sua mão, então não demorou muito para segui-la e trancar a porta atrás de si.
- E seus irmãos? Evangeline e... Sam? – Pronunciou o nome com certa dificuldade, fazendo uma careta pelas costas de Marlene. Era de conhecimento geral que o irmão três anos mais velho de Marlene não, Sammuel, não gostava do garoto nem um pouco. Ele nunca entendera muito bem o porquê disso, mas também nunca se importara muito em descobrir tal coisa. Sabia que ele batia forte – alguns hematomas nas costas de James eram a prova disso, adquiridos quando ele pulou a cerca dos McKinnon, há alguns anos atrás, quando eram vizinhos em outro lugar, e o primogênito achou que era algum tipo de bandido. Ele precisava cuidar das irmãs mais novas, oras – mas não fazia a menor idéia se ele também mordia. Quem garantia que não? Ele não correria o risco de descobrir isso.
- Lá em cima. E Sam também está trabalhando... Ministério da Magia, Departamento de Mistérios. Coisa grande. Ele não tem falado muito comigo... Na verdade... Ele não tem falado muito com ninguém. Tenho absoluta certeza de que algo não está certo. – Comprimiu os lábios e balançou a cabeça, afastando aqueles pensamentos para longe. Era errado ficar pensando qualquer coisa ruim do irmão que sempre lhe protegeu, mas não podia deixar de achar estranho as atitudes dele nas últimas semanas. – Todos nessa casa estão estranhos, sabe? Só eu e Eve que não. Comentamos isso noite passada, precisamos descobrir o que há de errado com todos eles, talvez possamos ajudar...
- Tenho certeza de que eles contarão, Lene. Assim que for... Não sei, seguro. – O moreno abraçou-a pelos ombros, depositando um beijo no topo da cabeça dela. Ela fechou os olhos, soltando um longo suspiro e aspirando novamente, o perfume de Sirius entrando por suas narinas. Era forte, de fato, mas ela gostava muito. – Peguei emprestado do Regulus. – Ele riu um pouco, franzindo o cenho para si mesmo. – Não tenho certeza de que irei devolver, mas ele vai sobreviver. – Ela riu também, jogando os braços ao redor do pescoço dele e abraçando-o com força, a cabeça descansada no ombro dele.
– É bom ter você aqui, Black. Agora vamos às suas acomodações. – Pegou-o pela mão, arrastando-o com certa dificuldade até a escada, e começando a subir os degraus. – Venha. Albie irá levar sua mala lá para cima. – Chegaram a um corredor longo e estreito, Sirius no encalço de Marlene, tropeçando nos pés para acompanhá-la. – Vai dormir no quarto de hóspedes...
- Ah, droga! – Interrompeu-a, agarrando a garota pela cintura subitamente e depositando um beijo demorado no pescoço dela. – Achei que ia dormir com você. Assim você está sendo extremamente malvada, Mc. – Ela riu, o corpo preso pelos braços dele, como uma espécie de algema para a cintura.
- Não se preocupe, o Billy-Boing agüenta uma noite.
- Quem diabos é Billy-Boing? – Ele ergueu a sobrancelha, com medo da resposta.
- Ah, Six... É o nome que eu dei para o seu amiguinho. – Marlene sorriu abertamente, colocando as mãos sobre as dele, afastando-o dela.
- Hey, é amigão! – Exclamou, a expressão demonstrando pura indignação. - Sabe, Marlene, você vai me pagar por isso. – Um sorriso malicioso brotou nos lábios dele, enquanto continuava a segui-la pelo corredor. A morena abriu uma porta, deixando-o passar em sua frente e depois entrando atrás dele, fechando-a. – Não é justo. O Billy recebe um nome sem nunca ao menos ter tido nada com a Tiffy?
- Ah, pára! Quem é Tiffy? – A garota deu um tapa na própria testa, atirando-se na cama king-size que era localizada no meio do quarto.
- Agora, isso é justo. Você dá um nome para o meu amiguinho, eu dou um nome para a sua amiguinha. – O sorriso alargou-se no rosto de traços perfeitos dele, que se sentou na beirada da cama. – Hum, essa cama é muito apropriada.
- Cacetada, Sirius. Eu não tenho um pênis, sabia? Mas em todo o caso, sinto muito, Billy-Boing não terá nada com a Tiffy. Ela é uma garota de compromisso. – Prendeu o ar ao falar isso, fazendo uma careta. Não sabia como Sirius reagiria a isso, e provavelmente não seria muito bom, levando em consideração os históricos passados. Os olhos cinza dele arregalaram-se. Abriu os lábios, mas palavra alguma saiu. O que ela estava dizendo? Ela só podia estar brincando. Não, ele ia manter a completa calma. Mas o que era aquilo que ele estava sentindo? Era como um soco no peito. Não podia ser pior do que levar um de verdade de Sam.
- QUE PORRA É ESSA, MARLENE? – É, completa calma.
- Desculpe-me não ter contado antes, Sirius, mas não te vi as férias inteiras! – Exclamou, ficando sentada de supetão, encarando os olhos dele, que agora exibiam um tipo de fogo... Era raiva, ela sabia bem.
- Quem é o filho da mãe? – Perguntou, sibilante, podia sentir o rosto arder, mas ele não ligava. Ela lhe devia explicações, não devia? O que ela achava, droga? Que ia sair por aí... namorando?
- Não é assim, Sirius! – Agora era ela quem estava gritando, e de repete, era o rosto dela que ardia. Por que ele estava agindo assim? Não via que estava sendo completamente ridículo? Ele devia apoiá-la, e não começar a gritar com ela feito um louco! – Não sei por que você está agindo assim, é simplesmente idiota.
- Idiota? Idiota? Eu só... Eu só me preocupo com você, está bem? – Ele cruzou os braços na frente do peitoral, encarando-a. – Não quero te ver sofrendo novamente por um canalha desses.
- Nossa, falou o bom exemplo de conduta, Sirius Black. – Comentou ironicamente, erguendo a própria sobrancelha. – Como se você fosse um ótimo exemplo para falar disso, não é? De fazer os outros sofrerem! – Gritou ainda mais alto, pulando da cama e ficando na frente dele de repente, jogando os braços no ar. – É Edgar Bones. E ele é ótimo. Nunca me faria sofrer, como algumas pessoas. – O tom de voz dela era incrivelmente áspero, provocando um buraco no peito dele.
- Bones? Aquele mauricinho filho da puta mãe? Você só pode estar brincando comigo.
- Não estou. E é bom você lidar com isso, Black. Meu Deus, o que deu em você? Você está parecendo um namorado ciumento.
- Não seja ridícula. – O rosto dele ficou mais vermelho que nunca, a voz dele embargou. Por que ela estava falando de ciúmes de repente?
- Ótimo, agora eu sou a ridícula. Cansei dessa discussão. Vá dormir, Sirius. Você precisa. – A garota revirou os olhos, soltando um bufo baixo.
- Boa noite, então. – Devolveu, irritado, pegando a mala do chão e a atirando em cima da cama, começando a abrir o zíper da mesma. Marlene revirou os olhos, ainda mais irritada que ele, saindo do quarto com uma pressa surreal, batendo a porta ao passar. Ela odiava aquilo tudo. Brigar com ele, acima de qualquer coisa. Ela ficava chateada, mas não daria o braço a torcer tão fácil.
A idéia dela, Marlene, a sua Marlene, namorando... Era estranha. É claro que ele já a vira namorando outras pessoas, mas nunca vira aquela paixão nos olhos dela. Os outros eram meros brinquedinhos, diversão... Ela podia achar que estava apaixonada, mas os olhos dela a incriminavam. Sirius sempre sabia a verdade. Mas não vira aquilo nos olhos dela aquela vez... Ou pior, vira. Havia algo brilhando quando ela mencionou o nome de Edgar Bones. Algo que não devia brilhar.
- Sirius? – A cabeça apareceu na porta, as longas madeixas negras balançando no ar. – Eu só quero que você saiba. Você não precisa competir com ele, sabe? Não se preocupe. Você vai sempre ser o meu melhor amigo, para todo o sempre. – Ele soltou um longo suspiro, engolindo em seco. Ele havia sido idiota.
- É claro. Para sempre e todo o sempre. – Murmurou baixinho, abrindo um sorriso fraco nos lábios. Marlene mordeu o próprio lábio levemente, fazendo o garoto rir e revirar os olhos. – Está bem, Lene. Venha cá. – Bateu com a mão esquerda no espaço da cama ao seu lado, que afundou, voltando ao normal segundos depois. Um largo sorriso brotou nos lábios dela novamente, o mesmo sorriso que ele tanto adorava ver estampado em seu rosto. Ela parecia uma verdadeira criançinha que havia acabado de ganhar uma bala quando o exibia, completamente feliz e satisfeita consigo mesma.
- Oi. – Sussurrou baixinho no ouvido dele assim que atirou-se na cama ao seu lado, mordendo-lhe a bochecha de leve. Sirius riu, passando os braços ao redor do corpo quente dela e trazendo-a mais para perto de si.
- Você nunca consegue resistir ao meu charme, não é? – A garota revirou os olhos, dando um soco – que ele jamais admitiria que doera – no ombro dele.
- É, eu sempre acabo por ceder nas brigas. Impressionante.
- Não se sinta mal. É mesmo o meu charme. – Marlene soltou um longo suspiro, deitando a cabeça em cima do peitoral dele e fechando os olhos. Sirius levou a mão até a dela, aprisionando-a na sua própria.
- Boa noite, Six. – Murmurou, sonolenta. Virou o corpo para o outro lado, libertando-se do aperto dos braços dele, bocejando baixinho e adormecendo, enfim.
- Boa noite, Lene. – Tombou a cabeça de lado, observando o topo da cabeça dela carinhosamente. Ergueu-se um pouco da cama, conseguindo alcançar o topo da testa dela com os lábios. – Boa noite. Eu te amo. - Sussurrou mais baixo do que nunca, voltando a deitar em seu lugar. E aquilo importava, realmente? Ela parecia feliz do jeito que as coisas eram. Afinal... O que mais ele queria? O sorriso dela era a coisa que mais lhe importava no mundo todo, e ele sabia que sempre seria assim. Para sempre e todo sempre.
I don't care who you are
Where you're from
What you did
As long as you love me
Who you are
Where you're from
Don't care what you did
As long as you love me
(Eu não ligo para quem você é
Da onde você é
O que você fez
Desde que você me ame
Quem você é
Da onde você é
Não ligo para o que você fez
Desde que você me ame)
- Ah, pára! Você aqui? – Só podia ser. Sam McKinnon entrou na cozinha naquela manhã ensolarada de agosto, jogando o Profeta Diário em cima da mesa e caminhando até o armário de alimentos, da onde tirou uma caixa de cereais trouxa e uma caixa de leite da geladeira, colocando tudo junto e misturado (N/A: eu amo essa expressão. Junto&misturado, junto&misturado... õ/) em um prato fundo adequado para... Bem, aquilo. – Por favor, diz que é um pesadelo. Eu ainda estou dormindo, sim?
- É ótimo ver você também, McKinnon. – Murmurou Sirius, revirando os olhos e continuando a comer sua refeição, ignorando o outro completamente.
- Bom-dia, irmãozinho querido! – Exclamou Marlene alegremente, jogando os braços ao redor do pescoço do irmão mais velho por trás e dando um beijo estalado na bochecha dele. – Bom-dia, Six. – Sorriu, caminhando até ele e dando um beijo igualmente estalado na bochecha do garoto. Ele sorriu vitorioso para o outro, que apenas mostrou o dedo do meio para ele e voltou a comer seu cereal.
- Bom-dia, Lene. – Disseram ambos, juntos. Os dois ergueram o rosto, encarando um ao outro com certa raiva.
- Fala sério, Lene. Até quando a peste fica aqui?
- A peste fica aqui até a outra peste voltar. – A garota riu, colocando uma mecha de cabelo para trás. – Será que dá para vocês não brigarem? Por favor.
- Ah... – Começou Sam, em um tom completamente irônico.
- Não. – Completou Sirius, dando de ombros. Marlene fez uma careta e bufou.
- Então eu vou ter que dar palmadinhas nas bundinhas de vocês, crianças. – Um sorriso um tanto quanto... Maníaco, crispou nos lábios vermelhos dela.
- Ah, Lene, por mim tudo bem. Eu não me importo que você bata em mim. – Sirius emendou, agarrando a garota pela barriga rapidamente e fazendo-a cair em seu colo, provocando gargalhadas nela. – Deve ser uma delícia. – Ela ergueu a sobrancelha, mordendo o próprio lábio, do jeito mais sensual possível em uma situação daquelas, piscando levemente.
- Assim você me mata, Sirius Black.
- É, é o que todas dizem. – Marlene riu e deu um grande tapa no braço dele, levantando-se do colo do amigo.
- Porra, você não cansa de bater em mim não?
- Eu ainda estou aqui, para a informação de vocês. Quer dizer, se é que se importam com isso.
- Deixa de ser chato, Sam. Você sabe que é brincadeira. Six, quando terminar o café, me encontre lá em cima. Vou mandar uma carta para o James avisando que você chegou. Depois disso, podemos sair e ir para o centro, o que acha?
- Claro. Ei, Lene? – Sirius ergueu os olhos para uma jarra em cima da mesa, onde várias rosas da cor amarela jaziam intocadas.
- Sim?
- Que flores são essas?
- Meu pai deu para mamãe. Sabe, para fazer uma surpresa... – Marlene riu, dando de ombros levemente e erguendo a sobrancelha para a jarra. – Por quê?
- É que, sabe, esse é o tipo de flor que se dá para a avó doente morrendo no hospital... Não é muito legal dar isso para uma garota que não seja velha ou esteja morrendo. – Os dois miraram-se por alguns segundos, começando a rir. – Está bem. Isso foi completamente gay.
- Completamente. Então, até depois, garotos. Se comportem, e, por favor, não se matem enquanto eu estou fora, sim?
- Eu não prometo nada. – Murmurou Sam pelas costas dela, quando a mesma já havia saído da cozinha. – Agora, olha aqui, Black. – Ele atravessou o cômodo inteiro, segurando o outro pelo colarinho da camiseta e apontando o outro dedo no rosto de Sirius. – Se você encostar um desses seus dedos sujos na minha irmãzinha, você vai ver. Eu juro que quebro sua cara, garoto. – O tom de voz dele não era brincadeira. Ele sempre protegera demais Marlene e Evangeline, as irmãs mais novas, ele achava que era como um dever que ele tinha. Mas nunca a protegera tanto, tinha um cuidado especial quando se tratava de Sirius Black. Tantas histórias que já ouvira do garoto, e não queria que Marlene se machucasse como ele fizera com tantas outras. – Fique longe dela. Bem longe.
- Se quer saber, Sammuel, - Ele ergueu-se de sua cadeira, retirando as mãos do outro de seu colarinho, ficando de frente para ele, encarando-o nos olhos. Eles tinham exatamente a mesma altura. – não vou me afastar da Lene porque você está mandando. Eu não vou a lugar algum. Vou ficar aqui. Se ela precisar de mim, eu estarei aqui, sempre a apoiando. Entendeu? Ela é minha melhor amiga, e é apenas isso. Não vou machucá-la, eu juro que não vou.
- É bom mesmo, Black. Porque, se você machucasse a Lene, eu iria te seguir até o inferno, cara, até o inferno mesmo.
- Por favor, diga que vocês se comportaram, sim?
- Ah... Claro. Nada de mais. – O tom de voz dele era um tanto falso, mas ela pareceu não notar, muito ocupada em rabiscar o pedaço de pergaminho em cima de sua mesa.
- Pronto, terminei a carta. – Exclamou alegremente, levantando-se de sua cadeira e entregando-a a Sirius. A fina caligrafia ocupava quase todo o espaço do papel antigo.
Querido Jameszinho inho inho do meu coração,
É, já comecei com a parte melosa da carta. Eu sou rápida, meu bem.
Ok, eu vou direto ao assunto.
O Sirius chegou aqui ontem, de mala e cuia mesmo. É, ele realmente fez o plano valer dessa vez. Devíamos dar um prêmio a ele. Como esperado, ele estava na frente da sua casa feito um doido batendo na porta – era para você ter avisado-o! -, então eu expliquei para ele, e a criatura já está acomodada aqui em casa.
Quando você chega? Você precisa me contar tudo da viagem, Potter!
Aliás, quando você chegar, estou pensando em convidar a ruiva para vir passar uns dias aqui em casa – acho que ela não sabe que sou sua vizinha novamente, então isso pode ajudar ela a aceitar o convite.
Muitas saudades suas.
Marlene.
- Ótimo. Ele vai ficar realmente empolgado com a parte de a Evans vir para cá. – Ele sorriu, entregando a carta novamente para ela. Marlene tratou rapidamente de enfiá-la em um belo papel de carta, prendendo-a no pé de sua coruja e despachando-a.
- É, eu estive pensando em planos para fazê-los ficar juntos, sabe? E, é claro, você irá me ajudar em todos eles. Imagina que lindinho um baby James ou um baby Lily dos dois? – Marlene juntou as palmas das mãos, erguendo os olhos sonhadoramente para o teto. Sirius riu, franzindo o cenho.
- Desde quando você virou tão maternal, Mc?
- Desde nunca. Eu já disse. Vou morrer solteira, gorda e com um milhão de gatos em uma casa. Família e esse tipo de coisa não serve para mim. Eu quero mais. – Falou apressadamente, voltando a olhá-lo.
- O quê? Um milhão de gatos? Fala sério.
- Eu ia gostar de um baby Lily ou James para brincar e mimar quando eu estivesse a fim. Mas eu não ia servir para criar uma criança. Imagina só o desastre, Six. Imaginou? Do jeito que eu sou, os meus filhos iam virar... Sei lá o quê. Coisa boa não ia ser. – Ela falava tudo muito rápido, gesticulando com as mãos e andando por toda a extensão do quarto. Sirius arregalou os olhos, caminhando atrás dela e colocando as mãos em seus ombros.
- Meu Merlin, garota. Acalme-se. – Ela mirou os olhos estranhamente cinzas dele por um minuto, e, então, desatou a rir.
- E você, hein? Desde quando tem esse sonho de ter uma bela família feliz e viver em um campo cheio de mato para todo lado? Você não era assim.
- Na verdade, eu sempre fui assim, Lene. – Ele deu de ombros, crispando os lábios. – Eu daria todo o amor que nunca recebi para essa criança.
- É. Então, quando você tiver uma esposa e morar em uma casa no campo, eu vou visitar você lá com os meus gatos. Feito? – Ele revirou os olhos, enfiando as mãos nos bolsos da calça jeans.
- Vem me visitar? Quando eu tiver uma... esposa? É. Claro. Mas, sério... Você não quer casar, nem nada disso? E pare de fazer piada com uma coisa dessas. É importante, sabe. – A garota sentou-se na beirada de sua cama, puxando-o pelo braço e fazendo-o sentar ao seu lado. Marlene olhou para baixo, encarando as pernas dele.
- Eu seria uma esposa terrível. Uma mãe pior ainda. Não sirvo para isso. – Ela fez uma careta, soltando um longo suspiro. – Alice e Lily tem jeito para essas coisas, sabe? Elas sempre foram mais corretas, mais mães mesmo. Já eu, Emmeline e Dorcas... Nós sabemos que seríamos um fracasso. Por que você acha que queremos ser aurores? Para fazer algum bem para o mundo, já que não iríamos servir para outra coisa do gênero. E com as coisas como estão, não há nem como pensar em ter uma família, Sirius.
- Mas... E se... – O garoto engoliu em seco, colocando a mão em sua própria cabeça. – Sabe... E se você encontrasse... Tipo, a pessoa certa?
- Eu já encontrei a pessoa certa, Sirius. – Ela abriu um largo sorriso, encarando-o nos olhos de um jeito doce. – Você. Quer dizer, se eu quisesse me casar, fazer um pacto do gênero “se não estivermos casados aos quarenta anos, nós dois iremos nos casar”, seria com você que eu faria, sabe? Mas, por favor... – Ela ergueu a sobrancelha, começando a rir. – Não é dessa forma. Você é como um irmão para mim. Como eu sou para você... Ah, pára, você entende o que eu estou dizendo! – Marlene segurou o ar durante longos segundos, soltando-o devagar em seguida. – Cara, como eu falo.
- É... Eu... Irmãos, nós dois. Eu e você. Sempre... É... Sim... Eu... – As palavras saíam sem um único sentido de verdade, os olhos dele passando rapidamente pelos móveis do cômodo. – Lene, eu...
A voz dele foi interrompida por um alto barulho de campainha, que ressoou na parte debaixo da casa. Os olhos de Marlene ficaram hesitantes de repente. De certo modo, desconcertados. Ela ergueu-se da cama rapidamente, caminhado até a porta e parando ali. Estendeu os braços, os dedos apontando para ele, logo voltando os mesmos ao lugar. A boca abriu-se, mas nenhum som saiu de lá. Pelo menos, não o que ela pretendia dizer.
- Sirius... Eu preciso... Deve ser o Edgar. Não posso ir ao centro com você. Quer dizer, pode ir sozinho, se quiser... Eu esqueci que ele vinha, sabe. – Lutava para colocar as palavras em uma ordem certa. Não entedia por que, de repente, alguma coisa não parecia correta quando citava o nome de Edgar. Toda aquela conversa havia sido bastante estranha para o resto do dia. Com toda certeza, era hora de acabar com ela. – Vou ir abrir a porta. Eu... Bem, fique à vontade. Tchau. – E ela desapareceu por trás da porta, deixando, atrás dela, um Sirius completamente atordoado e confuso.
- Lene, oi! – Exclamou a figura de um garoto louro com cerca de dezessete anos no pé da porta. O corpo era bastante musculoso e alto, os cabelos balançando violentamente com o vento do lado de fora da mansão McKinnon. Ele abriu um largo sorriso assim que a porta se abriu, estendendo um maço de flores para a garota. Os olhos dourados da garota pousaram nas flores imediatamente. Um sorriso desapontado pintou seu rosto. – O que foi, Lene? Algum problema?
- É que... Elas são... Amarelas. – Marlene murmurou baixinho, fazendo uma careta para si mesma e voltando a encará-lo. – Nada, Eddie. Elas são lindas. Obrigada, de verdade.
- Sempre, princesa. Sabe, foram importadas da França... Bastante caras. – Ele acenou a cabeça para trás, os cabelos louros bagunçando-se ainda mais com o vento. Passou os dedos no cabelo, de um jeito que lembrava James Potter um pouco demais. Em um gesto que a deixou ligeiramente irritada, para falar a verdade. Sorriu constrangida, comprimindo os lábios em uma linha dura de tédio e franzindo o cenho.
- Ah, claro. Vamos, entre. Vamos para a sala. – Ele agarrou-a pela cintura, prendendo-a contra a parede sem dificuldade e grudando os lábios violentamente nos dela. Não soube direito o que estava fazendo, mas suas mãos foram parar no peitoral dele, empurrando-o para longe. – Pare com isso, aqui não. – Sussurrou baixinho, indagada pelo olhar confuso dele. Edgar, então, soltou um breve bufo, não tendo outra escolha, senão, segui-la pela casa até o outro cômodo.
- Olá, Bones! – Ouviu-se a voz rouca de Sirius assim que o casal entrou na sala, pulando do sofá e caminhando até ambos para cumprimentar o outro garoto. O olhar de Edgar só ficava mais confuso a cada momento. Ele ergueu a sobrancelha para Marlene, que lançou-lhe um sorriso desconcertado, ao mesmo tempo que apertava a mão do moreno.
- Sirius está passando uns dias aqui. – Esclareceu rapidamente, o olhar do namorado transformando-se de confusão em desagrado em menos de um instante. Ergueu os olhos para o teto, soltando um breve suspiro e acenando positivamente com a cabeça. Um largo sorriso tomou conta de seus lábios, o bom humor completamente recuperado.
- Claro, claro. Lene esqueceu de me contar. – Disse brevemente, puxando Marlene pelos ombros para perto de si e selando-lhe os lábios rapidamente.
- Não é uma danadinha? – Perguntou Sirius em um tom divertido e ao mesmo tempo, irritado, puxando a garota para seu lado e, com os olhos percorrendo toda a extensão do rosto dela, depositando um beijo hesitante no topo da cabeça dela. – Realmente, a Lene aqui tem esquecido de contar muitas coisas, não é mesmo? – Edgar riu secamente, no tom mais falso possível, puxando-a novamente. Mas o braço de Sirius o interrompeu.
- Quer soltá-la, por favor? – O moreno ergueu a sobrancelha, lançando um olhar ao seu braço que cercava-a, deixando um sorriso inocente tomar conta de seus lábios.
- Nossa, nem me dei conta. Me desculpe, Bones.
- Por nada, Black. – Ambos trincaram os dentes, sorrindo falsamente um para o outro. Era realmente impossível dizer quem mantinha a maior máscara, evidente no rosto de qualquer um dos dois.
- Vamos sentar, que tal? – Indagou Marlene, impossivelmente mais errada, amassada entre os dois garotos.
- Com certeza. – Responderam Sirius e Edgar em uníssono.
- E então eu estava conversando com Estúrgio Podmore esses dias sobre os carros trouxas. Ambos somos fascinados por tais objetos, se querem saber. Conseguem acreditar que o panaca do Podmore comprou um Chavete 45? (N/A: Não me perguntem, eu não sei porcaria nenhuma de carros. Nem sei se isso existe de verdade. Só sei da marca Chavete. Ou seria Chevete?) Quer dizer, cara, compra um carro de verdade! – Tagarelava o louro sem parar, os braços firmes em volta do corpo de Marlene. A garota encarava Sirius, no sofá da frente, que mantinha os braços cruzados e o olhar entediado quase morrendo. – E não é só o carro. Vocês já repararam nas roupas que ele usa? Com certeza foram compradas em um brechó. Imaginem uma coisa dessas! Minhas roupas são compradas apenas nas melhores e mais caras lojas de toda Londres. Na verdade, de toda a Europa. Bem, eu tenho uma camiseta da Austrália que custou cerca de cem galeões. Mas, quem liga para a Austrália? Aquele país é uma merda! (N/A: Nada contra a Austrália!) Eu quero dizer... Se você quer se dar bem, precisa investir caro. É a vida, as melhores coisas são daqueles que possuem mais bens. Materiais ou não, sabem. – Ele riu abertamente, fazendo um sinal com o dedo para seu corpo bem definido. Marlene escondeu o rosto nas mãos, em sinal de cansaço. Sirius soltou um longo bufo, levantando-se imediatamente do sofá e puxando a garota pela mão.
- O papo está ótimo, Edgar, realmente está. Só vou levar a Lene um pouquinho para me ajudar em uma coisa na cozinha. Rapidinho. – O moreno sorriu largamente, caminhando em passos rápidos e só parando quando ambos já estavam na cozinha. – Fala sério! O que você vê nesse cara? – Ele soltou os braços da garota, colocando a mão direita no bolso e apontando na direção em que era a sala. Marlene mordeu o lábio, erguendo a sobrancelha, em dúvida.
- Ele é um... cara... legal. É, sabe... Ele é legal.
- Ah, é mesmo? – Puxou-a junto dele, abrindo a porta rapidamente, onde a visão dos dois permitia uma panorâmica de um Edgar rindo no telefone enquanto falava um “E você comprou uma porcaria dessas? Onde você compra suas coisas, cara? Na SAK’s?”. – Deve ser brincadeira.
- Mas é, quer dizer... – Murmurava baixinho. Nenhuma frase completa saía de seus lábios... Afinal, ela sabia que era verdade.
- Por favor, venha comigo. – Os olhos do garoto pareciam implorar para que ela aceitasse tal coisa, um misto completo de apreensão e incerteza nas íris cinzas.
- Para onde? – A voz dela parecia falhar cada vez mais a cada minuto. Ele tinha esse estranho efeito sobre ela naquele momento. A Marlene, sempre tão alegre, sempre a garota que não calava a boca, que impunha suas opiniões antes de tudo e de todos, sem sequer se importar se estava sendo inconveniente, havia desaparecido completamente. As mãos grandes e quentes dele apertavam seus pulsos com certa força, que poderia machucar qualquer um. Mas não ela. Era difícil dizer, mas parecia que, naquela força, encontrava-se toda segurança que ela precisasse... Toda a paz. Não havia jeito de ela se machucar com tal coisa. Não mesmo.
- Você vai ver.
A visão era incrível. Além do muro baixo que servia como sacada, era possível visionar todo o vale. O contraste do branco das nuvens e do céu azul, junto com os raios de sol que emanavam das montanhas, há quilômetros de distante, e sempre tão belas, misturando o verde e o roxo em um só. Já os jardins da família McKinnon eram uma obra de arte por si só. O chão de pedra amarelada bem colocado tinha um efeito incrível sobre a sombra dos arbustos e árvores, que ocupavam completamente o espaço que ainda restava no local, invadido também pelas flores, que se dividiam entre o laranja e o vermelho fumegante. Os arbustos, porém, faziam uma abertura em formato de círculos, dando espaço à uma espécie de banco de pedra, que ficava no centro de todo o jardim. A mão de Sirius continuava na dela, esquentando-a, como sempre. O banco de pedra foi passado diretamente, sendo deixado para trás à frente da beleza natural dos gramados, que o ofuscavam. O silêncio era mórbido. Os passos ficavam cada vez mais abafados no chão de pedra, impossível de serem ouvido sob o canto frenético dos pássaros, que voavam pelo céu, parecendo fazer uma dança combinada. Os pés nervosos de Sirius só pararam quando ambos haviam chegado ao limite, ao muro de pedra. As mãos soltaram-se. O garoto virou o rosto para a paisagem que se estendia na frente deles, evitando o olhar de Marlene, que vagava pelos traços do moreno, indecifráveis. Já diferente era a expressão dele, tomada do mais puro nervosismo. Era algo que estava tomando-os bastante naquele dia. O nervosismo de novas palavras, novas emoções... Apesar do silêncio, todos ali sabiam bem o que ia acontecer, pelo menos, o que devia acontecer. Marlene foi a primeira a quebrar o silêncio.
- Você me trouxe aqui, Sirius. Deixei Edgar lá, provavelmente perguntando-se onde nós dois estamos. O que estamos fazendo. Por favor, me diga logo o que é... Você sabe que eu preciso ouvir. - A voz dela era tranqüila, com uma calma sem parecer de falsidade. Serena. Os olhos dele fecharam-se, os lábios contraíram-se e as narinas caçaram o ar rapidamente, para depois deixá-los sair em uma fuga silenciosa. Ele os abriu.
- Marlene... Somos amigos há...
- Nove anos.
- É, nove anos. Eu tento encontrar as palavras, mas a verdade é que isso é completamente impossível, Lene... Eu disse para mim mesmo que isso seria fácil, que era apenas chegar e falar. Mas o que falar? O que eu poderia dizer? Eu não sei o que dizer. Eu não encontro aquelas palavras. Elas fugiram de mim. – A face de Marlene continuava calma, enquanto as palavras de... desculpa, talvez? Enquanto estas ecoavam em seus ouvidos. – Eu preciso falar, de qualquer jeito. Lene, não se faça de idiota, porque isso é algo que você não é. Você sabe muito bem o que eu quero falar, não sabe? Eu sei que sim.
- Eu... Eu imagino. – A garota mordeu os lábios. Sirius acenou positivamente com a cabeça, pensativo.
- Somos perfeitos um para o outro. Você mesma já me disse isso. Então... Por que não, Lene? Você sabe que somos. Sempre fomos, há nove anos. Eu tentei, durante muito tempo, encontrar a resposta para aquele rugido que aparecia no meu peito cada vez que eu a via com outro cara. Eu explicava para mim mesmo como ciúmes de irmãos. O que mais poderia ser? Eu só queria lhe proteger, e era apenas isso. Pelo menos era o que eu dizia para mim mesmo, Marlene. – Ela prendeu a respiração, tapando a boca com a mão esquerda rapidamente, enquanto as mãos dele a tomavam pela cintura, colando-a na dele. – Não é isso, Lene. Nunca foi. Eu não a quero como minha irmã... – Ele ergueu a mão até a face dela, acariciando as bochechas vermelhas com carinho. Uma leve risada escapou desses lábios quando o gesto fez a garota corar. – meu amor. E então, se somos tão perfeitos um para o outro, eu não vejo por que não. A única pergunta que resta é... Você sente o mesmo por mim?
Aquilo claramente a pegou desprevenida. Ali, com as mãos dele prendendo-a e abraçando-a, ela se sentia bem. Ele a fazia se sentir bem. No entanto era... diferente. Marlene entreabriu os lábios, soltando um longo suspiro antes de continuar.
- Eu não sei, Sirius... Eu... Eu nunca o vi assim. Eu nunca olhei com esses olhos para você, consegue entender?
O garoto abaixou a cabeça, a postura caindo um pouco com as palavras. Sirius respirou fundo, erguendo a cabeça novamente e colocando as mãos subitamente nas bochechas dela, prendendo-as contra suas mãos, que tremiam levemente.
- Então comece a olhar.
Every little thing that you have said and done
Feels like it's deep within me
Doesn't really matter if you're on the run
It seems like we're meant to be
Cada pequena coisa que você tenha dito e feito
Parece ter ficado dentro de mim
Realmente não importa se você está só de passagem
Parece que isso era pra acontecer
Ele puxou o rosto dela para mais perto do seu, encarando-a brevemente nos olhos dourados antes de fechar os próprios olhos e tomar os lábios de Marlene. Os mexia ali de um jeito meio desesperado, refletindo bem o estado no qual ele se encontrava. Desespero. Os lábios dela eram macios e cheios, tornando impossível para ele parar de beijá-los naquele momento por um instante que fosse. E, pela primeira vez para ela, ele não era mais seu melhor amigo. Ele era muito mais do que isso. A pessoa que ela queria que a tomasse nos braços, a pessoa com quem ela queria estar em todos os momentos. Os lábios dele eram famintos nos seus, que logo deixaram a surpresa completamente de lado para corresponder, corresponder Sirius. Os lábios dela abriram-se lentamente, dando espaço para a língua do garoto passar, explorando cada centímetro da boca dela, brincando com sua língua, em perfeita harmonia junto da dela. O beijo tornou-se mais calmo, mas não deixava de ser um tanto voraz.
Então, os lábios dela o deixaram.
- Eu... Nós... Ah. Meu. Deus. – Foram as únicas palavras que saíram de seus lábios mais vermelhos do que nunca, antes dela sair correndo e desaparecer atrás da porta mais uma vez. Ele ficou lá, estático, encarando a mesma de um jeito confuso. Um sorriso resplandecente tomou conta de seus lábios, as maçãs do rosto completamente vermelhas. Triunfo.
A noite já caía lá fora, e as primeiras estrelas começavam a nascer. O céu era tomado de uma mistura de roxo escuro com um azul um pouco mais claro, a lua nova aos poucos aparecendo mais e mais na escuridão. Ele ficara lá parado, o dia inteiro, apenas refletindo. Não a vira mais. Não sabia mais o que aconteceria, o que era para acontecer. Qualquer pensamento que lhe viesse à cabeça parecia impossível, e, no entanto, nunca parecera tão próximo como era agora. Ele precisava ver Marlene novamente, saber como ela estava, saber o que ela estava pensando sobre aquilo tudo, sobre aquele beijo. E como teria ficado o Bones? Ela teria simplesmente fingido que nada havia acontecido e teria voltado para os braços do loiro oxigenado? Aquilo não parecia a opção certa. E se ela tivesse lhe contado toda a verdade, e o mesmo estivesse morrendo de vontade de lhe dar umas porradas? Bem, ele não se preocupava muito. Mas precisava saber. Era necessário... Ele queria saber o que devia fazer agora, o que teria de fazer. Talvez ela não quisesse vê-lo nunca mais. Parecia justo. Mas... Do jeito que ela lhe correspondera... Mesmo que ela não quisesse vê-lo nunca mais, aquele pensamento ficaria para sempre em sua memória. Mas, que droga, onde ela estava?
- Aqui. (N/A: Ela lê pensamentos. HUHUH.) – Sussurrou uma voz no escuro, caminhando em passos lentos até o vulto do garoto, sentado com os braços envolvidos nas pernas que nem uma estátua.
- Oi. – Ele sussurrou de volta, sorrindo levemente. Ela também sorriu. Logo chegou ali, ajoelhando-se do lado dele e encarando os olhos dele, que a encaravam de volta, cheios de perguntas, com toda certeza.
- Eu vejo. – A voz tão baixa que era quase impossível distinguir o que ela dissera. Ele ouvira mal.
- Desculpe-me, o quê?
- Eu vejo, Sirius. Eu te vejo. – E, dessa vez, foram os lábios dela que tomaram os dele daquele jeito.
Apaixonado.
Ela conseguia vê-lo, enfim. Sim, ele era mais do que seu melhor amigo. Sim, ele era a pessoa com quem ela queria passar cada momento único. Mas, o mais importante de tudo, ele era, enfim, a pessoa.
A pessoa com quem ela queria passar o resto de sua vida.
Para sempre e todo o sempre.
I've tried to hide it so that no one knows
But I guess it shows
When you look into my eyes
What you did and where you're comin' from
I don't care, as long as you love me, baby.
Who you are
Where you're from
What you did
As long as you love me
(Tentei esconder para que ninguém soubesse
Mas eu acho que da pra perceber
Quando você olha dentro dos meus olhos
O que você fez e de onde veio
Não importa, desde que você me ame, querida
Quem você é
Da onde você é
O que você fez
Desde que você me ame)
Eu espero que gostem dessa short. Eu realmente fiquei MUITO feliz quando terminei, e fazia um século que não escrevia mais nada. ;x
Bem, é isso. Fui. :)
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