Inesperado



Sétimo –Inesperado – Por Hermione


 


                Draco Malfoy estava se desculpando por ter puxado demais o trabalho, mesmo eu o tendo avisado que não era necessário. Estava se desculpando porque eu havia ido parar no hospital.


                Eu obviamente disse que estava tudo bem, que não o culpava por nada. Quer dizer, só o trabalho não me deixaria exausta daquele jeito. Agora, uma jornada dupla de trabalho em duas cidades – dimensões? – diferentes, ah... Isso era outra história. Mas eu não poderia sair por aí admitindo isso.


                Como tudo que havia para ser dito fora dito, Malfoy levou a mão para a chave que pendia na ignição, e antes de girá-la ele olhou novamente para mim, abriu a boca, a mão estacionou no ar, e por um curto segundo eu realmente achei que fôssemos nos beijar. Mas então ouvi o motor roncando, e o momento passou.


                Eu pensaria, nas horas seguintes, se eu estava imaginando coisas.  E, apesar de estar realmente evitando fazer isso desde que lembrara da existência de Draco, eu pensaria na época em que namoramos.


                Descobri que pensava nela não com saudade, mas com carinho e, mais para o final, ainda com certa mágoa.


 


****


 


                Aos quinze anos, eu era uma garota tímida. Começava o Ensino Médio em um colégio novo, e tinha poucas amigas. Falava somente com as garotas que faziam ballet comigo, e mesmo assim muito superficialmente. Ao que parece, minha inteligência toda não servia para conseguir me sociabilizar melhor. Aliás – eu dizia para mim mesma – o problema não era comigo. As outras pessoas é que não eram interessantes o suficiente para me dar o trabalho de fazer – e manter – uma amizade verdadeira.


                Confesso que eu também era um pouco arrogante.


                Draco Malfoy era interessante, até eu admitia isso. Ele era bonito – mais que bonito, charmoso – rico, e tão inteligente quanto eu. Como ele também era conhecido por sua arrogância, posso dizer que formávamos uma dupla dinâmica.


                Um ano mais velho que eu, ele era filho de um grande político, que também dirigia uma enorme firma chamada Companhias Malfoy. Como pode-se esperar, era conhecido no colégio inteiro. Tinha sua fiel gangue o seguindo pelo colégio inteiro. Tinha tudo de graça na vida.


                Eu, desistindo de andar com as garotas do ballet, que pouco faziam além de falar sobre comida integral, quilos a mais e garotos, resolvi me inscrever no grupo de teatro do colégio. Hermione aos quinze anos queria conhecer pessoas interessantes. Ou, se isso não fosse possível, ao menos se tornar um pouco mais social.


                Hermione aos quinze anos se surpreendeu ao ver Draco Malfoy no grupo de teatro.


 


***


 


No resto da viagem de ida, discutimos como seriam filmadas as últimas cenas. Ele perguntou se eu ainda dançava. Pensei, com alguma dose de culpa, que não praticava dança há algum tempo. Mas sim, eu ainda dançava.


                Então ele me explicou, apaixonadamente, o que ele planejava para a última cena. A apresentação da minha personagem seria um balé. E ele não queria usar dublês.


                Me senti elogiada, e confesso que maravilhada. Claro que não era como ser uma bailarina profissional, mas eu me sentia ânsia de pular alegremente, dando vazão a felicidade enorme que eu sentia.


                Quem diria, afinal, que um daqueles sonhos infantis, já meio esquecidos, poderiam se realizar?


                Londres ainda tem surpresas para me dar, pensei deliciada.


               


***


               


                Era comum eu ser chamada para fazer campanhas publicitárias. E era comum eu aceitá-las. Quer dizer, porque não? Te pagam para vestir uma roupa e aparecer em uma dúzia de fotos – algumas vezes acompanhadas de modelos masculinos. E modelos masculinos são bonitos. Então tudo bem, ser modelo era bastante comum para mim.


                Desfilar na passarela, por outro lado, não era.


                Então, embora eu estivesse feliz por experimentar o vestido em tardes quentes e abafadas no sótão, eu ainda me preocupava com o detalhe de que a competição esse ano seria um desfile de moda.


                Claro, eu sabia que Lílian criaria o vestido mais bonito de todos – disso não tinha dúvida. Mas se eu tropeçasse no meio da apresentação e rasgasse a peça de roupa, não adiantaria nada – seríamos desclassificadas.


                Então você não pode realmente me culpar por, durante o intervalo entre as filmagens – leia-se, durante a hora de almoço – escolher um corredor vazio e ficar andando de lá para cá, deslizando sobre uma passarela imaginária, segurando delicadamente as saias do  vestido de meu figurino.


                Eu tentava manter a postura reta, uma aparência elegante e não tropeçar nos sapatos de salto altos demais. Depois de alguns minutos, eu comecei a me divertir fazendo aquilo.


                Sorrindo bobamente, eu cumprimentava toda a enorme audiência feita de ar, e agradecia em voz alta.


                - Obrigada, obrigada! – Acenando as mãos e fazendo mini-reverências em resposta aos aplausos que não paravam. Depois eu procurei a Duquesa acima da multidão – Lílian me dissera que ela observava tudo do alto do palácio, e se apreciasse a apresentação, balançava a cabeça afirmativamente. Claro, na minha imaginação ela chegava a aplaudir, elegantemente.


                - Obrigada! – Agradeci mais uma vez, e com uma pirueta declarei encerrada minha apresentação.


                Só para virar e descobrir meu querido diretor encostado na parede, me olhando com uma sobrancelha levantada. Mas eu podia ver que ele estava se esforçando muito para não começar a gargalhar na minha cara. A boca dele estava repuxada para cima. Lenta e cinicamente, ele começou a aplaudir.


                Eu me senti corar. E nem foi porque reparei que a camisa dele estava alguns botões aberta demais.


                - Pretende desfilar em passarelas? – Ele sorriu. Eu podia perceber que ele estava disfarçadamente implicando comigo.


                - Se for preciso. – Eu não sorri, mas ele não notou. Por um pequeno segundo, achei realmente que ele estivesse observando meu decote.


                - Quer carona para a viagem de volta?


                Com aquela voz perguntando, era impossível dizer não.


 


**


                Foi como se subitamente uma barreira houvesse caído, e agora conseguíamos falar um com outro sobre assuntos diversos – não só a troca de palavras necessária para o trabalho. De fato, a conversa estava tão boa, que eu não pude evitar me arriscar um pouco e o convidar para parar em um pequeno café pelo qual passamos de carro – e que eu sabia que era bom. Ele aceitou.


 E a noite estava só começando.


 


Embora eu não costumasse pensar muito no meu passado, até porque meus anos de colégio não estavam tão longe assim - apesar de parecerem a uma eternidade de distância - ao ver Draco Malfoy era inevitável lembrar daquele colégio infeliz em que estudei, e nos sonhos que eu tinha, que só são infelizes porque não chegaram nem perto de se tornar realidade.



Mas normalmente eu não me importava com isso. Quer dizer, se tornar uma pessoa amarga também não iria adiantar. O melhor era fazer o máximo com as opções que nos eram dadas - e, convenhamos, as minhas opções não eram tão ruins assim.



- O que você quer pedir? - Ele me olhava do outro lado da mesa, sorrindo, confiante. O cheiro gostoso de café impregnava todo o ambiente, e embora fosse um lugar agradável para se ficar, eu cheguei à conclusão que preferia levar o loiro estonteante para o meu quarto - e, se possível, para a minha cama.



Porque sim, eu poderia negar para mim mesma que meu primeiro namorado continuava me deixando excitada. Mas depois de tantos anos de convivência, é difícil acreditar em mim mesma.

 
*****
 
 
Ficamos no café. Conversamos, bebemos, e tivemos uma noite agradável. Quando uns paparazzi finalmente nos acharam, já estávamos felizes demais para nos importar, e, nos apoiando um no outro, pedimos um taxi e fomos para meu apartamento, sabiamente evitando acidentes de trânsito ao deixar o carro no estacionamento em que havíamos parado.



Ao entrar na sala, Draco tropeçou e caiu no sofá. Eu ri e fui para a cozinha, buscar um copo d'água. Tinha bebido demais, mas ainda tinha consciência disso, de modo que a água era uma tentativa de clarear os pensamentos - e diminuir uma possível ressaca do dia seguinte.



Estava justamente pensando o que eu ia fazer com aquele loiro possivelmente desmaiado no sofá da minha sala, quando ele entrou na cozinha. Como eu estava de costas para a porta, só percebi que Draco estava atrás de mim quando ouvi meu nome sendo sussurrado por aquela voz rouca, e suas mãos grandes e masculinas se infiltrando debaixo de minha blusa, como que marcando a fogo a minha pele.



Percebi, naquele exato momento, que não ficar - ou pelo menos agir - sóbria tão cedo. E talvez por isso tenha esquecido, mais tarde, quando o ambiente “quarto” ficou bem mais desejado que o ambiente “cozinha”, de tirar aquele roteiro de Cidade das Máscaras da mesinha de cabeceira.
De modo que ele dormiu ao lado da cama, e realizou aquele abracadabra curioso enquanto dormíamos. 


 


 


N/A. E finalmente, sai mais um capítulo.


Mil obrigadas a Juh Felton, minha beta querida! :D


Obrigada também a: Betina Black, Kika.Cerridween, Deds91, Kitten e  emi_briefs, pelos comentários!


E, como sempre, desculpem a demora. Se comentarem, grandes chances do capítulo não demorar tanto. Mas ele virá de qualquer forma!


 


Com Carinho,


Luce Black xxx

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