Mudança de Planos
Mudança de Planos
O clima em Hogwarts sempre fica estranho em dia de quadribol. As pessoas ficam mais enérgicas, tensas, as rivalidades entre as casas se acentuam e o ar parece crepitar com o estalo de fagulhas elétricas. E tudo isso fica ainda pior quando o jogo é entre Grifinória e Sonserina, a maior das rivalidades de Hogwarts.
Quando eu cheguei ao salão principal para o café, a agitação estava no auge. O pessoal da Lufa-Lufa estava torcendo para a Sonserina, pois tinham perdido o primeiro jogo para a Grifinória. Já a Corvinal engrossava a torcida dos leões, já que eles perderam o jogo passado para nós.
Os times das duas casas rivais eram o centro das atenções aquela manhã. Sentados no meio da mesa, Jules e Devon falavam alto e riam com seus companheiros de equipe. Eu já ia me sentando à uma ponta da mesa, quando Devon me viu e me chamou para sentar ao seu lado.
Enquanto me servia de omeletes, olhei para a mesa da Grifinória. Havia tantas garotas ao redor de Troy Davies que pareciam abelhas em volta de uma lata de Coca-Cola. Comentei isso com Devon. Ele me encarou e disse:
-“Você e suas manias trouxas!”
Mas eu sei que ele só diz isso porque nunca na vida tomou Coca-Cola. Isso é uma das coisas das quais eu mais sinto falta aqui em Hogwarts. Preciso me lembrar de trazer comigo um daqueles engradados com 12 latinhas quando voltar do feriado do Natal. O malão da escola é tão grande que com certeza cabe.
Aos poucos, o pessoal do quadribol terminou o café e levantou-se vagarosamente para dirigir-se ao estádio. Os torcedores das casas os seguiram, gritando e fazendo farra. Alguns poucos alunos da Lufa-Lufa e da Corvinal permaneceram no salão. Já que seus times não estariam jogando, eles não faziam questão de assistir. Ou simplesmente eram pessoas que não gostavam de quadribol, sei lá.
Eu fui uma das últimas a levantar e sair. Não estava com animação suficiente para assistir ao quadribol, mas se não fosse, Jules comeria meu fígado. Ajeitando meu cachecol verde, me preparei para enfrentar o chato vento gélido do outono. Antes que saísse do castelo, porém, ouvi alguém me chamar.
-“Psiu, Ana!”
Não vi ninguém quando olhei para trás. Girei a cabeça de um lado para o outro bem umas cinco vezes, mas não havia ninguém. Continuei a caminhar em direção à porta, pensando que aquilo havia sido apenas impressão minha. Ou eu estava enlouquecendo mesmo, sei lá.
-“Não, garota burra, no quadro!” – disse a voz.
Então eu olhei para o quadro à minha direita e lá estava Fineus Nigellus espremido entre uns cinco ou seis frades gordos, que não pareciam nada contentes com aquela invasão de seu espaço.
-“Escuta aqui, garota burra é a sua...”
-“Está bem, está bem, não temos tempo para isso!” – ele me interrompeu – “Imagino que queira saber mais sobre seu verdadeiro pai, não quer?”
-“O que você quer dizer com isso?”
-“Ora, eu ouvi a história que Diretora lhe contou e vi como você ficou curiosa.”
-“Eu não fiquei curiosa coisa nenhuma!” – menti descaradamente – “Agora se você me dá licença, eu tenho um jogo de quadribol para assistir!”
Eu virei as costa e continuei a andar, mas Fineus gritou:
-“Tem certeza de que não quer vê-lo?”
-“Ver quem?”
-“Seu pai, Lord Voldemort!”
-“Psiu, fale baixo!” – implorei, voltando alguns passos e me aproximando do quadro.
Até agora eu não acredito que fiquei discutindo com o retrato de um parente morto quando deveria estar na arquibancada do estádio de quadribol, me esforçado para preservar minhas amizades. Mas a merda é que eu fiquei.
-“Como eu posso ver o meu pai, se ele está morto? Existe algum retrato dele ou algo assim?”
-“Vá até a sala da diretoria e você verá!”
Então ele começou a andar de quadro em quadro até que desapareceu. Sabe, essas pinturas podem se mover realmente rápido quando querem.
Eu já estava decidida a deixar aquele quadro arrogante para lá e ir assistir ao jogo, mas meus pés não me obedeceram, teimaram em ficar parados. No fim, eu tive de admitir: Fineus me deixara curiosa.
Lancei um último olhar à porta e corri rumo à sala de McGonagall. Se eu fosse até lá e voltasse rápido, poderia ver o final do jogo. Alguns jogos de quadribol demoram horas para acabar, e a minha esperança era que este também demorasse.
Cheguei em frente à gárgula de pedra que guarda a entrada da sala da diretoria e precisei de pouco mais de meio minuto para me lembrar qual era a senha. Por fim, subi as escadas e encontrei a sala vazia, com todos os retratos dos ex-diretores dormindo, à exceção de Fineus.
-“Até que enfim!” – disse ele – “Pensei que tivesse se perdido no caminho.”
-“Anda, me fala logo o que eu tenho que fazer, para eu poder ir ao campo de quadribol ver o jogo.”
-“Está vendo aquele armário?”
-“Estou.”
-“Abra-o e procure uma penseira que está ali dentro. Você sabe o que é uma penseira, não sabe?”
-“Já li a respeito em alguns livros.”
Eu fiz o que ele pediu, abri o armário e comecei a vasculhá-lo em busca do objeto. Eu nunca tinha visto uma penseira na minha vida, mas sabia exatamente o que estava procurando: uma espécie de bacia de pedra com runas. Penseiras são objetos extremamente raros, mas se há um lugar onde eu não me surpreenderia de encontrar uma, esse lugar é Hogwarts.
-“Achei!” – disse triunfante, puxando a bacia lá do fundo do armário.
Coloquei a penseira em cima da mesa com alguma dificuldade, já que era algo realmente muito pesado. Fineus, visivelmente empolgado, começou a despejar instruções:
-“Esta penseira pertencia a Alvo Dumbledore, que foi diretor de Hogwarts antes de Minerva McGonagall. Ao longo de sua vida, Dumbledore encheu essa penseira com as mais diversas lembranças, incluindo lembranças sobre seu pai. O que você tem que fazer é inclinar a cabeça sobre o objeto pensando no nome de seu pai. Quando quiser voltar, basta se concentrar no momento presente.”
-“Está certo.” – eu disse, respirando fundo – “Mas Fineus, que espécie de lembrança eu vou ver?”
-“Isso eu não posso dizer.”
-“Está bem, aqui vou eu.” – eu disse de um modo meio patético.
Então inclinei-me sobre a penseira pensando: “Tom Riddle. Eu preciso de uma lembrança sobre Tom Riddle.”
Fui envolvida por uma névoa prateada e tive a impressão de que estava caindo alguns metros. De repente, meus pés se firmaram novamente no chão. Olhei ao meu redor e vi que estava em um pequeno quarto, onde havia apenas um armário e uma cama. Havia um garoto sentado na cama, com um livro nas mãos. Junto à porta, estava um homem alto e barbudo.
-“Como vai, Tom?” – perguntou o homem, estendendo a mão ao menino.
Tom? Então esse garotinho era Tom Riddle? Meu pai?
Estou começando a entender de onde vieram meus cabelos negros e meu rosto pálido.
-“Sou o professor Dumbledore.” – disse o homem.
Meus olhos se arregalaram. Aquele Dumbledore jovem era bem diferente do velhinho grisalho do retrato da sala da McGonagall.
-“Professor?” – repetiu Tom. – “É como um ‘doutor’? Por que está aqui? Ela trouxe o senhor para me examinar?”
Ele falou aquilo apontando para a porta. Não entendi o motivo do gesto, mas o diálogo entre Dumbledore e meu pai recomeçou depressa, não me deixando muito tempo para pensar:
-“Não, não.”
-“Não acredito no senhor. Ela quer que me examine, não é? Fale a verdade!”
As últimas palavras soaram como uma ordem. Riddle estava sério e com certo olhar ameaçador. Dumbledore, contudo, não deu sinais de intimidar-se.
-“Quem é o senhor?”
-“Eu já lhe disse. Meu nome é Dumbledore, e trabalho em uma escola chamada Hogwarts. Vim lhe oferecer uma vaga em minha escola, sua nova escola, se quiser ir.”
-“O senhor não me engana! O hospício, é de lá que o senhor é, não é? ‘Professor, claro, pois eu não vou, entende? Aquela gata velha é que deveria estar no hospício. Nunca fiz nada a Amandinha nem ao Denis Bishop, e o senhor pode perguntar, eles dirão ao senhor!”
Aquela reação totalmente me assustou. Como um garotinho daquele tamanho poderia ter tanto medo de acabar em um hospício?
-“Eu não sou do hospício.” – disse Dumbledore. Cara, a paciência dele era mesmo de Buda! – “Sou professor e, se você se sentar e se acalmar, posso lhe falar sobre Hogwarts. É claro que se você preferir não ir, ninguém irá forçá-lo...”
-“Gostaria de ver alguém tentar.” – desdenhou Riddle.
-“Hogwarts – continuou Dumbledore – é uma escola para pessoas com talentos especiais...”
-“Eu não sou louco!”
Naquele momento, eu tive vontade de bater nele, juro. Quanto tempo ele ia demorar para entender que Dumbledore não o estava chamando de louco? Eu respirei fundo e implorei mentalmente por paciência.
-“Eu sei que não é. Hogwarts não é uma escola para loucos. É uma escola de magia.”
Eu fiquei tão entusiasmada com aquelas palavras de Dumbledore que comecei a aplaudir. Eu me imaginei vestida de animadora de torcida e gritando: “Vai, Dumbledore! Faça ele entender! Vai, Dumbledore!” É claro que eu estava fazendo um papel ridículo, mas eles não podiam me ver mesmo...
Só parei a minha pequena torcida quando percebi que os dois estavam em silêncio. Rezando para não ter perdido nada importante, apurei os ouvidos para escutar o que viria a seguir:
-“Magia?” – sussurrou o pequeno Tom.
-“Exato.”
-“É .. é magia, o que eu sei fazer?”
-“Que é que você sabe fazer?”
-“Muitas coisas. Sei fazer as coisas se mexerem sem tocar nelas. Sei fazer os bichos me obedecerem sem treinamento. Sei fazer coisas ruins acontecerem a quem me aborrece. Sei fazer as pessoas sentirem dor, se quiser.”
Eu tive a impressão de que ele tremia. Quando voltou a sentar-se na cama, abaixou a cabeça e encarou as próprias mãos.
-“Eu sabia que era diferente. Sabia que era especial. Sempre soube que havia alguma coisa.”
-“Sim, você estava certo. Você é um bruxo.”
Dumbledore havia parado de sorrir. Ele estava examinando Riddle com atenção. Meu jovem futuro pai, por sua vez, ergueu a cabeça parecendo imensamente feliz.
-“O senhor também é bruxo?” – perguntou ele.
-“Sou.”
-“Prove.”
De novo aquele tom de ordem. Eu imagino se era assim que ele se dirigia aos seus fiéis Comensais. Se for, eu é que não queria ser um deles.
-“Se, como imagino, você estiver aceitando a vaga em Hogwarts...” – começou Dumbledore.
-“É claro que estou!”
-”Então, você vai se dirigir a mim, chamando-me de “professor” ou de “senhor”.
-“Desculpe, senhor. Eu quis dizer: por favor, professor, pode me mostrar...?”
Aquilo foi incrível. O modo como o pequeno Tom, futuro líder da galeria “Bruxos Mais Temidos da História”, conseguia mudar seu tom de voz e suas expressões faciais de um terrível ditador para um aluninho humilde e disposto a aprender era incrível. Mas é claro, se ele não tivesse tal habilidade, não seria Lord Voldemort. Naquele dia, Lord Voldemort em miniatura, mas Lord Voldemort mesmo assim.
Eu já mencionei o quanto o pequeno Riddle me impressionou? Bom, o gesto seguinte de Dumbledore não foi menos chocante: ele tirou a varinha do paletó e, com um gesto assim de quem não quer nada, incendiou o guarda-roupa.
Eu dei um pulo para o lado, pois estava a poucos centímetros da mobília. Só depois me dei conta de que, assim como Dumbledore e Riddle não eram capazes de me ver, eu não poderia me queimar com o fogo de uma lembrança.
O garotinho teve uma reação semelhante a minha: pulou da cama e começou a urrar de pavor. Ou de raiva, o que era mais provável. Devo dizer que entendo perfeitamente, eu também odiaria que alguém carbonizasse meu armário inteiro. No entanto, quando as chamas se apagaram, o móvel estava intacto.
-“Onde eu posso arranjar uma dessas?” – perguntou Riddle, apontando cobiçosamente para a varinha de seu novo mestre.
-“Tudo a seu tempo” – respondeu Dumbledore – “Acho que tem alguma coisa querendo sair do seu guarda-roupa.”
Eu olhei para o armário e notei que alguma coisa tremia.
-“Abra a porta.” – ordenou Dumbledore.
O garotinho hesitou, mas obedeceu. Na prateleira mais alta havia um caixinha que vibrava freneticamente.
-“Tire-a daí.” – disse Dumbledore.
Ele apanhou a caixa, notei que estava nervoso.
-“Tem alguma coisa nessa caixa que você não deveria ter?”
-“Suponho que sim, senhor.” – confirmou o pequeno Tom, após lançar um longo olhar ao bruxo.
-“Abra-a.”
O garoto removeu a tampa e despejou o conteúdo em cima da cama. Eu me aproximei o máximo possível para olhar melhor, mas só havia um monte de bugigangas comuns, nada como uma jóia mágica, ou algo explosivo, como eu esperava.
-“Você os devolverá aos donos com suas desculpas. Saberei se fez isso.” – disse Dumbledore. E acrescentou: - “Em Hogwarts, não toleramos roubos.”
-“Sim, senhor.”
-“Em Hogwarts, ensinamos não apenas a usar a magia, mas a controlá-la. Você tem usado seus poderes, decerto sem saber, de um modo que não é ensinado nem tolerado em nossa escola. Você não é o primeiro nem será o último a deixar que a sua magia fuja ao seu controle. Mas é preciso que saiba que Hogwarts pode expulsar alunos e o Ministério da Magia, porque existe um Ministério, castiga os que desrespeitam as leis, ainda mais severamente. Todos os novos bruxos têm de aceitar que, ao entrar em nosso mundo, se submetem às nossas leis.”
Uau! Depois de um discurso como esse, acho que eu vou ficar um mês inteiro sem quebrar as regras da escola. Não que eu já tenha quebrado alguma, afinal de contas, tudo o que eu faço é assistir às aulas. Mas espere aí! Eu estava dentro de uma penseira encontrada no armário da diretoria, sala a qual eu tinha invadido para poder usar a dita penseira. Ó meu Deus, eu sou uma transgressora de regras!
O pequeno intervalo de tempo em que passei refletindo sobre como eu havia me tornado a mais nova delinqüente de Hogwarts influenciada pelo retrato de um parente morto me fez perder um ou dois minutos da cena entre Riddle e Dumbledore. Voltei a acompanhar quando o garotinho declarou:
-“Não tenho dinheiro.”
-“Isto é facilmente remediável.” – disse Dumbledore, tirando uma bolsa de couro do bolso. – “Há um fundo em Hogwarts para os que precisam de ajuda para comprar livros e vestes. Você talvez tenha de comprar alguns livros de feitiços e outras coisas de segunda mão, mas...”
-“Onde se compram livros de feitiços?”
-“No Beco Diagonal. Trouxe a sua lista de livros e materiais escolares. Posso ajudá-lo a encontrar tudo...”
-“O senhor vai me acompanhar?”
E lá estava ele, interrompendo Dumbledore de novo. Eu também não pude deixar de notar que ele apanhou a bolsa de couro sem ao menos agradecer. Quanta falta de educação!
-“Certamente, se você...” – começou o professor.
-“Não preciso do senhor. Estou acostumado a fazer tudo sozinho. Ando por toda a Londres desacompanhado. Como se chega a esse Beco Diagonal... senhor?”
-“Você o verá, embora à sua volta os trouxas, as pessoas que não são bruxas, não o vejam. Pergunte por Tom, o dono do bar, é fácil lembrar, porque tem o mesmo nome que você...”
Nesse momento, eu reparei em um gesto de meu pai muito semelhante ao meu, um gesto de irritação que eu só faço quando alguém insiste em dizer meu nome completo. Inclinar a cabeça para a direita, estreitar os olhos e respirar fundo, tudo ao mesmo tempo.
-“Você não gosta do nome ‘Tom’?” – Dumbledore perguntou, adivinhando os pensamentos do garoto.
-“Tem muita gente com esse nome.” – Rá! Ele não sabe o quanto eu queria ter um nome normal, um que todo mundo tenha mesmo. Minha vontade naquela hora era de sacudi-lo e gritar: ‘Hei! Pelo menos o seu nome não tem onze letras!’ Mas o diálogo continuava, e de qualquer forma, eu não podia sacudir uma lembrança. –“ Meu pai era bruxo? Ele também se chamava Tom Riddle, me disseram.”
-“Receio não saber dizer.”
-“Minha mãe não deve ter sido bruxa ou não teria morrido. Deve ter sido ele. Muito bem, depois de comprar o que preciso, quando vou para essa tal Hogwarts?”
-“Todos os detalhes estão na segunda folha de pergaminho no seu envelope.” – informou Dumbledore. – “Você embarcará na estação de King’s Cross no primeiro dia de setembro. Há também um bilhete de trem aí dentro.”
Dumbledore levantou-se e apertou a mão de Riddle, ao que o garoto disse:
-“Posso falar com as cobras. Descobri isso quando fui ao campo nos passeios, elas me acham, sussurram para mim. Isso é normal nos bruxos?”
Dumbledore hesitou um pouco, então respondeu:
-“Não é normal, mas há ocorrências.”
Como Dumbledore estava anunciando a sua própria saída do quarto de Tom, eu resolvi voltar. Concentrei-me na sala da diretoria e, aos poucos, senti que estava saindo da penseira.
Foi estranho voltar à realidade. Apesar de ter visto a lembrança com incrível nitidez, o presente parecia muito mais concreto. Levei as mãos à cabeça, depois as passei por meus braços, como se quisesse sentir que estava mesmo ali, que estava inteira.
-“Finalmente!” – era a voz de Fineus. – “Conte-me, o que viu?”
-“Vi Dumbledore contando a Riddle que ele era um bruxo e convidando-o para estudar em Hogwarts. Eu demorei tanto tempo assim?”
-“Ah, demorou! Falando nisso, é melhor você ir, o jogo de quadribol terminou e a diretora deve estar a caminho.”
-“Terminou? Como assim TERMINOU?”
-“Ora, alguém pegou o pomo! Ou você não sabe como terminam as partidas de quadribol?”
Eu não respondi, coloquei a penseira de volta no armário de qualquer jeito e saí correndo.
Enquanto corria desabaladamente pelos corredores, pensando em quão ferrada eu estava por não ter assistido nem ao menos o finalzinho da partida, comecei a escutar os gritos dos torcedores entrando novamente no castelo. Diminui o passo e parei em frente à porta de entrada bem a tempo de ver uma onda verde invadir a escola, gritando loucamente.
-“Nós ganhamos! Nós ganhamos!” – gritou Vanessa, uma colega do quarto ano, que insistiu em me abraçar e pular comigo.
Eu demorei quase meio minuto para me desvencilhar do abraço de Vanessa e quase um minuto inteiro para me aproximar da equipe de quadribol, que estava cercada por um muro de fãs em delírio. Felizmente, Devon me reconheceu em meio à multidão e pediu que abrissem caminho para mim.
Quando Jules me viu, porém, sua expressão tornou-se completamente fechada.
-“Por que você não foi?” – ela teve de gritar a pergunta para ser ouvida em meio à algazarra geral.
-“Jules, me desculpe, eu posso explicar!”
-“Depois! Talvez eu ouça suas explicações mais tarde, nesse momento uma festa de vitória me aguarda!”
Então eles se afastaram. Devon ainda teve tempo de fazer um gesto me pedindo para ter paciência antes que o arrastassem junto ao restante do time de quadribol para as masmorras.
Eu fiquei lá, parada em meio ao saguão de entrada enquanto os alunos as outras casas voltavam. Os da Grifinória, irados; os da Corvinal, preocupados; e os da Lufa-Lufa armando esquemas para entrarem na sala comunal da Sonserina e participarem da festa.
Eu não estava no clima para nada daquilo. Tomei o rumo do corujal, planejando me manter o mais longe possível das masmorras e no maior isolamento possível até o horário limite.
E é claro que eu tinha muito no que pensar. Como no fato de que meu pai também não gostava do próprio nome, e em como ele conseguia ser tão frio e calculista. Mas, no fim das contas, eu tinha tanta coisa na cabeça que nem conseguia pensar direito. Quando eu tentava me concentrar em algo, surgiam dez outros pensamentos que roubavam minha atenção. Sabe, acho que naquela noite eu entendi a utilidade de um penseira.
Por fim, cinco minutos antes das de horas, eu voltei à sala comunal da Sonserina. A festa ainda estava no auge, então não foi difícil entrar despercebida e chegar até a porta do dormitório feminino. Só até a porta.
-“Ana!”
Era Jules. Ela tinha me visto e agora vinha correndo ao meu encontro.
-“Eu mudei de idéia, vamos conversar!”
Ela me puxou pelo braço e fez um sinal para Devon, que nos acompanhou. Assim, saímos os três das masmorras, rumo a um local mais sossegado. Acabamos por escolher o banheiro da Murta. Por sorte, ela não estava no momento.
-“Ana,” – começou Jules – “Devon e eu estivemos conversando e estamos preocupados com você. Você quase não conversa mais conosco, anda sumindo entre as aulas, não apareceu hoje para assistir ao jogo...”
Houve um barulho de descarga.
-“Não se preocupem, é só a Murta. Ninguém vem aqui mesmo.” – eu disse.
Jules tomou fôlego. Então continuou:
-“O que nós queremos saber é: O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO COM VOCÊ?”
Devon deu um pulo para trás com aquele gritou, mas eu permaneci parada. Na hora, achei que ela tinha um pouco de razão de estar gritando.
-“Sentem-se,” – sugeri – “é uma longa história.”
=== * * * ===
N/A
Oi gente!
primeiramente, gostaria de explicar por que o capítulo atrasou tanto. A questão é que eu estou estudando para o vestibular e isso tira totalmente meu tempo. Mas não desistam da fic, pq eu também não desisti!
Obrigada pelos comentários e me desculpem por não responde-los agora, prometo que farei isso o mais cedo possível.
Feliz Natal!
Tarí
.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!