Yoga e poderes avançados em Ma
Yoga e poderes avançados em Magia
No dia seguinte à primeira reunião da ALAM, eu mal podia manter os meus olhos abertos. Estava quase dormindo sobre minha tigela de cereal quando alguém cutucou meu ombro. Era Troy.
-“Será que eu poderia falar com você?”
Concordei, então saímos para buscar um lugar mais reservado. Cheguei a pensar – por dez segundos ou algo assim – que ele me abraçaria pela cintura a me beijaria. Apesar de geralmente só fazer esse tipo de coisa em público, Troy bem que gostava de dar uns amassos, e disso eu bem sabia.
Não que beijá-lo não fosse divertido, mas naquela manhã eu não estava nem um pouco afim, então já fui logo cortando:
-“Olha, Troy, você beija super bem, mas minha cabeça está latejando e eu ainda nem terminei meu cereal...”
-“Do que você está falando?”
-“Eu? Nada. Sobre o que você quer falar?”
-“É sobre a reunião de ontem.” – Começou ele. Bem, pelo menos agora eu sabia que uma sessão de amassos atrás da armadura esquisita do corredor de História da Magia estava mesmo fora de cogitação.
-“O que foi? Amanda Willmer precisa que eu repasse o feitiço da desilusão pela...” – contei nos dedos – “sexta vez?”
-“Não. Olha, Ana, não quero que você pense que somos ingratos pelo conhecimento que você nos passou, não é nada disso. E eu entendo que você não tenha planejado nada muito difícil para o primeiro encontro.” – ele mediu as palavras. – “Só o que eu quero dizer é que estamos todos esperando que você nos ensine coisas de mais... poder, entende?”
Não, eu não estava entendendo porcaria nenhuma.
-“Certo. Tudo bem.”
Ele sorriu e girou nos calcanhares para voltar ao salão principal. Ao acompanhá-lo com o olhar, vi Ted Lupin com outro amigo grifinório passar pelo corredor perpendicular ao nosso, lançando-me o pior olhar de desconfiança que eu já tinha visto. Fiz o melhor que pude para sacudir os ombros e ignorá-lo.
Já na metade do caminho de volta ao salão principal, onde eu esperava acalmar o resto de ronco que ainda ocupava meu estômago, ouvi uma voz conhecida me chamar.
-“Então quer dizer que você ainda fala comigo?” – disparei, sentindo a fome, a dor de cabeça e a irritação produzirem seus efeitos nefastos sobre o meu humor.
Devon encolheu os ombros, não me levando a sério. Provavelmente colocando a culpa de meu ataque na TPM.
-“Só queria ter certeza de que você sabia que vamos voltar a ter aulas de Transfiguração. Portanto nosso primeiro tempo hoje está novamente ocupado.”
McGonagall voltou? Era isso mesmo que ele estava me dizendo?
Não perdi mais tempo, dei as costas a Devon e parti em disparada rumo à sala de Transfiguração... apenas para encontrar outra pessoa sentada no lugar da professora McGonagall.
-“Posso ajudá-la, querida?” – perguntou uma jovem de cabelos louro-brilhantes e aparência delicada.
-“Eu estou procurando a Profª. McGonagall.” – respondi, tentando entender quem era aquela mulher.
-“Ela não está, e não acredito que volte tão cedo.”
O sinal para o primeiro tempo soou, ao que a loura estranha abriu um largo sorriso:
-“Ah, perfeito! Hora de começarmos.” – disse ela. – “Por favor tome seu lugar senhorita...”
-“Stevens. E a senhorita?”
-“Srta. Rose, nova professora de Transfiguração.”
Era isso então, agora eu podia ter certeza de que a McGonagall estava entre a vida e a morte no Saint Mungus, lutando contra furúnculos de acromântula, ou alguma outra doença obscura, extremamente dolorosa e eventualmente fatal.
Os outros alunos começaram a chegar, entre eles Jules e Devon, que me lançou um olhar divertido ao passar. Bem, quero ver ele rir da minha preocupação quando a morte da McGonagall for realmente anunciada.
-“Muito bem, quem pode ser gentil e me dizer onde a Profª McGonagall parou?” – perguntou a srta. Rose, com sua voz fina e delicada.
Metade da classe olhou em minha direção, o que era perfeitamente compreensível, já que eu sempre respondia a esse tipo de pergunta, mas naquela manhã eu mal havia comido duas colheradas de cereal no café-da-manhã, minha cabeça doía e meu estômago roncava, e além disso, eu não estava com a menor vontade de fazer a vida daquela usurpadora loura mais fácil. Abaixei a cabeça e me concentrei no meu caderno até que os colegas desistiram de me dar atenção.
-“Paramos na página 513 do livro.” – respondeu Devon, para a surpresa de todos, inclusive a minha.
A nova professora agradeceu e começou a lição, mas eu não pude me concentrar em uma palavra sequer.
Quando a hora do almoço finalmente chegou eu estava faminta. Sem pensar muito, me sentei a ponta da mesa da Sonserina e comecei a colocar no meu prato tudo o que via pela frente que parecia minimamente apetitoso. Notei que as pessoas que se sentavam próximas tomavam o cuidado de manter um grande espaço, distanciando-se de mim, mas minha fome não deixava espaço para que eu me importasse. Enfiei meia batata assada na boca, feliz por poder matar a fome.
De repente, percebi que alguém se sentava ao meu lado. Era Jules.
-“Olha, eu sei que você anda irritadinha.” – ela começou. – “Mas eu realmente preciso te dizer uma coisa.”
-“I-itadinha é bocê! Bocê que me virou as cosbas!” – eu falei, minha boca cheia de batatas fazendo as palavras saírem emboladas.
-“Eu não ajudo quem não quer ser ajudado, mas não é sobre isso que vim conversar. Olhe Ana, eu sei que você provavelmente está muito empolgada com esse seu... namoro.”
Eu lancei a ela o olhar mais cruel que consegui, desafiando-a a continuar o que quer ela tivesse vindo dizer.
-“Eu não acho que o Troy seja a pessoa certa pra você.”
Terminei de engolir as batatas e deixei o queixo cair.
-“O que foi que você disse?”
-“Ele não gosta de você de verdade! Eu o ouvi conversando no corredor com o McLaggen...”
-“Chega, Jules!” – eu gritei, assustando metade do Salão Principal. –“Você está com inveja porque agora eu namoro o garoto mais desejado da escola e tenho novos amigos. Amigos que me apóiam e me aceitam como eu sou!” – baixei o tom ao final, mas fiz questão de enfatizar a última frase.
-“Faça como quiser, mas depois não diga que não tentei avisar.” – ela disse, travando os maxilares com raiva.
Eu praticamente dobrei a quantidade de comida no meu prato depois que Jules saiu. Nada é mais reconfortante do que comida.
Terminado o horário do almoço, Troy se aproximou para me informar que ele decidira marcar uma nova reunião da ALAM para aquela noite.
-“O grupo está muito ansioso para ouvir o que você vai trazer de novo.” – disse ele, com aquele sorriso sempre perfeito. – “Com certeza você já sabe o que dizer.”
Eu não sabia, mas como poderia desapontá-lo?
No horário combinado, eu lancei novamente meu feitiço de desilusão e saí silenciosamente das masmorras. Quando já estava perto da sala, vi dois vultos cruzarem o corredor a minha frente. Não foi difícil identificar que se tratavam dos gêmeos McLaggen envoltos em um feitiço de desilusão desastroso de tão mal feito. Ao andarem, a proteção da desilusão se movimentava junto com eles, criando um distorção na visão. Além disso, os pés não estavam propriamente cobertos. Suspirei de frustração. Não conseguia acreditar que depois de quase uma noite inteira minha aula tinha surtido pouco efeito.
Minha frustração, contudo, se tornou ainda maior com o que vi a seguir. Atrás das figuras semi-invisíveis dos McLaggen vinha Ted Lupin, com seu reluzente emblema de monitor no peito e sua varinha em punho. Ele estava na trilha dos McLaggen e certamente os encontraria. Eu não poderia deixá-lo estragar tudo. A ALAM inteira contava comigo. Troy contava comigo.
Então eu fiz uma coisa vergonhosa.
Aparentemente, o ponto mais baixo da minha vida não era ser filha do Lord das Trevas, ou ter invadido o escritório da diretora para usar clandestinamente a penseira dela. Não, o meu ponto mais baixo seria atacar um monitor da escola no meio da noite, enquanto eu perambulava pelos corredores fora do horário permitido, a caminho de uma reunião secreta e clandestina.
Bem, a verdade é que eu não tenho certeza se um feitiço da confusão conta como ataque. Considerando que foi lançado pelas costas, provavelmente sim.
Me senti mal ao ver Ted Lupin sacudir a cabeça e virar em outra direção, visivelmente aturdido, mas tentei me lembrar de que não tive escolha. Esperei o monitor se afastar mais alguns metros antes de prosseguir rumo à sala vazia.
Novamente, eu tive que executar os feitiços de abafamento sonoro para que a reunião pudesse começar.
-“A segunda reunião oficial da Liga de Aperfeiçoamento em Magia está em ordem.” – anunciou Troy, com um tom formal que não combinava nada com seu jeito de atleta bonachão. – “Ana, o que você tem para nós hoje?”
Nada. Eu não tinha absolutamente na-di-ca de nada. Tive que improvisar.
-“Bem, como Troy me informou hoje mais cedo, vocês querem aprender formas de... melhorar...” – eu comecei, tentando não gaguejar muito.
-“Queremos aumentar o poder da nossa magia.” – disse Rufus Fowler.
-“Isso, certo.” – ai meu deus, o que é que eu ia fazer? – “Hum, certo. Então... se vocês puderem todos fazer um círculo e... e sentar no chão com as pernas cruzadas assim.”
Eles fizeram o que eu pedi. Eu continuei, tentando me lembrar ao máximo o que minha avó Margareth havia me ensinado.
-“No corpo humano nós temos sete chacras, que nos trazem força e estabilidade. Fechem os olhos. Mentalizem o chacra roxo, que fica acima da cabeça. É o chacra do poder espiritual.”
O que eu estava fazendo? De todos os meus conhecimentos em magia o que vinha à minha cabeça aquela hora era Yoga? Infelizmente era tarde demais para voltar atrás.
-“Isso não é yoga?” – um garoto nascido trouxa da Corvinal perguntou, curioso.
-“Fechem os olhos!” – eu insisti, o mais bruscamente que me atrevi. – “Concentrem-se na respiração. Sintam o ar entrando e saindo dos pulmões.”
-“Eu acho que isso é yoga sim. Minha mãe pratica. Isso não tem nada a ver com magia, é coisa de trouxas.” – insistiu um garoto da Grifinória.
-“Ana,” – começou Troy. – “eu pensei que você fosse nos ensinar a nos tornarmos mais fortes em magia com artes ocultas.”
-“Mas os chacras fazem parte da arte oculta.” - menti, sem saber exatamente o motivo. – “Ocultíssima! Parece simples, mas é o primeiro passo. Fechem os olhos e concentrem-se na respiração.”
Pouco mais de dez minutos depois, meus conhecimentos de yoga se esgotaram e eu dei a aula por encerrada. A expressão de desapontamento do grupo era evidente, eu estava começando a entender o motivo, ou pelo menos suspeitava que estava. E foi então que tive uma idéia.
-“Para o próximo encontro, quero que cada um prepare um carta descrevendo exatamente o que gostaria de aprender.” – eu pedi, acrescentando ao final. –“As cartas podem ser anônimas.”
A sugestão foi aprovada e o grupo começou a se dispersar de volta a seus dormitórios. Enquanto os outros saíam, Troy se aproximou. Eu pensei que ele fosse me beijar - e deus sabia que eu precisava de uns bons beijos depois da aula de yoga mais estressante da minha vida – mas ele não deu sinal de estar querendo pegação.
-“Você pode me ajudar com o dever de casa?” – foi só o que eu consegui entender da fala dele, já que estivera perdida naqueles olhos azuis durante vários segundos.
Jules só podia estar mesmo delirando. Como é que aqueles olhos azuis, tão puros e tão bonitos, poderiam sustentar a mentira de que ele gostava de mim de verdade? Supondo que fosse mentira, é claro. Não, aqueles olhos não poderia sustentar nada que não fosse a verdade. E agora ele queria fazer o dever de casa comigo. Será que existe algo mais romântico? Quero dizer, se até na hora do dever de casa ele queria estar comigo, isso significava que ele queria estar comigo em todos os momentos. Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza...
-“Eu posso ajudar, claro. Quer dizer, não sei se vou conseguir fazer muita coisa por você, afinal, são conteúdos que ainda não vi e...”
-“Não se preocupe.” – ele me interrompeu. – “Com certeza você vai conseguir me ajudar muito.” – e então ele sorriu, e uma parte do meu coração derreteu ali mesmo.
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