O Topázio
Com um grito, Harry atirou a espada ao chão e ergueu-se de um salto. Correu até a poça de lama e recolheu o néctar com as mãos em concha. Quando ficaram cheias até a borda, ele voltou até Rony, despejou o néctar no ferimento do peito e espalhou o que restou em seus lábios descorados.
Então, esperou, ansioso. Um minuto se passou. Dois...
— Talvez ele já estivesse muito mal — Jasmine murmurou.
— Rony! — Harry implorou. — Volte! Volte!
As pálpebras do homem se agitaram. Os olhos, aturdidos como se saíssem de um sonho, se abriram.
— O que... aconteceu? — ele murmurou. A cor começava a retornar às suas faces, e ele tateou o ferimento no peito. — Dói — balbuciou, molhando os lábios.
— Mas o corte está cicatrizando! — Jasmine exclamou, surpresa. — Está vendo? Está fechando sozinho! Nunca vi coisa igual.
Cheio de alegria, Harry notou que o ferimento realmente estava se regenerando por si só. Naquele momento, já se transformara numa simples cicatriz inflamada e vermelha. E, enquanto observava, a cicatriz começou a desaparecer até se tornar nada mais do que uma fina linha branca.
— Rony! Você está bem! — ele gritou.
— Claro que estou! — Com um grunhido, Barda sentou-se e correu as mãos pelos cabelos desalinhados. Ele olhou ao redor, atordoado, mas já era o velho Rony novamente. — O que aconteceu? — ele indagou, erguendo-se. — Eu desmaiei? Onde está Gorl?
Sem nada dizer, Harry apontou a armadura amassada sob o galho caído. Rony caminhou até ele, a testa franzida.
— Isso é uma armadura — ele constatou, chutando-a. — Mas não há nenhum corpo dentro dela.
— Acho que o corpo de Gorl se transformou em pó há muito tempo
— Harry replicou. — Tudo o que sobrou dentro da armadura era escuridão e... vontade. Mas, assim que ela foi destruída, até mesmo essa vontade não conseguiu sobreviver. Não na luz.
Rony esboçou um sorriso de desagrado e olhou para cima.
— Então, um galho de árvore caiu e acabou com ele — constatou.
— Isso é que é sorte.
— Não foi sorte — Jasmine exclamou indignada. — Eu disse à árvore mais alta o que deveria ser feito e, finalmente, ela ouviu. Prometi que ela e as companheiras se livrariam das trepadeiras se atendessem ao meu pedido. Sacrificar um ramo é pouco em troca da liberdade.
Rony ergueu as sobrancelhas, incrédulo, porém Harry pousou a mão em seu braço, em sinal de aviso.
— Acredite em mim, Jasmine está dizendo a verdade — ele contou.
— Ela salvou nossas vidas.
— Você salvou a vida de Rony — Jasmine objetou novamente. — O sol fez os Lírios florescerem e...
Ela se interrompeu e virou-se depressa para fitar os Lírios da Vida. Harry a imitou e constatou que eles já perdiam o vigor. Apenas algumas gotas de néctar ainda pingavam de suas pétalas murchas.
Rapidamente, Jasmine puxou uma corrente que carregava no pescoço e tirou de dentro das roupas uma pequena jarra com uma tampa de prata. Ela correu para o terreno cheio de lama e segurou a jarra sob a flor, para que as últimas gotas de néctar caíssem dentro dela. Então, observou os Lírios curvarem as cabeças e, lentamente, caírem na lama.
— Quem sabe quanto irá demorar até que eles floresçam outra vez — disse ela calmamente quando finalmente voltou para a companhia dos outros. — Mas, pelo menos, eles irão florescer, pois o sol irá brilhar sobre eles depois disso. E, enquanto isso, pelo menos, eu tenho um pouco de néctar. Realmente, isso é um grande prêmio.
— Você vai tomá-lo e viver para sempre? — Harry perguntou e sorriu, pois já sabia a resposta.
— Somente um tolo iria querer tal coisa — ela disparou, sacudindo a cabeça. — E, segundo Gorl, essas poucas gotas não serviriam para isso, afinal. O néctar, porém, ainda será útil, como já provamos hoje.
— Como? — Rony quis saber, aturdido.
— Ele o trouxe de volta da beira da morte — Harry murmurou. — Eu vou contar o que aconteceu. Mas primeiro...
Ele apanhou a espada de Gorl. O gigantesco topázio parecia piscar e, então, caiu do punho da espada em sua mão. Harry riu, feliz, quando o ergueu e os raios de sol iluminaram a superfície amarela, transformando-a em ouro.
— O que é isso? — Jasmine se surpreendeu. — É isso que estavam procurando?
Harry percebeu tarde demais que, em seu entusiasmo, traíra seu segredo. Ele viu Rony fazer uma careta e assentir levemente. "Conte-lhe alguma coisa, mas não tudo" era o que o gesto de Rony queria dizer.
— É um topázio, símbolo da lealdade — Harry colocou a pedra na mão impaciente de Jasmine.
— Alguns dizem que o topázio pode... — Rony começou.
Mas se calou, desconcertado. A clareira escureceu abruptamente, como se o sol tivesse se escondido atrás de uma nuvem. No mesmo momento, uma névoa espessa e crescente começou a ser formar. Kree grasnou, Filli resmungou nervosamente. Os três companheiros sentiram-se paralisar.
Saída da névoa, surgiu uma figura branca e ondulante. Era uma mulher, com um rosto doce e sorridente.
— É um espírito — murmurou Rony. — O topázio...
A névoa formou um redemoinho e, então, ouviu-se uma voz.
— Jasmine! — A voz chamou. — Minha querida!
Harry olhou depressa para Jasmine. A garota estava rígida, segurando o topázio à sua frente. Sua face estava tão branca quanto a névoa. Seus lábios se moviam, enquanto ela olhava fixamente o vulto parado diante dela.
— Mamãe! — ela sussurrou. — É... é você? É mesmo você?
— Sim, Jasmine. Como é maravilhoso finalmente poder falar com você. Jasmine, escute com atenção. Não tenho muito tempo. Você tem se saído muito bem desde que seu pai e eu fomos tirados de você. E agora há outra coisa que deve fazer.
— O quê? — Jasmine murmurou. — O quê, mamãe? O espírito estendeu as mãos.
— O garoto, Harry, e o homem, Ronald, são amigos, e a busca deles é uma busca justa — ela disse, a voz suave como um suspiro do vento. — É uma busca que irá libertar nosso reino de Voldemort. Contudo, eles ainda têm muito a fazer e grandes distâncias a percorrer. Você deve unir-se a eles, deixar as Florestas, acompanhá-los e ajudá-los o quanto puder. É seu destino. Você compreendeu?
— Sim — Jasmine sussurrou. — Mas mamãe...
— Agora preciso deixá-la — a voz melancólica falou bem baixo. — Entretanto, estarei cuidando de você, como sempre fiz, Jasmine. Eu a amo, como sempre amei. Seja bondosa, minha querida.
Jasmine ficou parada, imóvel, enquanto a névoa desaparecia devagar. Quando ela se virou para Harry e lhe devolveu o topázio, seus olhos estavam marejados de lágrimas.
— Que mágica é essa? — ela gemeu quase com raiva. — Que pedra é essa que pode mostrar minha mãe?
— Acredita-se que o topázio tem o poder de fazer os vivos entrarem em contato com o mundo dos espíritos — Rony afirmou de maneira rude. — Eu não acreditava, mas...
— Então, minha mãe está morta — Jasmine murmurou. — Eu bem que sabia... eu sentia. Mesmo assim, tinha esperanças... — Seus lábios se endureceram. Então, ela respirou fundo, ergueu o queixo e fitou-os com firmeza.
— Parece que vou com vocês quando forem embora — ela disse.
— Se vocês me aceitarem. — Ela estendeu a mão para a pequena criatura peluda agarrada a seu ombro. — Mas não posso deixar Filli para trás. E Kree me segue por toda parte. Vocês precisam entender isso.
— Mas é claro — Harry exclamou. Então, repentinamente se dando conta de que não era o único que deveria concordar, ele olhou de relance para Rony. Sentiu-se desalentado quando viu que o companheiro sacudia a cabeça devagar. Mas, então, Rony falou.
— Devo estar ficando velho — ele suspirou. — Ou talvez tenha quebrado a cabeça quando caí. As coisas estão acontecendo depressa demais para mim. — Lentamente, um sorriso apareceu em seu rosto. — Mas não tão depressa que eu não possa reconhecer uma boa idéia quando a ouço — acrescentou.
Ele pousou a mão forte no ombro de Harry e virou-se para Jasmine.
— Confesso que não quis que Harry me acompanhasse quando começamos — ele contou, alegre. — Mas se ele tivesse ficado em casa, como eu desejava, estaria morto agora, e a busca estaria perdida. Não vou cometer o mesmo erro outra vez. Se o Destino determinou que devemos ser três, que assim seja.
O Cinturão queimava ao redor da cintura de Harry. Ele o tirou e estendeu-o no chão à sua frente. Agachado sobre ele, encaixou a pedra no primeiro medalhão. O topázio deslizou para sua posição e ali brilhou, puro e dourado como o néctar dos Lírios da Vida, quente e dourado como o sol.
Jasmine fitou o Cinturão com curiosidade.
— Há sete medalhões — ela comentou. — Seis ainda estão vazios.
— Mas um foi preenchido — Harry afirmou, satisfeito.
— A mais longa das jornadas começa com o primeiro passo — filosofou Rony. — E o primeiro passo foi dado. Seja lá o que o próximo nos reservar, agora temos motivos para comemorar.
— Eu vou comemorar começando a libertar as árvores dessas trepadeiras amaldiçoadas — Harry disse, colocando a mão na espada.
Mas Jasmine sorriu.
— Não há necessidade — ela informou. — Todos já sabem que a Escuridão não existe mais.
Ela apontou para cima e, para sua surpresa, Harry viu que as árvores cercadas por trepadeiras estavam repletas de pássaros. Ele não os ouvira porque estavam ocupados demais para gritar ou cantar. Com satisfação, usavam os bicos e as garras para arrancar as trepadeiras e trabalhavam furiosamente. Mais pássaros chegavam a cada instante, pássaros de todos os tipos.
— Os roedores estão a caminho — Jasmine murmurou. — Pequenas criaturas que gostam de raízes e caules. Estarão aqui dentro de uma hora e também irão apreciar as trepadeiras. Em um dia ou dois, as árvores estarão livres.
Os três ficaram parados por um momento, observando a surpreendente cena acima deles. Alguns galhos já estavam livres. Não estavam mais presos e curvados, mas esticavam-se com satisfação para o céu.
— Este deve ter sido um lugar maravilhoso — Harry comentou com suavidade.
— E vai voltar a ser — Jasmine murmurou. — Por sua causa. Que sorte eu tive por você ter vindo.
— Devo confessar que, por um momento, eu duvidei — Rony acrescentou, sorrindo. — Mas tudo terminou bem. Muito bem. — Fatigado, ele esticou os braços. — Acho que deveríamos ficar por um ou dois dias, para descansar, comer e observar a libertação das árvores.
— E depois? — Jasmine quis saber. — O que faremos depois?
— Vamos continuar — Rony respondeu com simplicidade. Devagar, Harry prendeu o Cinturão à cintura mais uma vez. Seu coração estava prestes a explodir. Ele se sentia maravilhado e um tanto triunfante quando pensava no que tinha acabado de ocorrer. Sentia excitação, ansiedade e uma ponta de temor ao imaginar o que os esperava.
Mas, acima de tudo, ele sentia alívio e uma grande felicidade.
A primeira pedra fora encontrada.
A busca para salvar Deltora tinha, de fato, começado.
N//A: Ultimo capitulo da fic... Agora é esperar a continuação....
Logo logo estaremos postando a nova fic " O lago das lagrimas "
Obrigada a todos que acompanharam.
Este é um projeto de Sister's Potter...
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!