Propositalmente só
A primeira semana de aula correra tranquilamente, porém, solitária.
Eduard logo percebeu que seus colegas de casa eram absolutamente individualistas e a maioria procurava andar com alguém que pudesse lhes ser útil de alguma maneira.
Como Eduard não aparentara possuir nenhum tipo de benefício que pudesse atrair novos colegas, acabou ficando sozinho.
De todas as aulas que tinha, Ed demonstrou um interesse maior por poções, embora o profesor Fynter se mostrasse imparcial com todos os alunos.
Na sexta-feira, Ed teria aula de transfiguração com os alunos da Grifinória e veria Teddy pela primeira vez depois da seleção das casas. Não que Ed alimentasse esperanças de se tornarem amigos. Apenas se via um pouco apreensivo, imaginando que tipo de reação Teddy Lupin adotaria sobre ele, Ed.
Teddy se sentou duas fileiras à frente de Eduard e conversava com um menino moreno também da Grifinória.
Ao passar por Ed, Teddy o olhou como se quisesse lhe falar algo sem, contudo, ter coragem para tal. Ed não sustentou esse olhar, virando-se e se acomodando em uma carteira próxima, em silêncio.
A professora que lecionava Transfiguração aparentava ser muito jovem. Não era muito bonita, pois aparentava um cansaço frequente, com grandes olheiras abaixo dos olhos incrivelmente pretos. Seus cabelos eram de um tom castanho-claro desbotado, muito lisos e compridos. Ainda era pálida, e sua veste grená falhava miseravelmente na tarefa de lhe dar uma aparência mais alegre.
Apesar de tudo isso, Selina Andrew conseguia impor respeito, pois era séria e aparentemente desprovida de senso de humor. Ocupara o cardo da professoa Minerva McGonagall desde que esta se tornara diretora de Hogwarts, após a morte de Alvo Dumbledore.
Ao término da aula, quando Eduard alcançava o corredor, ouviu alguém gritar seu nome.
-Eduard! Hey, Eduard!
Ed se virou para olhar quem o chamava. Era Teddy.
-Hum… Oi… – Teddy parecia procurar em seus pensamentos uma maneira de começar.
-Oi. – Respondeu Ed.
- Ãhn… Sabe… Eu estava pensando… Que chato você ter ido pra Sonserina. Você me pareceu uma pessoa legal.
“Quero dizer… Meu padrinho me disse uma vez que o Chapéu Seletor leva em consideração a nossa vontade… Talvez se você demonstrasse querer ir pra outra casa…”
- Eu não me importo de ter ido pra Sonserina. Eu queria mesmo ir pra lá.
- Oh… Bem… Então… - Teddy parecia ter ouvido que Ed preferia criar uma acromântula ao invés de um pufoso.
- Era só isso? – Eduard sabia que estava sendo grosseiro, mas não queria que achassem que ele era um coitado por ser um aluno sonserino.
- É… Acho… Bom… Acho que você foi escolhido pra casa certa então.
Teddy talvez tivesse dito isso porque Ed lhe disse que queria ir para a Sonserina, mas para Ed, era porque sua grosseria o fizera concluir que, afinal, ele não era uma pessoa tão legal assim.
Eduard Sturdt se virou em direção às masmorras onde ficava a sala comunal da Sonserina, sem dar adeus a Teddy. Os olhos coloridos do garoto já estavam começando a lhe irritar.
Ao chegar à sala comunal, antes do jantar, Eduard se sentou em uma confortável poltrona de veludo negro, próxima à lareira e começou a fazer seu dever de casa - cinqüenta e dois centímetros de pergaminho sobre as propriedades da poção do riso.
Antes que pudesse perceber, se viu pensando em Claire.
Logo pegou um pedaço ainda não escrito do pergaminho do dever de casa e começou a escrever algo que não tinha relação alguma com as propriedades da poção do riso.
“Mãe
Por favor me mande notícias de Claire. Papai não quis comentar o assunto, mas disse que ela ficaria bem.
Ed.”
Eduard nunca fora de escrever grandes sentimentalismos pra qualquer pessoa através de cartas. Na verdade, nunca demonstrara sentimentalismos de forma nenhuma, assim como seus pais. Para eles, certas atitudes demonstravam fraqueza. Certamente o Sr. Sturdt havia considerado uma grande fraqueza o choro incontido de Eleanora no St. Mungus. Mas fora justamente esse choro que dera a Eduard a esperança de receber notícias, pois, afinal, sua mãe não parecia predisposta a ignorar o assunto como Sean.
Ed foi ao dormitório, onde estava Taranis.
Ed amarrou o pergaminho gentilmente à pata da coruja, com o nome de Eleanora escrito por fora, e a enviou pela janela, onde rapidamente suas penas negras de fundiram com a escuridão noturna que começava a cair sobre Hogwarts. Logo em seguida, Ed subiu para o jantar, que foi tão monótono e sem graça quanto os outros da mesma semana.
Na manhã de sábado Ed acordou cedo, enquanto seus colegas de dormitório ainda dormiam e subiu para o café da manhã.
Enquanto remexia seus ovos com bacon no prato, Taranis entrou pelo Salão Principal atraindo vagamente a atenção dos poucos alunos que já haviam acordado, trazendo um pergaminho que trazia em uma bela caligrafia a seguinte mensagem:
“Ed
Seu pai e eu resolvemos que o melhor para Claire será estudar em uma escola para trouxas.
Foi um grande choque para nós, mas no mesmo dia em que soubemos da notícia, Sean e eu fomos ao Gringotes, onde trocamos uma boa quantidade de galeões por dinheiro trouxa e no dia seguinte enviamos Claire a um colégio interno em Elephant and Castle. Ela virá passar conosco as férias de Natal e de verão.
Não comente com ninguém sobre nosso problema. Já temos constrangimento suficiente tendo que criar justificativas para nossos conhecidos a respeito da ausência de Claire.
Parabéns pelo ingresso na Sonserina. Seu pai está muito orgulhoso de você.
Elle.”
Elle era o nome mais carinhoso que a mãe de Ed poderia usar. Ela não era o tipo de pessoa que assinava uma carta com “Com amor, mamãe.”.
Ed se sentiu aliviado por ter correspondido às expectativas do pai, mas não se sentia bem com a situação de um modo geral.
Achou que a caligrafia de Eleanora parecia ligeiramente borrada em certas partes da carta, e Ed tinha certeza que ali pousara uma ou duas gotas das lágrimas de sua mãe.
-Hey, Sturdt!
Ed olhou em volta, procurando a origem do chamado. Um menino mais velho, também da Sonserina se acomodou à mesa ao lado de Ed.
O garoto era bonito, apesar de muito magro, e no alto de sua cabeça se acomodava graciosamente um emaranhado de cachos cor de mel. Aparentava ter uns treze anos.
-Meu pai falou que você joga xadrez muito bem.
-Seu pai...?
-Alec Chandertood, amigo do seu pai. Meu nome é Neil.
-Ah... Sim... Jogamos juntos umas duas vezes.
-Então você é bom?
-Não sei. Talvez.
-Quer jogar?
-Pode ser.
Ed e Neil seguiram de volta à sala comunal da Sonserina. Ed não demonstrou simpatia, mas Neil parecia disposto a iniciar uma conversa.
- Como vai sua família?
- Bem.
- O Sr. Sturdt anda fazendo negócios com meu pai, sabe...
- Hum.
- E sua mãe, como está?
- Bem.
- E a sua irmã?
- Tá todo mundo bem.
- Ótimo. Antes que você perceba, Claire vai ter idade para ingressar em Hogwarts. E você já estará no fim do período escolar. Ainda me lembro quando minha irmã mais velha veio pra cá. Eu tinha uns cinco anos. Agora ela trabalha na Irlanda.
Eduard se recusou a inventar uma resposta, ainda que fosse apenas mais um “Hum.”. Sentia-se muito incomodado com a perspectiva de ver Claire fazendo onze anos sem ser chamada para estudar em Hogwarts. Eduard não achava digno que um membro da família Sturdt fosse obrigado a conviver com trouxas pelo resto da vida.
Ao chegarem finalmente na sala comunal, Neil se ausentou por alguns instantes enquanto buscava o jogo de xadrez em seu dormitório.
Durante toda manhã até o horário do almoço, Ed e Neil jogaram xadrez de bruxo silenciosamente. Ed não perdeu uma vez sequer.
Contrariado, Neil se dirigiu primeiro ao salão principal para o almoço, visivelmente desejando que Eduard não o acompanhasse. E ele assim o fez.
Durante as semanas que se seguiram, nem Neil nem qualquer outro aluno tentou se aproximar de Ed, que passava seus dias sozinho, estudando ou observando pelas janelas da biblioteca a movimentação de estudantes. Uma vez ou outra teve a sensação de ser observado com rejeição por alguns alunos sonserinos, e se perguntou se alguém sabia o que acontecera com Claire ou se ele, Ed, estava começando a ficar paranóico.
E assim se passaram as semanas. Os alunos já estavam no fim de outubro, se aproximando das provas escolares. Nada que representasse alguma preocupação para Ed, que preenchera tanto tempo ocioso estudando que se perguntava se haveria alguma questão que não saberia responder. Seus livros continham rabiscos e anotações pelas laterais e rodapés, especialmente seu livro de Poções.
Durante o tempo em que estivera em Hogwarts, não recebera mais nenhuma carta. Sua única correspondência eram bilhetes em papel verde que eram deixados sob seu travesseiro, bem como nos leitos de outros estudantes do primeiro ano, com os dizeres “Draco dormiens nunquam titillandus”, que queimava a mão ao ser tocado. Uma espécie de trote comum entre os veteranos sonserinos. Ed logo aprendeu a se livrar do bilhete inconveniente sem ter de tocá-lo. Afora isso, nenhuma carta lhe era enviada.
Como esperava, Ed se saiu bem em todos os exames e depois disso sentiu o tempo passar assustadoramente rápido.
Já estavam no final de novembro e os preparativos para o Natal em Hogwarts estavam bem adiantados.
Na primeira semana de dezembro os alunos que passariam as férias fora da escola se preparavam para a viagem. Eduard iria tomar o caminho de Hogsmeade e seria recebido pela família antes da entrada do vilarejo, onde embaraçaria em uma carruagem particular da família.
Ao chegar ao local, com a gaiola de Taranis e o malão, Eduard encontrou Sean e Eleanora. Claire, porém, não estava entre eles.
- Onde está...
- Bom dia, Eduard. Não cumprimenta mais seu pai? – disse Sean rispidamente antes que Ed pudesse completar sua pergunta.
- Desculpe pai. Bom dia.
- Entre, querido. Falaremos no caminho. – concluiu Eleanora.
Entretanto, no caminho, Ed não ousou perguntar o que queria e ninguém mais falou nada durante o trajeto, exceto quando Eleanora comentou o quanto Eduard havia crescido em tão pouco tempo.
Ao chegar em casa, Ed olhou à sua volta procurando pela irmã. Antes que precisasse perguntar alguma coisa, notou que Tinkle, um elfo doméstico de grandes olhos azuis acabara de sair da cozinha seguido por Claire.
Se Eleanora achava que Ed tinha crescido nos últimos meses, isso não se comparava ao crescimento de Claire. A menina tinha completado cinco anos no final de setembro, e agora tinha o rosto menos redondo, e crescera tantos centímetros quanto seria possível em pouco mais de três meses.
Claire veio em direção ao Sr. Sturdt, que se apressou em afastar-se em direção aos quartos, impedindo a aproximação da menina.
Ed achou que esta era uma atitude extremamente grosseira até mesmo para os padrões conservadores e sérios de Sean. O pai sempre fora dedicado e atencioso com os dois filhos. Eleanora não se afastou, mas tampouco segurou Claire no colo quando a menina levantou os braços, esperançosa.
Tinkle a puxou carinhosamente pela mão novamente em direção à cozinha. Agora Claire tinha uma expressão chorosa estampada no rosto.
Eleanora seguiu o gesto de Sean, deixando a sala de estar e se dirigindo ao andar superior da casa.
Aproveitando a ausência dos pais, Ed mandou que o elfo ficasse.
- Como está a Claire, Tinkle?
- A menina Claire está bem, meu senhor. – respondeu o elfo com uma referencia.
“Tinkle tem cuidado para que não falte nada para a senhorita Sturdt, meu senhor. A menina Claire aprendeu a ler, meu senhor...”
- Nossa. Isso... Isso é... interessante, Tinkle.
- Sim, meu senhor... E ela escreve algumas coisas também.
- Certo.
Ed foi surpreendido pela pequena mão de Claire segurando a sua. A menina olhou pra ele e disse:
- Eddy ainda gosta da Claire?
Eduard se sentiu inquieto e surpreso, mas antes que pudesse responder (sinceramente) que sim, ainda gostava de Claire, outro comentário lhe escapou:
- Pare de falar como um elfo, Claire.
Os olhos de Claire pareceram mais tristes do que jamais Ed havia visto antes. Tinkle voltou a puxar delicadamente sua mão.
-Tinkle avisou, meu senhor. Avisou para Claire não falar como Tinkle, porque Tinkle era o servo dos Sturdt, meu senhor.
- Vá para a cozinha, Tinkle. – Sean apareceu no alto da escadaria que levava aos quartos. Eduard vá para seu quarto desfazer as malas.
Ed obedeceu, desejando não ter dado uma resposta tão estúpida à pergunta de Claire.
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