A família Sturdt



-Vamos, Eduard. Temos hora marcada no St. Mungus.

-Sim, pai. – respondeu o menino, obediente.

Eduard Sturdt era o filho mais velho de uma família de bruxos nobres. Tinha 11 anos. Seu pai, Sean, era um homem autoritário e sério, sempre com a aparência impecável, e cuja fortuna ocupava dois cofres no Gringotes, o banco dos bruxos. Sua mãe, Eleanora, era uma bruxa elegante e bonita, possuía grandes olhos acinzentados e cabelos castanhos na altura dos ombros, sempre bem penteados.

Eduard tinha uma irmã mais nova, Claire, de quatro anos. A menina era a razão de todos estarem indo ao hospital St. Mungus, pois até então não manifestara nenhum sinal de magia, despertando a preocupação dos pais.

-Arrume o cabelo, Eduard. Um bruxo como você não deve andar na rua mal vestido ou despenteado.

-Sim, mãe. Desculpe.

A família de Eduard era muito rigorosa quanto à boa impressão que causariam aonde fossem, e o menino se acostumara com esse rigor desde muito cedo, quando não podia participar das mesmas brincadeiras que as outras crianças. Até o quadribol era mal visto pela família Sturdt, sendo considerado um esporte inadequado para bruxos refinados e elegantes. Sem muitos amigos com quem brincar ou conversar, Ed estava sempre sozinho ou na companhia de adultos que, de vez em quando, jogavam com ele uma ou duas partidas de xadrez, o que o tornou realmente bom neste esporte.

Sean Sturdt arrumou a gola da capa, ajeitou os cabelos castanhos bem cortados e pegou Claire no colo e, após equilibrar a filha em um dos braços, apanhou no console da lareira, com a mão oposta, um punhado de pó de Flu. Entrando na lareira alta sem grande dificuldade, lançou o pó ao chão.

-Hospital St. Mungus.

O Sr. Sturdt foi envolvido por uma grande chama verde, antes de desaparecer por completo. Ed e sua mãe imediatamente o seguiram.

Ao chegarem ao hospital, foram recebidos por um curandeiro loiro e corpulento, que cumprimentou a família educadamente.

-Então, Sr. Sturdt... Podemos começar com os exames?

-Sim, por favor. – respondeu Sean sem nenhuma manifestação de ansiedade ou nervosismo. Sua voz raramente se alterava, fosse qual fosse seu pensamento ou estado de espírito.

Eleanora, por sua vez, parecia levemente angustiada com a situação, temendo que Claire pudesse ter, por exemplo, magia retraída, que faz com que o bruxo não desenvolva suas habilidades com eficácia, fazendo assim, feitiços incompletos ou com resultados pouco satisfatórios. Nada que não pudesse ser resolvido com força de vontade e bastante treino, mas Eleanora temia que, caso sua suspeita se confirmasse, Claire fosse mandada para a casa de Hogwarts que todos consideravam medíocre. A Lufa-Lufa.

Há muitas gerações, os membros da família Sturdt eram escolhidos para a Sonserina, por sua astúcia, individualismo e ambição. Estas eram qualidades muito apreciadas pelos Sturdt, pois segundo eles, no final, todos estavam sós. “Família e amigos podem nos virar as costas a qualquer momento, Ed. Você precisa saber viver sozinho, ainda que não aprecie a solidão.” – era o que dizia Eleanora.

Se Claire se tornasse uma Lufa-Lufa, isso certamente significaria ser uma pessoa fraca e dependente, de coração mole, despreparada para a vida e para prováveis conquistas futuras.

A família acompanhou o curandeiro até uma sala particular, onde ele colocou Claire em uma espécie de balança, com muitos ponteiros, cada um apontando para uma provável aptidão bruxa, como adivinhação, curandeirismo (esta opção apontava para um círculo com setas menores, onde se liam poções, herbologia, feitiços e alquimia), duelos (também com algumas sub-opções) e ensino da magia, entre outras coisas. Quando a menina subiu na balança, os ponteiros giraram descontroladamente e não pararam em opção alguma, o que deixou o curandeiro com uma expressão pesarosa.

Eleanora parecia cada vez mais nervosa, embora isso só fosse visível para Eduard e Sean, pois suas emoções passariam despercebidas para qualquer outra pessoa.

Em seguida, o curandeiro tirou de uma gaveta uma varinha branca excepcionalmente curta.

-É uma varinha com pouca magia. Não serve para ser usada efetivamente, por isso a usamos em testes. Não tem pesagem nem registro. Se sua filha tiver sangue mágico, assim que agitar a varinha no ar, produzirá centelhas, que é a primeira manifestação significativa da magia de um bruxo.

-O que o senhor quer dizer com “se” ela tiver magia? Nós somos uma família puro-sangue. É claro que ela tem magia. – ponderou Sean, ao que o curandeiro desviou o olhar, com uma expressão pouco agradável.

Sem responder nada ao Sr. Sturdt, o curandeiro entregou a varinha à menina, que a observou, curiosa, no primeiro momento. Depois agitou a varinha no ar, certamente espelhando-se nos movimentos aos quais estava acostumada a ver. Claire brincava alegremente com a varinha de testes, mas esta não emitia centelha alguma.

O curandeiro retirou gentilmente a varinha das mãos de Claire, o que imediatamente apagou seu sorriso.

Sean pegou a filha no colo e, pela primeira vez em seus onze anos de vida, Eduard notou uma ruga de preocupação se formar na testa do pai.

-Certamente o senhor precisa trocar seu material de testes, não? – disse o Sr. Sturdt.

O curandeiro suspirou. Sua expressão era abolutamente conclusiva. Ele próprio agitou levemente a pequena varinha, que imediatamente produziu centelhas azuis.

O Sr. Sturdt se calou, temendo exatamente o que estava prestes a ouvir.

-Sr. Sturdt, eu lamento. Sua filha não é bruxa.

Um silêncio denso recaiu sobra a sala. Sem mais nada a acrescentar, o curandeiro saiu, deixando a família Sturdt a sós. Sean não ousava olhar para a mulher ou o filho. Já Eleanora tinha os olhos rasos de lágrima, como se tivesse acabado de descobrir que Claire possuía uma doença incurável.

Eduard não sabia o que dizer, ou se deveria dizer alguma coisa numa situação como esta.

Claire estava alheia a tudo no colo do pai, mexendo, distraída, em sua gola impecável.

O Sr. Sturdt entregou a filha ao colo da mãe, que a recebeu quase rendida ao pranto. Finalmente, Sean olhou para a mulher.

-Um aborto.

-Querido...

-Nossa filha é um aborto. Uma trouxa. É a vergonha da minha família. Como? Temos sangue-puro.

-Por favor, Sean. Não chame Claire de... Não a chame de...

-Aborto? É o que ela é, Eleanora.

A Sra. Sturdt finalmente se rendeu ao choro, ainda que silencioso. Claire não tinha discernimento suficiente para entender o que significava sangue-ruim, mas sua expressão também se entristeceu ao ver Eleanora chorando e a menina dividia o olhar entre a mãe e o pai.

-Vamos embora, Eduard. Temos que ir ao Beco Diagonal comprar seu material de Hogwarts. – Disse o Sr. Sturdt friamente. – Eleanora, leve a menina e a deixe aos cuidados do elfo. Quero que você me acompanhe até o Gringotes. Amanhã veremos que atitude iremos tomar em relação a tudo isso.

E ao dizer isso, o Sr. Sturdt guiou firmemente Eduard pelos ombros até a saída, deixando para trás duas figuras tristes.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.