Capítulo único.



É segunda-feira e eu amo você.
Autora: Letícia Mistura, vulgo Lety Snape
Gênero: romance
Censura: G – fanfic livre
Ship: Severo Snape/Lílian Evans
Spoiler: nenhum; é UA (Universo Alternativo)
Disclaimer: tudo o que você possa reconhecer aqui sendo fã de Harry Potter é propriedade de J. K. Rowling, vulgo Loira Má Serial Killer, e a autora não visa nenhum tipo de fim lucrativo com esse texto. (Amém.)
Nota da Autora: então, eu sei exatamente o que vocês estão pensando. “Lá vem ela, com mais um romance”, não é? Felizmente, esse romance é bem diferente do que tudo que já escrevi. Para começar, ship novo na área. Para quem não sabe, eu *sempre* escrevo SS/HG, porque, afinal, é a minha paixão, amo esses dois e os acho perfeitos juntos. Mas lá vem uma inspiraçãozinha e pá!,resolvo escrever algo diferente. Eu já tinha escrito duas pequenas T/L, coisinha boba. Na verdade, essa fanfic toda veio de uma inspiração de uma segunda-feira. Pois bem, eu chego à aula com uma amiga, e dou de cara com o nascer do sol mais lindo que já vi. *-* Adoro segundas-feiras, e a inspiração veio e não a segurei, parti pro papel. Essa fanfic é também o presente de aniversário da amiga supracitada. Parabéns, tudo de bom! E agora vou começar, senão isso vai ficar mais extenso que a fanfic em si.

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O sol nascia no claro horizonte azul e levemente púrpura – com nuances de laranja -, e os primeiros raios revelaram nuvens brancas, pinceladas caprichosamente no horizonte. O mesmo sol derretia os últimos vestígios de neve: a primavera começaria em breve na Escócia. Era realmente cedo, mas o castelo da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts já estava em atividade. Alunos, funcionários e mestres já estavam acordados e dispostos para começar mais uma semana.
Como aconteciam todos os dias, o dormitório feminino e grifinório do sexto ano já estava apinhado de roupas, livros, penas e pergaminhos, para todos os lados possíveis. O grande espelho estava com suas bordas levemente arredondadas ocupadas por inúmeros colares, cachecóis e gravatas sem nó. Todas as cinco ocupantes do dormitório sempre brigavam para conseguir um espaço maior na frente do espelho, mas nesta segunda-feira somente quatro das cinco colegas estavam preocupadas com sua aparência. Lílian Evans, a mais quieta do grupo – mas de gênio forte e cabelos fantasticamente rubros -, agira estranhamente, ao menos para seu padrão de empolgação de início de semana. Acordara, arrumara a cama, vestira-se normalmente e apenas passara uma escova nos longos cabelos acobreados, despreocupadamente. Agora estava debruçada sobre o peitoril da janela que abrira; seus cabelos acaju se destacando na visão, flutuando atrás de si. Uma de suas colegas e melhores amigas, Marlene McKinnon, apelidada Lene, percebeu a ausência total de Lílian e a interrogou, usando sua melhor voz tom-de-tribunal.
- Lílian.
- Hum? – fez ela sem, contudo, mover a cabeça.
Marlene revirou os olhos, e, soltando o cabelo que havia prendido em um rabo-de-cavalo no alto da cabeça, aproximou-se dela:
- Lílian, estou falando com você!
Finalmente ela virou-se e encarou a amiga.
- O que foi? – percebeu instintivamente que não devia ter usado um tom tão displicente. As colegas que faziam a maquiagem se sobressaltaram e bufaram quando Lene bradou:
- COMO ASSIM? O que há com você, Lílian? Estava dando um passeio alegre por Saturno ou o quê?
Lílian suspirou, fazendo uma mecha de cabelo ruivo voar.
- Acalme-se, Lene. O que há é que hoje é segunda-feira, está um dia lindo, e...
Lene encarava a ruiva como se esta tivesse dito que Madame Pince, a severa bibliotecária, começara a distribuir gratuitamente os livros da Seção Restrita.
-...Vou descer antes que as torradas amanteigadas terminem. Até depois!
Pegou a mochila e saiu, prendendo o cabelo em uma bonita fivela prateada.
Decidida e sozinha, Lílian Evans começava seu dia.

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A luz surgia nos espaços em que podia se esgueirar no dossel verde-musgo, e logo encontrava os olhos fechados do jovem. Passavam então, a provocar-lhes, mudando de intensidade e dançando rapidamente, até que o jovem abrisse-os. Então, o negrume destes se estreitava e ele bocejava, esticava-se na cama e levantava, como em qualquer outro dia. No entanto, Severo Snape tinha um estranho sorriso no rosto nesta manhã. Gostava de segundas-feiras. Vestiu-se animadamente e saiu apressadamente da masmorra: era excessivamente fria e lhe dava uma sensação sufocante de claustrofobia. Se chegasse cedo ao Salão Principal, talvez ainda pudesse fazer seu desjejum observando o lago – algo que não fazia há tempos.
Porém, quando alcançou seu lugar favorito segurando duas torradas amanteigadas, surpreendeu-se: ele já estava ocupado. Lá estava sentada uma jovem que ele bem conhecia. Seus cabelos eram acaju e ela usava vestes da Casa Grifinória. Era a pessoa que mais queria ver, e também a que mais temia ver. Queria desesperadamente que ela o visse, falasse com ele. Mas também tinha medo disso. Qual era o problema dele, afinal?
Lílian sentiu a presença dele antes que a alcançasse e virou-se ligeiramente para o olhar. Seus olhos imediatamente se atraíram e, como num choque, tornaram a se afastar, cada um olhando para os próprios pés. Lílian sentiu um rubor subir-lhe as faces e soube que estas estavam tão vermelhas quanto os cabelos. Ele, num impulso nervoso, sentou-se a seu lado. Suas alturas eram divertidamente desproporcionais: ele era alto e magro, e ela pequena e franzina, mas delicada. A tensão entre os dois era palpável e a voz de Lílian saiu alta e clara, embora um pouco cambaleante:
- Bom-dia, Snape.
Ele quis responder olhando para ela, mas quando virou-se e olhou diretamente em seus olhos, o verde destes o entorpeceu e ele sacudiu de leve a cabeça.
-Bom-dia. - sua voz estava rouca e neutra. Nem um pingo de emoção, embora esta aflorasse seu peito neste momento.
Ambos olharam para o lago. O sol agora batia nele, que parecia mais azul e profundo que nunca.
Severo reparou em suas torradas. Dando uma mordida em uma delas, perguntou a Lílian:
- Você já comeu?
Ela lhe respondeu prontamente, como se já aguardasse a pergunta com a resposta pronta, e ele percebeu que ela era uma daquelas pessoas que tinham resposta pra tudo.
- Não. As torradas amanteigadas haviam acabado na mesa da Grifinória.
- Bem, se quiser uma...
Ele lhe estendeu a torrada sobressalente, e quando ela a pegou, suas mãos se tocaram levemente. Ambos sentiram um estranho formigamento nas pontas dos dedos, e Severo afastou da mente o impulso de pegar na mão dela, tão pequena e delicada. Por Merlim, o que estava acontecendo com ele?
“Pareço um tolo apaixonado”, suspirou ele melancolicamente, e desviou sua atenção para o lago.
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Lílian deu uma mordida sôfrega na torrada – estava realmente faminta. Parecia uma grande coincidência que Snape tivesse duas torradas, e amanteigadas, as suas favoritas. Fora realmente gentil da parte dele lhe oferecer uma torrada que obviamente ia ser seu café da manhã, pensou Lílian. Sentiu seus olhos lacrimejarem. Estava já a algum tempo olhando para o lago e pensando absorta, sem perceber os insistentes raios de sol que incomodavam-lhe e irritavam-lhe os olhos verde-esmeralda. Duas lágrimas caíram sobre suas maçãs do rosto, e agradeceu aos céus por Severo não ter perguntado se estava chorando. Lágrimas brotavam constantemente de seus olhos, por estes serem muito sensíveis à claridade, e ele realmente detestava quando perguntavam se estava chorando. Limpou as lágrimas com os punhos cerrados, e notou que sua mão esquerda ainda segurava um pedaço particularmente tostado da torrada. Quando o fez, seus cabelos lhe caíram sobre os olhos. Ela os afastou para trás das orelhas. Snape a encarava.
- Evans... Posso lhe perguntar uma coisa?
Ela já adivinhara a pergunta antes mesmo dele proferi-la, mas deu um meio-sorriso e assentiu. O sol agora brilhava sobre os dois, secando os gramados, já bem prejudicados pela neve.
- Por que você está aqui, comigo, e não com suas amigas na mesa da Grifinória?
Lílian sorriu e encarou aqueles olhos negros. Eram realmente belos.
- Porque hoje é um dia especial, Severo.
Ele havia baixado os olhos, mas a menção de seu primeiro nome o fez sorrir e a encarar. O sorriso dele era bonito. Tinha covinhas no canto os lábios, e o coração de Lílian pareceu bater mais forte nos segundos em que o ficou observando sorrir.
Ela levantou-se subitamente, e ele fez o mesmo. Os alunos começavam a retirar-se das margens do lago, as aulas começariam em pouco tempo, e os dois não queriam perder as suas.
- Eu a verei amanhã? – perguntou ele, esperançoso.
- Eu diria que provavelmente sim. Boa aula!
Ela suspirou, o olhou mais uma vez e desapareceu no meio dos estudantes que iam para suas salas de aula. Severo sorriu e atirou no lago o pedaço de torrada que ela deixara. O sol bateu em seus cabelos negros, e ele soube que uma amizade duradoura estava travada.
Mas, por algum motivo, ainda queria ver Lílian, tê-la perto dele. Talvez uma coruja de penugem negra ainda visitasse, no almoço, a mesa da Grifinória.

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Lílian Evans subiu correndo as escadas de mármore, rumando desabalada para a sala de Transfiguração. Estava desesperada, nunca se atrasara antes, e as pontadas nas costelas eram cruéis. Passou derrapando pela classe de Feitiços e parou, ofegando, à frente das enormes portas de madeira da sala de aula de Minerva McGonagall. Estava encrencada, e sabia disso. Bateu timidamente e a porta se abriu. A professora a espiava severa, por trás da majestosa escrivaninha de madeira brilhante. Todos os colegas, sem exceção, viraram a cabeça para acompanhar sua caminhada até a mesa da professora. Ela viu suas amigas com caretas de preocupação, e o detestável Potter escrevendo algo. Ele estava escrevendo fora do pergaminho, distraído em olhá-la. Quando finalmente chegou, sentiu que as bochechas estavam queimando. Não se surpreendeu tampouco se abalou. A professora a observava com uma expressão curiosa no rosto, dividindo este entre a curiosidade e a determinação. Disse apenas:
- Senhorita Evans.
Lílian respirou fundo e respondeu:
- Eu me atrasei, desculpe, professora.
- Isto – disse McGonagall – é óbvio. Por que se atrasou?
Lílian sentiu-se ficar ainda mais vermelha, se é que isso era possível. A culpa é do Snape, é toda dele!, disse uma voz na sua cabeça. Ela não cedeu.
- Eu, é... Estava com Hagrid. Ele queria, ãhn... Mostrar-me seus novos pelúcios ou algo assim.
- Seus novos pelúcios – repetiu a professora, com os olhos brilhando – Certo, por hoje está perdoada, senhorita Evans.
Lílian soltou pesadamente a respiração – nem havia notado que a segurara durante esse tempo.
- Pode sentar.
Lílian sentou-se ao lado das amigas, mas nada conseguiu tirar sua concentração, nem mesmo um meloso bilhete do arrogante Potter, demonstrando sua preocupação com o atraso dela. Quando Lílian se distraía, por brevíssimos instantes, era olhos negros que ela via, e tinha a sensação de que não ia agüentar até a manhã seguinte para vê-los novamente.

A manhã passou extremamente rápida para dois alunos naquela segunda-feira. Até a chata aula do professor Binns fora tolerável para os dois. A hora do almoço era decisiva para ambos, e ela chegou agradável aos dois. Lílian chegava da aula de Poções de excelente humor – o professor Slughorn a elogiara muito por sua Poção do Sono, e ela estava realmente orgulhosa desse feito, quando vários alunos soltaram gritinhos: uma coruja, aparentemente retardatária do correio da manhã, surgiu rápida e passou de raspão pela mesa da Corvinal, rumando para a mesa da Grifinória e deixando cair do bico lustro um bilhete, que aterrissou no colo de Lílian. Todos olharam para ela, mas ela só via, ao longe, o meio-sorriso suspeito de quem lhe enviara o bilhete. Tapando a visão bisbilhoteira dos colegas, Lílian leu o seguinte bilhete, escrito às pressas:

Encontre-me perto da estufa três às dezenove horas.

S.S.


Nem precisava ter assinado. Lílian, em seu inconsciente, já esperava o bilhete. Gostou do estilo dele: severo, seco, autoritário. A letra não era bonita, mas tinha estilo. Ele ligava com um pequeno floreio os dois “esses” de suas iniciais. Lílian guardou o bilhete no bolso interno das vestes, evitando assim o olhar de cobiça das amigas. Queria guardar aquele encontro para ela; nem para Marlene contaria; e tinha a impressão que ele também não contaria a ninguém.

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Às dezenove horas daquela mesma segunda-feira, dois alunos de Casas diferentes saíram sorrateiramente para os jardins. Era muito mais fácil esconder-se naquela época, e os dois chegaram sem nenhum problema ao local combinado. Severo, como bom britânico, chegou na hora exata e ficou a esperá-la. Ela chegou apenas alguns instantes depois, muito bonita em vestes negras e simples. Ele também usava vestes negras, mas colocara uma gravata verde-esmeralda sobre a camisa. Lílian sorriu e se aproximou dele. Ele quebrou o silêncio.
- Você não respondeu ao meu bilhete.
Ela respondeu-lhe com uma pergunta:
- E precisava?
Ele sorriu-lhe e sussurrou: “Venha cá.”
Havia um pequeno banco toscamente esculpido de madeira, e ele convidou Lílian a sentar com um gesto teatral. Ela deu uma risadinha e sentou-se. O banco era quase rente ao chão, e enquanto esperava algo que não fazia idéia de como chegaria, começou a esmagar a grama seca nas mãos. Em intervalos disso, percebeu outros ruídos semelhantes, e olhou para o lado: ele também estrangulava as folhas. Ambos apertaram as mãos com as folhas secas e sorriram. Lílian não se agüentou e perguntou:

- O que estamos esperando?
- Espere mais um pouco. Prometo que valerá a espera.
Mais alguns instantes passaram, o silêncio quebrado apenas pelos ruídos de folhas secas estralando. De repente, e voz rouca dele disse:
- Olhe. O espetáculo está começando.
Lílian então olhou para o horizonte, e percebeu o que estavam esperando: ela estava diante do mais lindo pôr-do-sol que já vira. O sol parecia querer chamar-lhe a atenção a todo custo, refulgia e brilhava intensamente, uma imensa bola de fogo desaparecendo em meio a nuvens brancas – por vezes pintadas de cor-de-rosa e azul. Lílian buscou a mão dele sobre o banco e segurou-a, não contendo a emoção ao ver tão bela obra da natureza. Ele apertou sua mão e sorriu-lhe, e Lílian Evans sentiu seu coração inchar e pulsar, sentiu-se bem e completa. O pôr-do-sol ia terminando, ainda belo, em tons de azul-marinho e laranja. Lílian virou-se para Severo. Ele fez o mesmo.
- Obrigada, foi o pôr-do-sol mais lindo que já vi.
- Eu sei – disse ele – ele foi encomendado para você.
Ela riu entre as lágrimas e abraçou-o, somente o pôr-do-sol a observar-lhes a cena.
- Acho que estou amando você, Severo Snape.

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Quando Lílian se preparava para dormir, relembrando intensamente o que vira e sentira, ouviu estalos na janela mais próxima. Tomando extremo cuidado para não despertar as colegas, abriu a janela. Ali estava a coruja que entregara o bilhete dele no almoço. Ela arrancou outro bilhete do bico da coruja e fechou a janela novamente, desta vez sem se preocupar com o barulho – será que fizera algum barulho? A única coisa que via era oito palavras com a mesma caligrafia do bilhete anterior, só que infinitamente mais belas:
Ainda é segunda-feira e eu amo você.

Fim.



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