Capítulo 1
Esse desejo insano me invadiu de uma forma devastadora. E agora posso ver como tudo era tão simples, tão vazio. Os corredores cercados por cálidas paredes de mármore que são testemunhas de uma guerra, de um mundo podre. O sangue pulsa de forma suculenta pelas veias dos alunos que circulam pelo castelo. E essa obsessão quase vampiresca, me persegue e não há como esconder-se.
A compulsão, a agonia que precisa ser parada. Satisfeita. Apenas tomar a vida de alguém pode me acalmar. E por mais que possa parecer cruel, não sinto nada. Desde as férias esse vazio me domina, mas algo bloqueia minha memória e não permite que descubra o porquê.
Não consigo lembrar quando não era assim. Parece que havia algo esperando, na espreita pronto para despertar. Então, aconteceu. Não sei exatamente o que, mas foi o suficiente para acordar um monstro adormecido e até então controlado. E a cada morte sinto-me mais dependente dessa obsessão de ser uma assassina. Estranho, porém matar outros é o que me faz sentir-me viva.
Minhas vítimas porém são pessoas más. Pessoas muito más. E em meu julgamento elas merecem a morte. A ordem e o Ministério deviam agradecer-me infinitamente, livro-me mais de Comensais que eles próprios. Essa foi a forma que encontrei de filtrar minha culpa, matando Comensais ou qualquer um que esta ao lado de Voldemort. Você-Sabe-Quem, idiota. Um bruxo aterrorizando um mundo. É triste, e é patético e parte meu coração. Supondo-se que eu tenha um...
Acho que nesses longos anos, fiz alguns amigos. Quer dizer, eles estão apagados desde as férias, mas não importa eles nem sequer sabem disso e não irão saber. Algo que aprendi com perfeição foi a fingir. Esta é minha máscara, e meu jeito de permanecer viva. Sobrevivência, essa é a chave.
E lá estão todos sentados na mesa da Grifinória, sorrindo provavelmente por alguma bobagem que Rony disse. Parecem felizes, ignorando toda a podridão e a maldade que os cercam. Satisfeitos com tão pouco que não importa se a morte ronda cada um dos seres de Hogwarts. Enfim eles conseguem ver uma chama acesa onde só consigo enxergar uma escuridão desumana. Igual a mim...
- Hermione? – consigo ouvir alguém chamando meu nome. Uma voz conhecida, que me faz virar o rosto repondo minha máscara tão familiar.
- Sim? – Minhas sobrancelhas levantadas esperam por uma resposta. Harry Potter, o grande bruxo que vai nos salvar, O-menino-que-sobriveu. Por favor, encaro ele e consigo ver além de seus olhos. Medo, dor, ele não é nem capaz de salvar a si próprio. Apesar da coragem que reluz sobre ele, Harry precisa enfrentar ele mesmo antes de tentar salvar o mundo.
- Por que esta tão calada? – A verdade? A verdade ninguém é capaz de ouvir. A necessidade de matar alguém suga toda minha sanidade. Preciso de um alvo, logo. Antes que acabe escolhendo um inocente e minhas regras de conduta sejam drasticamente quebradas.
- Pensando que me esqueci de fazer umas coisas, e isto esta me matando. – entortei a boca numa espécie de sorriso. Harry me encarava incrédulo enquanto supunha que me referia a algum livro.
- Esqueceu de ler alguma coisa? Relaxa Mione, ainda é nossa primeira noite em Hogwarts. Você vai ter muito tempo... – Pro que realmente quero fazer, não vou ter não. Aqui tudo fica mais difícil. Meu ciclo vicioso é mais lento, e pode até mesmo ser quebrado.
- É, eu ainda tenho várias noites pela frente. – Harry não percebeu o que aquelas palavras significavam. Apenas sorriu e voltou-se para Dino, sentado a sua frente.
Não há em toda Hogwarts alguém que seja em todo sincero, honesto. Ninguém é. Todos cercados de segredos. Porém são tão óbvios e previsíveis, mas felizes e repletos de sentimentos. Sorte deles...
Um olhar esta me rondando e absolutamente vem da mesa a minha esquerda. Sonserina. Não é difícil identificar o meu observador. Aquela face pálida, com cabelos loiros reluzentes. Aquela íris acinzentada reconheceria em qualquer lugar. Malfoy, acho que desprezava-o, agora já não sei o que acho dele. Parece me analisar, tentar invadir meus pensamentos. Impossível, em meu atual estado oclumência é meu principal aliado.
Ele sente. Não sabe o que, mas sente que escondo algo. Não é de surpreender afinal o mundo onde ele vive segredos é o que não falta. Malfoy não é esse monstro que o Harry diz, pelo contrário ele me parece bastante assustado. Essa obsessão de Potter para com Draco é quase imprópria. Uma coisa que aprendi é que todos somos bons... E todos somos maus.
Malfoy esta a me desafiar. Com um simples olhar sagaz, ele propõe um jogo que só eu sou capaz de entender. Este garoto terrivelmente loiro, quer brincar. O sorriso sádico diz minha resposta. Eu quero, quero mesmo brincar.
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Minha cama me parece tão acolhedora e amiga. Repleta de meus segredos. Sempre esperando a noite me abraçar e minha máscara cair.
Minhas veias repletas de sangue foram quebradas ao meio. Estou envenenada. Impura, indigna. Sendo puxada pelo vazio para uma escuridão tão bela onde me encontro sozinha.
Não estou muito certa do que sou. Só sei que existe algo sombrio em mim e eu escondo. E certamente não falo sobre, mas esta lá. Sempre. Esse passageiro sombrio. Quando ele esta dirigindo eu me sinto... Viva. Meio mal de ter essa sensação de estar totalmente errada. Não luto contra eles. Não quero. É tudo o que tenho. Nada mais poderia me amar. Nem eu mesma.
O sono lambendo minha pupila, já não resisto a ele. Minhas pálpebras se fecham automaticamente. Uma textura delicada e grossa escorrendo pelo meu rosto, para finalmente revelar minha face.
A minha verdadeira face, cruel e seca.
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Não preciso de um despertador, ou de alguém. Pessoas como eu acordam antes do primeiro raio de sol.
A água gelada percorre meu corpo. Sinto-me suja, porém esta água não limpara minhas impurezas. E estas vestes novas não esconderão minhas mentiras. Não para mim.
Meus braços se aliviam, quando coloco os grossos e pesados livros sobre a mesa. Enquanto analiso o Grande Salão, sirvo-me do banquete sentada elegantemente na mesa da Grifinória, posso sentir que ele esta lá. Pronto e ansioso. Ansiedade não Malfoy, tenha controle.
O jogo começou para ele. E Draco quer agir... Não posso deixá-lo ser impulsivo, se não ele me levará para o buraco. Balanço a cabeça negativamente, apenas para ele perceber. Isto é o suficiente para dizer: Se controle, ou você já perdeu.
Ele não sabe, porém esta em minhas mãos. Este garoto é igual a mim, mas precisa aprender muito. Ou não irá sobreviver. E quando se é dominado por esse monstro, você perde sua vida. Não há esperança. Você só luta pela sobrevivência. Enfim, ele quer jogar então que se iniciem os jogos...
Eu não poderia sentir essa necessidade. Como mil vozes escondidas... Sussurrando: “Isso é quem você é”.E você luta contra a pressão, a necessidade crescendo como uma onda. Perfurando e insistindo, cutucando para ser alimentado. Mas o sussurro fica mais alto... Até gritar: “Agora”! E é a única voz que você ouve, a única voz que quer ouvir. E você pertence a isso. A essa... Sombra própria. A este... Passageiro sombrio.
N/A: Desculpem a demora e pelo capítulo tão curto. Prometo tentar escrever mais rápido e fazer capítulos maiores. Enfim é apenas o primeiro.
Obrigada pelos comentários (:
Sams Fr.
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