Prólogo.
Aquela era uma memória bem guardada na cabecinha de Ann. Não mais importante que o primeiro beijo dela, ou quando ganhou um par de sapatos Manolo Blahnik de seu pai, mas é definitivamente importante para o desenrolar da história que se segue.
“Ann, com seus cabelos loiros lisos e bem penteados, estava sentada no trem que a levaria para Salém. Sair da Califórnia era difícil para ela, ela adorava o sol e as praias. Iria sentir falta da sua vida de trouxa, mas ser bruxa era bem legal e explicava vários acontecimentos (Como por exemplo, quando ela acordou e estava flutuando na cama, ou quando ela transformou a maçã da professora em uma barata enorme no dia em que a professora havia colocado-a de castigo. Também teve aquele dia em que ela havia acordado com o cabelo perfeito... Mas acho que ninguém considera isso magia, não é?). Ann abriu sua “Teen Vogue” e olhou as roupas, sorridente.
- Eu tenho, eu tenho, eu tenho... – Ela disse enquanto passava as páginas se referindo as roupas e sapatos que via. – Tenho, mas na cor rosa. – Ela disse olhando para seus pés, onde um par de sandálias cor de rosa estavam. Havia ganhado-as de seu tio de aniversário e estava adorando o fato de ter um pequeno salto nela.
Foi enquanto admirava a sandália que Peter entrou na cabine que Ann estava. Peter era magricelo, usava um par de óculos horríveis e all stars sujos. A camiseta preta estava coberta por uma camisa xadrez. O cabelo preto e liso estava quase no ombro e Ann podia ver que ele não era lavado há muito tempo. Era um completo contraste com a menina, de saia rosa bebê, combinada com a blusa branca de flores, sandália rosa e cabelos loiros bem penteados.
- Oi. Não há mais vagões. – Ele disse para justificar sua presença no vagão.
- Tudo bem. – Ela disse voltando a ler sua revista.
- Você é Ann? – Ele perguntou pegando em sua mochila uma revistinha do homem-aranha.
- Sim. – Ann disse um pouco brava. Queria ler sua revista. – Você por acaso me conhece?
- Sou Peter. Acho que meu tio trabalha na filial do seu pai em Seattle. – Peter disse abrindo a revista.
- Ah, me lembrei agora. – Ann disse recordando do menino irritante que puxava suas tranças quando pequena. Ela o detestava e sabia que ninguém que puxa os cabelos de outra pessoa deve gostar dela.
Fora calados a viagem inteira, hora ou outra observando como eram o oposto um do outro. Ann o achava ridículo, rebelde sem causa, um grunge sujo e mal educado.
Peter a achava uma patricinha que só se importava com o novo lançamento daquelas marcas ridículas que cobravam mais por um sapato do que valia tudo que ele possuía no mundo.
E agora teriam que se aturar, já que se veriam até o final do ano praticamente todos os dias.”
Começou aí o ódio recíproco e completamente platônico que durou até o sexto ano deles. Eles nem conversavam um com outro, mas sabiam que se conversassem não ia dar certo. Ela era Ann, popular, linda, inteligente. Ele era um grunge sujo, com sua banda tão suja quanto ele. Mas se você chegasse perto ia ver a porção “gênio incompreendido” de Peter. Mas o destino tem um senso de humor inigualável, e, depois de um tempo de tédio resolve fazer experiências envolvendo pobres mortais. E os pobres mortais dessa vez são Peter e Ann.
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