À Flor da Pele



Hermione entrou no salão Principal e encontrou com os olhos verdes pensativos, franziu a testa e se encaminhou para a mesa. Sentou-se ao lado de Ron e se aproximou, sussurrando:

-Ele está bem?

O garoto virou a cabeça ruiva indignado, olhando para Hermione.

-Por que você não pergunta?

Bufou e pegou uma torrada, passando geléia. Gina chegou logo depois. Harry, que até aquela hora não havia pronunciado uma palavra, virou-se e perguntou:

-Onde está Karla?
-Não quis sair da cama, disse que estava indisposta. Vocês conversaram até tarde ontem à noite.
-Oh, está explicado.-retrucou Hermione, abrindo o Profeta.
-Onde está Cólin, Hermione?-questionou Harry agressivamente.
-Não sei, por que? Quer pedir desculpas?

O garoto cerrou os dentes, ficando vermelho. Ron, que queria mudar de assunto, tentou:

-Algo interessante aconteceu?
-Hum...-murmurou Hermione, por trás do jornal.-Aquele comensal que trabalhava no ministério morreu. Aqui diz que desde a batalha ele estava internado no St. Mungus...
-Alguma notícia boa?- perguntou Gina.
-E essa não é?
-Um ser humano morreu, Ron. Como pode ser uma notícia boa?
-Mas ele era um seguidor de Voldemort!
-Não deixa de ser um ser humano... Não esquenta, Ginny. Vai demorar pro Ron entender desses assuntos...
-Homens.-retrucou.
-Com licença.-disse Harry se levantando.- Vou ver se está tudo bem com Karla.
-Isso não é novidade.-provocou Hermione.
-Bah...

Andou em direção ao salão comunal, mas não estava indo ver Karla. Na verdade, a última pessoa que queria ver era ela. Entrou no salão comunal. Ia pegar o mapa Maroto para ver onde Cólin estava. Fazia dias que o seguia, para tentar achar uma prova de que ele era um canalha, e jogar na cara de Hermione. Mas não precisou subir as escadas do seu dormitório e pegar o mapa. Escutou vozes vindo de seu quarto. Apurou seus ouvidos e escutou:

-Cara, eu preciso do dinheiro que me prometeu!-dizia uma voz fina, porém masculina.
-Você enlouqueceu? Não te prometi nada! E fale baixo, alguém pode escutar!
-Eu falo no tom que quiser!-disse aumentando a voz.-Se eu contar que foi você que me pagou para fazer tudo aquilo, você se ferra, cara.
-Do que você está falando?
-Não se finja de desentendido! Me mandou dedurar a antiga monitora pra profª. Eu posso muito bem falar isso pra ela!
-Não se atreva a estragar tudo agora!
-E eu sei de muito mais...
-SAIA JÁ DAQUI!


Harry escutou passos vindo em direção a ele, se afastou rapidamente. Viu Cólin abrir a porta para a saída de um garoto... Um garoto que Harry lembrava vagamente ser do terceiro ano, mas seu rosto lhe parecia familiar. Onde será que tinha visto?

“PROFESSORA MINERVA MCGONAGALL!”

Lembrou num flash. Agora tudo se encaixava! O garoto passou por Harry e sorriu. Sua cabeça estava a mil. Tinha que achar Hermione... Correu para seu dormitório, indo atrás do mapa. Quando o achou, pronunciou:

-Juro solenemente não fazer nada de bom.

O mapa se abriu, e ele correu os olhos por ali. Já devia imaginar que Hermione estava na biblioteca, só não podia adivinhar quem estava com ela...

“Será que ela vai contar?”.

*

Não tinha realmente acreditado no indivíduo que vinha em sua direção. Estava na biblioteca com Ron, improvável, porém verdade, o menino estava preocupado com seu desempenho em Poções. É incrível ver como as pessoas só se importam quando quase não tem mais volta.
Saindo dos estudos e indo para outro ramo, sim, Karla estava parada à sua frente. Provavelmente estava ali para falar com Ron, mas também olhava pra ela.

-Bom dia!
-Pensei que estivesse passando mal...-disse Ron, sem tirar os olhos do livro.
-Não. Só um pouco indisposta, fiquei acordada até tarde...

Hermione enfiou, o máximo que pôde, a cabeça no livro.

-Eu queria falar com vocês sobre...
-Karla!- chamou Harry, que entrava na biblioteca ofegante.
-Sobre...?-se interessou Hermione, olhando dele para Karla.
-Sobre...-a menina sorriu para o rapaz e se virou para a garota.-O Natal!
-Ah...-Hermione pareceu decepcionada, até porque achou estranho ver Harry soltar todo o ar do peito, aliviado.-Que tem ele?
-Queria convidar vocês para passar o Natal conosco!
-Conosco?-perguntou Ron, tirando os olhos do livro.
-Sim, eu já chamei Harry, Gina e Draco.
-Que seria...?
-Na minha casa de praia!-respondeu animada.
-Casa de praia? Por Merlim! Já viu o quanto neva lá fora?
-Hermione... Ela fica em Fernando de Noronha. Lá é verão nessa época do ano.-explicou.
-Acho que já li sobre esse lugar em algum lugar
-Jura?-ironizou Ron.-O difícil seria achar algo que você não leu em algum lugar.
-Idiota.
-CDF.
-Estúpido.
-Mandona!
-Gente!-chamou Karla, alteando a voz.-Vocês topam ir ou não?
-Por mim tudo bem. Hey, posso chamar Luna?
-Claro! E você, Mione, vai?
-Eu não sei... Eu costumo esquiar com meus pais, nessa época do ano.
-Pense bem, uns dias no Brasil, tomando um Sol, ou uns dias no gelo, esquiando?
-Achei que era uma cidade turística apenas. -perguntou Hermione.
-Sim, mas já começou a ser habitada. Então, você vai?
-Não vejo porquê não!-respondeu, notando o sorriso que Harry abrira na hora.
-Ótimo. Ron, trate de chamar Luna. E, ah, Harry, o que você queria?
-Eu?-caiu em si, lembrando a razão de estar ali.- Eu queria falar sobre Cólin.
-De novo não!-Hermione se levantou, mas viu Harry segurar sua mão como na outra vez, olhar em seus olhos e dizer:
-Acho que vai querer escutar isso.

Franziu a testa, abrindo a boca para reclamar, mas recebendo olhares severos de Ron. Olhou sua volta, todos pareciam querer escutar. Desistindo, suspirou e voltou a se sentar.

-Seja rápido, tenho mais o que fazer.

Harry abriu um sorriso de orelha a orelha e se sentou à sua frente, empurrando o pobre Ron, violentamente, pro lado. Respirou fundo e contou tudo o que escutou, e também que era o mesmo garoto da festa. Hermione deixou o queixo cair quando ligou os fatos.

-Talvez... Tudo foi uma armação, desde a parte que anunciaram a chegada da Profª.
-Sim, eu lembro de ter visto um menino apertando a mão de Cólin. Devia ter sido o aperto de tarefa cumprida.-comentou Ron.

Mordendo o canto do lábio inferior, Hermione levantou e passou a andar de um lado pro outro.

-Quando Minerva me chamou à sala dela, um garoto esbarrou em mim, eu não lembrei dele no exato momento, mas o rosto me parecia familiar, não devo ter lembrado pelo estado lamentável que eu estava na festa.
-Justamente!-exclamou Harry animado.
-Merlim!-a garota se sentou novamente, com as mãos escondendo o rosto.-Era tudo mentira... Sempre foi! Como pude ser tão estúpida?
-Você não é estúpida.-consolou Karla, passando o braço em volta da garota e a trazendo para si.- Nunca pensei que Cólin realmente fosse seu inimigo, Harry.
-Nem eu.-murmurou Hermione.
-Eu sempre soube!-exclamou Ron, vitorioso.
-E então?-perguntou.-Satisfeita?
-Harry...- sussurrou Karla, o repreendendo.
-Eu preciso tomar um ar, com licença. Desculpe.

Dizendo isso, a garota, amuada, saiu apressada da biblioteca. Harry fez menção de levantar, mas Karla comentou:

-Ela precisa ficar sozinha.
-Você não entende... Eu não posso...- e depois de trocar um olhar apreensivo com Karla, o menino deixou o lugar.

*

Os dedos batiam instintivamente nos lados das pernas. Andava de um lado para o outro. Às vezes sentava, porém seus pés e pernas continuavam em movimento. Mordeu, furiosamente, o lábio inferior, virou os olhos e avistou sua varinha, que parecia a chamar. Sem hesitar, foi até ela e a agarrou fortemente, saindo de seu dormitório.
Procurava por cada rosto que via passar no corredor, as pessoas olhavam para ela, assustadas. Virou à esquerda e se deparou por um longo corredor vazio, no final dele, porém, havia um alguém, um rosto odioso. Caminhou determinada até ele. Os cabelos batendo às costas e os dedos vermelhos de tão forçados serem contra a varinha. Estendeu o braço apontando a arma para ele. O mesmo ergueu uma sobrancelha e fez menção de abrir a boca.

-Eu...-começou com a voz tremente.-Não quero escutar uma única palavra vinda de sua boca.
-Bom dia pra...
-VOCÊ É SURDO? Hoje quem fala sou EU!-bradou a garota.- Por que? O que eu te fiz?
-Eu não te entendo...
-Eu garanto que sim!-disse, aproximando mais a varinha.
-Wow. Abaixa isso aí. Vamos conversar...
-Eu não estou muito a fim de conversa. Sabe... Eu REALMENTE acreditei em você. Quero dizer, eu briguei com uma pessoa que conheço há sete anos por causa de você e o que recebo em troca?
-Todo o carinho possível?
-Traição, humilhação, cinismo e falsidade. Quatro coisas que eu odeio.
-Ok, Mione. Agora você está me deixando preocupado.
-Pois você devia!-agora rompeu a distancia entre os dois e o segurou pelo colarinho, seus olhos lacrimejantes.- Não acredito que confiei em você. Não acredito que briguei por você. Não acredito que perdoei você.

Largou sua blusa e apontou a varinha para seu peito.

-Eu te odeio.

*

Passos apressados, com um pouco de desespero. Passou pelo quadro da Mulher Gorda e avistou uma cabeça ruiva vindo em sua direção.

-Gina! Viu a Hermione?-perguntou atropelando as palavras.
-Engraçado, era isso que eu ia te perguntar... Alguns me disseram que ela saiu há pouco, com cara de poucos amigos e com a varinha empunhada. Preocupei-me.
-Não...-olhou em volta, passando as mãos pelo cabelo, desesperado.

Correu para seu dormitório, subindo as escadas em lances de dois e chegou à sua cama. O Mapa devia estar por ali, mas ONDE? Tinha pego há pouco, lembrava de ter jogado em algum lugar. Revistou as gavetas, debaixo da cama, no malão...
Desistindo, saiu do salão comunal, rapidamente. Olhava para todos os lados, perguntava pra algumas pessoas que o indicavam algumas vezes incorretamente, pois parava em frente a uma parede. Tudo estava contra ele, até as escadas resolviam se mover quando ele decidia subir ou descer.
Parou no quarto andar, vários alunos andando de um lado para o outro e conversando, examinava rosto por rosto, cerrando os dentes cada vez que não reconhecia Hermione. Respirou fundo e agachou no chão, sem se ajoelhar. Massageou a testa, sentia que algo ruim estava pra acontecer.

-O que diabos há com esse pessoal hoje? É o segundo maluco que eu vejo por aí.-ouviu uma voz comentar.

Absorveu a frase e abordou o dono da voz com séries de perguntas. Tinha o caminho, e dessa vez, tinha certeza de que era o certo. Virou à esquerda e se deparou com uma cena inimaginável. Hermione apontava a varinha para o peito de um homem, seus olhos transmitindo ódio, viu sua boca se abrir para murmurar um feitiço.

-Mione!-correu até a garota e pegou seu braço, abaixando-o. Fitou seu rosto e sussurrou: Agora é minha vez.

Dito isso, seu corpo se contorceu e o punho direito foi em direção ao rosto de Cólin, o acertando em cheio. Sentiu os ossos da mão latejando, mas não deu a mínima, tornou sua atenção para a garota.

-O que você estava pensando em fazer?-havia espanto em sua voz.

Os olhos da garota estavam arregalados. As mãos começaram a tremer e a varinha caiu da sua mão, assim como seu corpo. Harry suspirou e se agachou novamente, dessa vez mais calmo, beijando a testa da menina, e dizendo que tudo estava bem. Levantou a cabeça, e avistou um punhado de pessoas, todos boquiabertos.

-Perderam algo?-perguntou agressivamente e ouviu algumas reclamações de volta, mas acabaram por partir.

Harry puxou a garota pela nuca para um abraço, ela continuava a chorar silenciosamente.

-Você me perdoa?
-Shiii... Não precisa se desculpar. Vai ficar tudo bem...

*

-Senta aí, vou buscar um copo d’água.
-Por que você me impediu?-murmurou Hermione

Ele se virou e fitou-a.

-Você estava prestes a matá-lo!
-Não era isso que você queria?
-Eu nunca fui um assassino, Mione. Não desejaria a morte de ninguém à toa.
-O quê? Ele acabou com meu sonho! Minha REPUTAÇÃO!
-Por que você liga tanto pra reputação? Pro que os outros vão pensar de você?
-Porque representa um bom futuro, é automático: boa reputação bom futuro.
-Você está doida.
-Não foi com você que isso aconteceu.-retrucou Hermione.
-Ah é! Coitada de você! Sofre tanto... CRESCE! Não é tudo sobre você, NUNCA FOI! O mundo não gira ao seu redor!
-Déjà vu. Não é a primeira vez que me dizem isso.
-Então seria bom começar a considerar que talvez não estejam mentindo.
-Você sempre esteve um passo à frente, não é? Sempre foi o Menino-que-Sobreviveu e eu e Ron às suas sombras. Sempre a mesma história, o mesmo senso heróico ridículo. Você está sendo hipócrita ao falar isso pra mim, Harry.-levantou-se.- Sempre o que mais sofria, o que carregava o “grande fardo”...
-Isso foi há dois anos atrás, Mione. Eu cresci, e acho que você devia fazer o mesmo...
-Não vire a mesa, Menino Prodígio!
-CALA A BOCA, MIONE!-pareceu irritado.-Volte pra falar comigo quando quiser se redimir e ao menos agradecer pelo que te fiz.-voltou-se pra ela e se aproximou.-Aliás, você considerou o que fiz? Agradeceu uma vez? Se eu não estivesse lá, aí sim, sua reputação estaria no lixo, mas você não pensou nisso, não é?
-Pensei que tivesse dito que ia embora...-Hermione engoliu em seco.
-Tem razão.

Harry tornou seu corpo e escutou-a vacilar. Ela enterrou a cabeça nas mãos e fungou, sentindo uma tristeza enorme. Levantou os olhos, ele estava quase saindo.
Secou as lágrimas e correu até ele, segurando seu braço. O menino encarou-a, com a testa franzida. Hermione segurou seu rosto e decididamente o puxou para si. Em choque, Harry não reagiu, mas depois de sentir os lábios dela nos seus, despertou e envolveu sua cintura, ofegante. Cambalearam até o armário da saleta do salão comunal. Pressionou seu corpo contra o da garota e voltou a beijá-la ferozmente quando escutaram uma exclamação. Separaram-se bruscamente, deparando-se com Gina e Karla, ambas de queixo caído. A segunda deu as costas e saiu rapidamente.

-Karla...

Harry correu atrás da menina e deixou Hermione desolada. Ginny chegou perto e segurou a mão da outra.

-Ele correu atrás dela, você viu?
-Isso é tão complicado...-comentou puxando-a para um abraço.

O moreno tinha acabado de alcançar a garota e chamou sua atenção.

-Espere! Por que você fez isso?

Então ela, num giro, tapeou sua face, fortemente.

-HEY! Não somos namorados! Eu não te traí!
-É, realmente, eu não significo nada...
-Não foi o que eu disse...
-Quer saber, Harry, vai embora, volta pra ela, eu não ligo. Estou feliz por vocês. E não se preocupe que o seu segredo está bem guardado.
-Não, Karla, não vá...

Tarde demais, ela já havia dado as costas. Ele suspirou e sentou no sofá, jogando a cabeça pra trás e apertando os olhos.

*

-Oi, estranha. Quanto tempo sem te ver!
-Passei a tarde com a Mione.
-Aconteceu algo?

Ginny se aproximou mansamente do louro e o envolveu pela cintura. Draco a acolheu e ergueu seu rosto com as mãos e ao encarar seus olhos, percebeu que as coisas não estavam boas.

-Cólin?
-Cólin... Harry... Karla. É o mundo versus Hermione Granger. Acho que está à beira de um surto.
-Vai tornar a viagem mais interessante.
-Você ainda pensa que ela vai?
-Não sei, e você?
-Sinceramente? Não faço a mínima idéia, minha amiga parece tão mudada, e tenho um mau pressentimento.
-Que significa que a viagem babou?
-Pelo contrário...- comentou a ruiva, fitando o namorado mais uma vez antes de selar-lhe os lábios.
-Gina?- ouviu-se a voz de Harry.
-Sim?- disse, separando-se de Draco.
-Você viu a Mione?-perguntou hesitante.
-Por Deus, Harry, você não pode dar um tempo?
-Eu vou dormir, meu anjo.- Malfoy murmurou, se despedindo com um beijo rápido.

A ruiva sentou-se na poltrona mais próxima e o garoto fez o mesmo.

-Então ele já sabe a senha do salão?
-Já, eu confio nele.
-É... Eu também. Mas, então, vai me dizer onde ela está?
-Não.-respondeu com convicção.
-Por que? Olhe, Ginny, isso tudo que está acontecendo é muito complicado, eu preciso conversar com ela.
-Harry... Você correu atrás de outra, fez sua escolha, agora deixe Hermione fazer a dela.
-Não! Não... Preste atenção, eu corri atrás da Karla, porque...-o moreno fechou os olhos.
-Porque...?
-Eu realmente não posso contar, mas...
-Então eu não posso te ajudar. Sinto muito, mas é o melhor pra minha amiga.
-Mas eu também quero o melhor pra Mione! Meu Deus! Eu não consigo suportar a sensação horrenda que me dá quando a decepciono.
-Se você se importasse não faria o que fez. Agora, dê-me licença, irei dormir.

“Tudo dando errado”. Pensou tomando fôlego pela primeira vez desde o acontecido. Ficou paralisado, analisando a chama da vela vivaz, pensando como sairia daquela confusão armada. No momento em que fechou os olhos para cochilar escutou um murmúrio, voltou sua atenção para o som e avistou Karla em uma imagem indecifrável.

-Só queria lhe devolver isso.-informou estendendo o Mapa Maroto.- Sinto muito, peguei para checar onde você e Hermione estavam, eu e Gina nos preocupamos...
-Não precisa explicar. Eu te perdôo.-respondeu pegando o mapa da mão da garota e apertando-a, impedindo a menina de ir.- Karla, eu sinto muito, mesmo...
-Shh...- ela aproximou seu rosto ao dele e ficou bem próxima. Daí abriu um sorriso e comentou: Precisamos de terapia, isso sim. Então beijou sua testa e afastou-se.

Suspirou e foi dormir, deixando Harry sozinho e pensativo. Parte de seu problema foi resolvido, mas havia o outro lado da moeda. Se olhasse o mapa e a encontrasse certamente iria atrás dela, não achava certo, porém era incontrolável esse seu ímpeto de tentar solucionar todos os problemas. Prometeu a si mesmo que não correria até a morena.

-Juro solenemente não fazer nada de bom.

Não era a primeira vez que arregalara os olhos ao abrir o mapa. Hermione estava no corujal, estaria tudo bem se não estivesse acompanhada por alguém muito improvável.

*

Ao horizonte mal enxergava a coruja já distante. Despachara a carta aos pais avisando que não esquiaria com eles nesse natal. Não rejeitaria a viagem de jeito nenhum. Fazia um frio tremendo naquela noite, divertia-se fazendo vapor com o bafo, tentando se distrair um pouco.

-Mi?
-Oh Merlim... Será que não conseguirei um segundo de paz hoje?
-Você tem que me deixar falar. Tem que me dar outra chance.
-Não, Cólin, eu não posso continuar fazendo isso.
-Vamos lá! Eu não fiz nada pra te prejudicar.
-Não precisa mais mentir, eu já sei de tudo, de toda a armação. Já tem meu distintivo, minha infelicidade e minha dignidade, o que mais quer?
-Seu coração...
-Oh, cale a boca.
-Sério, Mione, seja qual for essa armação, eu não estou por trás, juro.
-O que te faz pensar que acredito no que diz?
-Eu sei o quão inteligente você é...
-Não o suficiente pra desmascarar você!
-Claro! Porque não era a minha máscara que precisava cair...-ela virou o rosto.-Me escute... Ou a farei ouvir.-ele se aproximou e a tocou, porém foi recebido com violência.
-Não se atreva a tocar em mim!

Ele recolheu a mão machucada pelas unhas da menina e com força a prendeu em seus braços.

-ME SOLTE!
-Não entende? Eu amo você.
-E eu te odeio.
-Sorte a minha que amor e ódio são sentimentos tão próximos.

Sem cerimônia o garoto a beijou. Hermione se contorceu, porém estava tão cansada... Não resistiria.

-O QUE DIABOS VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?

A voz de Harry foi reconhecida. O garoto agarrou Cólin pelo pescoço e o empurrou violentamente contra algumas gaiolas. Seu rosto estava vermelho de raiva e frustração, porém não teve muito tempo para fazer algo quando escutou o mancar de alguém.

-Pirralhos! Que fazem essa hora no corujal?
-Filch! Está tudo sob controle aqui!- o monitor agiu tarde demais, o velho zelador já havia subido e encarava os jovens com um olhar desconfiado.
-Quero saber as desculpas agora...
-Bem, eu cheguei aqui e a Srta. Granger estava despachando uma carta, já a encaminhava ao salão quando o Sr. Potter chegou...
-Nada disso. Escutei gritos!
-Sim, creio que Potter estava um pouco alterado, ficarei feliz em aplicar a detenção, se não se importa.
-Me importaria, mas a noite não é nossa. Dumbledore o chama, Potter, venha comigo.
-Mas o que ele quer a essa hora?
-E você acha que eu sei? O velho parecia sério, torço pra ter descoberto que você é um inútil e te expulsar.

Harry bufou e fitou Hermione. Ainda parecia assimilar tudo que havia acontecido. Se aproximou e sussurrou:

-Depois conversamos.
-Não temos o que conversar.-respondeu, seca.
-Veremos...
-POTTER! Não tenho a noite inteira.

O moreno se retirou relutante, deixando os outros dois sozinhos novamente. Cólin sorriu galanteador, mas a garota nada fez, a não ser se retirar, dizendo:

-Nenhuma palavra, Creevey, se atrever a me tocar de novo terminarei o que comecei essa tarde...
-Boa noite.

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